Piketty: Regular o capitalismo através da fiscalidade?
por Tony Andreani
[*]
e
Rémy Herrera
[**]
Thomas Piketty publicou em 2013, com o êxito que se sabe, um espesso
volume intitulado
Le Capital au XXI
e
siècle
(Éditions du Seuil, Paris). Um êxito merecido, pois este livre
representa um esforço bastante raro entre os economistas para
retraçar a história de um certo número de variáveis
económicas, tais como a taxa de crescimento da economia (ou seja, do
produto interno bruto, ou PIB) e a taxa de rendimento do "capital",
assim como a das desigualdades, ao longo de três séculos (tendo
mesmo uma retropolação tentada ate o ano zero), sempre
estabelecendo comparações entre os principais países ricos
do Norte (mas também, com menos dados, entre eles e os países
emergentes). Um trabalho impressionante, conduzido com uma
preocupação de clareza se de pedagogia que é preciso
saudar. Um trabalho indiscutivelmente útil, onde o leitor
encontrará uma mina de informações, que por vezes
vão contra as ideias recebidas.
A título indicativo, aprende-se por exemplo que uma taxa de crescimento
do PIB de 1%, que parece entretanto bem modesta, não é
sustentável a longo prazo, pois corresponderia a uma
multiplicação exorbitante deste indicador ao cabo de alguns
séculos, o que faz reflectir
[1]
. Aprende-se que os Estados Unidos foram durante muito tempo, e até o
fim do século XIX, bem menos desigualitários que os países
europeus, e que não queriam parecer-se muito quanto a isto; ou que a
mobilidade social ali é hoje mais fraca do que na Europa. Aprende-se
ainda que o capitalismo patrimonial nos nossos dias estaria mais desenvolvido
na França ou na Alemanha do que nos Estados Unidos. Descobre-se
também, ao contrário do que se teria pensado, que o
património público em França, apesar da sua
importância aos olhos dos investidores, é quase nulo (sendo as
dívidas públicas aproximadamente do mesmo montante), etc.
Mas o livro não se contenta em compilar séries de dados
estatísticos. Ele define uma problemática, enuncia uma tese
central, confronta-a com os factos, expõe uma tendência para o
século XXI e procura soluções. Segundo o autor, sem uma
regulação (fiscal), o "capitalismo" se ele
não conduzir ao apocalipse, como se supõe que Marx tenha pensado
torna-se entretanto incompatível com a democracia, pois esta
última é antinómica com a plutocracia e não pode
repousar senão sobre a meritocracia. Antes de entrar no pormenor,
é preciso começar por expor a tese central do livro.
A contradição fundamental do capitalismo segundo Piketty
Pode-se muito brevemente resumir a tese de Piketty, feita reiteradamente na
obra, da seguinte maneira: se o rendimento do capital é superior
à taxa de crescimento da economia, este capital faz bola de neve, pois
"os patrimónios vindos do passado recapitalizam-se mais rapidamente
que o ritmo da produção e dos salários (...). O passado
devora o futuro"
[2]
.
Seria preciso precisar à partida que, para o autor, o capital é
assimilado àquilo que seria preciso denominar os "bens de
capital", englobando de facto tudo aquilo que produz dinheiro, portanto
não apenas o capital dedicado à produção mas
também o imobiliário de habitação (que é de
um volume aproximadamente igual ao capital produtivo), a terra, as obras de
arte, etc. Em consequência, o "rendimento do capital"
considerado não se limita unicamente ao lucro da empresa. Retornaremos a
este ponto mais adiante. Portanto, por escolha deliberada, Piketty retoma a
noção de capital que se encontra na linguagem corrente, mas ainda
e sobretudo a concepção adoptada pelos economistas da corrente
dominante neoclássica de um capital visto como um activo qualquer, o
qual seria remunerado pela sua produtividade marginal (o preço da
última unidade útil de um bem).
O capital é portanto o património.
Quanto à taxa de crescimento da economia, Piketty decompõe-na
logicamente em crescimento da população e crescimento da
produção
per capita,
o que é mais pertinente do que simplesmente o crescimento, pois isso
leva em conta a evolução da população o
factor demográfico sendo demasiado frequentemente negligenciado, quando
as evoluções das suas estruturas, bastante previsíveis,
têm consequências cruciais sobre a economia
[3]
. Verificar-se-á assim que a taxa de crescimento da economia
estado-unidense não é mais elevada do que a da maior parte dos
países europeus senão porque a demografia ali é
relativamente mais dinâmica.
Retornemos aqui à "lei fundamental" do capitalismo, para
acrescentar uma precisão: o valor do património (em
relação ao rendimento nacional) é tanto mais elevado
quanto a taxa de poupança for importante e a taxa de crescimento do PIB
for fraca. E vejamos como esta "lei" declinaria. Se a taxa de
rendimento do capital fosse inferior ao crescimento da economia (por exemplo,
um rendimento de 1% para um crescimento de 2%), isso "mataria o motor da
acumulação"
[4]
, pois os capitalistas veriam seu lucro diminuir sem cessar e não
investiriam mais o suficiente. Se a taxa de rendimento do capital fosse igual
à taxa de crescimento da economia, estes capitalistas deveriam investir
todos os seus rendimentos (o que corresponderia a uma poupança de 100%,
reinvestida na totalidade) para que o seu capital progrida ao mesmo ritmo da
economia e, portanto, nada consumir a fim de manter a sua posição
social. Isto poderia acontecer se o capital já acumulado representasse
uma massa tão considerável (20-30 anos de rendimento nacional)
que já não proporcionaria grande coisa
[5]
. Mas o que é que impediria o capital de proporcionar 2% ao invés
de 5%? Será que seria o facto de que a produtividade marginal deste
último diminuiria devido à sua superabundância, como
sustenta Piketty, ou antes o facto de que a parte do trabalho não
cessaria de se reduzir? Voltaremos ao assunto.
A conclusão de Piketty é que a taxa de rendimento do capital deve
manter-se acima da taxa de crescimento da economia para que os capitalistas
continuem a investir sem cessar de consumir. Haveria portanto um volume
óptimo do capital acumulado, tal que a taxa de rendimento fosse
suficiente para favorecer o crescimento? O problema fundamental para Piketty
parece sobretudo que é reduzir a concentração deste
capital dispersando-o por uma tributação progressiva sobre o
rendimento que ele proporciona e um imposto sobre a fortuna, ampliando assim o
campo dos investidores privados
[6]
, bem mais eficaz segundo ele do que um poder público que teria, como no
sistema soviético, destruído o essencial dos patrimónios
privados. Estas tributações deveriam tornar demasiado fraco o
rendimento do capital após imposto, pois desencorajaria os investidores.
Isto é o que se chamaria "regular o capitalismo".
Ora, deve-se perguntar agora se a tese de Piketty permite dar conta dos
movimentos do capital (sua taxa de rendimento e seu ritmo de
acumulação em relação à taxa de crescimento)
e se assim será possível regular
post festum
o capitalismo.
O capitalismo e a sua história, segundo Piketty
Piketty nos preveniu logo na introdução: "Não me
interessa denunciar as desigualdades ou o capitalismo enquanto tal (...). O que
me interessa é tentar contribuir, modestamente, para determinar os modos
de organização social, as instituições e as
políticas públicas mais apropriadas que permitam por em
prática realmente e eficazmente uma sociedade justa
[7]
". Mas de qual capitalismo se trata? Notamos com efeito que a
definição dada do capital como "sinónimo de
património" pode aplicar-se a não importa que sistema social
patrimonial, quer à sociedade do
Ancien Régime
e à sua detenção privativa da terra entre as mãos
da aristocracia e da Igreja quer a outras formas privadas de posse dos meios de
produção. A regulação (pelo imposto) valeria o
mesmo para não importa qual sistema de propriedade privada, ou mesmo
pública. Dito isto, foi o capitalismo que a partir do fim do
século XIX desenvolveu por si mesmo esta regulação.
Mas o capitalismo experimentou uma segunda regulação
política, que vai igualmente actuar sobre a acumulação dos
capitais. Esta é, como se viu, um fenómeno
"mecânico" implicando uma desigualdade crescente. Isto é
o efeito da divergência entre a taxa de rendimento do capital e a taxa de
crescimento da economia. Ela ainda seria mais forte, diz Piketty, se não
existisse uma "força de convergência", a saber, a
difusão dos conhecimentos e a elevação das
qualificações, que actuam em favor dos salários. É
aqui que intervém a regulação pelo Estado social, pois
é ele que para Piketty assegura melhor a promoção da
educação. Entretanto esta força de convergência
não é suficiente para compensar a dinâmica dos
patrimónios, reforçada pela herança, ao contrário
do que acreditaram certos historiadores muito optimistas da economia, como
Kuznets. A dupla regulação política, ao mesmo tempo fiscal
e social, apenas moderou o ritmo da acumulação e o agravamento
das desigualdades.
Contudo, isto não explica a queda da riqueza patrimonial após
1920 (época em que representava seis a sete vezes o rendimento
nacional). Foram grandes acidentes históricos que, segundo o autor,
enfraqueceram a este ponto o fenómeno da acumulação: as
guerras mundiais, as revoluções e a descolonização
destruíram grandes quantidades de capitais, a poupança privada
foi drenada pelos Estados em guerra e corroída pela
inflação, finalmente o "novo contexto político de
propriedade privada e regulada do pós-guerra" fez cair o
preço dos activos
[8]
. O movimento a seguir retomou o seu curso, a riqueza patrimonial crescendo
outra vez a partir de 1950 para atingir hoje os cinco a seis anos de rendimento
nacional.
Como se vê, o autor evita subestimar os factores institucionais e
políticos (ele se reclama de uma economia política, contra o
economismo dos economistas), mas estes factores acabam de alguma maneira por
modificar o mecanismo da acumulação.
Ora, é este mesmo mecanismo que é preciso interrogar.
O que é que faz com que o capital se acumule, que apresente um
rendimento geralmente superior à taxa de crescimento e corte para si a
fatia do leão no valor acrescentado? Não é raciocinando a
partir da produtividade marginal dos factores que se pode compreender isto,
pois esta produtividade, se bem que seja calculável, não é
independente do modo de propriedade destes factores e da
correlação de força que dela resulta (Adam Smith já
o sabia). É forçoso aqui reconhecer que a análise marxista
tem um poder explicativo bem maior e que ela esclarece melhor a história
contemporânea do capitalismo. E eis aqui porque.
O que é então o capital e a sua dinâmica?
Se Piketty tivesse lido atentamente
O Capital
de Marx (mas será que leu?), esta não lhe teria feito dizer que
o capital pode "acumular-se sem limites"
[9]
. Bem pelo contrário, o capital vê a sua taxa de lucro diminuir
exactamente quando se acumula e isso trava a própria
acumulação. É a famosa lei marxiana da baixa tendencial da
taxa de lucro, que Piketty não ignora, mas que segundo ele repousaria
sobre um erro: a taxa de lucro baixaria efectivamente se o capital não
fizesse senão aumentar em volume, quando "é o crescimento
permanente da produtividade e da população que permite equilibrar
o acréscimo permanente de novas unidades de capital (...) Na
ausência disto o capitalistas cavam efectivamente a sua própria
sepultura"
[10]
. Ora, não só Marx não ignora o crescimento da
produtividade como ainda é sobre ela que fundamente grande parte da sua
análise. Antes de explicar, convém no entanto recuar ao
próprio conceito de capital.
Se se quiser compreender em profundidade a dinâmica da economia
capitalista é preciso, seguindo Marx, pensar o capital não como
uma massa de bens mas sim como
tudo o que põe o trabalho em movimento,
tanto na indústria como nos outros sectores, e que produzi assim uma
riqueza nova, um valor acrescentado. O inquilino de um apartamento não
cria valor de uso novo nem portanto nenhum valor, ele não faz
senão consumir um bem, pagando um preço pelo uso deste bem. O
proprietário de uma terra não pode valorizá-la
senão se a trabalhar, ou se ele utilizar um rendeiro para lhe extorquir
uma renda ou pagar um salário a um operário agrícola para
cultivá-la (ele se torna então um capitalista agrário). O
detentor do dinheiro não pode dele tirar um rendimento senão se o
emprestar (crédito ou obrigação) a um empreendedor ou o
puser à disposição deste último
(subscrição de uma acção). O proprietário de
uma obra de arte não a modifica por um trabalho qualquer, ele apenas a
consome durante o seu uso ou revende-a em função nomeadamente da
sua raridade, sobre a qual pode especular. Portanto, todos estes bens
não são capitais produtivos e, se proporcionam dinheiro, é
porque
o valor foi produzido alhures,
estas rendas não correspondem senão à
redistribuição de mais-valias realizadas na
produção
[11]
. Esta redistribuição é ocultada, pois a
perequação dos lucros entre o sector produtivo e os diversos
sectores não produtivos, através do movimento do mercado de
capitais, faz baixar o lucro puro da empresa. Em consequência, a
dinâmica do capitalismo situa-se no processo produtivo (de bens e
serviços) e somente aí.
Ora, é precisamente porque o progresso técnico aumenta a
produtividade do trabalho no sentido estrito (ou seja, para uma mesma
duração e uma mesma intensidade do trabalho) que o capital
vê logicamente seu lucro diminuir; não porque ele empregue mais
máquinas e um número de trabalhadores suplementares, mas porque
ele diminui o trabalho necessário à produção (em
termos marxianos, o capital constante aumenta relativamente ao capital
variável) e, em consequência, ele diminui o novo valor produzido e
portanto se o salário permanece constante a parte do
lucro. Além disso, a concorrência entre os capitalistas acelera
esta substituição do trabalho pelo capital. Portanto a grande lei
da acumulação capitalista não significa de modo algum que
o capital tenderia a crescer ao infinito, como pretende a
interpretação pikettyana de Marx, mas que este capital se
concentra entre mãos que são cada vez menos numerosas. Se ele
parece acumular-se globalmente, isto acontece porque ele se apodera de novos
sectores substituindo até outros modos de produção
(nomeadamente na agricultura camponesa e no artesanato) ou porque explora novos
sectores ate então ignorados.
Tal é, mais exactamente, segundo Marx, o "mecanismo"
fundamental da economia
propriamente capitalista.
Este mecanismo está duplamente ocultado. Por um lado, porque o capital,
como "por mágica", parece engendrar por si mesmo seu
rendimento (o que sustenta a economia neoclássica sem chegar a
demonstrá-lo, nem mesmo a medir o capital), quando é do trabalho
que retira sua energia. Por outro lado, porque o excedente (que Marx chama
mais-valia) é redistribuído pelo mercado entre todos os bens
capitais, quer sejam ou não produtivos de riqueza real. É porque
ele está oculto que Marx opõe sua economia
"esotérica" à economia "exotérica", ou
vulgar.
Mas este mecanismo, que deveria conduzir à baixa tendencial da taxa de
lucro, parece não se verificar na prática, uma vez que a taxa de
rendimento do capital, para falar como Piketty (e ignorando aqui a
confusão que ele introduz entre capital e bens de capital ou
património) não diminuiria, segundo ele, no longo prazo. É
aí que é preciso reencontrar o conjunto da análise
marxiana, que não se limita a este mecanismo, o qual funciona
"como" uma lei da natureza. E vai-se ver que ela permite explicar bem
melhor do que o faz Piketty a história contemporânea do
capitalismo: a grande turbulência
(trou d'air)
do capital durante a maior parte do século XX e seu retorno em
forço a partir dos anos 1980.
Compreender o retorno em força do capital
O crescimento sempre foi fraco, diz Piketty apoiando-se nos dados recolhidos,
"fora de períodos excepcionais e de fenómenos de
recuperação
(rattrapage)
"
[12]
. Após os Trinta [anos] Gloriosos, ela reencontrou seu ritmo normal.
Ora, é pouco convicente que os 5% deste período se expliquem
unicamente pela reconstrução do pós guerra e pelo facto de
os países europeus alcançarem os Estados Unidos. É
também um período em que a demografia é dinâmica e
em que a relação de força é favorável ao
trabalho por razões ligadas à conjuntura histórica
o que Piketty tão pouco nega. O que se passa quanto à taxa de
rendimento do capital, que não se pode confundir com a taxa de lucro nos
sectores produtivos, mas que pode fornecer uma aproximação da sua
evolução? Ela é elevada, em França e na
Grã-Bretanha (os dois casos pormenorizados no estudo), por alturas de
1950, antes de declinar fortemente, depois tornar a subir pouco após
1980 e recair vinte anos mais tarde
[13]
. Mas, como o crescimento enfraqueceu, os patrimónios desvaneceram-se de
novo apesar deste rendimento médio. O que se passou?
A taxa de crescimento é elevada durante os Trinta Gloriosos porque a
produtividade do capital é elevada: ela põe em movimento muito
capital. A análise marxista desejaria aqui que a taxa de lucro
diminuísse, exactamente porque a produtividade do trabalho é
forte: é preciso menos trabalho para por em movimento a mesma quantidade
de capital, o que diminuiria a fonte da mais-valia. Como então expliqar
que a taxa de lucro seja elevada durante este período, o que parece
invalidar a lei da baixa tendencial da taxa de lucro? Aqui intervém
"a causa que contraria a lei" invocada por Marx: o capital tende a
diminuir em valor, não só porque ele experimenta um desgaste
material e uma obsolescência (rápida se o progresso técnico
se acelera), mas também porque a produtividade é elevada,
nomeadamente no sector de bens de equipamento, reduz a quantidade de capital
necessário à produção. É a isto que Marx
denomina "economias de capital constante". A isto é preciso
acrescentar a forte intensidade do trabalho ligada ao taylorismo e ao fordismo
que, contrariamente à produtividade, aumenta a quantidade de trabalho
utilizado e consequentemente o lucro se o salário não
acompanhar.
Por que a taxa de crescimento do produto e a taxa de lucro caem a partir de
meados da década de 1970? Por causa de dois movimentos de fundo. O
primeiro é, hoje em dia está demasiado esquecido, a crise do
modelo taylorista-fordiano: os trabalhadores suportam cada vez pior o trabalho
comandado e em migalhas e estão menos motivados pela busca de uma
melhoria de um nível de vida que se elevou, daí uma
diminuição da sua produtividade, que a
"administração participativa" tentará sem grande
êxito fazer subir outra vez. O segundo movimento é que o progresso
técnico se enfraqueceu. Desde então, a parte do trabalho no valor
acrescentado diminui ao mesmo tempo que a sua produtividade, se bem que a fonte
do lucro se reduza. A "causa que contraria a lei" (a economia de
capital) não age mais com a mesma intensidade.
Como é que a taxa de lucro subiu fortemente a partir do primeiro
terço dos anos 1980, antes de descer ligeiramente e então
estabilizar-se? Aqui, mais uma vez, uma análise marxista parece
pertinente e ela não tem nada de "mecânico". É
muito conscientemente que os capitalistas iniciam uma série de
políticas para aumentar a quantidade de trabalho fornecido: a
duração do trabalho recomeça a aumentar, assim como sua
intensidade, tal como o demonstram muitos indicadores. Eles também
realizam fortes economias de capital através dos métodos do fluxo
tenso (do tipo Kanban) e da qualidade total. Procuram combater a
resistência passiva dos trabalhadores pela
"administração participativa". Mas tudo isso não
funciona senão quando os salários são contidos; é
já a austeridade salarial. E os capitalistas aí chegam tanto mais
facilmente porque o desemprego estrutural é elevado (ainda uma
"causa" invocada por Marx para contrariar a baixa da taxa de lucro: a
"superpopulação relativa", que pesa sobre os
salários daqueles que têm um emprego). Para impor esta austeridade
salarial eles têm necessidade da ajuda do Estado. Põem-se
então em prática as políticas neoliberais:
flexibilização do mercado de trabalho contra as diversas
regulamentações existentes, percebidas como rigidezes a eliminar,
diminuição do "custo do trabalho" reduzindo os
"encargos salariais", inclusive as contribuições
sociais que são de facto salário indirecto (reembolso das
despesas do doença, transferência de subsídios de
desemprego...) ou diferido (pensões de reforma)
[14]
.
São estas políticas que prosseguem hoje, mesmo com um vigor
acrescido. Pois a mundialização pesou sobre os lucros das
empresas, de modo que foi preciso agravar novamente a pressão sobre os
salários por deslocalizações e/ou a ameaça e as
efectuar. Além disso, também, a hipertrofia do sector financeiro,
impulsionada pela ascensão do sistema de crédito
[15]
e pela super-acumulação de capital fictício
[16]
, amputou a economia real de uma parte dos seus lucros.
A análise marxista fornece, vê-se através deste breve
resumo, uma explicação mais fina dos movimentos do crescimento e
do rendimento do capital. Ela reintroduz directamente a luta das classes nestes
movimentos, na medida em que as políticas administrativas são
tudo salvo fenómenos "mecânicos". Ela a reintroduz
também indirectamente, pois a classe dominante teve de investir no
Estado para enfraquecer as instituições do Estado social e os
meios de resistência dos assalariados.
Esta ofensiva neoliberal não está prestes a interromper-se, pois
a mundialização não está controlada (em particular
numa União Europeia aberta a todos os ventos) e o sector financeiro
permanece muito pouco regulado. Mas ainda há outras razões. A
produtividade do trabalho permanece mais fraca que na época dos Trinta
Gloriosos, o que trava o crescimento e que faz com que o capital se acumule sem
retornar o equivalente. Numerosos economistas interrogam-se sobre o
mistério desta baixa da produtividade, conscientes de que a
revolução das novas tecnologias da informação e da
comunicação (NTIC) não teve repercussões tão
benéfica em termos de crescimento do PIB quanto as
revoluções tecnológicas anteriores. Mesmo se se admitir
que estas novas tecnologias exigirão muito tempo para produzir seus
efeitos favoráveis, é provável que, nos próximos
anos, elas não aumentarão enormemente a produtividade do
trabalho. Finalmente, é o próprio modo de crescimento que
está em crise, devido à multiplicidade das suas externalidades
negativas. E a reconversão do modo de crescimento, se bem que existam
vontade políticos para bem conduzi-la, exigirá montantes
certamente consideráveis de capital, o que tenderá a orientar a
taxa de lucro para a baixa e implicará por isso políticas cada
vez mais agressivas contra o trabalho.
A dificuldade e os limites de uma revolução fiscal
O êxito do livro de Piketty tem a ver, nomeadamente, com a
implacável colocação à luz do dia da
ascensão das desigualdades. Ela não tem como surpreender o
economista marxista: a tendência longa do capitalismo Marx
mostrou-o de um modo que ninguém mais pode negar é, por um
lado, a centralização do capital (em detrimento dos outros
sistemas de produção) e, pelo outro, sua
concentração (num número de mãos cada vez mais
reduzido). Certamente sociedades pré capitalistas também
conheceram desigualdades impressionantes, mas com meios de
coerção que eram muito mais extra-económicos
(políticos). Além disso, parece que as desigualdades de hoje
são, em proporção, mais elevadas que na
Belle Époque,
mas o nível atingido actualmente por estas desigualdades é sem
precedente, porque doravante estendem-se à escala planetária.
Assim, 4,5 milhões de pessoas possuem cerca de 20% do património
mundial. Mais espectacular ainda: a fortuna dos 85 miliardários mais
ricos do globo é igual àquela da metade da humanidade os
cerca de 3,5 mil milhões de pessoas mais pobres.
Remediar isso pela fiscalidade é entretanto um caminho extremamente
difícil, dada a concorrência fiscal que reina entre os diferentes
países, nomeadamente com e pelo viés dos paraísos fiscais.
A OCDE está consciente e insta seus membros a porem-se de acordo para
praticar o intercâmbio automático de informações
sobre as contas financeiras dos indivíduos para actuar contra a
evasão fiscal. Supondo que se chegue lá, por diversos meios de
retorsão, para por na ordem os países recalcitrantes, isso
não impediria os Estados de jogarem o dumping fiscal e as firmas
multinacionais de praticarem a optimização fiscal, o que
permitiria assim aos mais afortunados continuarem a enriquecer-se, com toda a
legalidade. E mesmo se a própria optimização fiscal fosse
anulada, os países com fiscalidade mais baixa continuariam a enriquecer
seus próprios proprietários.
Tudo isto é bem sabido por Piketty, pois desejaria que o imposto sobre a
fortuna fosse mundial; mas ele deve limitar-se à sua
generalização à escala regional e, nomeadamente, ao
nível europeu. Como esta concorrência fiscal está inscrita
nos tratados europeus, seria preciso então revê-los e obter
sobre a questão o acordo dos 28 países que compõem a
União. Seria possível harmonizar a fiscalidade sobre o capital
(sobre seus rendimentos e sobre o património) ao menos ao nível
da zona euro? Seria preciso previamente que os governos desta zona se pusessem
de acordo. A menos que fosse instituído um Parlamento da zona euro, onde
uma maioria de deputados adoptaria esta harmonização, o que
é a proposta de Piketty. Isto seria uma pequena
"revolução", mas que não poria fim ao dumping
fiscal praticado pelos países fora da zona euro e no resto do mundo. O
único meio de o combater seria retornar a uma espécie de
proteccionismo, tarifando as importações de tais concorrentes.
Mas isto em si mesmo seria um dos fundamentos da actual União Europeia
que seria abalado...
É sobretudo a fiscalidade dos altos rendimentos e do património
que se depararia com a resistência feroz dos seus detentores,
considerando que fortes desigualdades são propícias ao
desenvolvimento e que não se poderia tocar na felicidade daqueles as
desfrutam
[17]
. Os mais altos dirigentes de firmas transnacionais persuadem-se e procuram
fazer acreditar que eles merecem seus altos salários e sua fortuna pela
excepcionalidade dos seus talentos, que fariam deles os verdadeiros criadores
de riqueza. Esta pretensão é não só
inverificável (seria impossível, reconhece o próprio
Piketty, determinar sua "produtividade marginal" porque eles
estão no seio das empresas em situações de
excepção) como também infundada. Na realidade, o
único mérito que se pode atribuir a estes empresários que
tão bem "venceram" é terem tomado responsabilidades
gestionárias, em geral com dinheiro emprestado, e terem tido o devido
faro, terem talvez descoberto oportunidades de mercado um pouco antes dos
outros. Pois os verdadeiros inovadores permanecem muito frequentemente na
sombra. Não foi Bill Gates que descobriu a informática. Mas
será bem difícil fazer com que os muito ricos admitam que
não são geniais e mesmo aos menos ricos que não merecem
inteiramente suas remunerações. O imposto sobre os rendimentos,
que subiu a níveis confiscatórios sob a presidência de F.D.
Roosevelt (numa situação excepcional de crise gravíssima,
depois de guerra mundial) teria esta vantagem. Assegura Piketty que ele
desencorajaria os altos dirigentes de se fazer conceder salários
exorbitantes, uma vez que estes últimos seriam fortemente podados.
Pode-se duvidar: para eles é também questão de
prestígio. Quanto aos detentores de capitais (os investidores), eles
podem sempre se gabar de terem feito as boas aplicações, mas o
mérito cabe mais frequentemente a agentes especializados que eles pagam
(abundantemente) para isto. Eles não se crêem menos
legítimos para receberem suas rendas. Uma outra medida permitindo
reduzir as desigualdades de fortuna seria tributar pesadamente a
herança, o que limitaria a concentração dos
patrimónios. Ela se depara contudo com resistências ainda mais
fortes que o imposto sobre o rendimento, pois tem a ver com o desejo de se
perpetuar através dos seus filhos
[18]
.
Na realidade, o único modo verdadeiramente eficaz de reduzir
significativamente as desigualdades é agir sobre a
repartição primária (antes de impostos) dos rendimentos.
Diminuir os ganhos em salários e outros benefícios
(stock options,
retraites chapeau
,
prémios à chegada, etc) muito provavelmente não
quebraria a motivação dos verdadeiros empreendedores, pois o que
os move é em primeiro lugar o gosto da acção e do poder. A
isso é preciso acrescentar que não existe um verdadeiro
"mercado" de dirigentes de empresas (trata-se antes de um sistema de
cooptações), o qual faria caírem suas
remunerações (Marx pensava que eles neste caso seriam pagos pelo
valor da sua força de trabalho). Mas fixar tectos para as
remunerações, como se pôde fazer para os dirigentes de
empresas públicas, ou instituir uma grelha salarial, como é o
caso na função pública, ou qualquer outro método,
são impossíveis em economia de mercado capitalista onde domina a
propriedade privada. Da mesma forma, poder-se-á "regular" a
finança tanto quanto se queira, mas não seria possível, em
economia "liberal", limitar antes dos impostos os rendimentos dos
investidores (dividendos, juros, mais-valias, ...). Para isso seria preciso de
facto mudar de sistema económico.
Piketty não faz senão uma alusão muito rápida no
fim da sua obra, quando fala em "novas formas de propriedade partilhada,
intermediária entre propriedade pública e propriedade privada,
que é uma das grandes apostas do futuro"
[19]
. Isso pode significar um bocado de coisas: propriedade dos accionistas com
poderes concedidos aos outros "stake holders", novas formas de
propriedade pública, cooperativas, etc. E isto é exactamente o
fundo do problema.
A democracia não é a meritocracia
E isto nos conduz à questão da democracia A meritocracia
[20]
não seria senão uma nova forma de aristocracia, ao passo que o
ideal da democracia, seu ponto
omega,
é o poder de todos os cidadãos, que não consiste
só em se fazerem representar e dirigir pelos mais capazes, ou presumidos
como tais.
Primeiro seria preciso que estes últimos pudessem emergir facilmente do
povo. Ora, como se sabe, estas elites tendem a transmitir entre si a sua
herança cultural e relacional, ou seja, a "reproduzir-se". Se
bem que a igualdade das oportunidades, mesmo num mundo em que a herança
material tenha desaparecido ou tenha sido reduzida a pouca coisa através
de pesados direitos de sucessão, é impossível de realizar
e isto sejam quais forem os esforços da escola "republicana".
Aqui, não se pode esquecer tão pouco a endogamia social. Tudo
isto faz com que as "elites competentes" tendam a viver em
círculo fechado e a desligar-se das preocupações e das
necessidades do povo. Nota-se muito especialmente nos países do Norte,
onde as elites mundializadas vivem nas grandes metrópoles, com um
séquito de trabalhadores dos serviços e de serviçais da
casa, perderam o contacto com os operários, os empregados, os
cultivadores e mesmo com os pequenos empresários relegados à
periferia, a das pequenas e médias cidades e de aldeias do campo
[21]
. Se as elites não devessem mais seu estatuto à importância
das suas riquezas financeiras, isso não alteraria profundamente esta
fractura social. Se os quadros não fossem mais estes super-quadros da
sociedade actual de que fala Piketty, eles não permaneceriam menos
ciumentos dos seus interesses e centrados sobre si mesmos.
Além disso, não basta poder eleger regularmente, nem mesmo poder
revogar, "bons representantes", que se tornariam, por
intermédio do funcionamento dos partidos, profissionais da
política. Seria preciso ainda que os eleitores tenham eles
próprios uma bagagem suficiente para indicá-los com conhecimento
de causa e para julgar adequadamente as suas acções. Este deveria
ser o papel da escola e dos media. Mas é o desenvolvimento da democracia
económica que mais poderosamente ajudaria nisto.
Finalmente, resta que cabe a cada um apreciar os efeitos das escolhas
políticas sobre a sua vida concreta. Onde se reencontra ainda a
questão da democracia directa. Não é evidente que tirar
responsáveis à sorte, tal como era praticado pelos gregos
antigos, seja a solução, devido à bagagem de
competências técnicas que é necessária. Em
contrapartida, os procedimentos referendários, sob certas
condições, e sobre os assuntos mais importantes para o devir
colectivo dos cidadãos, mostram-se certamente necessários. E, no
quotidiano, os da democracia participativa são o meio para que os
cidadãos possam sempre ter a sua palavra a dizer. Estamos portanto bem
longe da democracia meritocrática.
A obra de Piketty, que doravante ser tornará referência pela
riqueza dos seus dados, confirma-nos o que já se sabia, mas sem tanta
precisão, a saber, que o capitalismo produz desigualdades cumulativas e
que elas acabam por ser completamente antinómicas com um funcionamento
real da democracia. Seu valor empírico parece-nos incontestável,
tanto que era impossível dar conta de modo desenvolvido aqui. Mas o seu
valor explicativo é muito limitado.
Uma questão é saber qual é a interacção
entre a taxa de crescimento da economia e a taxa de rendimento do capital. A
taxa de crescimento depende do crescimento da população e da
produtividade do trabalho. Ora, por um lado a produtividade do trabalho
não actua sobre o crescimento senão no sector produtivo, na
economia real. E, pelo outro lado, a elevação da produtividade
tende a fazer baixar o rendimento do capital: foi o que quisemos recordar
seguindo Marx. Será preciso então, para elevá-la,
não só fazer economias de capital mas ainda, para os
capitalistas, graças ao poder que lhes confere a propriedade, conduzir
acções resolutas para ao mesmo tempo aumentar a quantidade de
trabalho fornecida e travar os salários. Piketty queria fazer uma
economia política, mas sua economia no fundo permanece muito pouco
política, num sentido amplo do termo.
Uma outra questão é saber o que é que liga a taxa de
poupança à taxa de rendimento do capital, sem se contentar em
dizer que o primeiro determina o segundo. Ora, o bom nível de rendimento
do capital é aquele que favorece o investimento, mas por um lado os
ricos consomem uma boa parte dos seus rendimentos em despesas
sumptuárias ao invés de investir. E, por outro lado, ao mesmo
tempo, eles poupam muito mais que os outros, as classes médias e
sobretudo as classes populares, o que enfraquece o consumo e portanto o
crescimento. Ainda aqui, a economia de Piketty é muito pouco
política. Uma sociedade muito desigualitária não é
favorável ao crescimento (bom ou mau, isso é outra
questão).
As variações da taxa de crescimento da economia dependem de
factores tecnológicos e de acontecimentos políticos, certamente,
mas também da natureza do próprio sistema político. O
forte crescimento dos Trinta Gloriosos não está ligado apenas a
um processo de recuperação
(rattrapage),
mas também a uma política estatal voluntarista, tanto mais
eficaz quanto o Estado tiver nas suas mãos alavancas de comando. Pode-se
sem dúvida dizer a mesma coisa da China de hoje: se a sua taxa de
crescimento e tão elevada, superior àquelas dos outros
países emergentes, e mais que a dos países do Norte, é
porque o Estado quer isso com força. Também aqui, decididamente,
a economia de Piketty é demasiadamente pouco política. Desde
logo, a política fiscal preconizada por este não só
arrisca-se a deparar-se com bloqueios políticos como ainda deixa intacta
a base de um sistema (o sistema capitalista) que produz, através do
poder de dominação conferido pela propriedade privada do capital,
desigualdades que tolhem constantemente o crescimento (e o valor acrescentado a
partilhar), que produz mesmo crescimento negativo (se se deduz todos os custos
das destruições sociais e ambientais) e que, finalmente, distorce
a democracia ao serviço dos poderosos.
Notas
[1] Eis o que poderia confortar os partidários da tese do decrescimento.
Mas também se tem o direito de pensar que, nas próximas
décadas, o crescimento (não importa qual, naturalmente) é
desejável para retirar a maior parte da humanidade da miséria, o
que é possível se for verdadeiro que a demografia mundial
está em vias de se estabilizar.
[2] Piketty T.,
Le Capital au XXI
e
siècle
, Éditions du Seuil, p. 942.
[3]
Cf
.
ibidem
, p. 127.
[4]
Ibidem
, p. 943.
[5]
Ibidem
, p. 925.
[6] Houve no século XX uma certa dispersão, com a
constituição de uma classe média patrimonial. Mas
"ela não arrancou senão algumas migalhas: pouco mais de um
terço do património na Europa e apenas um quarto nos Estados
Unidos" (ibidem, p. 411).
[7]
Ibidem
, p. 62.
[8]
Ibidem
, p. 233.
[9]
Ibidem
, p. 27.
[10]
Ibidem
, p. 362.
[11] Um argumento bastante semelhante foi desenvolvido por David Harvey em
Afterthoughts on Piketty's Capital
(ver: davidharvey.org), mas de maneira circunstancial: "O
dinheiro, a
terra, o imobiliário, os locais e equipamentos que não são
utilizados produtivamente não são capital. Se a taxa de
rendimento do capital que foi praticada é elevada, é porque uma
parte do capital retirou-se da circulação e se encontra a fazer
greve. Restringir a oferta de capital para investimentos novos (um
fenómenos que se observa actualmente) assegura um alto nível de
rendimento sobre este capital que está em
circulação". Haveria aí a "criação
de uma raridade artificial", que subiria a taxa de lucro, tal coo o faria
o capitalista economizando capital constante. Mas o processo fundamental aqui
é o deslocamento de capitais para o sector improdutivo, que é
simplesmente obra do mercado de bens capitais.
[12]
Ibidem
, p.125.
[13]
Ibidem
, p. 318.
[14]
Cf
. o blog de T. Andreani:
"Une explication marxiste. Quelques éléments d'interprétation de la crise des économies capitalistes développées"
(1999).
[15] Uma hipertrofia que se explica em parte pela baixa da procura das classes
populares a seguir à deflação salarial, baixa que
não pôde ser contida senão por uma expansão sem
peias do crédito.
[16] Ver: Herrera, R. (2015),
La Maladie dégénérative de l'économie : le 'néoclassicisme'
, Éditions Delga, Paris.
[17] É surpreendente que Piketty não faça referência
a uma obra importante, apoiada sobre estatísticas sólidas:
Pourquoi l'égalité est meilleure pour tous
, de Richard Wilkinson e Kate Picket (Éditions Les Petits Matins, 2013).
Para todos portanto, inclusive para os mais ricos, nomeadamente em termos de
saúde física e mental...
[18] Esta oposição à redistribuição fiscal
é atenuada nas sociedades igualitárias, como na
Escandinávia, e particularmente na Dinamarca onde fortes taxas
tributárias são aceites como contrapartida de um modelo social
muito protector, tanto mais que a dedução
(prélèvement)
verifica-se na fonte.
[19] Piketty, op. cit. p. 945.
[20] Etimologicamente: o governo pelos melhores. A meritocracia como
princípio de justiça social é contestável:
além de ser impossível verificar a parte do talento
involuntário e a do esforço, ela repousa sobre a
competição entre os indivíduos onde o êxito de uns
é também o fracasso dos outros. Mas aqui o problema
colocado
é político: será preciso, para assegurar a eficácia
da acção pública, confiá-la aos competentes?
[21]
Cf.
o notável estudo de Christophe Guilluy,
La France périphérique, Comment on a sacrifié les classes populaires
, Éditions Flammarion. 2014.
Ver também:
O combate à ortodoxia e o ataque à desigualdade do Prof. Piketty
, Charles Andrews
O Capital no Século XXI
, Michel Gruselle
[*]
Professor emérito de ciências políticas da Universidade de
Paris VIII.
[**]
Investigador do CNRS em economia, Centre d'Économie de la Sorbonne.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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