O destino do Kosovo pode vir a ser clarificado a 11 de Maio
A última oportunidade da Rússia
por Pyotr Iskenderov
A decisão do presidente dos EUA, George Bush, de iniciar o fornecimento
de armas ao Kosovo (para "reforço" da segurança dos
EUA) e a sinceridade tardia de Carla del Ponte, PromotorA-Geral do Tribunal
Criminal Internacional da Jugoslávia, que falou das atrocidades contra
os sérvios feitas pelos actuais dirigentes albaneses naquela
província, são os elementos finais da brilhante
encenação ocidental. Com efeito, esta encenação foi
orquestrada e implementada organizadamente de forma brilhante.
A conquista forçada do berço da nação e da
ortodoxia da Sérvia e a criação do primeiro "estado
da NATO" do mundo foram obra de todos os institutos internacionais
actuais, incluindo as Nações Unidas, a União Europeia, a
Aliança Norte Atlântica, a OSCE e o Tribunal de Haia. Algumas
destas organizações e países individuais apresentaram a
ordem de trabalhos que outras implementaram, e outras ainda agiram como grupo
de "cobertura". O objectivo foi atingido em menos de uma
década a partir de 1998, quando foi aberta uma missão da OSCE no
Kosovo, chefiada por William Waler, um participante activo em
operações grosseiras da CIA na América Central nos anos
80. Foi ele quem tornou públicos os pormenores do alegado massacre,
pelas forças de segurança sérvias, dos residentes da
aldeia de Rachak no Kosovo em Janeiro de 1999, que chocaram o público
ocidental. E, apesar de observadores independentes terem anunciado de imediato
que na realidade os mortos eram militantes albaneses mortos em combate, cujos
uniformes tinham sido substituídos por roupas civis, esse foi o pretexto
para a campanha contra a Sérvia.
Depois foi a vez das Nações Unidas, da União Europeia e do
grupo Contacto. Organizaram-se conversações em Rambouille e em
Paris em 1999 com a intenção de fazer Belgrado desistir do Kosovo
e sob a ameaça do efectivo uso da força. A exigência do
acesso livre da NATO ao Kosovo fez recordar lugubremente o ultimato
austro-húngaro de 1914 à Sérvia (é verdade, na
altura tratava-se da autoridade sem limites para os tribunais austríacos
investigarem de forma independente as circunstâncias do assassínio
do arquiduque Franz Ferdinand no reino da Sérvia).
Em 1914 a Sérvia rejeitou o ultimato, e a Rússia pôs-se do
lado da Sérvia com todo o seu poderio militar. Em 1999, os negociadores
jugoslavos agiram de forma muito semelhante, mas o apoio que Moscovo ofereceu
limitou-se à triste comunicação de Boris Yeltsin
"Stop Clinton!" na TV e à inopinada viragem de 180 graus do
avião de Evgeni Primakov sobre o Atlântico. A NATO desferiu o
golpe de misericórdia nos debates ao vivo da então elite russa
questionando se valia a pena Moscovo discutir com o Ocidente por causa de
"uma Jugoslávia qualquer". A resposta foi
"Não" e, para acalmar ainda mais Washington e Bruxelas,
despachou Viktor Chernomyrdin para noticiar o consentimento da
capitulação à revelia de Slobodan Milosevic.
No verão de 1999 o exército jugoslavo e a polícia
sérvia, da NATO, no Kosovo foram substituídos pelo KFOR. A
Rússia encenou a sua parte formal na operação de
manutenção da paz, mas nem sequer conseguiu uma zona de
responsabilidade definida. As tropas russas tiveram assim que se subordinar aos
comandantes da NATO, para grande gozo dos seus opositores da
"guerra-fria" e, pouco tempo depois, as tropas russas abandonavam de
vez discretamente o Kosovo, atraiçoando as autoridades de Belgrado e a
população sérvia do Kosovo.
Não era preciso ser adivinho para prever a evolução
futura. A missão das Nações Unidas no Kosovo fechou os
olhos aos crimes dos extremistas albaneses, e o tribunal de Haia distribuiu
cópias das acusações dos dirigentes sérvios e
jugoslavos. A NATO começou a instalar bases para treinar unidades
militares albanesas, enquanto que os líderes do terrorista
"Exército de Libertação do Kosovo" continuaram a
conquistar poder na província. Nestas circunstâncias, a
organização de eleições e a subsequente
auto-proclamação da independência do Kosovo em 17 de
Fevereiro de 2008 foram tarefas elementares.
COMÉRCIO DE ÓRGÃOS HUMANOS
As últimas
revelações da Sra. Del Ponte sobre o comércio sem precedentes de órgãos do corpo humano extraídos a centenas de sérvios do Kosovo sequestrados e assassinados
, juntamente com os relatórios da Interpol e da Europol
sobre o Kosovo, transformado no maior terminal de tráfico de droga da
Europa, dão-nos uma ideia de quais são as origens da
"independência" do Kosovo.
Não é difícil de prever que irão aparecer mais
revelações chocantes por parte de políticos e
dignitários ocidentais, confiantes em que a independência do
Kosovo é irreversível e que por isso podem arrepender-se dos seus
pecados, chorando lágrimas de crocodilo desde que não
prejudiquem a sua causa comum.
Mas tanto a Sérvia como a Rússia ainda têm uma
última oportunidade de apanhar o comboio, antes que ele fique fora de
alcance, como aconteceu antes, entrando na cabina do maquinista e obrigando o
comboio a entrar numa linha diferente. O mais importante é ser capaz de
tirar partido da situação actual. Para os sérvios as
primeiras eleições parlamentares a 11 de Maio irão marcar
o início do renascimento do espírito nacional sérvio e o
afastamento dos órgãos do poder de traidores, de seguidistas e da
"quinta coluna". A evolução subsequente pode levar
(desde que a única força democrática, o Partido Radical
Sérvio, chegue ao poder) a que dirigentes sérvios possam
oficialmente pedir à Rússia para defender os sérvios do
Kosovo. É muito possível, dada a Resolução 1244 do
Conselho de Segurança das Nações Unidas, de Junho de 1999,
que o Ocidente ainda considera legal. O documento confirma o direito de
Belgrado de enviar para o Kosovo um destacamento limitado de tropas para
proteger os sérvios do Kosovo e os seus monumentos históricos e
culturais, uma coisa que ainda não foi pedida nem pela Sérvia nem
pela Rússia. A chegada de tropas russas às regiões norte
do Kosovo pode vir a ser o primeiro passo no caminho da
instalação de uma ordem genuína na Sérvia.
Ver também:
O original encontra-se em
http://en.kosovo.fondsk.ru/article.php?id=1322
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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