O discurso de Putin
por Paul Craig Roberts
[*]
Putin efectuou uma
notável intervenção perante a Assembleia Federal, o povo russo e os povos de todo o mundo
.
No seu discurso, Putin revelou a existência de novas armas nucleares
russas tornando indiscutivelmente claro que a Rússia tem vasta
superioridade nuclear sobre os Estados Unidos e sobre os Estados vassalos da
NATO.
Tendo em conta as capacidades russas, não está claro que os EUA
ainda se qualifiquem como uma superpotência.
Há poucas dúvidas na minha mente de que se os enlouquecidos
neoconservadores do complexo militar/securitário em Washington tivessem
essas armas e a Rússia não, Washington lançaria um ataque
à Rússia.
Putin, no entanto, declarou que a Rússia não tem
ambições territoriais nem ambições
hegemónicas e nenhuma intenção de atacar qualquer outro
país. Putin descreveu as armas como a resposta necessária
à firme recusa do Ocidente ano após ano em aceitar a paz e a
cooperação com a Rússia e ao invés disso envolveu a
Rússia com bases militares e sistemas ABM.
Putin disse: "Estamos interessados numa interacção
construtiva e normal com os Estados Unidos e a União Europeia e
esperamos que o senso comum prevaleça e os nossos parceiros escolham uma
cooperação justa e equitativa. (
) A nossa política
nunca será baseada em aspirações de excepcionalismo,
estamos a defender os nossos interesses e respeitamos os interesses dos outros
países."
Putin disse a Washington que os seus esforços para isolar a
Rússia com sanções e propaganda e para impedir a
capacidade de resposta russa ao crescente cerco militar do Ocidente
fracassaram. As novas armas da Rússia tornaram a abordagem EUA/NATO
totalmente "ineficaz do ponto de vista militar". "As
sanções para restringir o desenvolvimento da Rússia,
incluindo a esfera militar, não resultaram". As
sanções não foram capazes de conter a Rússia. E
eles precisam entender isso (...) Parem de balançar o barco em que todos
nós nos sentamos".
Então, o que há a fazer? O Ocidente virá a ter bom senso?
Ou o Ocidente, afogado em dívidas e carregado ao máximo de
indústrias militares hipertrofiadas e ineficazes intensificará a
Guerra Fria que Washington tem ressuscitado?
Não penso que o Ocidente venha a ter qualquer bom senso. Washington
está totalmente absorvido no "Excepcionalismo americano". A
arrogância extrema do país indispensável" aflige
a todos. Os europeus são comprados e pagos por Washington. Creio que
Putin tinha esperança de que os líderes europeus compreendessem a
futilidade de tentar intimidar a Rússia e cessassem de assumir a
Russofobia de Washington que nos está a levar à guerra nuclear.
Sem dúvida que Putin ficou decepcionado com a idiotice da resposta do
ministro da Defesa do Reino Unido, Gavin Williamson, que acusou a Rússia
de "escolher um caminho de escalada e provocação".
Meu palpite é que os neoconservadores vão minimizar a capacidade
da Rússia, porque os neoconservadores não querem aceitar que haja
qualquer restrição ao unilateralismo de Washington. Por outro
lado, o complexo militar/securitário irá exagerar a superioridade
russa e exigir um orçamento maior para nos proteger da
"ameaça russa".
O governo russo concluiu, após anos de frustrante experiência com
a recusa de Washington em considerar os interesses da Rússia e
trabalharem juntos de forma cooperativa, que a razão era a crença
de Washington de que o poder militar americano poderia obrigar a Rússia
a aceitar a liderança dos EUA. Quebrar esta ilusão de Washington
foi a razão para o enérgico anúncio de Putin sobre as
novas capacidades russas.
No seu discurso, ele disse: "Ninguém queria falar connosco.
Ninguém quis ouvir-nos. Escutem-nos agora". Putin sublinhou que as
armas nucleares da Rússia são reservadas para
retaliação, não para agressão, mas que qualquer
ataque à Rússia ou a aliados da Rússia receberá uma
resposta imediata "com tudo o que isso implica".
Tendo deixado claro que a política ocidental de hegemonia e
intimidação está morta, Putin novamente estendeu o ramo de
oliveira: Vamos trabalhar juntos para resolver os problemas do mundo.
Espero que a diplomacia russa seja bem-sucedida em pôr um fim para
às crescentes tensões fomentadas por Washington. No entanto, a
diplomacia russa enfrenta dois talvez inultrapassáveis
obstáculos. Um é a necessidade que o complexo
militar/securitário dos EUA tem de um grande inimigo como
justificação para o seu orçamento anual de 1 milhão
de milhões de dólares e o poder que isso representa. O outro
obstáculo é a ideologia neoconservadora de hegemonia do mundo
pelos EUA.
O complexo militar/securitário está institucionalizado em cada
Estado dos EUA. É um empregador e uma fonte de
contribuições para as campanhas políticas, o que torna
quase impossível para um senador ou representante ir contra os seus
interesses. Nos círculos de política externa está ainda
por aparecer um contrapoder aos enlouquecidos neoconservadores. A Russofobia
que os neoconservadores criaram agora afecta o americano comum. Estes dois
obstáculos revelaram-se suficientemente poderosos para impedir o
Presidente Trump de normalizar as relações com a Rússia.
Talvez no seu próximo discurso, Putin deva abordar os europeus
directamente e perguntar-lhes em que é que os seus interesses são
servidos, facilitando a hostilidade de Washington para com a Rússia. Se
forem impelidos a fazer avançar e deixar estacionar sistemas ABM, armas
nucleares e bases militares dos EUA, como podem esperar escapar à
destruição?
Sem a NATO e as suas bases avançadas, Washington não pode
encaminhar o mundo para a guerra. O facto fundamental desta matéria
é que a NATO é um obstáculo à paz.
Ver também:
Tradução oficial para o inglês do discurso do presidente Putin à Assembleia Federal
Tradução não oficial para o francês do discurso do presidente Putin à Assembleia Federal
Putin's stunning revelations about new Russian weapons systems
, Paul Craig Roberts
Is Washington Sufficiently Intelligent to Be Trusted with an Independent Foreign Policy?
, Paul Craig Roberts
Despesas de guerra levam os EUA à bancarrota
, por John W. Whitehead
La Russie exhibe ses nouvelles armes et dit aux États-Unis "Reviens sur terre"
, Moon of Alabama
[*]
Ex-secretário de Estado assistente para política económica
e editor associado do
Wall Street Journal.
Foi colunista da
Business Week,
Scripps Howard News Service e Creators Syndicate. Seus livros mais recentes:
The Failure of Laissez Faire Capitalism and Economic Dissolution of the West
,
How America Was Lost
e
The Neoconservative Threat to World Order
.
O original encontra-se em
https://www.paulcraigroberts.org/2018/03/01/putins-state-union/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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