A recuperação do desastre neoliberal
Porque a Islândia e a Letónia não pagarão (nem
poderão) as trapaças dos cleptocratas
Podem a Islândia e a Letónia pagar as dívidas externas
assumidas por uma diminuta camada da sua população?
A União Europeia e o Fundo Monetário Internacional disseram-lhes
para substituir dívidas privadas por obrigações
públicas e para pagá-las elevando impostos, cortando nos gastos
públicos e obrigando cidadãos a esgotarem as suas
poupanças.
O ressentimento está a crescer não só em
relação àqueles que assumiram estas dívidas
a bancarrota do Kaupthing and Landsbanki da Islândia com as suas contas
Icesave, bem como proprietários fortemente alavancados por dívida
no países bálticos e na Europa Central como também
em relação aos conselheiros neoliberais e credores estrangeiros
que pressionaram estes governos a venderem ao desbarato os bancos e as
infraestruturas públicas a certos iniciados.
Na Islândia, o apoio para a adesão à UE caiu para pouco
mais de um terço da população, ao passo que na
Letónia o partido Centro da Harmonia, o primeiro desde a
independência a incluir um vasto segmento da população que
fala russo, ganhou a maioria em Riga e está a tornar-se o partido mais
popular do país. Os protestos populares em ambos os países
dispararam crescente pressão política no sentido de limitar o
fardo da dívida a uma capacidade de pagamento razoável.
Esta pressão política chegou ao máximo no Parlamento de
Reykjavik neste fim-de-semana. O Althing acordou uma proposta, que se espera
ser formalizada hoje, pela qual restringiria severamente pagamentos ao Reino
Unido e à Holanda como compensação pelo seu custo no
salvamento dos seus depositantes internos no Icesave.
Este acordo é, tanto quanto estou ciente, o primeiro desde a
década de 1920 a subordinar a dívida externa de um país
à sua capacidade para pagar. Os pagamentos da Islândia
serão limitados a 6 por cento do crescimento do produto interno bruto a
partir de 2008. Se os credores adoptarem acções que sufoquem a
economia islandesa com medidas de austeridade e se a imigração
continuar às taxas actuais a fim de escapar da economia infestada de
dívida, não haverá crescimento e eles não
obterão pagamento.
Um problema semelhante foi debatido há 80 anos atrás quanto
às reparações da Alemanha pela I Guerra Mundial. Mas os
decisores políticos ainda estão confusos sobre a
distinção entre espremer um excedente fiscal interno e a
capacidade de pagar dívidas externas. Não importa quanto um
governo possa tributar a sua economia, há um problema de transformar o
dinheiro em divisa externa. Como explicou John Maynard Keynes, a menos que
países devedores possam exportar mais, eles devem pagar tanto pela
contracção de empréstimos (estados e municipalidades
alemães contraiam empréstimos em dólares em Nova York e
depositavam-nos no Reichsbank para obter divisas internas, o qual pagava os
dólares aos Aliados) ou pela liquidação de activos
internos. A Islândia rejeitou estas políticas auto-destrutivas.
Há um limite para quanto pagamento externo possa efectuar uma economia.
Impostos internos mais altos não significam que um governo possa
transformar esta receita em divisas externas. Esta realidade é
reflectida na insistência da Islândia de que os pagamentos das
dívidas do seu Icesave, e obrigações relacionadas
decorrentes da fracassada privatização do seu sistema
bancário, seja limitada a alguma percentagem (digamos, 3 por cento) do
crescimento do seu produto interno bruto (PIB). Há a
assunção de que parte deste crescimento possa ser reflectida em
exportações mas, se isso não acontecer, a Islândia
está a insistir em "condicionalidades" do seu lado para levar
em conta a sua posição real de balança de pagamentos.
A questão da dívida externa ultrapassa a própria
Islândia. Por toda a Europa, partidos políticos que defendem a
condição de membro da UE enfrentam o problema de que o
critério de convergência de Maastricht limite a dívida
pública a 60 por cento do PIB. Mas a dívida externa do sector
público da Islândia excluindo dívida interna
saltaria para cerca de 240 por cento do PIB se o país concordasse com as
exigências do Reino Unido e da Holanda de reembolsar os seus governos
pelos salvamentos do Icesave. Enquanto isso, a concessão de
empréstimos da UE e do FMI aos países bálticos para apoio
à sua divisa externa ameaça igualmente descarrilar o
processo de ingresso que até há pouco parecia estar nos trilhos.
O problema para as economias pós-soviéticas é que a
independência em 1991 não trouxe os esperados padrões de
vida do Ocidente. Tal como a Islândia, estes países permanecem
dependentes de importações para os seus bens de consumo e
equipamento de capital. Os seus défices comerciais foram financiados
pela bolha global da propriedade contraindo empréstimos em
divisas externas contra propriedade que estava livre de dívidas no
momento da independência. Agora estes activos estão totalmente
comprometidos, a bolha estourou e o momento do reembolso chegou. Não
há mais crédito a fluir para os países bálticos a
partir de bancos suecos, húngaros e austríacos, ou da
Islândia para a Grã-Bretanha e a Holanda. O desemprego está
em ascensão e os governos estão a cortar nos orçamentos da
saúde e da educação. A contracção
económica resultante está a deixar vastos conjuntos
imobiliários em situação líquida negativa.
Nos países do Terceiro Mundo os programas de austeridade foram comuns
desde a década de 1970 até à de 1990, mas as democracias
europeias têm menos tolerância por tão destrutiva
anuência a credores estrangeiros por empréstimos que no melhor dos
casos eram irresponsáveis e no pior absolutamente predatórios.
Famílias estão a perder seus lares e a emigração
está a acelerar-se. Isto não é o que os neoliberais
prometiam.
As populações estão a perguntar não só se a
dívidas deveriam ser pagas, mas se elas podem ser pagas! Se não
puderem, então tentar pagar só contrairá as economias
ainda mais, impedindo-as de se tornarem viáveis. Foi isto que no passado
levou os programas de ajustamento estrutural a fracassarem.
Será que a Grã-Bretanha e a Holanda aceitarão esta nova
realidade? Ou agarrar-se-ão à ideologia neoliberal que
é pro-credor e manter-se-ão teimosamente a insistir que
"uma dívida é uma dívida" e que e que sim.
Tentar espremer mais serviço de dívida do que um país pode
pagar exige um regime extractivo fiscal e financeiro opressivo, advertiu
Keynes, o que por sua vez inspiraria uma reacção política
nacionalista no sentido de romper as exigências do país credor.
Foi isto que aconteceu na década de 1920 quando a economia da Alemanha
foi arruinada pela imposição da rígida ideologia da
santidade da dívida.
Uma dinâmica semelhante está a verificar-se desde a Islândia
até os países bálticos. A UE está a dizer à
Islândia que a fim de aderir ela deve pagar à Grã-Bretanha
e à Holanda as dívidas do Icesave até o fim do Outono. E
na Letónia, a UE e o FMI disseram ao governo para contrair
empréstimos em divisa externa a fim de estabilizar a taxa de
câmbio para ajudar os devedores do imobiliário a pagarem hipotecas
em divisas externas assumidas junto a bancos suecos e outros para alimentar a
sua bolha da propriedade, elevar impostos e cortar drasticamente despesas
públicas com educação, cuidados de saúde e outras
necessidades básicas a fim de "absorver" rendimento. Impostos
mais altos são para reduzir a procura de importações e
também os preços internos, como se isto automaticamente tornasse
o produto mais competitivo nos mercados de exportação.
Mas nem a Islândia nem a Letónia produzem muito para exportar. Os
Estados Bálticos não instalaram muita capacidade de
produção desde que obtiveram a independência em 1991. A
Islândia tem peixe, mas grande parte das suas licenças de quota
foram penhoradas em empréstimos com juros que absorvem grande parte das
divisas externas provenientes da venda de bacalhau. Os encargos com juros
também absorvem a maior parte da receita das suas
exportações de alumínio, bem como dos recursos
geotérmicos e hidroeléctricos.
Em tais condições, entra em acção um
princípio económico pragmático. As dívidas que
não podem ser pagar, não serão. O que permanece uma
questão aberta é apenas como elas não serão pagas.
Serão canceladas muitas? Ou a Islândia, a Letónia e outros
devedores serão afundadas na austeridade numa tentativa de espremer um
excedente económico a fim de evitar incumprimento?
O fracasso em reconhecer a capacidade limitar de pagar traz o perigo de
conduzir países super-endividados para fora da órbita do
Ocidente. A população da Islândia está transtornada
com o apoio da UE às tácticas de intimidação da
Grã-Bretanha e da Holanda para tentar extrair reembolsos pelo salvamento
dos seus depositantes do Icesave 2,6 mil milhões para a
Grã-Bretanha e 1,3 mil milhão para a Holanda. Os
sociais-democratas venceram a eleição de Abril para o Althing com
uma plataforma de adesão à UE, mas a sobrecarga do país
com estas dívidas do Icesave o impedir de cumprir o critério de
Maastricht para aderir à UE. Isto faz com a Europa pareça mais
preocupada com a arrecadação da dívida do que em obter
novos membros.
Dentre as preocupações mais graves estão as
consequências a longo prazo de substituir incumprimentos por promotores
de pirâmides de dívida e cleptocratas rematadas com uma nova
dívida pública a agências internacionais de governo
dívida que é muito menos fácil cancelar. Eva Joly, a
promotora francesa trazida à Islândia para destrinçar a
cleptocracia bancária islandesa, advertiu no princípio deste
mês que se a Islândia sucumbir às actuais exigências
da UE, "Apenas umas poucas dezenas de milhares de pescadores aposentados
serão deixados na Islândia, juntamente com os seus recursos
naturais e uma posição geoestratégica chave à
mercê do concorrente com a oferta mais alta a Rússia, por
exemplo, pode bem considerá-la atraente".
[1]
Os países pós-soviéticos já estão a ver os
eleitores a afastarem-se da Europa em reacção às
políticas destrutivas que a UE tem apoiado.
Nem a Grã-Bretanha nem a Holanda, nem a UE nem o FMI, apresentaram um
cenário sobre como se supõe que a Islândia pague as
dívidas que estão a ser reclamadas. Quanto terá de cair o
rendimento pessoal e os padrões de vida? Que programas do governo devem
ser cortados? Quantos incumprimentos sobre hipotecas internas e dívidas
pessoas resultarão e quanto desemprego? Quanta emigração
ocorrerá? Os modelos que estão a ser empregues tratam estas
dimensões do problema económico como "externalidades",
mas elas centrais para saber como o sistema económico funciona na
prática.
A pergunta é se a ideologia neoliberal se renderá à
realidade económica ou, em alternativa, se a política
económica reterá as viseiras que tipicamente caracterizam as
políticas de curto prazo orientadas para o credor. O que está a
bloquear uma mais razoável política pro-crescimento, observou a
Sra. Joly, é que "a presidência sueca da UE não
parecer ter pressa para melhorar a regulação dos sectores
financeiro e os comités do Parlamento Europeu voltados para a economia
são, mais do que sempre, dominado por liberais, particularmente liberais
britânicos". Assim a Europa continua a impor uma ideologia
económica de vistas curtas. Portanto, concluiu ela:
"O sr. Brown está errado quando diz que ele e o seu governo
não têm responsabilidade no assunto. Em primeiro lugar, o sr.
Brown tem uma responsabilidade moral, pois foi um dos principais proponentes
deste modelo o qual agora se despenhou. ... Poderia alguém pensar
realisticamente que um punhado de pessoas em Reykjavik poderia controlar
efectivamente as actividades de um banco no coração da City?.. a
directivas europeias respeitantes a conglomerados financeiros parecem sugerir
que estados membros da UE que permitam tais estabelecimentos de terceiros
países nos seus territórios devem assegurar que eles estejam
sujeitos ao mesmo nível de controle pelas autoridades do país de
origem como previsto pela legislação europeia. ... uma falha da
parte das autoridades britânicos neste ponto ... não seria
particularmente surpreendente considerando o 'desempenho' de outros bancos
ingleses ... durante a crise financeira? Em caso afirmativo, o activismo do sr.
Brown em relação a este pequeno país pode ser motivado por
um desejo de parecer poderoso aos olhos do seu eleitorado e dos contribuintes
..."
Algumas verdades financeiras inconvenientes e pontos cegos ideológicos
A maior parte dos pagamentos de seguros de depósitos de
instituições insolventes são meramente de âmbito
técnico: quantos são os depositantes segurados e quão
rapidamente eles serão pagos? Mas o problema do Icesave é
tão grande em magnitude que levanta questões económicas
vastas legalmente mais intrincadas. A posição do Althing sobre a
dívida externa da Islândia e os abusos dos seus
cleptocráticos privatizadores internos da banca representa um
grande avanço, uma mudança de fase nas relações
globais devedor/credor.
Sem dúvida, por isso, os credores e os neoliberais combaterão a
valente posição tomada pela Islândia veementemente,
raivosamente, incorrectamente e extra-legalmente. Para começar, Gordon
Brown não seguiu os adequados procedimentos legais acordados em 6 de
Outubro último quando ele fechou as agências do Icesave do
Landsbanki e as filiais do Kaupthing. Sob condições normais a
Islândia ter-se-ia beneficiado do direito, sob a lei europeia, de pagar
aos depositantes de uma maneira ordenada. Mas o sr. Brown impediu isto ao
ordenar à agência de depósito de seguros britânicos
que pagasse aos depositantes do Icesave como se eles estivessem cobertos pelo
seguro do Reino Unido. Foi uma decisão precipitada que poderia tornar-se
um dos maiores erros da sua carreira. As agências do Icesave eram
legalmente extensões do Landsbanki na Islândia, cobertas pelo
esquema de seguros de depósitos islandês, não pelo
britânico.
O Fundo de Garantia de Depositantes e Investidores (TIF) da Islândia
é financiado privadamente por bancos internos, não é
público como o Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC) dos Estados Unidos
ou a Financial Services Agency (FSA) da Grã-Bretanha. Reflectindo a
filosofia neoliberal da Islândia do tempo em que os bancos foram
privatizados, faltava capital ao TIF para cobrir as perdas que se seguiram. Foi
como o conglomerado de seguros AIG dos EUA, cujos prémios foram
estabelecidos demasiado baixos para reflectir o risco real envolvido. O
problema é típico da ideia neoliberal do "mercado
racional" de que dívidas não podem criar um problema, mas
simplesmente reflectem preços de activos que por sua vez reflectem
perspectivas de rendimento.
Num ambiente em que se assistiu aos fracassos do Northern Rock e do Royal Bank
of Scotland, em 5 de Outubro o ministro do Comércio da Islândia
escreveu a Clive Maxwell, do Tesouro britânico, para assegurar-lhe que o
governo permaneceria por trás do TIF no reembolso dos depositantes do
Icesave de acordo com directivas da UE. Mas três dias depois o ministro
das Finanças britânico, Alistair Darling, afirmou que a
Islândia recusava-se a pagar. Com este pretexto o sr. Brown utilizou leis
anti-terroristas de emergência aprovadas em 2001 para congelar fundos
islandeses na Grã-Bretanha. Ele fez isso apesar da promessa da
Islândia de obedecer às regras da UE. Às autoridades
islandesas não foi dada oportunidade para resolver o assunto. A
Grã-Bretanha e a Holanda (como reconhecem na proposta de acordo com o
qual confrontaram os negociadores islandeses em 5 de Junho de 2009)
simplesmente "informaram" as autoridades islandesas, sem seguirem as
regras nem consultá-las a fim de obter permissão para o seu
salvamento rápido de depositantes.
Isto afecta a questão de saber quem é legalmente
responsável pelo reembolso britânico e holandês aos
depositantes do Icesave e Kaupthing. As leis relevantes da UE dão
às autoridades responsáveis um prazo de três meses para
proceder ao pagamento com novo período de seis meses quando
necessário. Isto teria permitido à Islândia cobrar de
bancos clientes britânicos tais como o empresário do retalho (e
grande accionista do Kaupthing) Kevin Stanford, o qual contraiu
empréstimos de milhares de milhões de euros, muito além do
que era adequado sob as regras bancárias. Sabe-se agora que os bancos
islandeses na Grã-Bretanha estavam a esvaziar os seus depósitos
através de empréstimos inadequados a residentes britânicos.
Mas ao invés de ajudar a Islândia a mover-se de modo atempado para
recuperar depósitos que o Landsbanki e o Kaupthing haviam concedido como
empréstimos, a precipitação britânica mergulhou-a na
anarquia financeira. A equipe Fraudes Graves começou a ajudar a
investigação e o processo de recuperação apenas
depois de umas poucas semanas no momento em que os fundos se foram!
Em 4 de Novembro, a ECOFIN, a agência de supervisão da UE,
efectuou uma reunião ministerial informal e "concordou, sob
circunstâncias muito inabituais", em examinar a crise financeira em
que as insolvências do Icebank e Kaupthing haviam mergulhado o
país. A UE propôs que o problema fosse resolvido por cinco
responsáveis financeiros. Mas a Islândia preocupava-se com a
possibilidade de tais indivíduos tenderem a adoptar uma
posição dura orientada para o credor. Ao ver como a
Grã-Bretanha e a Holanda havia actuado por si próprias sem
considerar como as suas acções estavam a ferir a Islândia,
o ministro das Finanças Arni Mathiese em 7 de Novembro, sensatamente,
escreveu a Christine Lagarde, presidente do ECOFIN Council, que o governo da
Islândia não participaria na revisão das
obrigações islandesas sob a Directiva 94/19/EC.
A directiva da UE trata apenas do colapso de bancos individuais, assumindo ser
este problema de âmbito meramente marginal e portanto prontamente
administrável pelos governos signatários. Mas "a quantia
envolvida poderia estar acima dos 60% do PIB da Islândia", explicou
o sr. Mathiesen. A directiva deixava a Islândia num limbo legal quanto ao
"âmbito exacto das obrigações de um Estado ... numa
situação em que há um colapso completo do sistema
financeiro". A directiva simplesmente não considerava o colapso
sistémico de uma economia desenvolvida da Europa Ocidental. Tal é
o estado da teoria do equilíbrio hoje predominante um argumento
ideológico de que as economias se estabilizam automaticamente portanto
nenhuma política governamental é necessário, nem
supervisão ou regulação pública.
Trata-se de um conjunto de suposições e teoria económica
lixo amadas por cleptocratas, vigaristas e neoliberais, pois isso lhes permite
obterem muita, muita riqueza e então correrem ao governo afirmando que
um acidente como o Katrina verificou-se o qual exige que eles sejam plenamente
salvo ou do contrário a economia entrará em colapso sem os seus
serviços interesseiros de busca da riqueza. Este misticismo do
"mercado racional" é o que agora passa por ser ciência
económica. E é em nome desta ciência lixo que
responsáveis financeiros da UE e, na verdade, banqueiros centrais de
todo o mundo são doutrinados com viseiras que na verdade lhes permitem
achar que todo o colapso das suas teorias é "inesperado".
A questão que precisava ser enfrentada frontalmente era como considerar
as "circunstâncias muito inabituais" da Islândia
resultantes da sua fé injustificável na teoria neoliberal, a qual
assumia que as finanças e os encargos da dívida nunca colocariam
um problema estrutural pois apenas serviria para facilitar o crescimento
económico. Estava em causa a ideologia da "santidade da
dívida" que não considerava o contexto económico
amplo e as perspectivas de crescimento. "A Islândia tem de assegurar
que o seu esquema de garantia de depósito tem meios adequados e
está em posição de indemnizar depositantes", escreveu
o ministro das Finanças. O problema era de carácter
macroeconómico, mas o esquema de seguro da banca cobria apenas 1% dos
depósitos sob condições em que os três
principais bancos do país foram todos dirigidos sob uma
combinação de administração má ou
absolutamente cleptocrática e com o congelamento pela
Grã-Bretanha dos fundos islandeses na sequência do colapso do
Icesave. Em 25 de Novembro uma equipe do FMI calculou que "Uma nova
depreciação da taxa de câmbio de 30 por cento provocaria
uma nova elevação precipitada no rácio da dívida
(para 240 por cento do PIB em 2009) e seria claramente
insustentável".
[3]
Gordon Brown passou grande parte de 2009 a tentar pressionar o FMI para cobrar
pela insolvência do Kaupthing bem como das contas Icesave do Landesbanki.
A 6 de Maio ele anunciou no Parlamento a sua intenção de pedir ao
FMI que pressionasse a Islândia a reembolsar depositantes nas filiais do
Kaupthing. Recordaram-lhe que ao contrário das agências Icesave,
estas últimas foram incorporadas como entidades britânicas,
fazendo com que as suas contas fossem da responsabilidade da
regulação e do seguro de depósito britânicos. O
incorrecto foi o seu grosseiro tratamento do FMI como um cobrador de
dívidas de países credores, utilizando-o como uma alavanca
supra-legal para pressionar a Islândia a pagar dinheiro que os seus
negociadores sentiam que não deviam sob as regras da UE. Esta era a
posição até do antigo primeiro-ministro neoliberal e
governador do Banco Central, o próprio sr. Oddson.
Por que fazer tal pressão se a obrigação está
claramente especificada no contrato? Aparentemente o sr. Brown queria livrar-se
de culpas por pagar aos depositantes de bancos britânicos e
assegurá-los de que os estrangeiros pagariam. Ele demonstrou ser
incorrigível, pressionando a UE para dizer à Islândia que
não podia negociar a adesão até que estivesse arrumada a
"sua" dívida do Icesave para com a Grã-Bretanha. E o
ministro dos Estrangeiros holandês, Maxime Verhagen, foi igualmente
explícito a 21 de Julho. Numa declaração oficial ele
advertiu a sua contraparte islandesa de que era "absolutamente
necessário" para a Islândia aprovar o acordo de
compensação concedido a pessoas que perderam poupanças
quando o banco Internet Icesave foi à bancarrota. "Uma
solução para os problemas em torno do Icesave podia levar ao
manuseamento rápido do pedido da Islândia para aderir à
União Europeia", sugeriu o ministro. "Isto poderia mostrar que
a Islândia considera as linhas de orientação da UE
seriamente".
[4]
O que isto mostrava, naturalmente, era que a UE estava a permitir que a
Grã-Bretanha e a Holanda utilizassem ameaças
extorsionárias para vetá-la como membro se eles não
obtivessem o que queriam: os cerca de 4 mil milhões de reembolso
do salvamento mais juros a 5,5%.
Seria difícil imaginar o que poderia ter sido mais efectivo para
desencorajar o desejo islandês de pertencer à UE. Em 23 de Julho a
Faculdade de Direito da Universidade da Islândia discutiu os pormenores e
criticou o acordo confidencial sem sequer ter tido acesso a ele. A
Grã-Bretanha e a Holanda insistiram em que os termos e pormenores do
acordo não fossem publicados, sob pena de os responsáveis pela
fuga de informação enfrentarem processo. Mas aparentemente
através de um erro de secretariado ele apareceu na Internet a 27 de
Julho! O resultado foi uma explosão de raiva, não apenas para com
a Grã-Bretanha e a Holanda como também para com os seus
próprios negociadores financeiros por simplesmente não
abandonarem a sala quando termos autoritários foram ditados sob a mira
de armas políticas e financeiras.
As chamas espalharam-se ainda mais a 31 de Julho quando Wikileaks publicou um
relatório Kaupthing de 25 de Setembro de 2008, pormenorizando os
empréstimos para iniciados que haviam ajudado a levar o banco à
insolvência. Os principais accionistas haviam tomado emprestado contra
acções do seu banco para impeli-las para cima e dar a
aparência de prosperidade e solvência. (Evidentemente decidindo que
chegara a hora de apanhar o dinheiro e fugir, os proprietários do banco
esvaziaram os cofres fazendo empréstimos para si próprios. Isto
assinalou o dobre de finados para quaisquer novas fantasias acerca de
"mercados eficientes" na selva neoliberalizada da
desregulação financeira de hoje.
Apesar do facto de o Kaupthing ter sido nacionalizado pelo governo da
Islândia, este actuou para impedir a rede nacional de TV do país
de difundir os pormenores. Isto foi um tiro pela culatra pois é o
equivalente a pedir que um livro seja proibido em Boston o sonho
publicitário de qualquer editor! O escândalo fascinou todo o
país, estimulando tantos islandeses a irem on-line para ler o documento
que a ordem mordaça foi suspensa a 4 de Agosto. A resposta uma
fúria chocada com comportamento desonesto cujas consequências
ameaçavam engolfar todo o país num mau negócio quanto
à dívida externa.
Dia 1 de Agosto, Eva Joly, a qual fora contratada como promotora federal no
semestre anterior, publicou o seu artigo em
Le Monde
que apareceu em muitos outros países a criticar o comportamento
britânico. Mas mais perturbador de tudo foi a publicação da
minuta dura do acordo que os negociadores britânicos e holandeses haviam
passado para as mãos do ministro das Finanças da Islândia
no dia 5 de Junho de 2009. A minuta não reflectia absolutamente nada as
advertências em que os negociadores islandeses haviam insistido na
reunião prévia de Novembro. Fortalecido pela retórica
estridente de Gordon Brown e pela insistência britânica em que os
termos fossem mantidos secretos, a posição dura de "pegue ou
deixe" da UE criou uma atmosfera na qual o Althing tinha pouca escolha
além de traçar uma linha e insistir em que qualquer ajuste do
Icesave tinha de reflectir uma razoável capacidade da Islândia
para pagar. O Icesave foi caricaturado como "Iceslave", alusão
à escravidão pela dívida que ameaçava a
Islândia. O ministro das Finanças (um antigo líder
comunista) pareceu aquém das suas capacidades ao ter-se submetido em
face da pressão para capitular diante de inflexíveis negociadores
britânicos.
Os meandros legais deste episódio provavelmente levarão a UE a
clarificar as suas leis financeiras. Quanto à ideologia
económica, a teoria do ciclo de negócios não considerou
adequadamente mudanças no governo, retrocessos nacionalistas ou
mudanças no ambiente legal e político. Assim, este pareceria ser
o ano no qual o mundo escapará ao que era encarado meramente como um
"ciclo" dentro de um sistema (o da transição da era
pós Bretton Woods) para colocar ao próprio sistema a
questão: como tratar países com dívidas para além
da sua capacidade para pagar.
Os islandeses pelo seu lado sentem que a UE os tratou como uma colónia
financeira enquanto apoiava uma cleptocracia neoliberal rapinando uma
população cada vez mais endividada. Sob muitos aspectos a
Islândia é o topo do iceberg o proverbial canário na
mina de carvão que mostra a necessidade de lidar com economias super
endividadas. Os programas de austeridade da UE e no estilo FMI para pagamento
de dívidas externas que iniciados corruptos assumiram não
é o que foi prometido em 1991 às economias pós
soviéticas ou aos devedores do Terceiro Mundo. Não é a
promessa do capitalismo industrial. É uma distopia financiarizada
pós industrial, um neofeudalismo imperial.
Por que o movimento da Islândia é tão importante para a
reestruturação das finanças internacionais
Na década passada a Islândia foi uma espécie de experimento
controlado, um caso teste extremo da ideologia neoliberal do livre mercado. O
que foi testado foi se há um limite para quão longe uma
população pode ser pressionada à dependência da
dívida. Haverá um limite, um ponto no qual o governo
traçará uma barreira impondo responsabilidade pública por
dívidas privadas para além de qualquer capacidade razoável
para pagar sem amputar drasticamente gastos com educação,
cuidados de saúde e outros serviços básicos?
Está em causa o relacionamento entre o sector financeiro e a economia
"real". Da perspectiva da economia "real", o papel correcto
do crédito isto é, da dívida é
financiar investimento em capital tangível e crescimento
económico. O objectivo é criar um sistema fiscal e um sistema
financeiro regulatório para maximizar a economia "real".
Afinal de contas, é a partir do excedente económico que os juros
têm de ser pagos, se não forem extractivos e absolutamente
predatórios. Mas os credores não têm mostrado muito
interesse quanto ao bem-estar da economia no sentido basto. Administradores de
bancos e correctores de hipotecas subprime, atacantes corporativos e seus
detentores de títulos, e especialmente a nova raça de
privatizadores cleptocráticos aplaudida tão fortemente pelos
ideólogos da economia neoliberal simplesmente (e grosseiramente, acho)
perguntaram quanto do excedente pode ser espremido e capitalizado no
serviço da dívida. Da sua perspectiva, a riqueza de uma economia
é medida pela magnitude das obrigações de dívida
hipotecas, títulos e empréstimos bancários
empacotados que capitalizam rendimento e antecipam ganhos de capital
à taxa de juro corrente.
A Islândia decidiu que era errado submeter a sua banca a uns poucos
oligarcas internos sem qualquer supervisão ou regulação
real, com base na agora desacreditada suposição de que o seu
auto-interesse de alguma forma beneficiaria a economia. A partir da
posição privilegiada da teoria económica, não era
loucura imaginar que o gracejo de Adam Smith acerca de não confiar na
benemerência do talhante, cervejeiro ou padeiro para obter os seus
produtos e sim no seu auto-interesse é aplicável a banqueiros. O
seu "produto" não é um bem de consumo tangível,
mas divida na verdade, dívida que renda juros. E dívidas
são direitos sobre produto, receita e riqueza, não a
própria riqueza.
É nisto que fracassa o entendimento dos neoliberais pró
financeiros. Para eles, criação de dívida é
"criação de riqueza" (eufemismo favorito de Alan
Greenspan), porque é crédito isto é, dívida
que eleva preços para a propriedade, acções e
títulos e portanto aumenta os balanços financeiros. A
matematicamente distorcida "teoria do equilíbrio" subjacente
à ortodoxia neoliberal trata preços de activos (riqueza no
sentido financeiro da expressão) como a reflectir perspectiva de
rendimento. Mas na Bolha Económica de hoje, preços de activos
reflectem seja o que for que os banqueiros emprestem e ao invés
de serem baseados no cálculo racional os seus empréstimos
são baseados meramente sobre o que os banqueiros de investimento
são capazes de empacotar e vender para instituições
financeiras crédulas que tentam pagar pensões a partir do
processo de dirigir economias para a dívida, ou então dispor de
crédito que os bancos podem criar livremente.
A quantia da dívida que pode ser paga é limitada pela
dimensão do excedente económico lucros corporativos e
rendimento pessoal para o sector privado e o rendimento fiscal líquidos
pago ao cobrador de impostos pelo sector público. Mas na
geração passada nem a teoria financeira nem a prática
global reconheceram qualquer constrangimento à capacidade para pagar.
Assim foi permitido ao serviço da dívida comer da
formação de capital e reduzir padrões de vida.
Como alternativa a tal ilegalidade financeira, o Althing afirma o
princípio da dívida soberana logo no princípio ao
responder às exigências britânica e holandesa ao governo da
Islândia de garantir o pagamento do salvamento do Icesave:
As pré condições para a extensão da garantia do
governo de acordo com esta Lei são:
1- Que ...será levada em conta a dificuldade e circunstâncias sem
precedentes com a qual a Islândia é confrontada e a necessidade de
decidir sobre medidas que a capacitem a reconstruir o seu sistema financeiro e
económico.
Isto implica, dentre outras coisas, que as partes contratantes
concordarão com um pedido fundamentado e objectivo da Islândia de
uma revisão dos acordos em conformidade com as suas
disposições.
2- Que a posição da Islândia como estado soberano exclua
processos legais contra seus activos os quais lhe são necessários
para cumprir de uma maneira aceitável as suas funções como
estado soberano.
Ao invés de impor a espécie de programas de austeridade que
devastaram países do Terceiro Mundo desde a década de 1970
até a de 1990 e levá-los a evitar o FMI como uma praga, o Althing
está a mudar as regras do sistema financeiro. Está a subordinar o
reembolso da Islândia à Grã-Bretanha e à Holanda
à capacidade da economia islandesa para pagar.
Ao avaliar as pré condições para uma revisão dos
acordos, também será levada em conta a posição da
economia nacional e das finanças do governo em qualquer dado momento e
as perspectivas a este respeito, com atenção especial sendo dada
a questões cambiais, desenvolvimentos da taxa de câmbio e à
balança de transacções correntes, ao crescimento
económico e às mudanças no produto interno bruto bem como
a desenvolvimentos quanto à dimensão da população e
da participação no mercado de empregos.
A resistência deste fim de semana é um grande avanço que
promete (ou, aos credores, ameaça) mudar o ambiente financeiro mundial.
Pela primeira vez desde a década de 1920 o princípio da
capacidade-para-pagar está a ser tornado a base legal explícita
para o serviço internacional da dívida. A quantia a ser paga
está a ser limitada a uma proporção específica do
crescimento do PIB da Islândia (com a suposição de que este
possa na verdade ser convertido em receitas de exportação).
Após a recuperação da Islândia, o pagamento que o
Tesouro garante à Grã-Bretanha para o período 2017-2023
será limitado a não mais do que 4% do crescimento do PIB a partir
de 2008, mais outros 2% para os holandeses. Se não houver crescimento do
PIB, não haverá serviço da dívida. Isto significa
que se os credores adoptarem acções punitivas cujo efeito
é estrangular a economia da Islândia, eles não serão
pagos.
A moral é que a Terceiro Lei do Movimento, de Newton que toda
acção tem uma reacção igual e oposta
é aplicável à política e à economia, assim
como à física. Como na maior parte da área de desastre
neoliberalizada a fundo, a Islândia é claramente a primeira e
economia a reagir. Os últimos dois anos viram o seu status mergulhar dos
mais altos padrões de vida do Ocidente (financiados pela dívida,
como se verifica) ao mais profundamente alavancado pela dívida. Em tais
circunstâncias é natural para uma população e seus
responsáveis eleitos experimentarem um choque cultural neste
caso, uma consciencialização da destrutiva ideologia do
"livre mercado" neoliberal, eufemismo que levou à
privatização dos bancos do país e a consequente farra da
dívida.
A Islândia promete ser simplesmente o primeiro país soberano a
levar a oscilação do pêndulo para longe de uma ideologia de
mercados livres, para um reconhecimento de que na prática está
retórica revela-se ser uma teoria económica lixo favorável
a bancos e credores globais. Dívida que rende juros é o
"produto" que os bancos vendem, afinal de contas. O que parecia
à primeira vista ser "criação de riqueza" era
mais exactamente criação de dívida, na qual os bancos
não assumiam responsabilidade pela capacidade para pagar. O crash
resultante levou subitamente o sector financeiro a acreditar que gostava do
controle centralizado de governo afinal de contas na medida dos
exigentes salvamentos do sector público que reduziriam economias
endividadas à geração de escravidão fiscal pela
dívida e a resultante contracção económica.
Tanto quanto sei, este acordo é o primeiro desde o Plano Young de
reparações da Alemanha a subordinar obrigações
internacionais de dívida ao princípio da capacidade-para-pagar. A
proposta do Althing soletra isto em termos legais claros como alternativa
à ideia neoliberal de que economias devem pagar por bem ou por mal
(willy-nilly,
como diria Keynes), sacrificando seu futuro e conduzindo a sua
população a emigrar no que se revela ser uma vã tentativa
de pagar dívidas que, no fim, não podem ser pagas mas
simplesmente deixam as economias devedoras irremediavelmente dependentes dos
seus credores. No final das contas, países democráticos
não estão desejosos de renunciar ao planeamento da autoridade
política em favor de uma oligarquia financeira emergente.
Não há dúvida de que os países pós
soviéticos estão a observar, juntamente com os latino-americanos,
africanos e outros devedores soberanos cujo crescimento tem sido atrofiado
pelos programas predatórios de austeridade que o FMI, o Banco Mundial e
neoliberais da UE impuseram nas últimas décadas. A era pós
Bretton Woods está acabada. Todos nós deveríamos celebrar.
17/Agosto/2009
Notas
[1] Eva Joly,
"Iceland: Lessons to be Learned from The Economic Meltdown,"
Global Research, August 7, 2009.
[2] O Artigo 10 da Directiva 94/19/EC dispõe que "(1) Esquemas de
garantia de depósito estarão em posição de pagar
reclamações devidamente verificadas de depositantes em
relação a depósitos indisponíveis dentro de
três meses", e "(2) Em toda circunstância excepcional e
em casos especiais um esquema de garantia pode ser aplicado pelas autoridades
competente durante uma extensão do limite de tempo. Nenhuma de tais
extensões excederá três meses. A autoridade competente
pode, a pedido do esquema de garantia, conceder não mais do que duas
novas extensões, nenhuma das quais excederá três
meses". Por outras palavras, a Islândia dispunha de nove meses para
solucionar o assunto.
[3]
http://www.imf.org/external/pubs/cat/longres.cfm?sk=22513.0
[4] "Dutch minister urges Iceland to repay loans," Radio Netherlands
Worldwide, July 21, 2009,
http://www.rnw.nl/nl/node/13310
, e "Netherlands warns Iceland over
Icesave," Dutchnews.nl, 22 July 2009,
www.dutchnews.nl/news/archives/2009/07/netherlands_warns_iceland_over.php
Do mesmo autor ver também:
A guerra financeira contra a Islândia
, 05/Abril/2009
Na esteira do colapso económico: As eleições da Islândia
, 29/Abril/2009
[*]
Professor de Teoria Económica na Universidade de Missouri Kansas
City, autor de
Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance
,
mh@michael-hudson.com
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=14800
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© Copyright Michael Hudson, Global Research, 2009
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