Investimento em queda mas Fundos Comunitários não foram
utilizados
De 2014 a Set/2016 ficaram por utilizar 7,12 mil milhões de euros
Só 22,9% dos fundos programados foram aproveitados nesse
período
Um dos problemas mais graves que o país enfrenta, e que torna a
recuperação económica difícil, é
precisamente a quebra continuada e significativa no investimento, quer
público quer privado. Segundo o INE (Contas Nacionais), em 2015 o
investimento total no país (FBCF) foi inferior ao de 2008 em 15.000
milhões (-35,6%). E, em 2016, verificou-se uma nova quebra que,
segundo o Banco de Portugal, atingiu -1,7%. Esta quebra foi também
muito significativa a nível do investimento público. Mesmo com o
atual governo, para reduzir o défice para o valor imposto pela
Comissão Europeia e aceite como bom aluno pelo atual governo, em 2016 o
investimento público sofreu uma forte redução. Segundo a
Síntese da execução orçamental mensal de janeiro de
2017 do Ministério das Finanças, o investimento das
Administrações Públicas em 2016 foi inferior ao
investimento de 2015 em 433,8 milhões (-9,9%), e mesmo muito
inferior ao previsto no OE-2016 aprovado pela Assembleia da República em
955,7 milhões (-19,6%).
No nosso país, desde 2012, a FBCF (investimento) tem sido inferior ao
Consumo de Capital
(entre 2012 e 2015, o investimento FBCF foi inferior ao Consumo
de Capital Fixo em 15.887,4 milhões , segundo o INE),
o que significa que o investimento realizado em cada ano não tem sido
suficiente para compensar aquele que se degrada e uma parte que deixa de ser
utilizado por estar obsoleto ou não funcionar, não possibilitando
nem a renovação nem a modernização, reduzindo-se
assim o PIB potencial e a capacidade produtiva atual e futura do país.
Portanto, o problema da falta ou da insuficiência de investimento,
incluindo público, indispensável para modernizar a estrutura
produtiva do país e para criar emprego de qualidade é um problema
muito grave que não pode ser nem subestimado nem ignorado. O governo
depositava grande esperança na utilização dos Fundos
Comunitários para inverter este declínio dramático mas,
infelizmente, isso ainda não sucedeu, como vamos mostrar, utilizando
dados oficiais.
APENAS 22,9% DOS FUNDOS COMUNITÁRIOS QUE DEVIAM TER SIDO UTILIZADOS
ATÉ SET, E SOMENTE 8,5% DO TOTAL FORAM EFETIVAMENTE INVESTIDOS
ATÉ SET/2016
O quadro 1 foi construído com os dados da programação
financeira constantes de cada um dos Programas Operacionais e com dados do
Boletim Informativo dos Fundos da União Europeia nº 6 da
Agência para o Desenvolvimento e Coesão I.P., que é o
último divulgado com dados da execução do Portugal 2020
até Setembro de 2016.
Como revela o quadro 1, de acordo com a programação financeira,
deviam terem sido utilizados, ou podiam ser utilizados até Setembro de
2016, fundos comunitários no montante de 9.248 milhões ,
mas o executado (o utilizado) foi apenas 2.117 milhões , ou
seja, somente 22,9% do programado para este período e 8,5% do total
atribuído a Portugal para serem gastos no período 2014-2020. Por
Programas Operacionais, a situação é ainda mais grave em
muitos dos mais importantes. Assim, no Programa Operacional Competitividade e
Internacionalização (POCI), um programa fundamental de apoio
à modernização e internacionalização das
empresas portuguesas foi executado até Setembro de 2016 apenas 10% do
programado para este período; no programa Operacional Inclusão
Social e Emprego (POTISE) somente 16,6%; no Programa Operacional
Sustentabilidade e Eficiência de Recursos apenas 2,4%; nos Programas
Operacionais Regionais (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve) o executado,
até Setembro de 2016, variava entre 2,1% e 6,9% do programado para este
período.
Este atraso significativo nos Programas Operacionais do Portugal 2020, revelado
pela despesa validada, que é a despesa apresentada pelas
entidades que executam o investimento, tem consequências
dramáticas para o país, já que a utilização
dos Fundos Comunitários induz (alavanca) muito mais investimento pois
está associado a investimento privado e, em alguns programas
operacionais, também a investimento público
(Será que este atraso é também explicado pela
intenção de reduzir temporariamente a despesa pública para
assim reduzir o défice? é uma questão que se deixa
para reflexão).
Por ex., tomando como base as candidatura já aprovadas, mas não
executadas, para um total de 7.883,8 milhões de fundos
comunitários, o investimento total é de 12.550 milhões
; no POCI, o programa por excelência de apoio à
modernização e internacionalização das empresas, os
fundos comunitários atribuídos às candidaturas aprovadas,
mas não executadas, totaliza 1.773,3 milhões , que alavanca
3.452 milhões de investimento, ou seja, quase o dobro (+94,7%) do
montante dos fundos comunitários atribuídos.
A situação de grande atraso que se verifica na
execução dos projetos apoiados pelo Portugal 2020 é
dramática para o país, e é necessário que saia da
sombra em que tem vivido, sendo indispensável que o governo tome medidas
urgentes para acelerar, em muito, a execução, do Portugal 2020
que parece ter entrado novamente num estado de estagnação e de
adormecimento. E isto num contexto em que as queixas das empresas e candidatos
são cada vez maiores e mais intensas.
E isto apesar de se ter verificado uma melhoria em 2016 quando comparamos a
situação com a verificada durante o governo PSD/CDS como é
importante recordar.
NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DO PORTUGAL 2020 (2014-2015) COM O PSD/CDS, APENAS
FORAM UTILIZADOS 1.154,9 MILHÕES (17,6%) DOS 6.559 MILHÕES
DE FUNDOS COMUNITÁRIOS PROGRAMADOS PARA ESTE PERÍODO
Segundo o Boletim Informativo dos Fundos da União Europeia nº3, que
abrange o período que vai até 31 de Dezembro de 2015, ou seja,
durante o governo PSD/CDS, o ritmo de utilização dos Fundos
Comunitários do Portugal 2020 ainda foi mais dramática para o
país pois, no período 2014-2015, apenas foram utilizados 17,6%
(1.154,9 milhões ) daquilo que o próprio governo PSD/CDS
tinha programado que fosse executado neste período. Se comparamos este
valor com a execução total até Setembro de 2016 (2.117
milhões do quadro 1), conclui-se que nos três primeiros
trimestres de 2016 verificou um acréscimo de 963 milhões ,
o que significa que foi executado durante os 9 primeiros meses de 2016 o
correspondente a 83,4% do que foi realizado durante dois anos de governo
PSD/CDS, mas que continua a ser manifestamente insuficiente.
Durante os dois anos de governo PSD/CDS, programas operacionais fundamentais
para o desenvolvimento do país, tiveram uma execução
ridícula. Por ex., no Programa Operacional Competitividade e
Internacionalização até 31.12.2015 tinham sido utilizados
apenas 6,3 milhões de Fundos Comunitários dos 1.198
milhões que podiam ter sido utilizados; no Programa Operacional
Inclusão Social e Emprego tinham sido utilizados apenas 152,7
milhões de Fundos Comunitários dos 739 milhões
que podiam ser utilizados neste período. Nos Programas
Operacionais Regionais (Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve) a
execução durante o governo PSD/CDS foi NULA. Dos 2.076
milhões de Fundos Comunitários que podiam ser utilizados
no período 2014-2015 o executado durante o governo PSD/CDS foi ZERO. O
mesmo sucedeu com o Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiente de
Recursos que tinha disponível 609 milhões .
16/Fevereiro/2017
Do mesmo autor:
Governo deixou de utilizar 7071 milhões de fundos comunitários no período Jan/2007 - Mar/2011
Fundos comunitários não utilizados: 5.162 milhões até ao fim de 2006
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