por John W. Whitehead
[*]
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"
Para quê gastar dinheiro em despesas militares quando tudo está a ruir em torno de nós?
Será que precisamos de gastar
mais dinheiro com as nossas forças armadas (cerca de US$600 mil
milhões este ano) do que o conjunto dos sete maiores países
seguintes? Precisamos de 1,4 milhões de pessoal militar no activo e 850
mil reservistas quando o inimigo de momento ISIS conta escassas
dezenas de milhares? Se assim é parece que há algo radicalmente
errado na nossa estratégia. Deverão 55% dos gastos
discricionários do governo federal irem para despesas militares e apenas
3% para os transportes quando há mais mortos e feridos americanos devido
à falta de infraestruturas do que ao terrorismo? Será que a
Califórnia necessita quase tantas bases militares ativas (31, de acordo
com militarybases.com), como tem de universidades do Estado (33)? E o Estado
precisa de mais pessoal militar em serviço ativo (168 mil, segundo a
revista
Governing
) que professores nas escolas públicas (139 mil)?"
Steve Lopez,
Los Angeles Times
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Registem as minhas palavras: as despesas militares da América
levarão
a nação à bancarrota. Mas
os gastos da América em guerras já levaram a nação a uma bancarrota
de 20 milhões de milhões de dólares.
Agora, a administração de Trump está a pressionar por um
orçamento
4,4 milhões de milhões de dólares no ano fiscal de 2019
. Um plano que irá acrescentar 7 milhões de
milhões de dólares ao já insustentável
défice federal durante os próximos dez anos, a fim de manter o
império militar dos EUA no exterior e expandir dramaticamente o
estado policial interno
.
Trump também quer que os contribuintes americanos paguem o
custo de construção daquela infame muralha fronteiriça
.
Na verdade, Trump pode vir a ser considerado, como o analista político
Stan Collender advertiu,
"o Presidente com maior aumento de défice e dívida de todos os tempos"
.
Num rápido esclarecimento: "
Um défice orçamental é a diferença entre o que o governo federal gasta e o que recebe
. A dívida nacional, também conhecida como dívida
pública, é o resultado de o governo federal pedir dinheiro para
cobrir anos e anos de défices orçamentais".
Agora, o governo dos EUA está a operar no negativo em todas as frentes:
gasta muito mais do que o que obtém (e cobra aos contribuintes
americanos) e pede emprestado
a governos estrangeiros e à Segurança Social
para manter o funcionamento do governo e o
financiamento das suas intermináveis guerras no exterior
.
É desta forma que os impérios militares fracassam e caem: por
expandirem-se até ao limite e consumirem-se até à morte.
Assim aconteceu em Roma
. Está a acontecer de novo.
Não satisfeito em meramente servir de polícia do mundo, nas
últimas décadas os EUA gradualmente transformaram o seu
próprio território num campo de batalha com polícias
militarizadas e armas mais adequadas a uma zona de guerra.
Desde a tomada de posse, o presidente Trump tal como os seus
antecessores tem marchado ao ritmo das forças armadas. Agora
Trump quer 716 mil milhões de dólares para expandir no exterior o
império militar da América e
milhares de milhões de dólares mais para contratar polícias, construir mais prisões e financiar mais programas de guerra
às drogas/ ao terrorismo/ ao crime que corroem a Quarta
Emenda Constitucional e não deixam o país mais seguro.
Mesmo as verbas solicitadas para infraestruturas pouco farão para
remediar a desintegração de estradas, pontes, ferrovias,
rodovias, redes eléctricas e barragens do país.
Não importa em quanto irá recortá-lo, este não
é um orçamento que vise
aperfeiçoar a União, estabelecer justiça, garantir a tranquilidade interna, providenciar a defesa comum, promover o bem-estar geral ou garantir as bênçãos da liberdade para o povo americano
.
Não, este orçamento que visa favorecer os poderosos interesses do
dinheiro (militares, grandes empresas e segurança) que controlam o
Estado profundo e mantêm o governo preso nas suas garras.
No entanto, a campanha de
Trump prometera equilibrar o orçamento e drenar os pântanos da corrupção
.
A gritante verdade económica é que basicamente é o
complexo militar-industrial e não os doentes, os idosos ou os
pobres que estão a empurrar os EUA para a falência.
Como mostra o jornalista de investigação Uri Friedman, já
há mais de 15 anos que os Estados Unidos têm estado a
combater o terrorismo com um cartão de crédito
, "essencialmente a
financiar as guerras por meio de dívidas, sob a forma de compras de
títulos do tesouro dos EUA por entidades baseadas nos EUA como fundos de
pensões, Estados e governos locais e por países como a China e o
Japão.
A fusão ilícita entre a indústria de armamentos e o
Pentágono, contra a qual o presidente Dwight Eisenhower advertiu
há mais de 50 anos, hoje talvez represente a maior ameaça
à frágil infraestrutura da nação.
Tendo sido cooptada por gananciosos fornecedores de armamento, políticos
corruptos e governantes incompetentes, os EUA ao expandirem o seu
império militar estão a sangrar o país a uma taxa de mais
de
15 mil milhões de dólares por mês
(ou 20 milhões por hora) e isto é só o que o
governo gasta em guerras no
exterior. Não incluindo o custo de manutenção e de pessoal
militar dos EUA nas
mais de 1 000 bases espalhadas por todo o globo
.
Incrivelmente, embora os EUA constituam apenas 5% da população
mundial, têm quase
50% das despesas militares totais do mundo
, gastando
mais em despesas militares do que as 19 maiores nações seguintes no seu conjunto
.
Na verdade,
o Pentágono gasta mais em guerra do que todos os 50 Estados federados juntos gastam em saúde, educação, bem-estar e segurança
.
As guerras não são baratas.
Embora o governo federal obscureça tanto os seus gastos militares que
números exatos são difíceis de obter, sabemos que desde
2001 o governo dos EUA gastou mais de 1,8 milhões de milhões de
dólares nas guerras do Afeganistão e do Iraque (isto é,
8,3 milhões por hora
).
Isso não inclui guerras e exercícios militares travados por todo
o globo, que se espera
aumentarem a factura total para mais de 12 milhões de milhões de dólares até 2053
,
incluído as despesas com veteranos e juros de dívidas.
Lembrem-se, estas guerras em curso crivadas de corrupção,
trapalhadas e incompetência pouco têm feito para proteger o
país, enquanto enriquecem o complexo militar-industrial e fornecedores
privados da defesa, às custas dos contribuintes.
Recentemente, por exemplo, uma das principais empresas de contabilidade
concluiu que uma das maiores agências do Pentágono
"não contabiliza centenas de milhões de dólares dos seus gastos"
.
Considere-se apenas o facto de que
cada soldado deslocado no Afeganistão custa aos contribuintes americanos 2,1 milhões de dólares por ano
. Imagine o que poderia ser feito com esse dinheiro se fosse gasto nas
necessidades internas aqui no país.
Infelizmente, isso não vai acontecer tão cedo. Não
enquanto os interesses do dinheiro em Washington continuarem a tomar as
decisões e ter lucros com os despojos das guerras.
A guerra tornou-se uma enorme oportunidade de ganhar dinheiro e os EUA, com o
seu vasto império militar, são um dos melhores compradores e
vendedores. Não só têm
o maior orçamento de defesa
,
também ocupam o primeiro lugar como
o maior exportador de armas do mundo
.
O complexo militar-industrial americano ergueu um império
insuperável na história pela sua amplitude e alcance, dedicado
à perpétua realização de guerras por toda a parte
da terra.
Por exemplo, ao erigir um estado de vigilância securitária nos
Estados Unidos, o complexo militar-industrial tem perpetuado um império
mundial militar com tropas americanas estacionadas em 177 países (mais
de 70% dos países do mundo). Neste processo, foram gastos milhares de
milhões construindo instalações militares de luxo
através do mundo.
Por exemplo, a embaixada dos EUA, construída no Iraque, apelidada de
"Fortaleza Bagdade", abrange 104 hectares e possui uma "cidade
dentro de uma cidade", o que inclui seis edifícios de apartamentos,
um aquartelamento de Marines, piscina, lojas e paredes com a espessura de 4,5
metros O campo Anaconda no Iraque, como muitas bases militares americanas
espalhadas por todo o globo, foi estruturado para se assemelhar a uma
mini-cidade com piscinas, restaurantes
fast-food,
campos de golfe em miniatura e cinemas.
Enquanto a maioria dos americanos dificilmente pode arcar com o custo de
aquecimento e arrefecimento de suas próprias casas, o governo americano
gasta
20 mil milhões de dólares por ano só para fornecer ar condicionado a instalações militares no Iraque e no Afeganistão
.
No essencial, o que estamos a fazer é "instalar ar condicionado
lá nos desertos do Afeganistão, Iraque e outros lugares",
observou o general de brigada reformado Steven Anderson, especialista em
logística, antigo chefe logístico do general David Petraeus no
Iraque.
Há uma boa razão para que "excessivo",
"corrupto" e "ineficiente"
estejam entre as palavras mais
comummente aplicadas ao governo, especialmente ao departamento de defesa e seus
fornecedores. Por exemplo, um estudo do Government Accountability Office
descobriu
US$70 mil milhões de sobrecustos do Pentágono
causados por falhas de gestão. Para colocar isto em perspectiva,
equivale a uma vez e meia todo o orçamento anual do Departamento de
Estado, de 47 mil milhões de dólares.
A fraude é galopante.
Uma auditoria do governo, por exemplo, descobriu que o fornecedor militar
Boeing tem maciçamente
sobrecarregado os contribuintes
com os custos das
peças sobresselentes, resultando em dezenas de milhões de
dólares de gastos excessivos. Como observado no relatório,
o contribuinte americano paga
:
US$71 por um pino de metal que deveria custar apenas 4 cêntimos;
US$644,75 por uma pequena engrenagem menor que uma moeda de dez centavos
vendida a US$12,51, um aumento de preço superior a 5 100 por cento; US$1
678,61 por outra minúscula peça, também menor que uma
moeda, que poderia ter sido comprada internamente no Departamento de Defesa por
US$7,71: um aumento de 21 mil por cento; US$71,01 para um delgado pino de metal
que o Departamento de Defesa tinha em stock, não utilizados às
dezenas de milhares, por 4 centavos, um aumento de mais de 177 000 por cento.
A burla nos preços tornou-se uma forma aceite de corrupção
dentro do império militar americano. E se os contribuintes acham que os
preços dos combustível são altos, considere-se apenas o
que estão sendo forçados a desembolsar, uma vez que
as despesas
de entrega
de combustível para as tropas no exterior são facturadas
internamente entre 18 e 30 dólares por galão (4,76 a 7,93
dólares por litro) no Iraque e Afeganistão
.
Incrivelmente, apesar dos relatos de corrupção, abuso e
desperdício, às mega-corporações por trás de
grande parte desta inépcia e corrupção continuam a ser
adjudicados contratos militares de milhares de milhões de dólares.
Os argumentos podem mudar para justificar as razões pelas quais
forças militares americanas estão no Afeganistão, no
Iraque ou em quaisquer outros lugares, mas o que permanece constante é
que aqueles que governam estão a alimentar o apetite do complexo
militar-industrial.
O que começou em 2001 como parte de um alegado esforço para
eliminar a al-Qaeda transformou-se numa mina de ouro para o complexo
militar-industrial e o seu exército de fornecedores privados.
Considere-se que
o Pentágono em 2008 gastou mais dinheiro a cada cinco segundos no Iraque do que o salário médio anual nos EUA
. Mesmo
assim o Congresso e a Casa Branca querem que os contribuintes aceitem que a
única maneira de reduzir a subida do défice da
nação é cortar em programas como a Segurança Social
e o Medicare.
Como Martin Luther King Jr. reconheceu, sob um império militar a guerra
e os
seus lucros tomarão sempre a precedência sobre as necessidades
básicas do povo.
Simplesmente, não podemos manter o nosso excessivamente extenso
império militar.
"O dinheiro é o novo gorila de 400 quilos"
, comentou um
oficial sénior da administração envolvido no
Afeganistão. "Isto desloca o debate de: "está a
estratégia a funcionar?", para "Podemos poupar isto?"
Quando se vê as coisas desta forma, o âmbito da missão que
temos agora é muito, muito menos defensável".
Ou como um comentador observou:
"Hipotecar o futuro do nosso país não deve ser confundido com defendê-lo."
Inevitavelmente, os impérios militares entram em colapso.
Como escreve Cullen Murphy, autor de
Are We Rome?
e editor-geral da revista
Vanity Fair:
"
Daqui a um milénio, a América será difícil de reconhecer
. Pode não existir como um Estado-nação na forma
como existe atualmente ou até mesmo não existir.
Serão as transições futuras graduais e pacíficas ou
abruptas e catastróficas? Nossos descendentes irão viver vidas
produtivas numa sociedade melhor do que a que vivemos agora? Aconteça o
que acontecer, irão os valiosos aspectos do legado da América
permanecer através do tecido das civilizações que
virão? Será que os historiadores, um dia, terão
razão para perguntar: o que fez a América realmente cair?
O problema com que lutamos não é senão um império
americano distorcido, com mega-empresas, complexos industriais-militares e de
segurança e crescente militarização. Com os olhos postos
no domínio absoluto.
Contudo, todos os impérios militares acabam por cair.
No auge de seu poder, até mesmo o poderoso Império Romano
não poderia ignorar uma economia em colapso e militares florescentes.
Períodos prolongados de guerra e falsa prosperidade económica
levam à derrocada. Como o historiador Chalmers Johnson prevê:
"O destino de impérios democráticos anteriores sugere que
tal conflito é insustentável e será resolvido numa das
duas maneiras.
Roma tentou manter seu império e perdeu sua democracia
.
Grã-Bretanha optou por permanecer democrática e no processo
perdeu o seu império. Intencionalmente ou não, o povo dos Estados
Unidos já foi levado bastante longe na via de um Império
não-democrático".
Gostaria de sugerir que o que temos é uma confluência de fatores e
influências que vão além de meras comparações
com Roma. É uma união do
1984
de Orwell com o seu sombrio governo totalitário isto é,
fascismo, a união do governo com os poderes corporativos e um
estado de vigilância total com um Império militar que se estende
por todo o mundo.
Como temos visto com a militarização da polícia, o
crescimento da confiança no militarismo como solução para
nossos problemas tanto no interior e como no exterior afecta os
princípios básicos sobre os quais a sociedade americana deve
funcionar. Devemos ter em mente que um império militar será
governado não por nobres ideais de igualdade e de justiça, mas
pelo poder da espada. Os militares estão treinados principalmente para
conduzir a guerra, não para preservar a paz.
Aqui bate o ponto: se o império americano cair e a economia americana
entrar em colapso e com isto os últimos vestígios da nossa
República constitucional a culpa será o governo e seus
orçamentos de guerra de milhões de milhões de
dólares. Claro que o governo já antecipou esta ruptura.
É por isso que o governo transformou a América numa zona de
guerra, a nação num Estado de vigilância e rotulou
"nós, o povo" como combatentes inimigos.
Durante anos, o governo tem trabalhado com os militares a preparar-se para agitação civil generalizada provocada por "colapso
económico, perda
do funcionamento político e da ordem legal
,
resistência ou insurgência interna deliberada,
intensificação de emergências na saúde
pública, desastres naturais e humanos catastróficos".
Tendo passado mais de meio século a exportar guerra para terras
estrangeiras, a lucrar com a guerra e a criar uma economia nacional
aparentemente dependente dos despojos de guerra, os falcões da guerra
há muito voltaram sobre nós os seus apetites pelo lucro, trazendo
para casa os materiais de guerra tanques militares, lançadores de
granadas, capacetes de Kevlar, metralhadoras de assalto, máscaras de
gás, munições, aríetes, binóculos de
visão noturna, etc. e entregando-os à polícia
local, transformando assim a América num campo de batalha.
Como deixei claro no meu livro
Battlefield America: The War on the American People
, esta é assim que a polícia vence e "nós o
povo"
perdemos.
Há mais de 50 anos, o presidente Dwight Eisenhower advertiu-nos para
não deixar que a máquina de guerra conduzida pelo lucro pusesse
em perigo as nossas liberdades e processos democráticos.
Fracassámos em prestar atenção a esta advertência.
Como
Eisenhower reconheceu
num discurso na American Society of Newspaper
Editors, em 16 de abril de 1953, as consequências de permitir que o
complexo militar-industrial empreendesse guerras, exaurisse os nossos recursos
e ditasse as nossas prioridades nacionais, vão além da vida.
"Todas as armas que são fabricadas, cada navio de guerra
lançado, cada foguetão disparado, representa, no seu significado
final, um roubo aos que têm fome e não são alimentados,
àqueles que têm frio e não são vestidos. Este mundo
em armas não está a gastar dinheiro sozinho. Está a gastar
o suor dos seus trabalhadores, o génio dos seus cientistas, as
esperanças dos seus filhos. O custo de um bombardeiro pesado moderno
é isto: uma escola moderna em mais de 30 cidades. São duas
centrais elétricas, cada uma servindo uma cidade de 60 mil habitantes.
São dois hospitais totalmente equipados. São umas cinquenta
milhas de estradas alcatroadas. Pagamos por um único avião de
combate meio milhão de alqueires (
bushels
) de trigo. Pagamos por um único destróier com casas novas que
poderiam ter abrigado mais de 8 000 pessoas... Isto não é um modo
de vida, no sentido verdadeiro. Sob as nuvens de guerras ameaçadoras, a
humanidade está suspensa numa cruz de ferro".
17/Fevereiro/2018
[*]
Procurador constitucional dos EUA, fundador e presidente do Rutherford
Institute. Seu último livro é
Battlefield America: The War on the American People
. Contacto:
johnw@rutherford.org
O original encontra-se em
www.informationclearinghouse.info/48814.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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