A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos trabalhadores
A crise que envolve o conjunto do sistema capitalista e, especialmente os
países centrais, é devastadora, profunda e de longa
duração. Estamos apenas no início de um processo que
envolverá a derrocada do sistema financeiro internacional tal como
conhecemos hoje, queda brusca no comércio mundial, uma grande
recessão, desemprego generalizado, e graves tensões sociais no
centro e na periferia. Por suas dimensões econômicas e
financeiras, esta crise é muito maior que a de 1929, com o agravante de
que atinge de maneira sincronizada o coração do sistema
capitalista e torna praticamente sem efeito as tentativas de
coordenação ensaiadas pelos líderes das principais
economias mundiais. A crise reflete ainda um conjunto de
contradições que o capitalismo vem acumulando desde a segunda
metade da década de 60 (superacumulação de capitais,
financeirização da riqueza e frenesi especulativo) e que agora se
expressam com rudeza explícita em toda a vida social contemporânea
das nações que fazem parte do processo de
acumulação mundial.
Ao contrário do que os meios de comunicação procuram
difundir, esta não é uma crise do setor imobiliário, do
crédito, da falta de liquidez, ou de regulação, ou ainda
um fenômeno oriundo da ganância dos especuladores inescrupulosos
que colocaram em risco o capitalismo. Esta é uma crise do conjunto do
capitalismo: o sistema todo está doente e seus fundamentos estão
sendo questionados pela crise. Além disso, essa crise não
é administrável com os instrumentos clássicos de
política monetária ou intervenções tópicas
para recuperar a credibilidade do sistema. Por isso, as tentativas de
coordenação dos governos e Bancos Centrais não conseguem
resolver o problema. A crise vai seguir objetivamente seu curso durante alguns
anos, independentemente da vontade dos dirigentes dos países centrais,
com repercussões em todas as esferas da vida social - na economia, na
geopolítica e entre as classes sociais. Ressalte-se ainda que a forma
particular como a crise se apresenta atualmente (financeira,
imobiliária, etc.) representa apenas a ponta do iceberg de um problema
mais de fundo, que é a superacumulação de capitais e a
impossibilidade de valorizá-los na esfera da produção.
Mas a crise também tem suas particularidades, como todas as crises do
sistema capitalista, uma vez que cada crise traz consigo um conteúdo
novo (Campos, 2001: 21)
[1]
. Esta crise fecha um longo ciclo de 30 anos da hegemonia do pensamento
único e encerra uma forma particular de acumulação,
baseada na hegemonia das altas finanças, mecanismo através do
qual o grande capital capturava a mais-valia mundial, mediante uma infinidade
de mecanismos de punção, que envolvia desde o aprisionamento do
orçamento do Estado até recursos das empresas produtivas e dos
diversos fundos mútuos ou dos trabalhadores. Nada será como antes
após o 15 de setembro. Podemos constatar com ferina ironia o desespero
dos fundamentalistas neoliberais sendo obrigamos pelas leis objetivas da vida
social a fazer o contrário de tudo que pregavam anteriormente e a
desmoralizarem-se perante o mundo: abandonaram o discurso do livre mercado,
chamaram de volta o Estado para socorrer a economia e praticamente
"estatizaram" todo o sistema financeiro dos países centrais
para salvar seus especuladores e agiotas.
Como conseqüência, em poucas semanas, a crise também quebrou
todos os mitos neoliberais: o
mercado
como regulador da vida social e espécie de semi-deus com sua mão
invisível a harmonizar interesses de produtores e assalariados; a
retirada do Estado da economia, as privatizações e a
desregulamentação
, como forma de desobstruir os canais do livre mercado e transferir as empresas
públicas para o capital privado;
a iniciativa privada,
como operadora do sistema econômico, racional e eficiente, ao
contrário das empresas estatais, ineficientes, esbanjadoras de recursos
públicos;
a credibilidade das agências de risco,
cujas instituições funcionavam como palmatória do mundo,
a dar notas a países e empresas de acordo com os critérios e
interesses do grande capital;
o pensamento único e o fim da história:
a ideologia neoliberal era considerada o estágio mais avançado
do pensamento e o capitalismo neoliberal o sistema modelar de
organização da economia, cujo funcionamento desregulado tornaria
impossível qualquer tentativa de mudança no modo de
produção capitalista.
Tudo isso desmanchou-se no ar em poucos dias como uma cortina de fumaça.
Em menos de um mês desapareceram do cenário econômico os
cinco maiores bancos de investimentos dos Estados Unidos (o vértice da
pirâmide do capital financeiro), as duas maiores empresas
hipotecárias do planeta, bem como a maior empresa seguradora do mundo.
Se alguém tivesse previsto uma conjuntura desse porte um mês
antes, com certeza seria motivo de piada. Portanto, esta crise significa
não só o dobre de finados do neoliberalismo, mas também a
derrota moral do capitalismo e do bloco de forças mais
reacionário e mais parasitário do grande capital, que amealhou o
poder nos países capitalistas centrais no final dos anos 70 e subordinou
todos os outros setores à lógica da especulação
financeira. Além disso, representa ainda grande possibilidade de um
ascenso de massas de caráter mundial que irá dar combate a um
sistema ferido.
A crise revelou também de forma cristalina o caráter de classe do
Estado e do governo: quando a economia estava bem, os lucros eram apropriados
pela burguesia; agora que a economia vai mal, o Estado socializa os
prejuízos com os trabalhadores. Realmente, os governos dos países
centrais já injetaram até agora mais de US$ 7,0 x 10
12
na economia para salvar os especuladores. No entanto, por incrível que
pareça, essas mesmas autoridades pouco fizeram para resolver os
problemas de milhões de pessoas que perderam suas casas e estão
vivendo na rua, em barracas de lonas nos parques, em trailers, além dos
outros milhões de insolventes das dívidas com cartões de
crédito e outras dívidas pessoais. Esse escândalo de
classe, em algum momento da conjuntura, vai cobrar seu preço, pois cada
vez mais ficará mais claro para a população a
opção dos governantes pelos ricos.
É necessário ressaltar ainda que, nos períodos de crise, o
grande capital busca se entrincheirar no Estado e nos organismos
institucionais, como os Bancos Centrais e organismos de
coordenação internacionais, a fim de tentar salvar suas
posições e recuperar o que perderam com a crise. Procuram assim
jogar todo o ônus da crise na conta dos trabalhadores. Primeiro, tentam
vender a ilusão de que na crise cada um deve dar sua
contribuição para que todos possam se salvar, mesmo sabendo-se
que quem quer se salvar é a burguesia e seu sistema de
exploração. Quando este método não funciona, o
capital marcha unido contra os trabalhadores buscando ampliar o raio de
exploração e retirar-lhes direitos e garantias. Portanto, esta
conjuntura deverá acirrar as lutas sociais e as disputas entre as
classes fundamentais da sociedade: trata-se de um momento especial da luta de
classe em caráter mundial, em que a burguesia vai utilizar todos os
meios possíveis para sair vitoriosa da crise e o proletariado
também deve estruturar seu projeto de sociedade para superar o
capitalismo.
Antecedentes da crise
Como já enfatizara Marx, os capitais se movimentam permanentemente na
busca de valorização e da maximização do lucro
. "O capital tem como único impulso vital, o impulso de
valorizar-se, de criar mais-valia, de absorver com sua parte constante, os
meios de produção, a maior massa possível de mais-trabalho
(Marx, 1983:188-189) (...) O motivo que impulsiona e o objetivo que determina o
processo de produção capitalista é a maior
autovalorização possível do capital (Marx, 1983: 263)
[2]
(...) Antes de mais nada, o objetivo da produção capitalista
não é apossar-se de outros bens, e sim apropriar-se de valor, de
dinheiro, de riqueza abstrata"
(Marx, 1983: 939)
[3]
. Portanto, quando esse objetivo está sendo contrariado, ou seja, quando
as taxas de lucro estão caindo, o capital procura novas formas para
restabelecer seu patamar de rentabilidade. Foi exatamente o que aconteceu a
partir da segunda metade da década de 60, quando as taxas de lucro
começaram a decrescer nos países centrais, especialmente nos
Estados Unidos, onde concentraremos nossa análise.
Diante dessa conjuntura, o grande capital realizou um movimento
estratégico para recuperar as taxas de lucro, baseado em três
eixos fundamentais:
a)
Parte expressiva dos setores industriais do EUA foi deslocada para a
Ásia, México, América Latina e América Central em
busca de mão-de-obra barata e um conjunto de outras vantagens
econômicas e institucionais que possibilitassem ao capital operar de
maneira mais vantajosa, de forma a elevar as taxas de lucro. O grande capital
imaginava compensar, do ponto de vista econômico, uma possível
fragilidade manufatureira nos Estados Unidos com as remessas de lucros e os
preços de transferência de suas transnacionais para o interior dos
EUA, além do controle do comércio mundial e, do ponto de vista
político, através da maior influência norte-americana nas
várias regiões do mundo.
b)
Os setores mais parasitários do capital que assumiram o poder nos
Estados Unidos e Inglaterra no final da década de 70 buscaram
reconfigurar o mundo a partir da criação de uma nova ordem
econômica internacional, tendo como pilares a implantação
do monetarismo como forma de organizar a economia e o neoliberalismo como o
gestor político do sistema sócio-econômico. Transformaram
em política de Estado a ideologia neoliberal: o mercado como regulador
da economia, a desregulamentação, a liberalização
bancária, a livre mobilidade dos capitais pelo mundo, a retirada do
Estado da economia e uma agressiva política de transferência de
bens do Estado para o setor privado, através das
privatizações.
c)
Além dessas mudanças de fundo, o grande capital norte-americano
realizou na década de 80 e 90 uma espécie de
fuga para frente,
buscando estruturar uma economia de serviços, baseada na
criação da riqueza mediante o extraordinário
desenvolvimento do capital fictício. O objetivo era desenvolver um
sistema financeiro sofisticado e hierarquizado a partir das
instituições norte-americanas, capaz de capturar parte da mais
valia mundial, e estruturar as relações
sócio-econômicas mundiais a partir dos interesses dos Estados
Unidos. Inovações financeiras e finanças estruturadas,
endividamento generalizado das famílias e expansão da
dívida pública, além de aumento dos gastos na área
do complexo industrial militar, de forma a permitir o desenvolvimento da
política guerreira norte-americana, especialmente após a queda da
União Soviética, foram a tônica da estratégia nos
Estados Unidos.
Essa reestruturação estratégica do grande capital
norte-americano, ao contrário do que seus idealizadores imaginavam,
fragilizou de maneira acentuada a economia dos Estados Unidos, uma vez que as
três variáveis implementadas para resgatar as taxas de lucro e
controlar o sistema financeiro mundial resultaram num conjunto de problemas
estruturais que viriam emergir dramaticamente com a crise atual, tais como um
déficit fiscal, um déficit na balança comercial,
elevação exponencial da dívida externa, da dívida
das famílias e corporações, além da
constituição de um sistema financeiro tão especulativo,
que construiu as próprias bases de sua desagregação. Em
outras palavras, a reestruturação neoliberal cobrou um enorme
preço aos Estados Unidos, tanto do ponto de vista econômico,
quanto social e político. Senão vejamos:
A deslocalização de grande parte das indústrias para
outras regiões gerou um déficit permanente na balança
comercial, uma vez que os produtos elaborados no exterior entravam nos Estados
Unidos como mercadorias importadas, ressaltando-se que mais de 30% dos
alimentos consumidos nos EUA, além de um volume expressivo do
petróleo, são importados. O deslocamento das indústrias
ocorreu no ambiente da internacionalização da
produção e da introdução de novas tecnologias nas
plantas industriais, que se expressaram na globalização da
produção mundial, processo que elevou composição
orgânica do capital (a relação entre o capital social geral
e a extração da mais-valia). Essas modificações,
por sua vez, geraram dialeticamente novas contradições: apesar da
do barateamento da mão-de-obra, o incremento da ciência na
produção estreitou, numa ponta, a base de extração
da mais-valia, ao reduzir o número de trabalhadores por
hora-máquina; ao mesmo tempo, esse novo patamar de
acumulação reduziu também o mercado para a
realização das mercadorias.
Os dois fatores levariam inevitavelmente no médio prazo à crise
de superacumulação. Como já assinalara Marx, o modo de
produção capitalista cria barreiras para si mesmo, uma vez que a
acumulação promove a queda na taxa de lucro.
"Queda da taxa de lucro e acumulação acelerada são,
nesse medida, apenas expressões diferentes do mesmo processo, já
que ambas expressam o desenvolvimento da força produtiva. A
acumulação, por sua vez, acelera a queda da taxa de lucro,
à medida que com ela está dada a concentração dos
trabalhos em larga escala e, com isso, uma composição mais
elevada do capital (...) sua queda retarda a formação de novos
capitais autônomos e assim aparece como ameaça para o
desenvolvimento da produção capitalista; ela promove
superprodução, especulação, crises, capital
supérfluo, ao lado de população supérflua (...)
Esse modo de produção cria uma barreira para si mesmo (...) e
essa barreira popular testemunha a limitação e o caráter
tão somente histórico e transitório do modo de
produção capitalista"
(Marx, 1984, 183-184)
[4]
.
É importante ressaltar outros fatores negativos que contribuíram
para a crise: a "desindustrialização" manufatureira nos
EUA, as derrotas impostas ao movimento sindical, a precarização
do trabalho e a contratação da mão-de-obra imigrante
tiveram um papel dramático sobre a renda dos trabalhadores
norte-americanos. Entre 1973 e 2005, os 80% dos trabalhadores que não
exerciam funções de supervisão viram sua renda semanal
cair de US$ 581,67 para US$ 543,65. Em outras palavras o poder de compra desse
contingente de trabalhadores era menor em 2005 do que em 1973. Enquanto os
salários eram reduzidos, a produtividade aumentou de maneira
extraordinária no mesmo período, atingindo um aumento de 75% no
mesmo período (Wolff, 2008)
[5]
. Outros dados, para período mais recente, indicam o seguinte:
"Entre 2000 e 2006 a economia norte-americana cresceu 18%, mas a renda
mediana dos domicílios dos trabalhadores caiu 1,1% em termos reais (...)
Em contrapartida, os 10% mais ricos da população viram sua renda
crescer 32%. No caso dos 1% mais ricos o crescimento foi de 203%, e de 425%
para o segmento representante dos 0,1% superior na pirâmide de renda"
(Valor Econômico)
[6]
.
Como as famílias norte-americanas têm no padrão de consumo
um dos elementos de sua afirmação social, a queda na renda levou
as famílias ao endividamento generalizado, muito acima de suas
possibilidades econômicas, processo facilitado nos últimos anos
pelas baixas taxas de juro. A dívida interna geral (hipotecas,
cartões de crédito, compras de produtos em geral, leasing soma
US$ 38,6 x 10
12
, três vezes o PIB americano (Moore, 2008)
[7]
.
As políticas neoliberais de reduzir os impostos para os ricos, aliados
aos gastos com as aventuras guerreiras no exterior e o desenvolvimento do
complexo industrial militar criaram um enorme déficit fiscal, que tinha
sido zerado na administração Clinton. Esta situação
levou o governo a financiá-lo no exterior, mediante a emissão de
títulos, ampliando o endividamento externo. Os Estados Unidos passaram
de nação credora até os anos 60 para a maior devedora do
planeta. A dívida externa norte-americana está calculada em cerca
de US$ 9,5 x 10
12
.
A desregulamentação transformou o sistema financeiro dos EUA e,
por gravidade, as finanças internacionais, num teatro de
operações especulativas sem precedentes na história do
capitalismo, dado o tamanho do descolamento entre a esfera produtiva e a
órbita da circulação. Para se ter uma idéia,
enquanto o PIB mundial está por volta de US$ 55 x 10
12
, o valor escritural
(notional)
das operações financeiras especulativas foi de US$ 683,7 x 10
12
(BIS, 2008)
[8]
no final do primeiro semestre de 2008, cerca de 12 vezes o PIB mundial. Pela
grandeza desse número já se podia prever a intensidade da crise,
pois não existe mais-valia capaz de remunerar essa quantidade de
recursos especulativos.
A dinâmica da especulação
Ao contrário do que imagina o senso comum, a especulação
é um processo recorrente e parte constitutiva do sistema capitalista e o
capital fictício, de tempos em tempos, sempre encontra um setor da
economia para desenvolver a especulação financeira. John Kenneth
Galbraith, em um livro muito ilustrativo sobre a história das crises
financeira, narra com detalhes a euforia das bolhas especulativas, a
dinâmica das crises e os traços comuns entre elas. Galbraith
assinala que os processos especulativos são muito semelhantes:
começam num setor qualquer da economia com uma inovação
financeira, desenvolvem-se em função da euforia dos ganhos
fáceis e entram em colapso quando se desinfla a bolha especulativa.
"De maneira uniforme, em todos os eventos especulativos, está a
idéia de que há algo novo no mundo ... das tulipas na Holanda,
ouro na Luisiana, terrenos na Flórida ... Algum acontecimento novo e
desejável toma conta da mente financeira. O preço do objeto da
especulação dispara. Títulos, terrenos, objetos de arte,
ou outros bens adquiridos hoje passam a valer mais amanhã. Esse aumento
e a esperança de novos aumentos atraem novos compradores; os novos
compradores garantem novos aumentos. Outros tantos são atraídos e
outros tantos também compram. E o movimento altista continua: a
especulação alimenta-se de si mesma e confere a si mesma o seu
próprio ímpeto"
(Galbraith, 1992: 2, 12)
[9]
Os setores interessados na especulação desenvolvem intensa
campanha para criar uma imagem positiva da euforia financeira, o que é
reproduzido de maneira exaustiva pelos meios de comunicação,
autoridades governamentais e pelos mecanismos de mercado. Se por acaso
alguém questiona o processo especulativo, imediatamente é
desqualificado e execrado perante a sociedade: trata-se de alguém que
não quer a prosperidade do País, que se incomoda o lucro das
pessoas, empresas e instituições e que têm idéias
obsoletas. A euforia só se encerra quando vem o colapso financeiro e os
imensos prejuízos para aqueles que não se safaram antes da crise.
Mas as crises especulativas têm um denominador comum:
"Todas as crises envolvem um endividamento que, de uma ou outra maneira,
tornou-se perigosamente desproporcional aos meios de pagamentos
subjacentes" (Galbraith, 1992: 14)
[10]
.
A descrição de Galbraith corresponde exatamente aos dois
últimos processos especulativos ocorridos nos Estados Unidos. Nos anos
90, a especulação se formou em torno das
empresas ponto com,
empresas de tecnologia
que obtiveram enorme valorização nas bolsas. Falava-se em nova
economia, comandada pelas tecnologias da informação e cuja
expressão maior eram os preços das ações nas
bolsas.
"Na primavera de 2000, no ápice da alta do mercado de
ações, a despeito do fato de as companhias de
telecomunicações terem produzido menos de 3% do PIB, a
capitalização de mercado (o valor de suas ações em
circulação) alcançou assombrosos US$ 2,7 x 10
12
, quase 15% da soma de todas as corporações não
financeiras norte-americanas"
(Brenner, 2003: 22)
[11]
.
Essa bolha especulativa desinflou em 2001, levando enormes prejuízos
para a sociedade.
"Em meados de 2002, as ações de
telecomunicações perderam 95% de seu valor, o que resultou no
desaparecimento de aproximadamente US$ 2,5
x 10
12
da capitalização do mercado. Apenas no breve período
entre o final de 2000 e meados de 2002, mais e 60 companhias faliram e a
indústria de telecomunicações demitiu mais de 500 mil
trabalhadores, 50% a mais do que tinha contratado durante a espetacular
expansão do período entre 1996 e 2000"
(Brenner, 2003: 25, 26)
[12]
.
A crise das
empresas ponto com,
como pode ser observado, foi uma espécie de
avant première
da crise atual que envolve o sistema capitalista, ressaltando-se que a crise
das empresas de tecnologia trouxe à tona uma escandalosa fraude cometida
pelas principais empresas e bancos norte-americanos, fato que vem se repetindo
com mais intensidade na atual crise.
Concentremo-nos agora nos elementos constitutivos da crise atual. O governo
norte-americano, através do FED, visando retomar economia que entrara
em recessão após a crise de 2001, reduziu de maneira acelerada a
taxa de juros, que chegou a ficar 31 meses negativa. Como a renda das
famílias não aumentava, a saída para manter os elevados
padrões de consumo dos norte-americanos foi a ampliação do
endividamento, uma vez que é tradição nos Estados medir o
sucesso individual ou familiar pelo padrão de consumo. Os baixos juros e
o crédito em abundância possibilitaram a retomada da demanda, mas
ao mesmo tempo criaram uma bomba de efeito retardado, uma vez que, se o
crédito funciona como dinamizador da economia, em contrapartida deve ser
pago em algum momento do tempo. Se as condições econômicas
estiverem favoráveis, o crédito cumpre uma função
especial de facilitar a produção e a demanda, mas se as taxas de
juros mudam ou as condições da economia não possibilitam o
aumento da renda, a inadimplência é o caminho natural de parcela
expressiva dos endividados.
Marx também já advertira sobre o papel do crédito e as
conseqüência de sua expansão forçada da economia.
"
Num sistema de produção em que toda a conexão do processo
de reprodução repousa sobre o crédito, quando então
o crédito subitamente cessa e passa apenas a valer o pagamento em
espécie, tem de sobrevir evidentemente uma crise, uma corrida violenta
aos meios de pagamento. À primeira vista a crise apresenta apenas como
crise de crédito e crise monetária. E de fato trata-se apenas da
conversibilidade das letras em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua
maioria, compras e vendas reais, cuja extensão, que ultrapassa de longe
as necessidades sociais, está em última instância na base
de toda a crise (...) Enquanto o processo de reprodução
mantém a fluidez, assegurando com isso o refluxo do capital, esse
crédito perdura e se expande e sua expansão se baseia sobre a
expansão do próprio processo de reprodução.
Tão logo ocorre uma estagnação, em conseqüência
de refluxos retardados, mercados saturados, ou preços em queda,
há excesso de capital industrial, mas numa forma que não pode
desempenhar sua função. Massas de capital-mercadoria, mas
invendáveis. Massas de capital fixo, em virtude da
paralisação da reprodução, em grande parte
desocupadas. O crédito contrai-se 1) porque esse capital está
desocupado, isto é, paralisado em uma das fases de sua
reprodução porque não pode completar sua metamorfose; 2)
porque a confiança na fluidez do processo de reprodução
está quebrada; 3) porque a procura por esse crédito diminui"
(Marx 1983, 23-28)
[13]
.
As condições vantajosas do crédito, aliadas à
desregulamentação, estimularam o capital especulativo a
desenvolver um conjunto de inovações financeiras relacionadas com
as dívidas de cartões de crédito, compra de
automóveis, dívidas corporativas e, especialmente, as
dívidas hipotecárias. Vale lembrar que, para facilitar a
ação especulativa, o Congresso norte-americano revogou, em 1999,
a Lei
Glass-Steagall,
que disciplinava a atividade bancária e separava os bancos comerciais
dos bancos de investimento. Desregulamentado e com carta branca para criar os
mais diversos tipos de inovações financeiras, o sistema
financeiro correspondeu plenamente aos novos tempos e desenvolveu esquemas de
engenharia financeira que beirava à insanidade.
Por exemplo, no setor imobiliário, onde a crise ficou mais conhecida, o
mecanismo funcionava da seguinte maneira: os bancos até então
realizavam negócios imobiliários e ficavam com as hipotecas
negociadas como garantia do pagamento. Quando o cliente quitava o débito
recebia de volta a hipoteca. No entanto, estimulados pela
desregulamentação e pelo incentivo do próprio governo,
interessado no desenvolvimento das finanças, as
instituições financeiras resolveram inovar radicalmente, criando
as chamadas
finanças estruturadas:
transformaram as hipotecas e todo tipo de divida em títulos, os
empacotavam junto com outros títulos de origem diferente, e os vendiam
para instituições financeiras, investidores em geral e agentes
econômicos do mundo inteiro, que por sua vez, com esses títulos
podiam obter empréstimos para comprar novos títulos e assim por
diante, surgindo daí uma enorme alavancagem financeira especulativa.
O circuito se completava com a entrada das companhias seguradoras: para se
garantir contra os riscos dos títulos, empresas e
instituições em geral faziam o seguro dos títulos
empacotados e as empresas de seguro, com os recursos obtidos, também
participavam ativamente da ciranda financeira. Para se tornarem atrativos, os
títulos derivativos (oriundos das operações securitizadas)
rendiam muito mais que as taxas de juros do FED, o que proporcionava ganhos
expressivos para todos que estavam no frenesi especulativo. O processo de
sucuritização das dívidas era chamado de dispersão
do risco. Cada agente passava o risco para a frente e embolsava as
comissões e lucros todos estavam ganhando e assim seguia a
euforia financeira. Novamente Galbraith descreve com exatidão e ironia a
dinâmica especulativa:
"Quem está envolvido na especulação vivencia um
aumento de sua riqueza. Ninguém deseja acreditar que isso é
fortuito ou imerecido; todos querem crer que é o resultado da
superioridade de seus insights ou intuições pessoais. O
próprio aumento dos valores toma conta dos corações e
mentes dos que são por ele beneficiados. A especulação
suga, de uma maneira perfeitamente prática, a inteligência
daqueles envolvidos"
(Galbraith, 1992: 4)
[14]
.
Para dar solidez a esses negócios, as agências independentes de
risco, especialmente as três principais, Standard Poors, Moody's e
Fitch, responsáveis por 80% do mercado, realizavam a
classificação desses títulos e os davam nota
máxima:
um tríplice A (AAA),
que significava a benção do mercado e dos seus técnicos
mais gabaritados para seriedade dos negócios. A
classificação das agências de risco abriu espaço
para que os investidores institucionais (fundos de pensão, corretoras e
outras instituições oficiais regulamentadas), que só
poderiam comprar títulos com esse tipo de classificação,
entrassem no mercado colocando ainda mais gasolina no processo especulativo.
Isso porque esses fundos e instituições, especialmente os fundos
de pensão, centralizam uma enorme quantidade de recursos da sociedade, o
que lhes davam um grande poder para influenciar os mercados.
Esse mecanismo (ou essa corrente da felicidade) criou um enorme
boom imobiliário
. Com um número cada vez maior de pessoas com créditos para
adquirir casas, os preços dos imóveis aumentaram de maneira
acentuada, pois a demanda por residências era maior que a capacidade de
construção imobiliária. Surgia assim
o efeito riqueza
, as pessoas que adquiriam imóveis se tornavam mais ricas em
função do aumento dos preços da habitação.
Os bancos novamente utilizavam esta situação para desenvolver
ainda mais a especulação: chamavam os clientes com imóveis
valorizados e os ofereciam créditos correspondentes entre o valor
original da hipoteca e o preço de mercado dos imóveis. Esses
créditos eram geralmente investidos na compra de novos títulos
empacotados, afinal todos queriam lucrar com a euforia financeira, o que
aumentava ainda mais a procura por esse tipo de papéis, elevava sua
valorização e os ganhos dos especuladores.
Nessa orgia especulativa, as instituições financeiras ampliaram
ainda mais a especulação imobiliária, ao realizar uma
verdadeira caça às pessoas para aceitar créditos
imobiliários, mesmo aqueles que não tinham a menor
condição para pagar os empréstimos. Isso é
compreensível porque, para os bancos, o que interessava mesmo era a
posse da hipoteca em carteira, pois esta logo seria transformada em
títulos securitizados e vendida para outros agentes econômicos no
mundo inteiro. Aliás, os bancos poderiam ganhar duplamente com esses
negócios "subprime". Ao vender os títulos, livravam-se
dos riscos do negócio. Caso o devedor não conseguisse pagar as
prestações, então o banco arrestava a casa e vendia para
outro cliente. Um dos artifícios utilizados para que a venda dos
imóveis parecesse vantajosa era o sistema de pagamentos das
prestações a taxas de juros flexíveis - muito baixos no
início contrato, para depois ir aumentando com o tempo. A justificativa
era a de que, com a valorização dos imóveis, seus
proprietários teriam condições e créditos para
pagar prestações mais altas.
No auge da euforia financeira, autoridades governamentais denominavam esse
processo de
criação de riqueza,
capitalismo popular. Parecia uma imensa platéia encantada com as
mágicas de profissionais habilidosos: todos estavam felizes em ganhar
dinheiro a partir do nada. Praticamente o dinheiro estava se multiplicando como
pé de jaboticaba: dava frutos dos troncos até os galhos menores.
Para se ter uma idéia do tamanho do mercado hipotecário, basta
dizer que é de cerca US$ 11 x 10
12
. Essa base, multiplicada pela especulação com títulos,
mais as dívidas securitizadas dos cartões de crédito, pode
ter chegado a algo próximo dos US$ 35 x 10
12
, quase três vezes o PIB dos Estados Unidos.
Os primeiros sintomas da crise
No final de 2006, iniciou-se um processo de reversão das expectativas
nos Estados Unidos, em função da conjuntura econômica:
nesse período, a economia norte-americana já não
apresentava mais o mesmo dinamismo do período anterior. Os juros
negativos ou muito baixos por longo tempo ampliaram a capacidade de compra da
economia e começaram a surgir os primeiros sinais de aumento da
inflação. O governo foi então reajustando a
política de juros, que de 1% passou (um por cento) no período
anterior, chegou a 5,25%. A combinação de
desaceleração da economia, aumento de juros e queda na renda das
famílias provocou um efeito dramático no mercado especulativo: a
inadimplência começou a surgir nos setores dos chamados
créditos
subprime,
foi evoluindo até se generalizar para o conjunto da economia,
envolvendo dívidas como as de cartões de crédito,
dívidas corporativas, entre outras. A falta de pagamento dos
cartões aumentou 30% no primeiro semestre de 2007. Mas foi a crise do
subprime, mercado muito maior, que acendeu a luz amarela para o conjunto do
sistema especulativo: as instituições financeiras que compraram
os pacotes lastreados nesses títulos começaram a perceber a
possibilidade dos prejuízos.
Dispara-se então o processo de reversão da bolha especulativa: as
instituições, empresas, fundos de pensão, corretoras e
todos os agentes econômicos envolvidos na ciranda financeira procuraram
desfazer-se dos papéis securitizados mediante a venda no mercado. Quando
mais o movimento de venda aumentava, mas os preços desses papéis
caiam. E quanto mais os preços iam caindo mais aumentava o movimento de
venda e os preços caiam ainda mais. A notícia da crise vai se
espalhando pelo conjunto do sistema e ninguém quer mais comprar esses
papéis. Os preços despencam verticalmente e há um
pânico generalizado entre os investidores. Agora todos sentem nos bolsos
a ressaca da especulação financeira. Quando mais os preços
caem, mais carregam consigam prejuízos para todas as
instituições compradoras e também para as
instituições que os lançaram, pois agora o valor de
mercado dos seus ativos está abaixo do valor patrimonial. Nos
balanços trimestrais várias empresas começam a divulgar os
prejuízos. Isso leva mais pânico ao mercado, os preços dos
papéis caem mais ainda e muitas empresas são obrigadas a fechar.
Instaura-se o
efeito pobreza
, pois agora todos perderam da noite para o dia o valor potencial de seus
títulos, os proprietários vêem o valor dos imóveis
rebaixados, além da possibilidade de perder suas casas. Instaura-se um
clima de expectativas negativas que vai gradativamente se espalhando para a
economia real.
As grandes corporações também começam a sofrer
enormes prejuízos e a crise já envolve o conjunto do sistema. As
autoridades governamentais, buscando reduzir o pânico entre as
instituições envolvidas na especulação,
começam a injetar recursos na economia porque avaliam que com essa
medida estará ampliando a liquidez e dando condições
às instituições financeiras de evitarem uma corrida dos
clientes aos guichês ou aos mouses de computadores para resgatar seus
recursos. Mas a crise já é bem maior que a
percepção das autoridades monetárias e sua capacidade de
contorná-la. Um dos cinco maiores bancos de investimentos dos Estados
Unidos, o Bear Stearns, quebrou em meio à tormenta e o FED foi obrigado
a financiar sua aquisição na bacia das almas pela J. P. Morgan.
Posteriormente teve que emprestar recursos pela primeira vez aos bancos de
investimento (setor não regulamentado) para salvá-los da
insolvência, tendo como contrapartida os títulos tóxicos,
que ninguém mais queria comprar. Mas também já era tarde:
logo depois o Lehman Brothers, um banco com 158 anos de existência,
não teve a mesma sorte do Bear Stearns - foi à falência
pura e simples. O Merril Linch foi comprado pelo Bank of América e o
Goldman Sachs e o Morgan Stanley deixaram de ser bancos de investimento. Em
síntese, em poucos dias os cinco maiores bancos de investimento dos EUA
desapareceram do cenário econômico.
Mas a crise estava apenas no seu começo: os maiores problemas vieram
quando as duas principais empresas hipotecárias, a Fannie Mae e a
Freddie Mac, também foram à lona. O governo então foi
obrigado a intervir abertamente e estatizar as duas instituições,
num movimento envolvendo US$ 250 mil milhões. Para se ter uma idéia
da importância da Fannie e da Freddie basta dizer que estas duas
instituições detinham, sozinhas, US$ 5,4 x 10
12
em títulos hipotecários. Posteriormente, a maior empresa
seguradora do mundo, a AIG, também não teve
condições de cumprir seus compromissos e o governo foi obrigado a
estatizá-la. Nessa conjuntura, centenas de instituições
menores também foram à bancarrota. Em clima de pânico
institucional, o secretário do Tesouro, em aliança com o FED,
estruturaram um pacote global de socorro da economia de US$ 700 mil milhões.
Num primeiro momento, o Congresso rejeitou o pacote e só o aprovou
depois com um conjunto de emendas. O mais irônico dessa
situação é que o governo Bush, antes um agressivo defensor
do livre mercado e da retirada do Estado da economia, agora tornara-se o
principal defensor da mão visível do Estado para socorrer o
sistema financeiro com o dinheiro do contribuinte. No entanto, para revelar o
caráter de classe do governo, não existe nenhum pacote financeiro
para salvar os proprietários dos imóveis da inadimplência e
do arrestamento de suas residências, mesmo sabendo-se que milhões
de norte-americanos perderão suas casas e terão que ficar no olho
da rua.
A crise não parou de crescer: se espalhou para o conjunto da Europa,
cuja economia estava profundamente vinculada à economia norte-americana,
pelos países da Ásia, pela Austrália e América
Latina. A maior parte dos países centrais já está em
recessão. Os governos da Europa, da Ásia, Austrália
também já apresentaram planos gigantescos, envolvendo x 10
12
de dólares, para salvar o sistema do colapso. Os dirigentes dos
principais países centrais agora falam na constituição de
um novo
Bretton Woods
e até numa refundação do capitalismo, com o sistema
financeiro devidamente regulamentado. Mais a crise é muito maior que a
capacidade de regulação das autoridades governamentais e o
sistema capitalista vai passar por um enorme período de dificuldades nos
próximos anos.
Nesta crise, há ainda um dado que se assemelha com o processo da crise
das
empresas ponto com:
a fraude empresarial. As instituições financeiras encontraram
uma forma especial de contabilizar os negócios especulativos: passaram a
colocar fora do balanço os riscos de crédito, visando ampliar a
alavancagem financeira. Com essas operações fora de
balanço, essas instituições ganhavam maior capacidade para
realizar novos empréstimos, sem que isso implicasse legalmente numa
relação de alavancagem perigosa. Por isso mesmo é que
até agora ninguém tem condições de avaliar
corretamente a massa de recursos especulativos, ou lixo tóxico que
contamina as economias dos países centrais.
O significado da crise
Esta crise contém vários elementos de originalidade em
relação às crises anteriores, fruto do próprio
desenvolvimento das forças produtivas e financeiras do capitalismo
contemporâneo. Ocorre num momento em que o capitalismo se transformou num
sistema mundial completo e maduro. No período anterior à
globalização o sistema era completo apenas no que se refere a
duas variáveis da órbita da circulação: a
exportação de capitais e o comércio mundial. Mas ao
expandir a internacionalização da produção e das
finanças mundialmente, o sistema amadureceu a reprodução
do capital em escala internacional e unificou globalmente o ciclo do capital,
fechando assim um processo iniciado com a revolução inglesa de
1640 (Costa, 2002)
[15]
. Essa
performance
possibilitou a constituição de um ciclo mundial único do
capital, gerando uma crise sistêmica, simétrica e avassaladora,
tanto nos países centrais como na periferia, o que impossibilita no
curto prazo as possibilidades de fuga da crise para outras regiões como
no passado.
Portanto, a crise não pode ser analisada a partir de alguns de seus
aspectos específicos, tais como a crise imobiliária, a crise
financeira ou a ganância dos especuladores de Wall Street. Esta é
uma crise global do sistema de acumulação mundial e representa,
na macroestrutura, a superacumulação de capitais e a
impossibilidade de valorizá-los na esfera produtiva.
"As verdadeiras crises capitalistas, qualquer que seja a sua causa
inicial, são colapso da totalidade, do conjunto da estrutura da
produção, do consumo, da circulação"
(Campos, 2001)
[16]
. Por isso, as tentativas de coordenação dos governos centrais e,
particularmente, dos Estados Unidos, não produzem os efeitos desejados,
uma vez que esta crise expressa uma quantidade e uma qualidade diferente que as
crises cíclicas tradicionais ou as grandes crises sistêmicas do
século XIX e XX. Pois não se trata de falta de liquidez, de falta
de crédito ou de regulação. O sistema todo está
enfermo e todos os seus fundamentos estão sendo questionados pelo
colapso da economia.
Nos últimos 64 anos os Estados Unidos foram o vértice do sistema
mundial capitalista, o que lhe possibilitou atrair a maior parte das economias
ocidentais para seu modelo de acumulação, tanto no período
da vigência de Bretton Woods quanto no período iniciado com
Tatcher e Reagan, mais conhecido como neoliberalismo. Portanto, como o
epicentro da crise se encontra justamente no coração da economia
norte-americana, esse processo arrasta consigo todos os países ligados
à economia líder. E a profundidade da crise em cada
nação dependerá do grau de proximidade ou
subordinação à economia norte-americana. As possibilidades
de saída da crise dentro do modelo estruturado nos últimos 30
anos, no curto prazo, são marginais, a não ser que ocorra no bojo
dessa conjuntura uma ruptura de um determinado País em
relação ao sistema de poder norte-americano.
A desregulamentação financeira, a livre mobilidade dos capitais e
a construção de instrumentos securitizados e derivativos geraram
um processo de especulação no qual a riqueza em
circulação na da órbita das finanças é cerca
de doze vezes maior que a gerada no setor produtivo, justamente o que gera
valor ou riqueza nova. Para se ter uma idéia do elevado grau de
especulação das finanças mundiais, é importante
destacar o mais recente levantamento realizado semestralmente pelo Banco de
Compensações Internacionais (BIS) sobre o valor
notional
(escritural) apenas dos derivativos em circulação no mundo. De
acordo com o último relatório do BIS (novembro de 2008), o valor
negociado no mercado de balcão com esses títulos atingiu US$
683,7 x 10
12
. Um descolamento dessa magnitude entre as duas órbitas do grande
capital é um fato inédito na história do capitalismo e
não poderia ter um resultado diferente do que a crise atual do sistema,
pois é impossível manter esta relação no longo
prazo, até mesmo porque não existiria mais-valia suficiente para
remunerar a crescente progressão da massa de recursos especulativos.
Esta é a primeira grande crise realmente completa do sistema
capitalista, por isso mais complexa e potencialmente explosiva, uma vez que
envolve toda a vida social do sistema capitalista a esfera da
produção, da circulação, do crédito, das
dívidas públicas e privadas, do sistema social, do meio ambiente,
dos valores neoliberais, da cultura individualista e, especialmente, de um
determinado tipo de Estado como articulador do processo de
acumulação. A crise é tão extensa que até
agora nenhuma das autoridades dos países centrais teve
condições de saber com exatidão a profundidade do
desastre. Como não conseguem ter um diagnóstico preciso,
não têm também condições de resolvê-la
com os métodos tradicionais de política monetária e
fiscal. Isso porque a crise é muito maior que a visão tradicional
das velhas lideranças atuais do mundo capitalista, viciadas no senso
comum e nas variáveis ideológicas neoliberais dos últimos
30 anos.
A crise ocorre também num momento em que sistema imperialista
está fragilizado econômica e politicamente após oito anos
de governo Bush, muito embora ainda possua um poderio militar maior que todos
os outros países. Mas nenhum império pode se manter simplesmente
pela força militar. A hegemonia não pode ser exercida por muito
tempo apenas com a força bruta. Por isso, os Estados Unidos são
hoje o que se pode chamar de um gigante ferido: trata-se do maior devedor do
mundo, quando na década de 60 era um país credor; de um
país com um déficit comercial crônico, oriundo do processo
de deslocalização das indústrias para outras
regiões; com um déficit fiscal cada vez maior e com as empresas e
consumidores com elevados graus de endividamento.
Como sempre, as crises sistêmicas representam o momento da verdade para
todos: nessas crises se revelam de maneira explícita a natureza das
classes sociais, da ideologia, dos Estados e da gestão da economia. As
crises também são educativas e tornam mais claras as
posições ideológicas dos partidos políticos, dos
movimentos sociais, dos intelectuais orgânicos e colocam por terra as
dubiedades políticas, o oportunismo e o reformismo. Em tempos de crise
há um aprendizado rápido do proletariado: este aprende mais em
poucos meses do que em décadas de calmarias. Em tempos de calmaria as
mudanças são muito pequenas, o proletariado realiza apenas lutas
específicas, uma vez que a economia vai bem e o controle
ideológico da burguesia é maior, mas as crises funcionam como
parteiras de uma nova época, tanto para a burguesia quanto para o
proletariado. As mudanças são velozes, independem da vontade das
pessoas. É exatamente nas crises que se abrem as janelas de
oportunidades para que o proletariado possa reafirmar seu projeto de
emancipação.
As crises sistêmicas também representam um período
difícil para a burguesia, pois esta se encontra desorganizada do ponto
de vista econômico, seu poder político está enfraquecido e
sua hegemonia moral da sociedade em questionamento. O proletariado
também está na defensiva, em função da
fragmentação operada pela reestruturação produtiva,
pelas debilidades do movimento sindical e pelas sucessivas derrotas sofridas ao
longo dos últimos 30 anos. A crise que estamos vivendo agora é um
destes momentos históricos pródigos para acontecimentos
inesperados, tanto por parte da burguesia como do proletariado. A crise
representa o confronto aberto entre os projetos das duas classes fundamentais
da sociedade. Cada classe vai buscar resolver a crise de acordo com os seus
interesses e com seu projeto político de sociedade. Quanto mais grave a
crise, mais há a possibilidade de um acirramento da luta de classe.
Vale ressaltar que não existe crise sem saída, não existe
crise sem solução. Poderemos, por um lado, observar uma violenta
ofensiva da burguesia, que se torna mais agressiva nesta época porque
quer recuperar a todo custo as taxas de lucro e o controle do sistema. O
exemplo do nazismo e do fascismo ainda estão bem vivos para nos advertir
do que a burguesia é capaz para manter o seu domínio. Mas
também é nas crises que as lutas sociais e políticas do
proletariado podem ganhar uma dimensão muito maior em
relação ao período anterior: setores que antes pareciam
adormecidos, acomodados e envolvidos pela ideologia do capital, podem irromper
na cena política com um vigor capaz de deixar perplexos não
só aqueles que estavam dominados pela fatalidade do domínio
burguês, mas até o próprio inimigo de classe, que é
tomado de surpresa pela ousadia das massas. Trata-se do momento em que o
proletariado pode passar do patamar de classe em si para classe para si.
Em termos analíticos, as crises sistêmicas desenvolvem-se
obedecendo a seguinte hierarquia de acontecimentos:
Primeiro, surge a crise econômica:
emergem de maneira abrupta todas as contradições do capitalismo.
As principais instituições econômicas, antes sólidas
e respeitáveis, desmoralizam-se diante da crise. Grandes bancos, grandes
empresas, fundos de investimentos vão à bancarrota à
medida que a crise se aprofunda. As bolsas de valores despencam em queda livre.
O pânico se alastra entre os especuladores, empresas,
instituições e a burguesia em geral. As autoridades
governamentais intervêm colocando recursos públicos para tentar
salvar a classe dominante. Torna-se mais claro o caráter de classe do
governo. A crise se alastra para o conjunto do sistema com perdas
econômicas e financeiras.
Posteriormente, vem a crise social
: com a quebra das principais instituições e a incapacidade do
governo em superar a crise, há um curto-circuito no metabolismo
econômico, que trava o fluxo de recursos entre as várias
órbitas do capital. Começa a recessão econômica, que
traz consigo o desemprego, a queda na renda dos trabalhadores e as
tensões sociais. Em sociedades tipo a norte-americana, onde os fundos
de pensão e as bolsas de valores têm um papel preponderante na
economia, os prejuízos nessas duas instituições, mais o
rebaixamento dos proventos das aposentadorias, levam aos protestos dos
aposentados e dos participantes dos fundos, aos quais se aliam os perdedores
nas bolsas e os desempregados. Nessa conjuntura, a crise econômica, o
desemprego, a queda na renda, o rebaixamento das pensões, a
ampliação da miséria e o desprestígio do
dólar como moeda mundial mudam radicalmente o clima psicológico
das massas, que começam a se manifestar contra o governo.
Por fim, a crise política.
Com as manifestações de massas crescendo e o governo sem
condições para resolver a crise, inicia-se a repressão
aberta contra as manifestações dos trabalhadores. No caso dos
Estados Unidos, uma sociedade com longa tradição institucional da
democracia burguesa, a repressão pode ampliar a luta de massas, gerando
uma grave crise política. O governo terá duas
opções: aprofundar a repressão e instituir um governo
abertamente fascista, coisa que Bush iniciou com a
Lei Patriótica,
ou os setores mais esclarecidos das classes dominantes buscam uma saída
ao estilo do
New Deal,
como no período do presidente Roosevelt. Mas o destino desse processo
depende fundamentalmente da intervenção das massas no
cenário político.
A crise e as perspectivas dos trabalhadores
Em todas as grandes crises ocorreram mudanças de fundo na forma de gerir
o capitalismo. A grande depressão de 1873-1896 resultou no capitalismo
monopolista e no imperialismo, a fase superior do capitalismo. A crise de 1930
foi a parteira do nazismo, do fascismo, da Segunda Guerra Mundial e,
posteriormente, da vitória do socialismo em cerca de um terço da
humanidade. Nos países capitalistas centrais, em função do
perigo comunista, a burguesia foi obrigada a ceder um conjunto de direitos e
garantias para os trabalhadores, cuja expressão maior foi o Estado do
Bem Estar Social e a gestão keynesiana da economia. Já a crise de
1974-75 trouxe em seu bojo a derrota do movimento operário e a
vitória do setor mais reacionário e parasitário do grande
capital, que ao longo de 30 anos implantou o neoliberalismo, as finanças
especulativas e uma enorme regressividade social que aumentou a
concentração de renda e ampliou a pobreza no mundo.
Esta crise, independentemente de qual dos projetos venha a se tornar vitorioso,
também trará mudanças profundas na economia e na sociedade
como ocorreu nas crises anteriores. Estamos assistindo um fim de um longo ciclo
da economia capitalista e o término de uma forma particular de
acumulação onde o grande capital privilegiou o setor financeiro e
buscou construir uma hegemonia mundial solitária a partir dos Estados
Unidos. Este ciclo, na verdade, representou uma tentativa desesperada do grande
capital de realizar a acumulação fugindo da lei do valor.
Ao fim dessa crise, teremos uma nova situação internacional, que
tanto pode ser um novo ciclo comandado por outras frações do
capital, com outras formas particulares de acumulação, como pode
também ocorrer profundas transformações sociais e
políticas dirigidas pelo proletariado. Tudo depende de como os
trabalhadores e suas vanguardas intervirão no processo que se abre com a
atual crise.
Os trabalhadores não poderão deixar de levar em conta que o
capitalismo é um sistema que tem uma extraordinária capacidade de
adaptação e, por mais paradoxal que pareça, é
exatamente nos períodos de crise que o sistema se recicla, queimando,
concentrando e centralizando capitais para alcançar um patamar superior.
Até mesmo nas grandes crises depressivas, quando houve possibilidade de
questionamento mais profundo do sistema, o capitalismo encontrou meios de se
adaptar às circunstâncias e sair vitorioso. Trata-se de um inimigo
esperto, que acumulou uma enorme experiência com as crises passadas. Por
isso, tanto uma vitória da burguesia quanto uma perspectiva de
transformação fazem parte do jogo de possibilidade para as duas
classes em disputa.
É importante ressaltar ainda que esta crise, por suas dimensões,
vai colocar em questionamento a hegemonia norte-americana e o dólar como
moeda mundial. Mesmo que isto ainda não esteja plenamente configurado em
função do próprio curso da crise, é
insustentável no longo prazo um país manter sua hegemonia baseada
numa moeda insolvente e no poderio militar. Hoje, a economia dos Estados Unidos
não apresenta o mesmo dinamismo que atingia no passado e sua moeda tem
valor apenas fiduciário. Essa situação é
insustentável diante da crise econômica e de seus desdobramentos,
tanto do ponto de vista econômico quanto político. Quanto mais se
acirrar a crise, mais haverá a possibilidade de questionamento da
hegemonia norte-americana e um acirramento da disputa inter-imperialista, pois
a crise pode gerar um clima de salve-se quem puder.
Existe ainda uma possibilidade concreta de uma
maxi-desvalorização do dólar ou de um calote generalizado
da dívida externa norte-americana, que está por volta de US$ 9,5
x 10
12
ou 72% do PIB, sendo que desse total mais de US$ 2,5 x 10
12
estão com a China e o Japão. Não se trata de uma
possibilidade quimérica: todos devem lembrar que em 1971 o presidente
Nixon acabou unilateralmente com a paridade dólar-ouro, o que significou
um enorme calote mundial. Se isso ocorrer, a crise se aprofundará de tal
maneira que existe a possibilidade de aventuras militares por parte dos Estados
Unidos para restabelecer a ordem no sistema. No entanto, este não
é a tendência principal em virtude de os Estados Unidos já
estarem realizando duas guerras uma no Afeganistão e outra no
Iraque, com derrotas militares e políticas. Só numa
situação de extremo desespero seria capaz de realizar outras
aventuras militares.
Em todos os momentos de crise desse tipo surgem os questionamentos
teóricos, as indefinições paralisadoras, os oportunismos e
vacilações de toda ordem. Os que não querem lutar costumam
afirmar que esta é apenas mais uma crise do capitalismo e que esse modo
de produção, ao final do processo, retomará seu curso num
patamar superior como o fez ao longo de sua história. Outros sentenciam
confiantes que esta é a crise final do capitalismo. Nós
entendemos que as duas posições estão equivocadas. A
primeira porque considera na prática o capitalismo um sistema eterno e,
por isso mesmo, apenas luta por algumas reformas para melhorar a vida do povo.
O segundo tem um costume recorrente de transformar toda crise do capitalismo em
crise final. E quando não ocorre a revolução, creditam
seus erros de avaliação não a uma análise incorreta
da realidade, mas à falta de direção do movimento.
Nós entendemos dialeticamente que as crises e, especialmente, crise como
esta, são sempre oportunidades para que o proletariado possa contestar a
ordem burguesa. Mas isso não significa que esta crise se
transformará em revolução. Quem vai decidir o destino da
crise é a capacidade do proletariado de irromper na cena política
de forma independente, com um grau de força tal que seja capaz de
derrotar a burguesia e conquistar a direção política da
sociedade. Nós entendemos que há condições
objetivas para a retomada do movimento de massas em caráter mundial e a
possibilidade de transformação do sistema capitalista. Ao
contrário do período de Lênin, que imaginava que o
capitalismo monopolista seria a ante-sala da revolução
socialista, acreditamos que somente agora quando o capitalismo se transformou
num sistema mundial completo e maduro, tendo em vista que internacionalizou a
produção e as finanças e unificou globalmente o ciclo do
capital, estão dadas as condições para a
revolução mundial. Nessa perspectiva, estamos muito mais
próximos de uma nova sociedade do que estávamos no início
do capitalismo monopolista.
Ou seja, como tudo na natureza e na sociedade está sob a lei da
dialética, podemos dizer que o capitalismo, ao revolucionar as formas
produtivas e as finanças em termos mundiais, cumpriu seu papel
histórico e tende, como ocorreu em outras épocas
históricas, a passar pelo mesmo processo de transformação
que as formações sócio-econômicas anteriores. Como
dizíamos em nosso trabalho de 2002
[17]
, as condições para esta mudança de qualidade só
estariam maduras quando a crise atingisse o coração do sistema,
onde potencialmente pulsa mais forte a luta de classe. Agora a crise atingiu o
coração do sistema e chegou a hora da verdade para a burguesia e
o proletariado.
Outro ponto importante é o fato de que os desdobramentos desta crise
vão atingir profundamente os trabalhadores em termos do emprego e da
renda e vão acirrar a luta de classes nos países centrais e na
periferia. Ao contrário do senso comum e de muitos companheiros da
esquerda, nós achamos que o potencial de luta da classe operária
e dos trabalhadores é muito mais forte nos países centrais que na
periferia, pois é exatamente nos países centrais onde se encontra
a classe operária mais avançada do ponto de vista das
forças produtivas e onde o capitalismo está mais maduro. É
um teatro de operações muito mais favorável para a luta de
classes que nos países atrasados. É bem verdade que os elos
débeis continuarão cumprindo um papel essencial no desgaste e
fustigamento do grande capital, mas as transformações
qualitativas do sistema capitalista serão muito mais definitivas se
ocorrerem no coração do sistema.
Portanto, a ação da classe operária e dos trabalhadores em
geral vai depender não só das condições objetivas
detonadas pela própria crise, mas especialmente das
condições subjetivas para a emergência dos trabalhadores
como sujeitos históricos. Se olharmos apenas a aparência dos
fenômenos, poderemos dizer que é muito difícil um
levantamento dos trabalhadores nos países centrais. Os 30 anos de
neoliberalismo foram anos de derrota: fragmentaram a classe operária,
enfraqueceram o movimento sindical e desorientaram, com poucas
exceções, suas vanguardas políticas. Além disso, os
trabalhadores perderam a âncora socialista e o grande capital
avançou sobre os direitos e garantias conquistados historicamente. No
entanto, as crises são fenômenos que trazem em seu bojo
ações inesperadas das classes trabalhadoras, que possibilitam um
aprendizado intensivo da luta de classes. Não está fora de
cogitação a emergência de um novo movimento operário
e uma nova vanguarda política, criada a partir dos fragmentos das que
existem ou da criação de novas vanguardas operárias, que
voltem a colocar na ordem do dia a superação do capitalismo e a
implantação do socialismo como uma nova forma de sociabilidade.
Nós estamos num desses momentos fundamentais da história em que
não deve haver espaço para a vacilação. Os
trabalhadores não podem cair no conto de que é possível
reformar o capitalismo ou torná-lo mais humano. Esse sistema está
condenado pela história. Devemos levar ainda em conta que o modo de
produção capitalista para sair da crise, crescer novamente e
reorganizar a sociedade tem que ameaçar a vida e continuidade da
espécie humana. Cada vez fica mais claro: hoje capitalismo e humanidade
estão em contradição. Para o capitalismo se manter
é necessário ameaçar a humanidade e não resta para
a humanidade outra opção do que procurar se salvar através
da superação do capitalismo. Esta é a disjuntiva que se
coloca neste momento para o proletariado. Essa crise é da burguesia e
não dos trabalhadores. O proletariado deve aproveitar esse momento
histórico para apresentar o seu projeto de sociedade e disputar com a
burguesia o futuro da humanidade, pois só o proletariado tem
condições de construir uma sociedade da abundância e da
felicidade.
A burguesia vai utilizar todas as suas ferramentas para sair vitoriosa da
crise. Vai fazer todo o possível para manter os seus interesses de
classe, seus objetivos estratégicos - econômicos, sociais e
políticos -, de forma a recuperar as taxas de lucro e a disciplina
social perdida durante os momentos da turbulência. Vai tentar implantar a
ferro e fogo o seu projeto e, nesse sentido, não vacilará um
minuto, como a história tem nos ensinado, mesmo que para tanto tenha que
provocar guerras e destruições em massa. Vai tentar sair da crise
rebaixando salários, direitos e garantias dos trabalhadores,
concentrando a renda, realizando a mercantilização da vida,
incentivando o complexo industrial-militar destruindo ainda mais o meio
ambiente, ampliando a miséria e a violência contra a
população.
Nesse momento especial da luta de classe os trabalhadores devem se preparar da
melhor maneira possível para emergir na luta com um projeto emancipador
e revolucionário. Não existe empate na luta de classe: na
situação em que estamos vivendo, ou a burguesia sai vitoriosa e
retoma o capitalismo num patamar superior; ou o proletariado derrota a
burguesia e inicia a construção da nova sociedade com seus
aliados fundamentais. Apesar da crise estar abalando todo o sistema, os
trabalhadores não devem ficar de braços cruzados esperando o
capitalismo cair de maduro. O capitalismo só cairá se for
derrubado e esta é a tarefa do proletariado neste momento da
história. Portanto, mãos à obra camaradas!
1- CAMPOS, Lauro. A Crise Completa A Economia Política do
Não. São Paulo: Boitempo, 2001.
2- MARX, Karl, O Capital, Vol. I, Tomo I. São Paulo: Abril Cultural,
1983.
3- MARX, Karl. Teorias da Mais-Valia, Vol. III. Rio de Janeiro: Difel, 1983.
4- MARX, Karl. O Capital. Vol. III, Tomo I. São Paulo: 1984.
5- WOLFF, Rick. A Economia Subprime dos EUA.
http://resistir.info/eua/economia_subprime.html
. Acesso em 30 de outubro de 2008.
6- VALOR Econômico. São Paulo, 29/10/2008.
7- MOORE, Walter. La estafa global de los Estados Unidos está llegando a
su fim. www.socialismo-o-barbarie.org. Acesso em 05 de fevereiro de 2008.
8- BIS (Bank for International Settlement). OTC derivatives market activity in
the first half of 2008. Switzerland: novembro, 2008.
9- GALBRAITH, John Kennet. Uma Breve História da Euforia Financeira.
São Paulo: Pioneira, 1992.
10- GALBRAITH, op. cit.
11- BRENNER, Robert. O Boon e a Bolha O Estados Unidos na economia
mundial. Rio de Janeiro: Record, 2003
12- BRENNER, op. cit.
13- MARX, Karl. O Capital. Vol. III. Tomo 2. São Paulo: Abril Cultural,
1985.
14- GALBRAITH, op. cit.
15- COSTA, Edmilson.
A globalização neoliberal e as novas dimensões do
capitalismo contemporâneo.
Tese de pós-doutorado realizada no Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Unicamp. Campinas, 2002.
16- CAMPOS, op. cit.
17- Trata-se da tese de pós-doutoramento realizada no Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, op. cit.
[*]
Doutor em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), com
pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
mesma Instituição. É autor de O imperialismo (Global,
1987), A Política Salarial no Brasil (Boitempo, 1997), Um Projeto Para o
Brasil (Tecno-Científica, 1998) e A Globalização e o
Capitalismo Contemporâneo (Expressão Popular, 2008). É
diretor de pesquisa do Instituto Caio Prado Jr. e membro do Comitê
Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Trabalho apresentado no Seminário Nacional sobre A Crise Mundial e os
Trabalhadores, realizado em 01 de novembro em São Paulo, promovido pelo
Instituto Caio Prado Jr. e o Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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