Dificilmente posso acreditar nos noticiários sobre as
eleições de sábado, 25 de Abril, na Islândia. Numa
tentativa evidente de interessar os leitores numa ilha pouco conhecida ou de
que pouco se importam, os jornais tentaram atrair a atenção
falando acerca de a "esquerda" desalojar a "direita".
Não há dúvida de que este giro político vai
continuar durante muitos anos por todo o mundo. Mas para os eleitores da
Islândia as questões foram mais pragmáticas. A precipitada
privatização neoliberal da banca é na verdade o principal
problema, mas as respostas propostas não intrinsecamente de esquerda ou
direita. O que está em causa é: será que os eleitores
ficaram tão desesperados na sequência dos vigaristas que
arruinaram o sistema financeiro que irão procurar uma divisa mais
estável (o Euro) juntando-se à Europa em termos que implicam a
perda de controle sobre as águas pesqueiras islandesas do
Atlântico Norte e onerarão os contribuintes com dívida
pública sem precedentes para compensar os depositantes de bancos
britânicos, holandeses e outros da Europa e os especuladores pelas suas
perdas?
A Europa não ousaria fazer uma tal exigência aos Estados Unidos
pelos maus pacotes de hipotecas lixo que comprou e pelas suas perdas quando o
Lehman Brothers entrou em bancarrota. Para muitos eleitores a ideia de aderir
à União Europeia é uma fantasia atraente adoptar o
Euro para resolver os problemas financeiros da Islândia. A alternativa
para o país é simplesmente mudar as suas regras bancárias
destrutivas e reverter as dádivas feitas em no passado a iniciados
politicamente conectados. Os sociais-democratas vitoriosos são a favor
de aderir à Europa, o partido Esquerda-Verde e o anteriormente dominante
Partido da Independência não, ao passo que o centrista e
predominantemente rural Partido Progressista (durante muitas décadas o
segundo principal partido) está desconfiado mas pelo menos está
desejoso de discutir os termos em que a condição de membro da UE
pode beneficiar a Islândia.
Toda a gente está contra os iniciados da oligarquia que provocaram o
aumento das dívidas. Eis porque o principal partido que o promoveu, o
Partido da Independência, perdeu um terço do seu apoio eleitoral
(baixou para apenas 20 por cento em relação aos seus habituais
33-35 por cento), a mais baixa percentagem de votos e cadeiras no parlamento
(Althing) nos 80 anos decorridos desde a sua fundação em 1930. Os
dias da cleptocracia estão ultrapassados e há pouca
simpatia pelos prestamistas e poupadores estrangeiros que foram os
alimentadores destes iniciados. Mas os eleitores estão desconfiados com
a postura financeira que a Inglaterra e o resto da Europa tomou contra a
Islândia, bem como dos arranjos com o Fundo Monetário
Internacional. O antigo primeiro-ministro do Partido da Independência (e
posteriormente responsável do banco central) David Oddsson é
inflexível em que o governo e o povo da Islândia não
assumam responsabilidade por estas dívidas más e partilha da
visão que descobri ser unânime entre islandeses: Estes vigaristas
traíram o país. O mito da "livre" empresa
desregulamentada foi rompido e a privatização é vista como
tendo sido um eufemismo para cleptocracia.
Recentemente passei uma semana na Islândia uma semana na qual
encontrei-me com políticos e antigos primeiro-ministros,
responsáveis financeiros, professores universitários e
estudantes, realizadores cinematográficos, apresentadores de TV e
"apenas pessoas simples". Os termos "esquerda" e
"direita" não surgiram em uma única
conversação. O foco era sobre a prática pró-credor
da Islândia de indexar hipotecas e outras dívidas um
prémio de "inflação" de 17% aos credores baseado
no índice de preços no consumidor (com efeito, a taxa de
câmbio do krónur islandês, pois a maior parte dos bens de
consumo são importados), a acumular sobre os aproximadamente 6% normais
de juro hipotecário, levando um certo número de islandeses a
dizer-me que haviam perdido o seu lar em arrestos de banqueiros. Ninguém
pode pagar taxas de juro de 23% sobre hipotecas por longo tempo enquanto os
preços da habitação estão a mergulhar, juntamente
com a economia em geral. A maior parte das famílias está agora a
pagar exaurindo as suas poupanças, tentando arcar com dívidas que
são praticamente impagáveis.
Isto explica o desejo da população de uma divisa estável.
Removeria a onerosa taxa de juro complementar. Originalmente, os
salários assim como as dívidas estavam indexados, no estilo
brasileiro. Mas um dia o índice salarial foi abaixado, mantendo o
índice financeiro com a espúria racionalização de
que era um pagamento "contratual" para a propriedade, e acordo com o
trabalho estavam menos legalmente fundamentados. Por outras palavras, o peixe
grande come o peixe pequeno. Nenhuma classe credora, não importa
quão cobiçosa e agressiva, alguma vez conseguiu obter algo como
esta lei. Mas a Islândia deixou isto acontecer apesar da pesada
dependência dos proprietários habitacionais do país em
relação ao crédito. Aderir ao Euro é encarado
amplamente como mais fácil do que mudar a lei para livrar-se desta
alcavala na dívida, que entre todos os países do mundo só
existe na Islândia. Considerei esta inércia legalística
incrível, mas parece ser um testamento à fé legalista da
Islândia, por mais louca que possa ser.
O colapso da divisa foi provocado pela bancarrota e
nacionalização dos três maiores bancos da Islândia
(Glitnir, Kaupthing e Landsbanki), os quais estavam empenhados numa onda de
incompetência arrogante e fraude absoluta depois de serem privatizados
numa série de negócios de iniciados em 2002-03. Estes bancos
mergulharam numa dívida de aproximadamente US$100 mil milhões,
mas ninguém sabe quanto, ou mesmo quem realmente está na outra
ponta de muitas das transacções envolvidas. Um promotor especial
foi designado para descobrir os pormenores, os quais ainda são opacos.
De facto, sob muitos aspectos a Islândia assemelha-se às
cleptocracias pós soviéticas. Mas ao invés de emergir do
komsomol, de directores vermelhos e de outros vestígios da burocracia,
os cleptocratas da Islândia emergiram dos grandes proprietários de
terras e de famílias politicamente poderosas que dominaram o país
durante séculos, muito antes de ter alcançado a
independência da Dinamarca em 1944, num período em que a Dinamarca
era ocupadas pelos nazis e a independência representava uma
posição pró aliada.
Privatização de áreas de pesca da Islândia e das
suas licenças
Quanto do Atlântico Norte ficou livre de submarinos alemães
após a guerra, traineiras britânicas competiram pelo bacalhau e
outros peixes com barcos pesqueiros islandeses. Após uma série de
confrontações que se estenderam à década de 1970, a
Islândia liderou o estabelecimento do limite de 200 milhas como
definição de direitos internacionais marítimos
graças em grande medida ao apoio dos EUA, ao qual desde então a
Islândia sempre correspondeu.
O tratado do Direito Marítimo trata da questão da pertença
de recursos naturais nos mares. Para manter a população pesqueira
(pelo menos, aquela é a lógica declarada), a Islândia
emitiu licenças representando uma proporção
específica da captura anual permitida, cuja magnitude era ajustada a
cada ano com base na estimativa da população pesqueira. Em
contraste com a prática económica clássica, estas
licenças não eram leiloadas no fim de cada ano pelo governo de
forma a recuperar um valor justo pelos recursos marítimos do
país. Ao invés disso, as licenças eram emitidas tal como
as licenças de táxis em Nova York: uma vez emitidas, tornavam-se
permanentes e naturalmente subiram em termos de preço de mercado ao
longo do tempo. Os possuidores iniciais a liderança
política iniciada de um século atrás legavam-nas em
testamento aos seus herdeiros, para serem arrendadas a pescadores reais ou
simplesmente serem mantidas na família. O Tesouro da Islândia
não recebe benefícios das capturas nos mares. As licenças
tornaram-se simplesmente um modo de extracção de renda, um
pagamento aos antigos iniciados e seus sucessores.
Sob um leilão competitivo, o licenciado potencial calcularia o valor de
mercado de quaisquer recursos que considerava poderem serem extraídos,
calculava os seus custos de extracção e a margem de lucro
pretendida. O mar pertence legalmente ao povo islandês e o governo
receberia as receitas. Mas hoje, os herdeiros ou outros que obtiveram as
licenças de quotas dos iniciados original dos anos 1980 recebem este
dinheiro. Assim, não é de surpreender que muitos islandeses
estejam tão desgostosos com a privatização de
licenças de pesca que pouco se importem com a perda de direitos
pesqueiros da Islândia. Afinal de contas, sob o actual sistema de
extracção de renda, os perdedores seriam os proprietários
destas licenças concebidas artificialmente, não o povo
islandês.
Contudo, esta atitude perde de vista uma alternativa altamente desejável
uma alternativa que deveria atrair os dois tradicionais partidos
centristas que defendem o livre mercado assim como a "esquerda"
porque é economicamente justa: Leiloar as quotas pesqueiras a cada ano,
com o benefício indo para o povo islandês integrando o
orçamento público, como deve ser o caso com recursos naturais
incluindo a própria terra. Não é necessário aderir
à Europa, dar aos da UE direitos pesqueiros e aos seus banqueiro o
direito de criar crédito (o qual deveria ser encarado como uma utilidade
pública) para alcançar eficiência fiscal.
O emaranhado Icesave com a Grã-Bretanha
O outro conflito com a Grã-Bretanha refere-se às agências
Icesave do Landsbanki, as quais pagaram taxas de juros suficientemente altas
para convencer o governo trabalhista a indicar aos seus conselhos de freguesia
que mostrassem "responsabilidade fiduciária" através da
colocação das suas poupanças onde as taxas fossem mais
elevadas. Era como se os prémios das altas taxas de juro não
fossem uma compensação pelo risco. E como o Icesave assumia a
forma de agências locais de bancos islandeses, a Grã-Bretanha
não teve a iniciativa de regulamentar ou supervisionar. Considero isto
típica incompetência económica britânica, mas
é do carácter de governos incompetentes tentar culpar quem quer
que possam. Assim eles reembolsaram os seus depositantes plenamente e exigiram
que o governo da Islândia tributasse o seu próprio povo como se
estes depósitos fossem empréstimos públicos!
Para forçar a questão, a Grã-Bretanha congelou as contas
de todas as agências de bancos islandeses, incluindo o Kaupthing na Ilha
de Man. Isto impediu-os de remeter fundos para fora do país,
forçando as sedes na Islândia à insolvência. A
única lei à mão para esta apreensão financeira era
a legislação de emergência anti-terrorista, presumivelmente
contra grupos irlandeses e árabes. A Grã-Bretanha estigmatizou a
Islândia como um país terrorista, enquanto actuava de um modo
financeiramente violento. Os islandeses naturalmente consideraram não
razoável que depois de terem tomado altos encargos em juros, a
Grã-Bretanha devesse insistir em que os seus depositantes não
sofressem quaisquer perdas de capital em contraste com as enormes perdas
que haviam sofrido nos EUA e outros mercados estrangeiros (para não
mencionar o Northern Rock e outros temerários prestamistas
hipotecários internos). Mas com alguns islandeses a pensarem de
dívidas bancárias como "nossas" dívidas, por que
não exigências tão grandes quanto possível, apesar
do duplo padrão obviamente em funcionamento? (Imagine o que seria a
resposta se, digamos, a Alemanha acusasse a América de ser uma economia
terrorista a fim de capturar activos estado-unidos para compensar-se por perdas
que bancos em Dusseldorf e na Saxónia sofreram com hipotecas sub-prime
dos EUA).
Muitos repórteres de jornais dos EUA corroboraram chamando os
"Vikings" da Islândia e preferindo a expressão
"finanças viking" à politicamente mais sensível
de "oligarquia". Mas a implicação de uma luta de foice
no Oeste Selvagem Nórdico é tola. A Islândia não tem
exército permanente e a antiga base NATO da América tornou-se o
aeroporto internacional de Reykjavik (e exige uma longa viagem para a cidade
mas agradavelmente deslumbrante através da ilha vulcânica e
de arco-íris quase perpétuos devido ao facto de que parece sempre
estar a chover em algum lugar). A população diligente e coesa da
Islândia é constituída por uma classe média, com as
mais altas taxas do mundo de propriedade de casas, elevados padrões
educacionais, um sistema de bem-estar social tipicamente nórdico e
valores comunalistas. É uma social-democracia de tipo escandinavo, mas
muito mais local em escala. E isso pode ser parte do problema. Muitos
islandeses são tão classe média que acreditam que pagar
más apostas dos bancos é uma questão de honra, como se
estas fossem dívidas pessoais entre vizinhos. Mas os grandes bancos
não eram como vizinhos e empenharam em fraudes financeiras profundas.
Isto exigiu a cumplicidade de estrangeiros que agora exigem ser compensados.
O FMI entra no quadro, mas permanece inactivo por enquanto
O FMI actua tipicamente como um agente colector dos credores globais, mas no
caso da Islândia a sua missão local parece sentir-se
desconfortável neste papel. Nenhum fundo FMI foi ainda retirado da linha
de crédito de US$10 mil milhões negociada recentemente. Fiquei
impressionado por o ministro das Finanças não estar a retirar
fundos do FMI para pagar estrangeiros. O ministro das Finanças
Steingrimur Sigfusson encabeça o Partido Verde e é ambíguo
acerca de quanto tal empréstimo ou aderir à UE
poderia ajudar a estabilizar a situação intrinsecamente
instável de hoje.
Isto deixa a questão do krónur da Islândia em
relação ao euro. Enquanto o índice da taxa de câmbio
de 17% orientado para os credores for acrescentado às hipotecas, os
proprietários islandeses (cerca de 90% da população)
compreensivelmente desejarão ver estabilidade de preço. Mas o
euro não proporciona isso necessariamente. O meio para ressuscitar a
divisa é a economia crescer e isto significa livrar-se da
indexação, um almoço gratuisto que nenhum outro
país sobre a Terra deu ao sector financeiro.
O mito de que a UE combaterá a corrupção e
promoverá a solvência económica
Há muita confusão acerca do que "aderir à
Europa" significa na prática. Para membros da antiga União
Soviética na Europa Central e do Leste, a beleza estava nos olhos do
admirador. Eles votaram pela adesão à UE no princípio da
década de 1990 sob a impressão de que a UE os tomaria sob tutela
para ajudá-los a por em marcha um moderno capitalismo industrial estilo
ocidental com padrões de vida ascendentes. Ao invés disso, a
liderança da UE encarava estas economia simplesmente como mercados para
as suas próprias exportações agrícolas e
industriais, e para os seus bancos efectuarem uma matança entrando em
parceria virtual com os cleptocratas que dominavam estas economias. A UE olhou
para o outro lado quando viu vigaristas tomarem o comando e na verdade
apoiou-os activamente enquanto eles vendiam ao europeus tal como um
ladrão vende a um receptador de produtos roubados, privatizando o
domínio público em negócios de iniciados, liquidando
propriedade e acções para investidores europeus, e tomando
emprestado em divisas externas para alimentar a mais extrema (e
instável) bolha imobiliária do mundo. O colapso deste falso
arranque está a dilacerar o euro.
O caso da Letónia e dos seus vizinhos bálticos é
instrutivo. Tal como a Islândia, eles foram carregados com o fardo de uma
dívida que está muito além da sua capacidade para pagar
dívidas hipotecária denominadas em divisa externa, de modo
que não podem aproveitar-se da tradicional política de
inflacionar o seu caminho de saída da dívida. Nem ajudará
ao governo tomar emprestado do FMI e da UE para pagar as dívidas do seu
imobiliário insolvente a suecos e outros bancos estrangeiros.
Empréstimos do sector público para salvar dívidas
más do sector privado envolve extorquir o dinheiro da
população interna com impostos ainda mais altos sobre o trabalho,
induzindo preços afastados dos mercados mundiais. Nesta
condição a economia é incapaz de ganhar o suficiente para
cobrir a sua dependência da importação e do serviço
da dívida com a qual foi sobrecarregada.
Isto é o problema que a Islândia deve evitar. Infelizmente, o
tratamento da UE das economias pós soviéticas mostrou quão
predatório e defensivo de interesses nacionais estreitos isto pode ser.
Joaquim Almunia, da Comisssão Europeia, deixou isto claro numa carta de
26/Janeiro/2006 ao primeiro-ministro da Letónia explicando os termos nos
quais a Europa salvaria os bancos estrangeiros a operária na
Letónia às próprias expensas de Letónia. Ele
explicitou que a Letónia não utilizaria empréstimos da UE
para desenvolver a sua economia ou para aliviar a carga fiscal que bloqueava o
novo emprego, mas apenas para liquidar dívidas aos seus credores no
Ocidente (principalmente bancos escandinavos) e comprar-lhes
importações.
A assistência concedida é para ser utilizada a fim de evitar uma
crise de balança de pagamentos, o que exige ... restaurar a
confiança no sector bancário [agora de propriedade inteiramente
estrangeira] e reforçar as reservas estrangeiras do Banco da
Letónia. ... a assistência financeira não se destina a ser
utilizada para originar novos empréstimos a negócios e
famílias. ... é importante não levantar expectativas
infundadas entre o pública geral e os parceiros sociais e, igualmente,
reagir a mal entendidos que possam ocorrer a este respeito. Com
preocupação, temos testemunha alguma evidência no debate
público da Letónia de apelos para que parte da assistência
financeira seja utilizada entre outras coisas para promover indústrias
de exportação ou para estimular a economia através de
gastos acrescidos na generalidade. É importante travar activamente estes
mal entendidos.
Isto deixa a Letónia na posição de um país
derrotado na guerra e tendo de pagar reparações. Estalaram
tumultos e os protestatários atacaram o Tesouro. Foi uma cena que tem
sido repetida na Hungria, Ucrânia e outros países, afim dos
"tumultos FMI" da América Latina nas décadas de 1960 e
1970. Isto não dá muita esperança de que a adesão
à Europa ajudasse a Islândia a resolver a sua própria
limpeza económica que é necessária. Ao invés de
ajudar os países pós soviéticos a desenvolverem economias
auto-suficientes, o Ocidente encarou-as como ostras económicas a serem
partidas, endividando-as para extrair encargos de juros e ganhos de capital,
deixando-as como conchas vazias. Após os cleptocratas internos, os
bancos estrangeiros e os investidores removerem os seus fundos da economia,
permitirão que o lat da Letónia seja depreciado. Então
virão compradores estrangeiros e escolherão activos locais
baratos mais uma vez.
Isto soa notavelmente semelhante àquilo que a Islândia está
a atravessar. O perigo é que possa render a interesses europeus
desejosos de se apropriarem dos seus direitos de pesca, obter um
monopólio no crédito bancário privado e emprestar ao
governo para salvar investidores europeus que especularam e perderam com os
agora defuntos bancos islandeses. Poder-se-ia espera que os Verdes e o Partido
Progressista reveriam os possíveis termos da entrada na UE e a
adopção do euro, mas não substituir uma cleptocracia
interna por ocupantes económicos estrangeiros apenas porque eles
são europeus. Isto meramente substituiria um grupo de iniciados
politicamente bem conectados por outros, em grande medida para o
benefício da Grã-Bretanha.
Chamar a eleição de sábado uma "vitória para a
esquerda" ao virar-se na direcção da UE é portanto
uma farsa. Se aplicarmos as tradicionais dicotomias esquerda/direita, a
abordagem pró Europa parece de extrema direita por promover interesses
financeiros (austeridade económica para subordinar o devedor aos
interesses dos credores, e deflação da dívida para
desmantelar os gastos de bem estar social). Os partidos social-democratas por
todo o mundo têm sido os privatizadores mais ideologicamente extremistas,
desde o New Labour de Tony Blair ao New Zealand Labour Party de Roger Douglas e
ao Australian Labour Party.
Os social-democratas da Islândia estão a ameaçar uma
"marcha rápida" para a Europa e apoiar um referendo
tomar-ou-largar sobre a adesão nos termos em que o seu partido negocia,
sem incluir a cidadania no processo. O primeiro-ministro eleito Johanna
Sigurdardottir espera começar negociações para aderir
à UE dentro de dois meses e efectuar um referendo sobre a adesão
no fim do próximo ano. Na medida em que a democracia parlamentar
está relacionada, este plano assemelha-se aos líderes dos
partidos Independência e Progressista concordarem em aderir à
Coligação dos Voluntários no Iraque, ignorando os
procedimentos adequados pela não consulta ao Althing.
Enquanto isso, a UE e o euro estão em perigo de ruptura quando as
economias pós soviéticas desvalorizarem, impondo austeridade sem
terem desenvolvido as suas economias fora do imobiliário. Mas vejo pouco
reconhecimento de como o euro e na verdade a UE expandida está a ser
rasgada pelas instáveis economias pós soviéticas que
não têm meios visíveis de financiar os seus défices
comerciais estruturais, agora que a bolha imobiliária explodiu e
não há mais empréstimos hipotecários em divisas
estrangeiros dentro destes infelizes países. A gestão
monetária da Europa está a parecer tão
irresponsável quanto a da Islândia.
O fracasso da tutela da UE nos países bálticos e na Europa
Central sugere que a Islândia faria melhor em começar a resolver
os seus problemas por si própria, defendendo os seus interesses nacionais
enquanto limpa os resíduos do seu desastroso experimento neoliberal. Uma
verdadeira reforma de mercado substituiria os restos de poder feudal com
direitos de pesca leiloados de modo a mantê-los como base fiscal e
restaurar um sistema bancário público viável. Em
última análise a questão é da própria
independência económica da Islândia.
29/Abril/2009
Do mesmo autor:
A guerra financeira contra a Islândia
[*]
Professor de Teoria Económica na Universidade de Missouri Kansas
City, autor de
Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance
,
mh@michael-hudson.com
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