Salvar o Freddie Mac e a Fanny Mae é má política
económica
Estou a escrever este artigo acerca da Fannie Mae e do Freddie Mac sentado no
Jardim Botânico de Queens. Não era o meu plano para hoje. A
central de ar condicionado no meu apartamento avariou-se seis semanas
atrás e ainda não foi reparada. Estão mais de 32º C
lá fora e cerca de 38º C no meu apartamento, devido ao efeito
estufa. Ontem refugiei-me na Biblioteca Publica de Forest Hills, mas
está fechada ao domingo. Uma das poucas bibliotecas próximas de
transportes públicos que normalmente está aberta é em
Flushing. Assim, fui ali para escrever o texto final que descreve a
perturbação financeira da semana passada.
Infelizmente, quando cheguei à biblioteca Flushing, uma senhora explicou
que
devido aos cortes orçamentais da cidade, a biblioteca não mais
abriria aos domingos. Já pela manhã, quando era suposta abrir,
um grande número de chineses estavam à espera, na expectativa de
utilizar os livros e os terminais de computador. Não havia
indicação em
chinês a explicar a situação, e eles continuavam a esperar
quando desci a Main Street até o Jardim Botânico.
À primeira vista, isto parece não ter muito a ver com as
perturbações dos últimos dias quanto ao destino da Fannie
Mae e do Freddie Mac ou dos mercados imobiliários que eles ajudaram a
inchar ao longo da última década. Mas a minha experiência
de hoje tem tudo a ver com este tópico. Estas duas companhias
semi-públicas de "empacotamento" de hipotecas dominam o
mercado hipotecário do país e apoiaram os preços
imobiliários direccionando mais de US$5 milhões de milhões
(trillion)
a fim de permitir que compradores de casas fizessem lances cada vez mais
altos, o que rendeu milhares de milhões de dólares de
bónus, lucros e juros para os banqueiros, correctores de hipotecas e
empacotadores de dívidas da Wall Street, que são os
beneficiários financeiros da bolha imobiliária.
E isto é o que realmente está em causa. Se cidades tais como
Nova York não cortarem nos serviços públicos, elas teriam
de fazer o que elas e quase todas as cidades e municipalidades americanas fazem
tradicionalmente: financiar a maior parte dos seus orçamentos
públicos através da tributação da propriedade. Mas
fazer isso no mercado de hoje deixaria os proprietários de casas
e também os proprietários de edifícios comerciais
com menos rendimento para pagarem as suas hipotecas. Já este ano mais
de um milhão de devedores deixaram de cumprir pagamentos de hipotecas de
casas, e muitos agora atrasaram-se, a sugerir que a advertência
do secretário do Tesouro Paulson de dois milhões de
incumprimentos de hipotecas em 2008 pode ser demasiado baixa em um
milhão.
Assim, este é o impasse
(tradeoff).
Se as cidades mantiverem o seu nível habitual de serviços
públicos, elas terão de tributar a propriedade à taxa
tradicional. Mas isto significaria que os preços da
habitação seriam menores. O rendimento pago em impostos
não estaria disponível para pagar banqueiros para capitalizar em
pagamentos de juros sobre empréstimos hipotecários mais altos
a fim de comprar casas a preços cada vez mais altos. Dada uma escolha
entre
habitação a preço mais acessível e melhor
serviço público por um lado, ou "criação de
riqueza" na forma de habitação com preços mais
elevados (juntamente com encargos mais elevados), os americanos votaram
esmagadoramente pela última isto é, por
habitação assim avaliada que força compradores
a incidirem profundamente no endividamento, pagando aos banqueiros.
Para mim, isto parece louco, mas por outro lado sou economista e nós
somos notoriamente incapazes de explicar porque o povo vota contra o que parece
ser
o seu próprio interesse. Em qualquer caso, esta aparente loucura
foi o que fez mergulhar os preços das acções da
Fannie Mae e do Freddie Mac na semana passada. Um político após
o outro apareceu na televisão a pontificar acerca da necessidade de
manter o imobiliário a preços inacessivelmente altos ao
invés de caírem de volta para níveis mais
acessíveis. Ninguém mencionou a opção de cidades e
estados evitarem cortes nos serviços públicos através da
tributação do imobiliário principalmente o valor
dos terrenos que levantou voo a partir de 2000. Ninguém discutiu
como ficaria uma economia com preços de habitação mais
baixos e menos dívida hipotecária. Tudo o que eles podiam dizer
era a necessidade de preservar o valor dos títulos e da hipotecas
empacotadas possuídas pelas instituições financeiras.
Estes são os títulos possuídos pelos 10 por cento mais
ricos da população. Elas assumem a forma principalmente de
empréstimos ao endividados 90 por cento da base. A economia como um
todo pode não ter poupança líquida, mas os 10% do topo
salvam-se na forma de empréstimos aos 90 por cento da base. E
eles não querem que o valor destes empréstimos seja reduzido.
A redução do valor contabilístico da dívida e
preços mais baixos da propriedade seria boa para a maior parte da
economia, mas é um anátema para a Wall Street. O Bear Stearns
já afundou em resultado do seu modelo de negócio baseado no
empacotamento de hipotecas lixo, e na semana passada o Lehman Bros. dava a
impressão de estar a ir pelo mesmo caminho. Impressiona-me que a
campanha eleitoral não esteja a debater acerca desta questão
económica, mas imagino que é porque ainda estou no campo de
Dennis Kucich
e não noutro qualquer.
A questão política
Para milhões de proprietários de casas que assistem o
preço das suas habitações cair abaixo das hipotecas que
possuem, a questão é se devem pagar ou incumprir. Muitos
não tem opção. Eles têm Hipotecas de Taxa
Ajustável
(Adjustable Rate Mortgages, ARMs)
que estão a
reajustar-se a taxas de juros drasticamente mais altas e exigem pagamentos de
amortização muito para além da capacidade de pagamento do
devedor.
Os incumprimentos que se aproximam ameaçam as hipotecas das
instituições financeiras sobre tais propriedades, subindo a
pirâmide económica para alcançar investidores e credores do
topo. Alguém deve ter uma perda. Mas quem? Os grandes peixes ou os
pequenos peixes?
Para os legisladores há duas possíveis respostas
políticas. A primeira resposta e aparentemente a mais lógica
seria recolocar as dívidas más a níveis que pudessem ser
pagos. Esta redução de valor
(write-down)
manteria a orientação legislativa que vem desde o século
XIII, de favorecer mais os devedores do que os credores. Afinal de contas, as
leis da bancarrota cancelaram as prisões dos devedores, permitindo a
estes recomeçasrem a vida. As leis sobre concessão de
empréstimos, leis anti-usura e legislação semelhante
têm procurado equilibrar o que as pessoas ganham e o que elas podem
permitir-se pagar por habitação e outras dívidas. Este
é o equilíbrio que seria restaurado ao amortizar parcialmente
(writing down)
dívidas más ou dito de outra forma,
a cancelar
(write off)
as dívidas más.
Mas não é este o caminho que o Congresso está a seguir.
Ao invés de trazer as dívidas para dentro da capacidade de
pagamento, seus comités bancário e imobiliário
estão a tentar encontrar um caminho para re-inflacionar os preços
da habitação. A esperança é permitir que os
devedores das hipotecas existentes que não cumpriram, ou estão
à beira de deixar de cumprir, fiquem em posição de vender
tudo ou tomar emprestado o dinheiro devido em termos ainda mais fáceis
junto à Federal Housing Administration (FHA). Isto deixaria
agências do governo, ao invés da Wall Street, na posse de
hipotecas lixo. Daria segurança não aos proprietários de
casas e devedores de hipotecas e sim aos prestamistas e especuladores que
possuem os US$5 milhões de milhões em hipotecas garantidas pela
Federal National Mortgage Association (FNMA, Fannie Mae) e pela
Federal Home Loan Mortgage Corp. (Freddie Mac), bem como as
companhias de seguros de incumprimentos penduradas e cujos IOUs agora afundaram
no status de lixo.
Qual é o significado de comprar seguro contra incumprimentos de
hipoteca, afinal de contas, se as reservas da seguradora são
minúsculas em comparação com o provável volume de
incumprimento? As companhias de seguros
monoline
(firmas cujo único
negócio é fazer seguros de incumprimento) ganham o seu dinheiro a
emitirem apólices, não a pagá-las. Seus executivos
já tomaram o dinheiro e fugiram. Mas é para a sua clientela
financeira mais rica que os corações dos congressistas sangram,
não para as vítimas da fraude das hipotecas subprime e das fraudes
associadas da Wall Street ao empacotar hipotecas lixo e vendê-las a
vendedores institucionais internos e no estrangeiro.
A pergunta é: como pode uma economia sobreviver com
milhões de
proprietários de casas a não cumprirem os pagamentos e a
propriedade da riqueza polarizada entre credores e devedores. Foi isto o que
mergulhou o mundo na depressão na década de 1930 e, muito antes
disso, o que reduziu o Império Romano ao cativeiro da dívida e
à servidão.
Estará tudo isto a acontecer outra vez nos dias de hoje? Ou
poderão as coisas simplesmente retornarem ao normal com as
dívidas de hoje sendo liquidadas pelo concessão de
empréstimos de ainda mais dinheiro e incidindo mais uma vez em
dívida, naquilo que é conhecido como a "magia do juro
composto"?
O Congresso dos democratas pressiona as famílias americanas a pagarem
preços mais altos pelo seus lares
Os responsáveis do comité bancário do Congresso
estão simplesmente a comportar-se como fazem tradicionalmente os
políticos, dando prioridade aos principais contribuidores das suas
campanhas nos sectores financeiro e imobiliário. Dirigido pelos
senadores democratas Charles Schumer da Wall Street e Christopher Dodd da
indústria de seguros do Connecticut, e apoiado pelo congressista Barney
Frank do sector imobiliário, o Congresso procura salvar os
patrocinadores da bolha, não as suas vítimas. O plano é
re-inflacionar a bolha habitacional pelo menos durante tempo suficiente para
que os maiores bancos e outros especuladores financeiros se livrem dos seus
haveres mais arriscados. Os valores contabilísticos destas hipotecas
e o imobiliário por trás delas são puramente
fictícios, apesar da caiação AAA das agências de
classificação de títulos, as quais elas próprias
estão agora sob investigação devido ao fatal conflito de
interesses estilo Arthur Anderson entre os seus ramos de
investigação e de vendas.
Tratando do imobiliário, e portanto das políticas urbanas locais
onde se verificam a maior parte das manobras com valores de propriedade, a
Fannie Mae e o Freddie Mac são em grande medida criações
dos democratas. James A. Johnson dirigiu a Fannie durante a maior parte da
década de 1990 e era o seu principal lobbyista. Até Junho ele
estava à cabeça da equipe que detectava
vice-presidenciáveis, mas desistiu quando foi revelado que obteve
hipotecas em termos irrealistamente favoráveis do notório
Countrywide Financial de Angelo Mozilo. O antigo responsável do FNMA,
Franklin D. Raines, era chefe de orçamento do presidente Clinton. Foi
forçado a demitir-se quando foram descobertos sérios problemas na
contabilidade. Outros quadros da Fannie incluem Jamie Gorelick, antigo vice
procurador-geral de Clinton, e Thomas E. Donilon, chefe da equipe de Clinton na
Secretaria de Estado.
Sem dúvida, o oportunismo político levou a Fannie e o Freddie a
cobrirem todas as bases, tornando-se conhecidas por contratarem parentes de
políticos poderosos sempre que eles estivessem em posição
de ajudar. Mas pelo menos desta vez o problema não é culpa de
George Bush. O
Wall Street Journal
parece mais próximo da razão do que o Congresso dos democratas.
No fim de semana o seu editorial clarificou o que os socialistas desde Marx tem
estado a dizer: "O que os contribuintes precisam entender é que a
Fannie e o Freddie já praticam socialismo, embora da espécie
desonesta. O seu lucro é privatizado mas o seu risco é
socializado". Denominando a FNMA e o Freddie de "monstros de alto
risco", o jornal observou que "a Wall Street e os construtores de
casas também se aproveitaram do negócio subsidiado, e
também pagaram ao Congresso em dinheiro e em espécie".
Concluía a perguntar se estas empresas patrocinadas pelo governo
(government-sponsored enterprises, GSEs)
justificavam-se de todo.
"Além do fracasso absoluto, o pior cenário seria uma
injecção de capital que deixasse as companhias livres para
cometerem a mesma rematada desordem outra vez daqui a dois ou dez anos".
Num artigo separado o
WSJ
observou que "Na base de um valor justo, a
companhia [Freddie Mac] tem um valor líquido negativo de aproximadamente
US$17 mil milhões". O problema é que não há
"mercado" isto, nenhuma oferta de compradores igualmente
crédulos para aceitar estes maus empréstimos, excepto a
preços de agonia. Através da cobiça a curto prazo e da
incompetência, a indústria da dívida habitacional
arriscou-se a empréstimos hipotecários altamente alavancados pela
dívida e concebidos por fraudadores. Eles não podem ser chamados
exactamente de vigaristas
(crooks),
porque ao invés de serem acusados foram premiados com dezenas de
milhões de dólares em bónus por fazerem tanto dinheiro
como inovadores de dívida para os sectores das finanças, dos
seguros e do imobiliário.
O lugar deles está a ser ocupado pelo governo como comprador de
último recurso das dívidas podres. Suponho que isto possa ser
chamado de Socialismo Financeiro o cenário em que se torna
necessário resgatar o Capitalismo Financeiro, pelo menos as suas maiores
instituições ("demasiado grandes para falirem) no topo da
pirâmide económica. Ou poderá ser chamado de
"capitalismo financeiro imobiliário". Mas na conversa de
Washington isto é tratado eufemisticamente com a habitual roupa
populista do Partido Democrata como "democratização da
propriedade" e "incremento na propriedade de casas", pela qual
querem endividar uma fatia crescente da população até ao
ponto em que arcar com as hipotecas absorverá a maior parte do seu
rendimento
pessoal disponível.
Pode uma nova bolha imobiliária ser inchada?
Permanece o facto de que tal como todas as bolhas financeiras na historia, a
começar com a Bolha dos Mares do Sul da Inglaterra e a Bolha do
Mississipi da França na década de 1710, aproximadamente
três séculos atrás, a bolha de hoje foi patrocinada pelo
governo. Esqueça a "loucura das multidões" da
propaganda do mercado livre. Os que estão perto do prato e
políticos astutos tentam sempre culpar a vítima. A realidade
é que a Fannie, o Freddie e o FHA deram uma pátina de
confiança à concessão irresponsável de
empréstimos e à fraude absoluta. Este jogo de confiança
levou-os a garantirem uns US$5,3 milhões de milhões de hipotecas,
e a manterem US$1,6 milhão de milhões mais na sua própria
contabilidade para emitir títulos que pagavam taxas de juro
razoavelmente baixas, e utilizavam este procedimento para comprar hipotecas que
rendiam taxas algo mais elevadas. Esta espécie de arbitragem de taxas
de juros foi o que fizeram as Caixas Económicas (S&Ls) na década
de 1980 um paralelo relevante, como discutirei abaixo.
O mito é que o papel da Fannie e do Freddie é simplesmente
difundir a propriedade tornando-a acessível à maior parte da
população. A Fannie Mae foi estabelecida na Depressão, em
1938, como parte do New Deal de Roosevelt, e privatizada em 1968. O
Freddie Mac
foi estabelecido mais tarde, em 1970, para comprar hipotecas das Caixas
Económicas e dar-lhes "liquidez", desenvolvendo mercado para
além dos bancos e das S&Ls que originaram estes empréstimos. Mas
isto revelou-se como o "pecado original", por assim dizer.
Investidores não bancários foram obrigados a depositar a sua
confiança nos originadores da hipoteca bancos, S&Ls e correctores
de hipotecas, cujas fileiras estão pejadas de fraudadores e vigaristas.
Seja o que for que chamemos a isto, o sonho desta gente é retornar
à era
aparentemente dourada patrocinada por Alan Greenspan no Federal Reserve. Foi a
década dos multimilionários rápidos das hipotecas
a subscreverem ficticiamente grandes hipotecas e vendendo-as a fundos de
pensão e banqueiros alemães e ingleses ansiosamente à
procura de umas poucas fracções extra de pontos percentuais no
rendimento corrente de modo a justificar um grande bónus ao apregoarem
superar administradores de dinheiro mais baseados na realidade.
Tudo isto é tão americano quanto a torta de maçã.
Conversa política altruísta à parte, a razão porque
os sectores das finanças, seguros e imobiliário (FIRE) fizeram
lobby tão arduamente junto à Fannie e ao Freddie é que a
sua função financeira fora tornar a habitação cada
vez mais inacessível. Eles haviam inflacionado os preços dos
activos com crédito o qual havia endividado os possuidores das casas num
grau sem precedentes na história. Foi por isto, afinal de contas, que a
bolha do imobiliário explodiu. Mas o Congresso agora actua como se o
único caminho para resolver o problema da dívida fosse criar
ainda mais dívida, inflacionar mais os preços imobiliários
arranjando ainda mais crédito para aumentar os preços que os
compradores de casas devem pagar. O plano é portanto pretender que a
irrealidade financeira da Bolha da Economia possa ser tornada real pelo
Socialismo Financeiro.
Pode este plano funcionar? A razão porque a Fannie e o Freddie foram
capazes de tomar emprestado a taxas mais baixas do que os seus rivais deve-se ao
seu patrocínio público que levava os investidores a acreditarem
que havia uma implícita garantia pública de não
deixá-los fracassar. E tendo em vista o facto de que estas duas
agências representavam uns US$5 milhões de milhões em
hipotecas aproximadamente a metade dos cerca de US$12 milhões de
milhões do mercado hipotecário habitacional dos EUA elas
na verdade pareciam "demasiado grande para falirem". O valor facial
das hipotecas que garantiram é aproximadamente tão grande como
toda a dívida federal dos EUA possuída pelo público. Isto
significa que a dívida federal nominal duplicaria se eles fossem abaixo.
Mas pelo menos o governo pode sempre imprimir dinheiro, ao passo que o
imobiliário por trás das hipotecas garantidas pela Fannie e pelo
Freddie (ou mantidas nas suas próprias contas) está a mergulhar
em preço para dentro do pavoroso território da
Situação Líquida Negativa.
Mas sobre os ombros deles cavalga a esperança de re-inchar os
preços habitacionais para salvar os administradores financeiros que
procuraram ganhar dinheiro com a criação de dívida ao
invés da formação de capital tangível. Assim, a
questão é se os preços habitacionais podem ser elevados a
um nível que obrigue famílias a incorrerem em ainda mais
dívida do que aquela que arcam agora com entradas ainda mais
baixas, subsidiadas a expensas públicas.
Neste caso o subsídio não seria de todo realmente para os
possuidores das casas, mas para os possuidores do sistema financeiro de
hipotecas. O objectivo não seria tornar a habitação mais
acessível, mas menos, porque as dívidas seriam maiores!
A maior parte dos investidores encara a situação como sendo mais
política do que estritamente económica. Ouve-se muitas vezes
nestes dias acerca da garantia "implícita" do governo de fazer
bons os títulos emitidos pela Fannie e pelo Fred para financiar estas
hipotecas lixo. A sua constante repetição reflecte a ansiedade
que os possuidores de títulos sentem acerca de quão
saudável são realmente os seus haveres em títulos. (As
acções da Fannie e do Freddie acabam de mergulhar para menos de
10 por cento das suas antigas alturas. Os investidores obviamente esperam que a
sua situação líquida seja anulada, a la Bear Stearns.)
A palavra "implícita" significa "não
explícita". Há uma atormentante alusão ao que pode
ser, mas que ainda não existe num sentido legal. Os que comeram
almoços gratuitos no Capitalismo Financeiro Imobiliário clamam
serem vítimas inocentes de uma viragem negativa "inesperada"
no mercado. (Más notícias são sempre
"inesperadas"
na medida em que os porta-vozes financeiros e os repórteres dos
media estão com isso preocupados, assim como Claude Rains
[1]
ficou "chocado" ao descobrir que havia jogo no Rick's Café.)
A distinção entre implícito e explícito pode ser
demasiado filosófica para a maior parte dos administradores de dinheiro
que trabalham em instituições financeiras que compraram
títulos da Fannie Mae e do Freddie Mac, bem como pacotes de hipotecas
lixo. A maior parte destes burocratas não precisa de muita
educação. Tudo o que precisam é de cobiça, e isso
não pode ser ensinado. É um vício e na Wall Street
vive-se no curto prazo, de um bónus anual para o seguinte.
Os bónus da Wall Street baseiam-se no "desempenho" em
relação à norma uma taxa de retorno de
título do Tesouro, ou a média do fundo mútuo ou do fundo
do mercado monetário. Qualquer um pode ultrapassar estas médias
simplesmente comprando os títulos mais arriscados e portanto de mais
alto rendimento.
O predador ou a vítima quem será apoiado pelo Congresso?
Na viagem de metro para o meu desejado ponto frio em Queens abri o
Sunday New York Times
de hoje a fim de procurar um artigo da sempre informativa Gretchen Morgenson
acerca de um cliente do Countrywide Financial ao qual foi aplicada uma hipoteca
com taxa ajustável re-estabelecendo uma taxa para além dos seus
meios de pagamento. O credor hipotecário ficou tão frustrado com
não respostas às suas tentativas anteriores de
comunicação que enviou uma mensagem email a um bloco de
endereços do Countrywide a pedir para renegociar sua hipoteca em termos
mais razoáveis de modo a evitar um incumprimento. Isto é o que
Henry Paulson tem estado a pressionar os tomadores de empréstimos
"responsáveis" a fazer e a Countrywide é
responsável por cerca de US$1,5 milhão de milhões em
empréstimos hipotecários, a maior parte deles subprime.
Este email realmente chegou ao co-fundador e presidente do Countrywide, Angelo
Mozilo, citado acima por ter dado ao chefe da Government National Mortgage
Association e enquanto este era conselheiro de Obama uma hipoteca em termos
notavelmente acessíveis. O Sr. Mozilo é o Darth Vader
[2]
do mercado hipotecário global, e provavelmente o indivíduo mais
responsável entre todos os demais por arruinar financeiramente mais vidas
do que qualquer outro homem no planeta, incluindo Ken Lay
[3]
e Michael Milken
[4]
. Até que surja o filme biográfico, teremos de contar com o
artigo da Sra. Morgenson ("The Silence of the Lenders",
The New York Times,
13/Julho/2008).
O sr. Mozilo realmente respondeu. Ele considerou o pedido para baixar as
exigências hipotecárias da companhia como "Repulsivo".
O próprio pensamento de devedores não cumprirem contratos
escritos que haviam assinado contratos que se revelaram negócios
de isca e anzol assinados sob coação parecia
ameaçar a própria instituição da propriedade
privada. Afinal de contas, não concordara a hipoteca em
"ajustar" para cima a sua taxa de juros até uma taxa de
extracção do seu rendimento mais próxima do mundo real?
Uma "conselheira de treino" da "equipe de retenção
de casas" da Countrywide tentou ser mais prestativa. "Talvez
você possa comer menos", sugeriu ela, quando o hipotecado lhe disse
que tudo o que lhe sobraria era US$10 por dia depois de pagar a sua hipoteca.
Talvez a minha mente esteja a perambular demasiado longe, mas recordei-me da
linguagem da Suméria e da Babilónia para credores. Os contratos
diziam que lhes seria permitido "comer" os juros sobre dívidas
possuídas por cultivadores e devedores. Na Idade do Bronze os contratos
do tempo de Hamurabi (cerca de 1750 AC) tipicamente conclamavam os devedores
rurais a pagarem as suas dívidas em grãos (os quais eram
cambiados a par com a prata, um litro de grão por shekel de prata),
pesados sobre a eira no tempo da colheita. A teoria económica
pós-clássica baseia-se no princípio da utilidade marginal
decrescente. De acordo com esta teoria, o prazer de consumir mais de uma
qualquer dada mercadoria diminui com cada unidade adicional que é
consumida. Isto parecia sugerir que quando as pessoas ficassem mais ricas
tornar-se-iam menos cobiçosas, deixando aberto o caminho para os
consumidores mais pobres "alcançarem-nas". Era um quadro
feliz de economias a dirigirem-se naturalmente e quase automaticamente para uma
distribuição de riqueza mais igualitária.
É claro que isto era uma ficção absoluta. Mas foi um
"erro bem sucedido" que ganhou para a escola da utilidade marginal
enormes subsídios financeiros a fim de que departamentos de
ciências económicas ensinassem esta distracção, a
qual expulsou a teoria económica clássica com a sua
discussão de incrementos não merecidos, almoços gratuitos
e a polarização da riqueza por rentistas (uma palavra que hoje
é quase tão anacrónica quanto "usurário").
Obviamente, estes teóricos da utilidade marginal nunca ouviram falar do
vício da riqueza que Aristóteles e outros observadores antigos
descreveram. Quanto pode um credor "comer" na prática? A
resposta é "tudo"! É isto, acima de tudo, que é
o vício da riqueza.
Ele está implícito na matemática da "magia dos juros
compostos". Esta é a magia que está a provocar a crise do
imobiliário que mergulha a Fannie Mae, o Freddie Mac e o Lehman Bros. na
beira da insolvência.
Uma repetição da crise de seguros das Caixas Económicas
federais (S&L):
A salvar os tomadores de riscos, não as suas vítimas
Títulos lixo emitidos por atacantes
(raiders)
corporativos eram os
de mais alto rendimento na década de 1980 antes de
prejudicarem as Caixas Económicas (S&L). Desde que o Federal Reserve
inundou a economia com crédito após a bolha dos dot.com em 2000,
as hipotecas lixo foram os títulos de mais alto rendimento. Enquanto
isso, no Federal Reserve, o presidente Alan Greenspan desregulou o sistema
bancário para permitir ao habitual conjunto de vigaristas financeiros
exprimirem os seus "espíritos animais" que, acreditava ele,
eram a força conduta no seu mundo de fantasia à Ayn Rand
[5]
.
O resultado é uma repetição do colapso das S&L duas
décadas atrás um velho filme financeiro, por assim dizer.
O salvamento das S&L é relevante hoje porque propostas para salvar os
detentores de títulos da FNMA e do Freddie Mac são amargamente
semelhantes ao salvamento dos depositantes das S&L na década de 1980.
Apenas um punhado de S&Ls foi coberta e elas foram as notórias
tomadoras de riscos. Seus depositantes não eram mães e pais da
vizinhança. Eram grandes poupadores institucionais, que não se
importaram com o risco ou com comportamentos desonestos, porque havia uma
garantia do governo através da FSLIC: a Federal Savings and Loan
Insurance Corporation. E esta salvou os grandes depositantes.
Passagem rápida para os dias de hoje. Muitos meses atrás
mostraram que a FNMA estivera a cozinhar a contabilidade. Mas os grandes
especuladores não se importaram. Embora não houvesse garantia
oficial do governo, havia uma protecção
"implícita" para tomadores de riscos. As firmas de seguros
financeiros aumentaram drasticamente os prémios dos seguros de
incumprimento para estas duas agências de hipotecas patrocinadas pelo
governo. Mas investidores ainda foram capazes de ganhar uns poucos pontos base
a mais do que através da compra dos seus títulos normais.
Deveriam eles ser salvos? E se o governo não o fizesse, significaria
isto que a FNMA viria abaixo e o mercado hipotecário estado-unidense
afundaria?
Será que realmente queremos uma nova bolha? Ou a
re-industrialização?
Vamos dar um passo atrás e examinar a função que a Fannie
e o Freddie desempenharam na Bolha Económica de hoje.
Quem esperaria que o Fed, como "conselho director" para o sistema
bancário comercial, a Federal Housing Agency (FHA), a FNMA e o Freddie
Mac, criaturas do sector imobiliário, viesse a dar suporte?
Ostensivamente
criados para servirem "o povo", 90 por cento do qual é
devedor, estas instituições realmente apoiam os 10 por cento da
população que são credores.
Este ano já assistiu a um milhão de arrestos e o colapso dos
títulos lixo está a agravar-se. Os preços das casas
estão a mergulhar quando as taxas de juro das eufemisticamente chamadas
hipotecas de taxa ajustável (ARMs)
"ajustam-se" na única direcção para que foram
concebidas: a saltar de taxas tentadoras para níveis de agonia.
É mais difícil tomar emprestado no mercado de hoje. A economia
atingiu seu limite de dívida e está a entrar na fase da
insolvência.
Nós não estamos no fim de um ciclo e sim no fim de uma era. O
velho mundo da dívida encareceu num grau tão fraudulento que
não pode ser restaurado, apesar da revogação do
Glass-Steagall Act em 1999 que desencadeou conflitos financeiros de interesse
quando a administração Clintou apoiou o secretário do
Tesouro Robert Rubin e o lobbysta financeiro Greenspan na
afirmação de que os mercados financeiros seriam
auto-reguláveis e cumpridores da lei. A bolha imobiliária foi
tornada possível num grau excepcional uma vez que a
população da
América saiu da Segunda Guerra Mundial relativamente livre de
dívidas. Cada recuperação elevou o nível de
dívida a um grau mais elevado. Isto é como alguém a
tentar conduzir um carro com os travões a pressionarem cada vez com mais
força todas as vezes em que aparece um semáforo
(recessão). Nós agora atingimos o limite do endividamento, e a
economia está cravada. A guerra de classe está de volta nos
negócios, com uma vingança. Ao invés de ser a velha e
familiar guerra de classe entre os empregadores industriais e a sua
força de trabalho, esta reverte à velha guerra de classe
pré-industrial de credores contra devedores. O seu princípio
director é "O peixe grande come o peixe pequeno",
principalmente pela dinâmica da dívida que expulsa a prometida
economia da livre escolha.
Isto está a ser retratado como uma economia pós industrial, mas
é uma história muito mais antiga. Nenhuma economia na
história foi alguma vez capaz de liquidar as suas dívidas. Esta
é a essência da "magia dos juros compostos". A
dívida cresce inexoravelmente, tornando ricos os credores mas
empobrecendo a economia no processo, destruindo portanto a sua capacidade para
pagar. Reconhecendo esta dinâmica financeira, a maior parte das
sociedades optou pela resposta lógica. Desde a Suméria no
terceiro milénio AC e a Babilónia no segundo milénio
até a Grécia e Roma no primeiro milénio AC, e depois desde
a Europa feudal até as dívidas e complicadas
reparações de guerra Inter-Aliadas que arruinaram as
finanças internacionais após a I Guerra Mundial, a resposta tem
sido reduzir as dívidas à capacidade para pagá-las.
Isto só pode ser feito pela eliminação das dívidas
que não podem ser pagas. A alternativa é a escravidão
pela dívida
(debt peonage).
Ao longo da maior parte da história, países descobriram
reiteradas vezes que a bancarrota eliminação de
dívidas é o meio para libertar economias. A ideia
é libertá-las de uma situação em que o excedente
económico é divergido para longe de novos investimentos
tangíveis a fim de pagar banqueiros. A ideia clássica de
mercados livres é evitar monopólios privados, tal como o
privilégio único dos banqueiros comerciais de criarem
crédito bancário e cobrarem juros sobre ele.
As propostas actuais substituiriam dívidas más que não
estão publicamente seguradas (excepto pela garantia
"implícita" que os legisladores relevantes têm de
comprar) com novas dívidas, e novos chupadores
(suckers)
a serem deixados na posse do saco. Sauditas e cidadãos do Bahrain, em
particular, estão a ser cortejados.
Mas o principal é que há uma campanha pública que
está a ser lançada pelo sector FIRE
(Finance, Insurance and Real
Estate)
para convencer o público americano de que, nas infames palavras
de Margaret Thatcher, "não há alternativa" (TINA).
(Ver por
exemplo a excelente cobertura do
Wall Street Journal
da crise do FNMA/hipotecas em 11/Julho/2002, p. A12.) Quando se
ouve tal coisa, isto quer dizer que a censura política está a ser
mobilizada para inundar os media populares com o equivalente intelectual das
moscas de fruta estéreis a serem soltas para travar a
disseminação de uma ameaça. Tudo o que se ouve é
uma barragem de afirmações de que o governo deve preservar as
ficções financeiras da FNMA e do Freddie Mac a fim de
"salvar o mercado".
Mas o que é "o mercado" que está para ser
"salvo"?
Para a Wall Street e os seus advogados no Congresso, é a massa de
dívidas más a crescerem às taxas
"mágicas" dos juros compostos, para além da capacidade
de pagamento dos devedores. Se os devedores não puderem pagar,
então o Governo "contribuintes" que apanhe o cheque
para a Wall Street. Enquanto isso, mais isenções fiscais
estão para ser dadas a fim de deixar o sector das finanças,
seguros e imobiliário com bastante dinheiro para "recuperarem"
as suas perdas, através da extracção de ainda mais rendas
e juros dos consumidores e assalariados da economia industrial.
A hipocrisia habitual está a ser servida para apoiar a
afirmação de que tudo isto é necessário para
"salvar a classe média", mesmo quando o que está a ser
salvo são as suas dívidas, não os seus activos.
Alguém tem de dar e os 10 por cento mais altos da
população querem ter a certeza de que não é a sua
própria posição económica, mas sim aquela dos 90
por cento da base. O "modo de vida" que está a ser salvo
não é aquele do proprietário da casa, mas o da
escravidão pela
dívida para suportar a concentração da riqueza no topo da
pirâmide económica.
Minha modesta proposta
Os accionistas da FNMA e do Freddie Mac provavelmente serão
exterminados, tal como o foram os accionistas das S&L no salvamento seus
depositantes na década de 1980. Há um caminho simples para salvar
as funções públicas da FNMA e do Freddie, se eles na
verdade forem considerados necessários para continuar a suportar o
mercado da dívida. Isto pode ser feito sem salvar os especuladores que
compraram as hipotecas empacotadas.
Antes de mais nada, nem todas as hipotecas que estas duas agências
compraram ou garantiram são lixo. A maior parte é genuína
e está a ser paga. Os pobres são honestos, afinal de contas, e
eles pensam que deveriam pagar por uma questão de honra mesmo se
não for do seu interesse económico assim fazê-lo quando as
suas casas caem em situação líquida negativa. Deixem
estas hipotecas continuarem a apoiar os títulos existentes da FNMA e do
Freddie Mac para que eles realmente recebam o serviço da dívida
hipotecária. Se houver algum problema, deixem os possuidores de
títulos terem a perda
(haircut)
habitual que é suposta acompanhar o risco. É por isso que estas
hipotecas têm taxas de juro tão elevadas, afinal de contas. Isto
é a lei para todos os possuidores de títulos quando os seus
investimentos vão para baixo. Por que fazer uma excepção
para os participantes na bolha imobiliária?
A regra do
caveat emptor
[6]
deveria aqui ser aplicada aos banqueiros e investidores. Eles compraram um
produto um fluxo de rendimento que eles acreditaram ou pretenderam que
podia ser pago. Qualquer estudante que aprende a matemática do juro
composto sabe que no fim as dívidas de nenhuma economia podem ser pagas.
Assim, isto deveria ser uma limitação financeira especial.
Para manter as suas actividades correntes, deixem a Fannie e o Freddie emitirem
uma nova série de títulos a série "nós
não falsificaremos mais". Ela seria baseada numa nova honestidade
baseada em avaliações mais realistas da administrabilidade
financeira da habitação, a qual eles são supostos estar a
promover. Estes passos não provocariam um colapso.
Mas antes de avançar para salvar a FNMA e o Freddie Mac, podemos
perguntar se seria uma tragédia para a sua dívida cessar
garantias. A Wall Street deu aos políticos a história de
encobrimento: de que [devem] apoiar a FNMA e o Freddie com o pretexto de
que o
seu empacotamento e revenda de hipotecas em grandes "fatias"
proporciona liquidez. Seus defensores afirmam estar a "modernizar" o
mercado hipotecário de imóveis ao criar padrões uniformes
e pacotes homogéneos. Mas estes pacotes estavam cada vez mais
contaminados com lixo, colocando despojos hipotecas de taxa ajustável
(ARMs) sem qualquer sinal de entrada e NINJAs
(no income, no job)
dentro das salsichas financeiras.
O que a Fannie e o Freddie fizeram foi proporcionar uma vasta nova fonte de
procura para hipotecas. O seu papel foi estender o mercado para a
dívida hipotecária, criando oportunidades de ganhar dinheiro
financeiramente num ambiente de inflação dos preços dos
activos a Bolha Económica. O efeito foi pressionar para cima os
preços da habitação. Isto tem sido o grande jogo
americano durante um século. E ele voltou-se cada vez mais para
investidores no exterior (incluindo crédulos bancos alemães, os
quais foram os primeiros a falirem por confiarem no mercado de hipotecas lixo
dos EUA), inchando a oferta de fundos emprestáveis que aumentam os
preços da propriedade.
Antes da FNMA e do Freddie Mac, bancos que emitiam hipotecas mantinham-nas
consigo, porque não havia compradores cegos lá fora. Isto foi na
era anterior à fraude. Ela é agora encarada como a Era Dourada.
Os preços da habitação eram mais baixos, e os compradores
não tinham de incidir profundamente em dívidas para comprarem
casas. Mas o Senado e o Congresso pelo menos os democratas
estão a pressionar a FHA e outras agências governamentais a
apoiarem o mercado hipotecário através da emissão de
empréstimos com pagamento inicial zero e outros subsídios. O
objectivo imediato não é ajudar os compradores de casas os
quais na verdade terão de pagar mais se o mercado habitacional
re-inchar. Cada nova crise económica acrescenta umas poucas novas
palavras à língua inglesa. Desta vez obtivemos
"re-inchar"
("reflate").
Outras incluem a do Prof. Roubini, da Universidade de Nova York, de
"estagdeflação"
("stagdeflation")
para uma combinação de deflação da dívida
de rendimentos e inflação de preços para commodities
quando o dólar afunda em resposta ao défice da balança de
pagamentos resultante em larga medida da guerra do Iraque. Mas isto é
uma outra história. A história de hoje é acerca de como o
Congresso está a pretender salvar os bancos que compraram ou empacotaram
estes títulos lixo, acerca da inutilidade deste salvamento e acerca de
como seria muito mais simples e mais justo simplesmente cancelar
(write off)
as dívidas más.
Conclusão
Os US$13 milhões de milhões
(trillion)
da dívida interna imobiliária não são mais
pagáveis do que os US$3,5 mil milhões da dívida do governo
a bancos centrais estrangeiros, ou a própria dívida
pública aliás. Adam Smith observou há mais de dois
séculos que nenhum governo alguma vez repagou as suas dívidas.
Naquele tempo a aristocracia os herdeiros dos senhores da guerra Vikings
que conquistaram a Grã-Bretanha e outros países europeus e
puseram as suas terras comuns em regime de propriedade privada
possuía a maior parte da terra livre e limpa. Hoje, o
imobiliário foi "democratizado", mas isto foi feito a
crédito. As hipotecas são as maiores dívidas da maior
parte das famílias americanas. Neste papel, a dívida
imobiliária tornou-se a base para o sistema bancário comercial, e
portanto a base dos 10 por cento mais ricos da população que
mantém os 90 por cento da base em dívida. Isto é o que
são acima de tudo a Fannie Mae, o Freddie Mac e "o mercado".
Nenhum dos dois partidos no Congresso apoia uma nova lei da bancarrota. O
dinheiro dos lobbies simplesmente não está ali. Assim, a
alternativa preferida parece ser uma nova bolha imobiliária, a qual
significa mais escravidão pela dívida para os novos compradores
de casas ao invés de os preços da habitação
caírem outra vez para proporções mais comportáveis.
Naturalmente, há uma alternativa
(there is an alternative, TIAA).
É fazer da renda a base do sistema fiscal ao invés de ser a
base para expandir dívida junto aos bancos. O imobiliário
poderia libertar o trabalho e a indústria de terem de pagar impostos.
Ao contrário, a não tributação da propriedade
forçou o trabalho a arcar com o fardo fiscal, e também a pagar
uma soma equivalente em juros para os bancos.
Mas isso é assunto para um futuro artigo.
Notas
[1] O actor que no filme
Casablanca
interpreta o capitão Louis Renault.
[2] O vilão na série de ficção científica
"Guerra das Estrelas".
[3] Gestor responsável pela falência fraudulenta da Enron.
[4] Financeiro americano que nas décadas de 70 e 80 criou o mercado dos
títulos de alto rendimento, também conhecido como "o rei dos
títulos lixo".
[5] Ayn Rand: Filósofa, defensora da teoria económica de Ludwig
von Mises.
[6]
Caveat emptor
: regra nas leis de contratos determinando que o vendedor
não garante a qualidade da sua mercadoria a menos que haja um
compromisso especificado (o comprador compra ao seu próprio risco).
Textos de Michael Hudson em resistir.info:
Super-capitalismo, super-imperialismo e imperialismo monetário
Greenspan, o grande inflacionador de activos
A pirâmide dos US$ 4,7 milhões de milhões: a Segurança Social dos EUA & a Wall Street
Irá a Europa sofrer da síndroma suíça?
Um grande especialista revela segredos dos centros bancários offshore
Salvar a economia, desmantelar o império
US$ 1012 de resgate para os jogadores da Wall Street
O jogo acabou. Não haverá retomada.
Como deveria o Médio Oriente investir o seu excedente comercial?
[*]
Antigo economista da Wall Street especializado em balança de pagamentos
e imobiliário no Chase Manhattan Bank (agora JPMorgan Chase & Co.),
Arthur Anderson, e posteriormente no Hudson Institute (nenhum parentesco). Em
1990 ajudou a estabelecer o primeiro fundo de dívida soberana do mundo
para a Scudder Stevens & Clark. Foi Conselheiro Económico Chefe de
Dennis Kucinich
na recente campanha primária presidencial dos democratas, e aconselhou
os governos americano, canadiano, mexicano e lituano, bem como o United
Nations Institute for Training and Research (UNITAR). Professor
Investigador Emérito da Universidade do Missouri Kansas City
(UMKC), autor de muitos livros, incluindo
Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance
. Email:
mh@michael-hudson.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/hudson07152008.html
. Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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