Outro caminho de desenvolvimento: conduzido pelo salário
O rendimento salarial estagnado do trabalhador leva à super-capacidade
(parte I)
Na teoria económica do desenvolvimento há a regra rígida
de que "rendimento é tudo". A regra declara que a efectividade
das políticas, programas e medidas de desenvolvimento deveria ser
medida pelo seu efeito na elevação do rendimento salarial dos
trabalhadores e que uma economia de baixos salários é uma
economia subdesenvolvidas porque ela mantém a procura agregada do
consumidor abaixo do seu nível óptimo, provocando portanto
super-capacidade na economia que precisa ser absorvida pela
exportação.
O rendimento dos trabalhadores é o factor chave na geração
da riqueza nacional de um país. A exportação
através da produção com baixos salários está
simplesmente despachando riqueza nacional a baixo preço para fora das
fronteiras nacionais sem compensação adequada, pelo
sub-apreçamento do trabalho dentro do país. Durante a era do
imperialismo industrial, a exportação de bens manufacturados era
promovida pelas economias de baixos salários para colónias de
baixos salários em troca de ouro monetário, de modo que mais
investimento podia ser efectuado para proporcionar mais empregos para
trabalhadores de altos salários internamente. Nas economias financeiras
pós-industriais, a arbitragem salarial transfronteiriça no
comércio global não regulamentado explora trabalhadores em
economias de baixos salários para produzir para consumidores em
economias de salários mais altos.
A globalização do comércio ocupa o lugar do
desenvolvimento interno em todos os países
Esta regra do "rendimento é tudo" geralmente foi obscurecida
nas últimas décadas durante as quais o comércio externo
globalizado promovido pelos neoliberais tomou o lugar do desenvolvimento
interno como o motor do crescimento económico em todas as economias de
mercado por todo o mundo. No jogo de hoje do comércio internacional
globalizado, a nova regra operacional é que "lucro é
tudo" e que lucro elevado na exportação comercial
competitiva exige baixos salários internos, mesmo se baixos
salários locais retardam o desenvolvimento económico interno ao
reduzir o poder de compra agregado no mercado interno para provocar
super-capacidade que apoie a exportação. Quando salários
de trabalhadores não são suficientes para comprar os bens que
eles produzem, os mercados internos caem no subdesenvolvimento e é
necessária a exportação para economias de altos
salários a fim de produzir lucro para as empresas.
Lucro corporativo excessivo originado de baixos salários leva à
super-capacidade
Esta nova regra do comércio globalizado é concebida para produzir
a maximização a curto prazo de lucro corporativo para um sector
exportador. Mas na economia financeira pós-industrial, os sectores de
exportação em economias de baixos salários são em
grande medida possuídos ou financiados pelo capital internacional
transfronteiriço. Este tipo de comércio internacional incorre na
inevitável estagnação a longo prazo das economias internas
de todos os países que comerciam porque os baixos salários pagos
pelo capital internacional levam a insuficiente procura agregada do consumidor
interno. Salários estagnados por toda a parte por sua vez reduzem o
poder de compra global agregado necessário para a expansão do
comércio internacional. É um caso claro que
sub-optimização económica desequilibrada.
O capital estrangeiro investido no comércio internacional não tem
incentivo para elevar salários locais
O sector exportador do comércio exterior em qualquer economia não
considera, naturalmente, o poder de compra dos trabalhadores locais como tendo
qualquer consequência porque os bens e serviços produzidos pelos
trabalhadores locais nos sector exportador são vendidos em mercados
externos de altos salários por lucros denominados na divisa de reserva
geralmente aceite no comércio internacional, a qual desde o fim da II
Guerra Mundial tem sido o US dólar.
Em resultado, o sector importador no comércio externo de todos as
economias também tem um fraco desempenho devido ao insuficiente poder de
compra interno tanto de produtos internos como das importações
necessárias. Isto é verdadeiro em variados graus para todas as
economias que participam no comércio internacional. A única
excepção é a economia dos EUA cuja divisa apoiada por ouro
geralmente tem sido aceite como a divisa de reserva para o comércio
internacional desde o fim da II Guerra Mundial. Mas o dólar tem sido uma
divisa fiduciária desde 1971 quando foi desligado do ouro.
Nas economias financeiras avançadas, a dívida do consumidor
é utilizada para ultrapassar o poder de compra estagnado do consumidor
causado pelos baixos salários. Os baixos salários têm sido
a causa fundamental das bolhas de dívidas recorrentes nas economias
avançadas. Mesmo para os EUA, a arbitragem salarial
transfronteiriça também manteve os salários
estado-unidenses estagnados, os quais os decisores políticos dos EUA
compensaram com uma política de alta dívida do consumidor que era
insustentável com salários estagnados. O ítem principal na
dívida do consumidor é a hipoteca habitacional. Esta
dívida excessiva em relação ao rendimento salarial tem
sido a causa real por trás da actual crise financeira global.
Morte da arquitectura financeira internacional de Bretton Woods
No fim da II Guerra Mundial, uma conferência internacional dos aliados
vitoriosos foi efectuada nos EUA em Bretton Woods, New Hapshire, em 1944, para
moldar uma arquitectura financeira internacional do pós-guerra na qual o
regime monetário seria baseado no dólar como divisa de reserva do
comércio internacional, preso ao ouro a US$35 por onça
[NT 1]
. As taxas de câmbio de divisas emitidas pelos governos participantes
eram fixadas e relativamente estáveis. Os pagamentos de divisas cambiais
eram efectuados apenas entre bancos centrais. Não havia qualquer mercado
aberto do comércio de divisas pois a maior parte dos países
exercia o controle de capitais dentro das suas fronteiras. As economias que
incorressem em défices comerciais persistentes não poderiam
desvalorizar as suas divisas para conseguir excedentes comerciais. A teoria
económica naquele tempo não via o fluxo transfronteiriço
de capitais como necessário ou benéfico para o desenvolvimento
interno.
Mas mesmo depois de os EUA suspenderem a ligação do dólar
ao ouro em 1971, em resposta ao esgotamento do montante de ouro mantido pelo
Federal Reserve, o banco central dos EUA, devido a persistentes défices
comerciais e fiscais do país, o dólar continuou a ser aceite
pelos países que comerciavam como a divisa de reserva dominante para o
comércio internacional por falta de outra opção, por falta
de uma divisa de reserva dominante e porque a perícia geopolítica
estado-unidense havia feito com que o comércio de commodities
básicas, principalmente o petróleo, fosse denominado em
dólares depois de 1973.
Hoje, cerca de 60% das reservas de divisas do mundo são denominadas em
dólares, a ser comparado com o seu principal competidor, o Euro, no qual
são denominadas apenas cerca de 24% das reservas mundiais. Esta é
a única distinção técnicas pois todas as outras
divisas fiduciárias livremente convertíveis são
essencialmente derivativos do dólar pois os preços de todas as
commodities básicas são denominados em dólares.
O dólar agora é uma divisa fiduciária emitida pelo
país mais endividado do mundo
O valor cambial de qualquer divisa fiduciárias é uma
função do nível da dívida pública pendente e
da quantidade de moeda emitida pelo seu governo. O dólar, a divisa de
reserva dominante do mundo para o comércio, é a divisa
fiduciária do país mais endividado do mundo. Isto acontece porque
a dívida soberana dos EUA é denominada em dólares,
não em divisas estrangeiras. Os EUA não tem dívida
externa, apenas dívida soberana denominada na sua própria divisa
mantida por estrangeiros.
A dívida pública pendente dos EUA, ou dívida
contraída pelo público colectivamente, está num excesso de
US$13 milhões de milhões
(trillion)
em relação a um PIB de US$14,6 milhões de milhões.
A dívida pública dos EUA continua a crescer a uma taxa de cerca
de US$3,83 mil milhões por dia, ou US$1,4 milhão de
milhões por ano. O crescimento anual da dívida pública
estado-unidense a 10% excede o crescimento do seu PIB que cresce a menos de 2%.
A dívida pública dos EUA de 100% do PIB em 2010 excede o
nível geralmente aceite de um rácio de 60% de dívida em
relação ao PIB. Mas o status de divisa de reserva do dólar
para o comércio internacional permanece firmemente garantido, embora a
taxa de câmbio dos dólares contra outras divisas tenha estado a
declinar constantemente desde 2002.
A dívida total dos EUA é insustentavelmente alta
O total da dívida pública dos EUA (devida colectivamente por
todos os cidadãos) e da dívida privada (devida privadamente por
indivíduos e entidades privadas) era de US$50,2 milhões de
milhões no fim do 1º trimestre de 2010 ou 3,5 vezes o PIB desse
mesmo ano. O que torna a dívida pública e privada dos EUA
diferente daquelas mantidas por outros países é que todas as
dívidas estado-unidenses são denominadas na sua própria
divisa a qual os EUA podem emitir à vontade com pouca
penalização além da possível
desvalorização cambial do dólar.
O valor total líquido dos EUA como país alcançava os
US$44,2 milhões de milhões no fim do primeiro trimestre de 2010,
cerca de 3,02 vezes o PIB do ano. Os activos financeiros internos dos EUA
totalizavam US$131 milhões de milhões e os passivos financeiros
internos totalizavam US$106 milhões de milhões, deixando um valor
líquido de US$25 milhões de milhões, ou 1,42 vezes o PIB.
O valor líquido dos activos não financeiros totalizava US$19,2
milhões de milhões, ou 1,32 vezes o PIB.
De acordo com dados do Federal Reserve, o valor total líquido dos
Estados Unidos permaneceu entre 4,5 e 6 vezes do PIB anual da década de
1960 até os anos 2000, quando em 20006 ascendeu a uma altura de 6,64
vezes do PIB, devido principalmente a um aumento no valor líquido das
famílias estado-unidenses com o efeito riqueza da bolha habitacional.
Contudo, no fim de 2008 o valor líquido dos Estados Unidos havia
declinado drasticamente de 6,64 vezes para 5,2 vez o PIB anual devido ao
declínio agudo no valor de mercado de acções corporativas
e no imobiliário na sequência do colapso do mercado
hipotecário sub-prime titularizado e da resultante crise financeira
global. Só o valor líquido habitacional montava a apenas 3,55
vezes o PIB anual.
Entre 2008 e 2009, o valor líquido das famílias dos EUA havia
recuperado ligeiramente de uma baixa de 3,55 vezes o PIB anual para 3,75 vezes
o PIB anual em consequência da intervenção do governo para
transferir a dívida privada para dentro da dívida pública
através do salvamento do Tesouro a instituições
financeiras demasiado grandes para falirem e com a expansão pelo Federal
Reserve do seu balanço apesar da facilidade quantitativa. O preço
mediano de venda de casas existentes em Setembro de 2010 ainda é mais
baixo que há cinco anos atrás. Antes da actual recessão,
os preços das casas aumentavam sempre a uma taxa de pelo menos 2,5% ao
ano ao longo de períodos de cinco anos, o que significava que o
preço de mercado da casa duplicou a cada quatro anos durante aquele
período de bolha da dívida.
O valor líquido dos negócios não-financeiros nos EUA em
2008 caiu de 1,37 vezes o PIB anual para 1,22 vezes em 2010 à medida em
que a economia continuou a contrair-se. Como uma recessão em W ou uma
estagnação persistente parece provável em 2011 devido
à ineficácia das medidas de estímulo, pode-se esperar que
o valor líquido total decline outra vez em relação
à baixa histórica de 3,02 vezes o PIB no fim do primeiro
trimestre de 2010.
O valor líquido das famílias e instituições
não lucrativas nos EUA representou 3,5 vezes do PIB anual desde 1980 e
constituiu três quartos do valor total líquido estado-unidense.
Desde 1960, até 2008, as famílias mantiveram sistematicamente
esta posição no valor líquido, seguidas pelos
negócios não financeiros (137% do PIB em 2008) e pelos governos
estaduais e locais (50% do PIB em 2008).
O sector financeiro dos EUA, onde foi criada a maior parte da riqueza nas
últimas décadas, tem pairado em torno do valor líquido
zero desde 1960, reflectindo a sua alta alavancagem, ao passo que o governo
federal tem flutuado de um valor líquido negativo de (-7%) do PIB em
1946, para uma altura de 6% do PIB em 1974 e para -32% do PIB em 2008. Se bem
que o governo federal não possa ir à bancarrota, o sector
financeiro dos EUA estava tecnicamente insolvente durante o primeiro
quadrimestre de 2008. Estes fracos fundamentos económicos
tornarão a recuperação económica difícil
mesmo sem considerar a já excessivamente alta alavancagem financeira na
economia dos EUA.
O preço das acções agora afecta mais a riqueza familiar do
que há três décadas atrás
Houve um período prolongado semelhante de preço baixos de
acções nos EUA na década de 1970, mas naquele tempo as
acções eram um componente menos importante da maior parte da
riqueza familiar. Agora as acções são um componente mais
importante da riqueza familiar estado-unidense porque mais pessoas estão
a ver a sua aposentadoria como dependente dos seus próprios
investimentos no mercado de acções. Esta mudança no
planeamento financeiro pessoal ocorreu gradualmente nas últimas
décadas quando cada vez menos companhias ofereciam planos de
pensão com benefício definido e mais pessoas tinham planos de
contribuição 401(k)
[NT 2]
definidos, os quais eram frequentemente investidos em fundos mútuos de
acções. No princípio de 2000 quando o mercado de
acções estava a atingir o pico no seu caminho para uma
correcção drástica 43% dos activos financeiros
familiares eram em acções, o triplo da proporção
nos meados da década de 1980. Esta é a razão porque um
colapso no mercado estado-unidense de acções foi uma grande
pancada para as famílias dos EUA, juntamente com o colapso do mercado
habitacional.
A riqueza das famílias dos EUA afundou aproximadamente 18% em 2008,
apagando anos de ganhos sustentados na habitação e nas
acções e assinalando a maior perda desde que o Federal Reserve
começou a efectuar registos após a II Guerra Mundial. A riqueza
líquida familiar estado-unidense caiu em US$11 milhões de
milhões um declínio num único ano que equivale ao
produto anual somado da Alemanha, Japão e Reino Unido. Os dados
assinalam o fim de uma época definida pela propriedade generalizada de
casas secundárias, além da principal, aumento de fundos de
aposentação e portfólios sempre gordos.
As baixas passadas foram meros incidentes quando comparadas com as perdas que
os americanos enfrentaram em 2008, as quais remeteram-nos para níveis
abaixo de 2004. O declínio no valor líquido, o qual foi o
primeiro em seis anos, seguiu-se um boom extraordinário. Não
contando com a inflação, a riqueza familiar mais do que duplicou
de 1990 a 2000 e então, após um pausa, ascendeu 50% antes da
quebra de 2008.
Enquanto o valor de mercado dos seus activos estava a cair, o total da
dívida privada dos EUA permaneceu aproximadamente constante. A
dívida familiar total aumentou meio ponto percentual em 2008 quando as
famílias enfrentaram padrões de concessão de
empréstimo mais duros e muitas começaram a tentar mais arduamente
viver dentro dos seus meios. Depois de ostentarem por anos os seus activos
elevados, aquele fenómeno, conhecido como o efeito riqueza, agora toma o
outro caminho, incentivando a frugalidade.
Colectivamente, os proprietários de casas estado-unidenses têm uma
proporção de 43% das suas casas o nível mais baixo
desde que há registos. Em meio a arrestos e condições para
a concessão de empréstimos mais apertadas, o montante total de
crédito hipotecário no ano passado caiu pela primeira vez desde
que o Fed começou a efectuar o registo em 1945.
A recessão que começou em Dezembro de 2007 reverteu um boom
particularmente longo.
O Federal Reserve estima que os cidadãos e residentes nos EUA tinham
US$43,8 milhões de milhões em activos financeiros no fim de Junho
de 2010, 15% abaixo do número de Junho de 2007, pouco antes de a
recessão ter começado. O índice Standard & Poor's de 500
acções em Junho de 2010 permanecia abaixo de onde estava em 2005,
cinco anos antes e dois anos antes de o mercado ter atingido o pico no 2º
trimestre de 2007.
Mercado de títulos a taxas leiloadas ainda congelado
O
Wall Street Journal
de 30 de Outubro de 2010 informa que mais de dois anos após o
congelamento do mercado de US$330 mil milhões de títulos por
taxas leiloadas aprofundado a mais grave crise económica desde a
Grande Depressão centenas ou possivelmente milhares de
investidores individuais estão presos aos títulos que detêm.
Cerca de US$130 mil milhões do dinheiro de investidores a retalho e
institucionais permanecem encalhados em títulos a taxa leiloadas em
perturbação, segundo SecondMarket, um corrector-vendedor e
mercado secundários para activos ilíquidos, e eles continuam a
ser um lastro nos resultados finais das companhias.
Os títulos por taxas leiloadas, os quais foram emitidos por cidades,
escolas, hospitais e outras entidades, são instrumentos de dívida
a longo prazo que são revendidos com taxas de juro actualizadas em
leilões periódicos efectuados pelos bancos. Muitos investidores
compram-nos a conselho dos seus correctores, os quais muitas vezes louvam-nos
como uma alternativa de rendimento mais alto mas ainda assim segura.
Então, no princípio de 2008, vendedores da Wall Street
subitamente cessaram de comprar os títulos em leilão quando o
mercado de crédito falhou.
Desde então, dúzias de grandes bancos e correctores têm
recomprado milhares de milhões de dólares de títulos a
taxas leiloadas de investidores em ajustes com reguladores. Mas alguns
investidores, tais como aqueles que compraram títulos a taxas leiloadas
a uma firma e a seguir mudaram as suas contas para outra, foram deixados fora
destes ajustes. E alguns correctores que venderam títulos a taxas
leiloadas criados por outras firmas ainda não fizeram o ajuste.
Economias com excedentes comerciais são vítimas da hegemonia do
dólar
Quanto às economias exportadores que habitualmente mantêm
excedentes comerciais denominados em dólares, tais como a China e o
Japão, os dólares do excedente comercial não podem ser
gastos na sua economia interna sob pena de provocar inflação
porque a riqueza por trás deste excedente já foi despachada para
fora do país como exportação. Portanto os dólares
do excedente comercial têm então de ser utilizados para comprar
dívida soberana dos EUA a qual por sua vez permite aos EUA comprarem
mais importações com dólares que recebe da venda de
dívida soberana denominada em dólares em com mais novos
dólares que pode imprimir à vontade sem incorrer em penalidade
monetária imediata. Os EUA podem aumentar da dívida externa
denominada em dólar sem medo de inflação durante longos
períodos porque a inflação será mantida subjugada
pelas importações a baixo preço de economias exportadores
de baixos salários, tal como a da China.
O comércio internacional tem sido reduzido nas últimas
décadas a um jogo no qual os EUA fabricam dólares por decreto
(by fiat)
e os países exportadores, tal como a China, fabricam bem com baixos
salários e danos ambientais que os dólares fiduciários
(fiat dollars)
podem comprar. Esta disposição monetária disfuncional no
comércio internacional é conhecida como hegemonia do
dólar. (Favor ver meu artigo de 2002 sobre a
hegemonia do dólar
para mais pormenores).
Ascensão do mercado cambial estrangeiro
As regras do regime do Bretton Woods, estabelecidas nos artigos do acordo do
Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional de
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), previam um sistema de
taxas de câmbio fixas para todas as divisas que participavam no
comércio internacional. As regras procuravam encorajar um sistema aberto
ao comprometer os membros com o comércio livre através da
convertibilidade das suas respectivas divisas em outras divisas a taxas fixadas
(pegged).
Aos países que comerciavam foi exigido o estabelecimento de uma paridade
das suas divisas nacionais em termos de ouro (um "vínculo",
"peg"
) e que mantivessem taxas de câmbio dentro de uma paridade de mais ou
menos 1% (uma "banda") através da intervenção
nos seus mercados de câmbios estrangeiros (isto é, comprar ou
vender moeda estrangeira) conduzida entre bancos centrais.
Em teoria, a divisa de reserva no regime de Bretton Woods seria o bancor, uma
Unidade de Divisa Mundial sugerida por John Maynard Keynes cuja
utilização nunca foi feita devido à objecção
dos EUA. Ao invés disso, os Estados Unidos tiveram êxito em tornar
o dólar a "divisa de reserva" do comércio
internacional. Isto significava que outros países ligariam as suas
divisas ao US dólar e uma vez restaurada a convertibilidade
comprariam e venderiam US dólares para manter as taxas do mercado
de câmbio dentro da paridade de mais ou menos 1%. Portanto, o US
dólar apoiado pelo ouro ocupou o papel que o próprio ouro havia
desempenhado sob o
gold standard
na arquitectura financeira internacional.
O presidente Richard Nixon desligou o dólar do ouro em 1971 fechou o
guichet do ouro. Mas ainda se comerciavam dólares entre bancos centrais
a US$35 por onça troy de ouro, contudo o dólar já
não podia mais ser resgatado em ouro no Federal Reserve. Em Fevereiro de
1973, após um último suspiro com a desvalorização
do novo dólar fiduciário de US$35 para US$44 por onça troy
de ouro, o regime de Bretton Woods da taxa de câmbio fixada baseada no
dólar apoiado por outro mantido pelos bancos centrais de todos os
países que comerciavam foi substituído por mercados abertos de
divisas com taxas de câmbio flutuantes baseado primariamente em Londres.
Começou então um regime comercial de taxa flutuante da divisa
para aquelas divisas cujos bancos centrais haviam abandonado o controle de
capital transfronteiriço e as taxas de câmbio fixadas.
Este mercado de divisas em 2010 comerciou US$4 milhões de milhões
(trillion)
por dia, um aumento de 23% em relação aos US$3,3 milhões
de milhões em 2007. O comércio envolvendo directamente o
dólar representou 84,9% das transacções em 2010, apenas
ligeiramente mais baixo do que os 85,6% de 2007 anteriores à crise
financeira. O resto das transacções (15,1%) ainda envolve o
dólar indirectamente. O mercado de divisas é de longe o maior
mercado financeiro do mundo. Ele agora sobrepuja num factor de 15,1 o mercado
estado-unidense de acções o qual comerciou US$134 mil
milhões por dia em Abril de 2010, uma baixa em relação aos
US$248 mil milhões de volume médio diário em 2007.
Além do comércio em dólares de US$4 milhões de
milhões por dia, o comércio em dívida soberana dos EUA
(Treasuries)
montou a US$445 mil milhões por dia em Abril de 2010, uma baixa em
relação aos US$570 mil milhões de média
diária em 2007.
A rotina da alta alavancagem no comércio de divisas
A alavancagem astronomicamente alta é a prática padrão no
comércio de divisas, mesmo para participantes individuais no mercado. Um
trader
individual pode habitualmente contrair empréstimos de US$100 por cada
dólar de acção do seu corrector, sujeito a
margin calls
[NT 3]
em tempo real. A Commodities Exchange Commission tentou cortou a alavancagem
de 100:1 para 10:1 mas após uma onda ruidosa de protestos por parte dos
participantes do mercado, estabeleceu um limite de alavancagem de 50:1.
O valor do dólar em ouro
Não é informativo seguir o preço do ouro em
dólares. O significativo é seguir o valor do dólar em ouro
porque o ouro é o elemento com valor constante. Enquanto os EUA tem
estado a enfrentar uma pressão deflacionária geral dos
preços a partir da crise financeira global desde meados de 2007, o
preço do ouro tem estado a elevar-se para reflectir a verdadeira
depreciação do dólar num ambiente deflacionário
geral.
O ouro é mais do que uma
commodity
Os preços da maior parte das commodities tem estado em queda desde
meados de 2007, excepto o ouro. O pânico financeiro global e a
desaceleração económica deram um fim pelo menos
temporário à euforia do mercado dos setes anos anteriores,
remetendo os preços para uma baixa de muitos dos ingredientes
básicos da economia mundial. O mercado em baixo de commodities pode bem
alongar-se por uma década ou mais.
Desde a Primavera e o princípio do Verão de 2008, depois de os
preços de muitas commodities terem atingido o pico em meio à
especulação conduzida por temores de uma escassez permanente, o
trigo e o milho dois cereais na base da cadeia alimentar humana
caíram mais de 40%. O petróleo caiu 44%. Metais como
alumínio, cobre e níquel declinaram um terço ou mais. Mas
o ouro no 3º trimestre de 2010 foi comerciado cerca 1:57 contra o
preço da prata, muito afastado da sincronização quando
comparado ao rácio histórico ouro-prata de 1:16. Os traders
geralmente têm altas expectativas de o ganho da prata exceder amplamente
o do ouro. Eles esperam ver a prata não só alinhar-se ao ouro
como a ampliar os ganhos do ouro. Uma não confirmação da
força do ouro pela prata é geralmente percebida como um sinal de
advertência de que o alinhamento do ouro está algo enviesado ou
é falso, sendo provável que caia subitamente, uma vez que a prata
não seguiu a mesma onda.
O ouro tem ascendido de valor desde 1999 e agora vale mais do que 5 vezes o seu
ponto baixo de 11 anos atrás. Isto não é provocado por uma
súbita escassez de ouro em relação à prata. Isto
é uma indicação da desconfiança do mercado em
relação ao dólar. O ouro é uma armazenagem de valor
ao invés de ser apenas mais uma
commodity.
Uma onça de ouro em 2010 armazena US$1350 ao invés dos US$35 de
1970.
Preços das commodities
A baixa rápida de preços das
commodities
em 2008 foi em si mesma a mais clara notícia económica de um ano
terrível para consumidores perturbados, que guardavam mais dinheiro nos
bolsos depois de pagar o essencial num momento em que precisavam ansiosamente
de dinheiro. Os preços da gasolina nos Estados Unidos caíram
precipitadamente, depois de atingirem o pico em Julho de 2008 a US$4,17 por
galão [1 galão = 3,785 litros], para um preço médio
nacional em Dezembro de US$1,71 por galão.
Os preços para a maior parte das outras
commodities
mantiveram-se elevados pelos padrões históricos. Mas a
tendência do mercado era baixista quando traders ponderaram a perspectiva
de quem uma prolongada crise económica global levaria a quedas
drásticas na procura. A grande questão era se os preços
cairiam o tempo todo para normas a longo prazo ou se o contínuo boom
económico da Ásia em meio a uma recessão à escala
mundial poderia ser sustentado para estabelecer um piso para as
commodities.
O declínio rápido dos preços dos commodities acalmou
receios de inflação, uma razão central porque os bancos
foram capazes de reduzir taxas de juro por todo o mundo desde 2008 num
esforço para salvar o crescimento económico num ambiente
deflacionário. Isto representou também uma mudança
fundamental do sentimento do mercado em relação àquele
orientado por visões excessivamente optimistas que desde 1980estiveram
por trás das euforias conduzida pela dívida nos mercados de
commodities.
Avanço da incerteza da procura
Até 2008 os consumidores estado-unidenses foram participantes
forçados numa guerra de lances com consumidores da classe média
emergente nas economias BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China) pelo
acervo de commodities à escala mundial. Mas isso foi antes de uma baixa
extrema na procura de commodities tão diversas como gasolina e
alumínio e da retirada do dinheiro de investimento das
commodity
a termo para os abrigos mais seguros da dívida soberana.
O afundamento do mercado de commodities começou em 2008 antes do
declínio do mercado mais vasto, embora o pânico decorrente
exacerbasse a pressão baixista sobre as commodities. O petróleo
caiu uns 10% só na segunda semana de Outubro de 2007, mas então
recuperou algo daquela perda uma semana mais tarde para estabelecer nos
US$81,19 por barril, ainda muito abaixo das alturas do US$145,29 de Julho de
1007, o mês em que os mercados de crédito congelaram.
Se bem que saudando os declínios de preços multi-anuais, a maior
parte dos participantes do mercado esperavam que os preços das
commodities ainda permanecessem acima das suas normas históricas a longo
prazo. Os aumentos de preços das últimas décadas atenderam
à sua função de económica de gerar ofertas
adicionais de muitas commodities, quando agricultores plantavam cada hectare de
terreno ocioso que podiam, companhias mineiras reabriam minas inactivas e
companhias de petróleo iam a cantos remotos da terra para furar no
offshore profundo. Em muitos casos, preços altos também
provocaram declínio da procura mesmo quando a oferta começava a
aumentar depois de os investimentos serem atraídos para
soluções energéticas alternativas.
O fracasso do mercado alimentar
Os alimentos, em particular, têm sido um problema contínuo a longo
prazo porque não há alternativa económica à comida
para a sobrevivência humana. Apesar da recessão prolongada, os
preços dos alimentos ainda estão demasiado elevados para permitir
que grande número de pessoas em economias em desenvolvimento possa ter
dietas adequadas. Nem os recentes declínios nos preços
alimentares foram transferidos para os consumidores nas economias
avançadas. As Nações Unidas fizeram a
projecção de que os preços alimentares globais
permanecerão elevados durante os próximos anos. Mas o baixo
preço da comida necessária para alimentar os pobres do mundo
também desencorajará os produtores alimentares na economia do
mercado global a produzirem mais. A teoria económica dos alimentos
é um caso claro de uma commodity que opera num mercado falhado no qual o
lucro da produção alimentar é pago com a fome em massa.
Alimentos como substitutos de combustíveis
Os EUA, com o maior consumo mundial per capita de combustíveis, tem
reduzido o consumo de gasolina desde o desencadear da grande recessão em
meados de 2007, com um declínio a aproximar-se dos dois dígitos.
Os motoristas dos EUA bombearam menos 9,5% de gasolina durante a primeira
semana de Outubro de 2007 em relação à mesma semana um ano
antes. Um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA)
corta mais uma vez a sua previsão para o consumo global de
petróleo, fazendo a projecção de que 2008 terminaria com o
mais lento crescimento da procura em 15 anos.
Por outro lado, grandes aumentos na produção mundial de trigo,
devido ao aumento de área plantada nos Estados Unidos, Canadá,
Rússia e grande parte da Europa, em Junho de 2010 trouxeram os
preços do trigo para U$4,3 por bushel [1 bushel = 36,27 litros] dos
quase US$13 em Março. Mas ascendeu outra vez para US$7,4 em Setembro
quando agricultores reduziram a produção de trigo para produzir
milho. Também havia preocupações acerca das colheitas de
trigo na Ucrânia e Rússia, as quais ou haviam imposto quota ou
proibido exportações de trigo depois de uma seca ali ter
devastado as colheitas no princípio de 2010.
A Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) apelou a revisão dos
subsídios e políticas do biocombustível, notando que
haviam contribuído significativamente para a elevação dos
preços dos alimentos por todo o mundo e para a fome em países
pobres.
Com políticas e subsídios destinados a encorajar a
produção de biocombustível em grande parte do mundo
desenvolvido, agricultores muitas vezes consideram mais lucrativo plantar
culturas destinadas ao combustível ao invés de alimentos, uma
mudança que tem ajudado a escassez alimentar global e a ascensão
dos preços alimentares.
O relatório da FAO afirma que as políticas agrícolas
nacionais deveriam ser "urgentemente revistas a fim de preservar o
objectivo da segurança alimentar mundial, proteger agricultores pobres,
promover o desenvolvimento rural em sentido amplo e assegurar sustentabilidade
ambiental". Ao divulgar o relatório, as Nações Unidas
juntaram-se a um certo número de grupos ambientais e especialistas
internacionais eminentes que têm apelado ao fim dos subsídios para
biocombustíveis, que podem por vezes serem substituídos por
gasóleo e gasolina.
Um relatório da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE)
concluía que o apoio do governo à produção de
biocombustíveis em países membros era enormemente cara, que
"tinha um impacto limitado na redução de gases com efeito
estufa e na melhoria da segurança energética" e que tem
"um impacto significativos sobre preços alimentares mundiais"
ao pressioná-los para cima. "Os governos nacionais deveriam cessar
de dar novas permissões para biocombustíveis e investigar meios
para reduzi-las", concluía o relatório da OCDE.
Uma visão contrário é apregoada pela EuropaBio, um grupo
de biotecnologia industrial, de que o mundo possui terra e capacidade
agrícola para produzir bastante comida e combustível
através de programas subsidiados com critérios de alta
sustentabilidade, incluindo consideração do facto de que os
biocombustíveis podiam ajudar a reduzir a pobreza ao proporcionar novas
opções de receitas para agricultores de todo o mundo, incluindo
agricultores pobres. Isto pode ser um ponto teoricamente discutível mas
o argumento é enfraquecido pelos factos: os preços dos alimentos
têm estado a elevar-se mesmo numa recessão grave e prolongada.
Nos últimos oito anos, quando os preços do petróleo e
preocupações globais acerca das emissões de carbono
aumentaram, países ricos, incluindo os Estados Unidos e estados da
União Europeia, puseram em prática subsídios e incentivos
para estimular a indústria nascente dos biocombustíveis. Em
resultado, a produção de biocombustíveis feitos de
culturas que poderiam ter sido utilizadas para alimento aumentou mais de
três vezes de 2000 para 2007, segundo a FAO. O apoio para estimular a
produção de biocombustíveis nos países da OCDE
montou a mais de US$10 mil milhões em 2006.
Mas estudos recentes concluíram que a corrida aos biocombustíveis
teve alguns efeitos desastrosos, ainda que não pretendidos,
consequências para a segurança alimentar e o ambiente. Menos
alimentos acessíveis estão disponíveis em países
pobres porque os preços globais dos cereais dispararam e florestas
preciosas foram deitadas abaixo quando agricultores criaram campos de
plantações para aderirem ao boom dos biocombustíveis.
Pior ainda: é necessária tanta energia para converter plantas em
combustível que o processo não resulta numa redução
líquida de emissões de carbono
[NT 4]
. O relatório da OCDE diz que apenas dois combustíveis baseados
em alimentos (óleo alimentar usado e açúcar de cana) eram
de forma clara ambientalmente melhores do que combustíveis
fósseis quando considerando todo o "ciclo de vida" da sua
produção. O açúcar de cana é muito mais
fácil de converter em biocombustível do que a maior parte das
outras culturas.
Em 2010 a União Europeia já havia recuado do seu objectivo de ter
10% do combustível para os transportes na Europa a virem de
biocombustíveis ou outros combustíveis renováveis em 2020.
O Parlamento Europeu sugeriu que venham apenas 5% das fontes renováveis
em 2015 e que 20% venham de novas alternativas "que não entrem em
competição com produção alimentar".
Os alimentos como estratégia para o combustível pareciam ter
atingido um ponto alto em 2008 quando o Congresso comprometeu-se com um aumento
de cinco vezes na utilização de biocombustíveis. Desde
então, uma reacção está a ser construída nos
EUA e na Europa contra políticas destinadas a promover o etanol e
combustíveis semelhantes, com líderes políticos do G20 de
países pobres contestando que estes combustíveis substitutos
estão a conduzir os preços alimentares para cima e a esfaimar
pessoas pobres. Os biocombustíveis estão rapidamente a tornar-se
um ponto de ignição na diplomacia global, fazendo pressão
sobre políticos do G7 para reconsiderarem suas políticas, mesmo
quando eles argumentam que os biocombustíveis são apenas um
factor na aparentemente inevitável ascensão dos preços
alimentares.
Em alguns países, preços alimentares mais altos estão a
levar a tumultos, instabilidade política e preocupações
crescentes acerca da alimentação dos povos mais pobres do mundo.
Tumultos alimentares contribuíram para a demissão do
primeiro-ministro do Haiti em Abril de 2008 e líderes em alguns outros
países estão nervosamente a tentar acalmar consumidores ansiosos.
Numa conferência em 2008, representantes de países pobres que
haviam sido atingidos duramente pela subida dos preços alimentares
apelaram à acção urgente para tratar das altas
súbitas de preços e vários deles pediram uma
revisão das políticas dos biocombustíveis adoptadas
recentemente no ocidente.
Muitos especialistas em política alimentar consideram as
determinações dos governos em favor dos biocombustíveis
pouco recomendáveis, concordando em que a diversão de culturas
como o milho para a produção de combustíveis contribuiu
para preços alimentares mais elevados. Mas outros factores também
têm desempenhado importantes papeis, incluindo secas que têm
limitado a produção e crescimento económico global
rápido que tem criado procura alimentar mais elevada.
Tal crescimento, muito mais rápido durante os últimos quatro anos
do que conforme a norma histórica, está a retirar milhões
de pessoas de privações e a dar-lhes acesso a melhores dietas e
prolongamento da longevidade. Mas os agricultores estão a ter
perturbações para acompanhar o aumento da procura.
Se bem que haja acordo em que o crescimento dos biocombustíveis
contribuiu para preços alimentares mais altos, a magnitude é
discutida. Um trabalho do International Food Policy Research Institute, de
Washington, sugere que a produção de biocombustíveis
é responsável por um quarto a um terço do aumento recente
nos preços globais das commodities. A FAO previu em 2008 que a
produção de biocombustíveis, assumindo que as
disposições actuais continuem, aumentaria os custos alimentares
em 10 a 15 por cento. Isto pode não ser um aumento significativo para
economias desenvolvidas, mas para os pobres nas economias em desenvolvimento
que já estão a sofrer de dietas inadequadas, aumentos assim podem
empurrar grande número de pessoas para a fome.
Apoiantes do etanol sustentam que qualquer aumento causado pelos
biocombustíveis é relativamente pequeno e que os custos da
energia e a procura de carne em ascensão nos países em
desenvolvimento tiveram um impacto maior. Em Washington, apesar do criticismo
externo, o apoio ao etanol permanece sólido. A política
está solidamente ancorada, com efeito, no défice comercial dos
EUA e na alternativa entre importar menos petróleo e exportar menos
alimento.
De acordo com o Banco Mundial, os preços alimentares globais aumentaram
83% nos três anos anteriores a 2008. O arroz, um alimento básico
para cerca da metade da população do mundo, tem sido um foco
particular de preocupação nos últimos meses, com
preços a aumentarem progressivamente levando vários países
produtores de arroz a imporem limites drásticos às
exportações quando tentam proteger consumidores internos.
Enquanto preços de víveres nos Estados Unidos aumentaram cerca de
5% em todo o ano de 2009, alguns ítens essenciais como ovos e leite
saltaram muito mais. Espera-se que novos dados acerca dos preços
alimentares internos tenham aumentos notáveis.
Preços de commodities em queda aguda após o boom de 2001-08
Os preços das commodities ainda estão no princípio de uma
queda drástica pois o Fed ao recorrer à facilidade quantitativa
em resposta ao intratável esmagamento do crédito moveria a
economia mundial de uma crise em colapso para uma longa e profunda
recessão. Mais deflação é aguardada no sector
habitacional, nos activos de capital e em commodities mesmo quando a liquidez
recém injectada é absorvida pela desalavancagem institucional ao
invés de estimular a economia seriamente debilitada.
Se bem que a dinâmica dos preços varie para diferentes
commodities, os preços geralmente atingem um ponto baixo para a
década posterior aos ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001,
então ascender quando a economia global se fortaleceu nos anos
posteriores quando o Federal Reserve dirigiu todos os bancos centrais do mundo
para políticas de facilidade monetária. Desde fins de 2001
até meados de 2008, o preço do petróleo subiu 800%, o do
cobre 700% e o do trigo 400%. Estas subidas em meio a ofertas constantes sugere
apenas um efeito no preço de uma depreciação do
dólar. Mas os salários não mantiveram um ritmo que
acompanhasse a inflação dos activos.
Mas o declínio de preços em 2008 levou a que virtualmente estes
retrocedem para cerca da metade do seu preço de 2001, corrigido da
inflação. Em 2010 os ganhos da euforia de mercado dos anos 2000
haviam sido inteiramente apagados, mesmo quando o valor do dólar
caía contra o ouro. Os salários declinaram drasticamente quando
medidos em ouro.
No dia 11 de Julho de 2008 os preços do petróleo ascenderam a um
novo recorde de US$147,27, estabelecendo-se em torno dos US$125 por barril em
24 de Julho de 2008. O petróleo era comerciado abaixo dos US$70/barril
em 16/Outubro/2008. Em 21/Dezembro/2008 o petróleo estava a ser
comerciado a US$33,87 por barril, menos de um quarto do preço de pico
atingido cinco meses antes. Os preços do petróleo não
recuperaram em 2009. Ao invés disso, depois de inicialmente subirem
acima dos US$48, os preços em meados de Fevereiro desceram abaixo de
US$34, prejudicado por previsões de novos declínios na procura
mundial. Ao longo de Março e Abril de 2009, o petróleo foi
comerciado a cerca de US$40/barril. Em Agosto de 2009 os preços
retornaram aos US$70/barril. A economia mundial não cresceu durante este
período, só o dólar é que caiu de valor.
Os custos de descobrir petróleo em águas profundas ou de minerar
areias petrolíferas no Canadá permanecem altos, na amplitude dos
US$60 a US$70 por barril e uma vez que agora são fontes de
abastecimento cada vez mais vitais, eles podiam ajudar a colocar um piso sob o
preço do petróleo depois de a abundância de petróleo
ser absorvida no mercado especulativo. Além disso, a
Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP) sempre pode cortar produção para escorar preços,
mesmo ao ponto de reduzir receitas brutas com volumes de venda mais baixos. A
contínua crise de crédito e a baixa económica
inevitavelmente protelarão novos projectos industriais, reduzindo a
procura por petróleo e metais à escala mundial, mesmo para a
China. A queda de preços também desestimulará nova
mineração e perfuração para aumentar a oferta a
longo prazo que pressionaria para cima preços de commodities numa
eventual recuperação. Esta dinâmica da oferta
manterá anémica qualquer eventual recuperação.
O maior factor único a decidir se uma euforia prolongada no mercado de
commodities está acabada, ou apenas numa pausa, é o desempenho da
economia chinesa. O desenvolvimento industrial da China nos últimos anos
foi responsável por grande parte do aumento do consumo mundial de cobre,
alumínio e zinco e quase um terço do aumento do consumo de
petróleo.
O crescimento chinês arrefeceu desde o começo da crise financeiro
global em meados de 2007 mas ainda está a correr próximo dos 10%.
A China lançou um pacote de estímulos maciço e espera
empreender muitos projectos enormes nos próximos anos como reparar danos
de desastres naturais tais como tremores de terra e tempestades e tomar medidas
para resolver desafios do desenvolvimento a longo prazo em segurança
social, cuidados de saúde, educação,
restauração ambiental e protecção, transportes,
alimentos e água. A menos que a China tenha êxito em sair da sua
excessiva dependência da exportação, a qual actualmente
está em 70% do PIB, a fim de desenvolver o seu mercado interno
através da elevação agressiva de salários, o pacote
de estímulos maciços da China acabará como uma
insustentável bolha de activos.
De todas as principais
commodities,
apenas o petróleo no seu pico de
Julho de 2008 foi comerciado a um preço mais alto do que na euforia dos
mercados da última década, corrigido da inflação.
As anteriores euforias no mercado de commodities das décadas de 1970 e
1080, estimuladas por décadas de alto crescimento económico das
bolhas de activos desencadeadas por irresponsáveis facilidades
monetárias do banco central e acompanhadas de inflação,
foram seguidas por aproximadamente duas décadas de preços fracos
que acompanharam a transição nos EUA de uma economia industrial
para uma economia financeira pela transferência da produção
industrial para fora.
O crescimento económico na China e na Índia na viragem do
século XXI, seguido pela economia conduzida pelo petróleo no
Brasil e na Rússia e maior gasto do consumidor no Médio Oriente
nos últimos cinco anos empurrou os preços das commodities para
cima num longo final da euforia que terminou em 2007. Mas estes novos geradores
de força económica estão a procurar caminhos para moderar
o seu crescimento da quantidade para a qualidade fazendo uma
utilização mais eficiente de commodities. Isto significará
que mesmo que a taxa de crescimento permaneça alta, a procura de
commodities seria moderada.
11/Novembro/2010
[NT 1] 1 onça-troy = 31,103 gramas
[NT 2] Plano 401(k): Plano de aposentação patrocinado pelo
empregador nos Estados Unidos. O seu nome deve-se à secção
do Internal Code Revenue.
[NT 3] Margin call: Procura de fundos adicionais devido a movimento adverso de
preços, exigência de margem de segurança.
[NT 4] As emissões de carbono são um falso problema. O que importa no caso é o
rácio EROEI (Energy Returned On Energy Inputed]
[*]
Economista, colaborador do
Asia Times.
Esta é primeira parte de um ensaio. A seguir virá "Gold Keeps
Rising as Other Commodities Fall" ("O ouro mantém-se
em ascensão quando outras commodities caem").
Outros artigos do autor em resistir.info:
O mito da produtividade americana — e a verdade acerca dos salários reais
A lição não aprendida de 1929
A implosão vindoura: Os 'demasiado grande para falir' e a teoria dos grandes números
O futuro do dólar nas mãos dos EUA
A liquidez anula o significado de "inflação"
Carta aberta aos líderes mundiais que comparecerão à cimeira de 15 de Novembro na Casa Branca acerca dos mercados financeiros e a economia mundial
A auto destruição do capitalismo da dívida (II)
A auto destruição do capitalismo da dívida (I)
A ascensão dos preços do petróleo e a queda do dólar
A charada das taxas de juros reais: A teoria económica da contradição
Super-capitalismo, super-imperialismo e imperialismo monetário
A bolha por toda a parte
O fracasso dos 750 mil milhões de euros
Porque a China deve comprar Títulos do Tesouro dos EUA com os seus dólares do excedente comercial
O original encontra-se em
http://henryckliu.com/page237.html
. Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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