10º leilão do petróleo brasileiro
Governo Lula dá prenda de Natal ao capital imperialista
por Mário Augusto Jakobskind
[*]
|
"Doação do petróleo brasileiro por alguns
trocados",
Paulo Metri
[**]
"Atitude de lesa-pátria",
Fernando Siqueira
[***]
|
Ao marcar para o dia 18 de dezembro a 10ª Rodada de
Licitação das Bacias de Petróleo e Gás, antes mesmo
de a comissão criada pelo governo para decidir a questão tomar
uma decisão, o diretor-geral da Agência Nacional do
Petróleo (ANP), Haroldo Lima
[****]
, está colocando o carro na frente dos bois.
Este é o entendimento de Fernando Siqueira, diretor da
Associação dos Engenheiros da Petrobras
(Aepet)
, que aproveita para cobrar explicação imediata sobre o motivo
pelo qual a transnacional Halliburton está hoje mandando na ANP. O
diretor da Aepet questiona a presença de Nelson Narciso, que trocou a
direção da Halliburton em Angola pelo comando do Banco de Dados
da ANP, subordinado à diretoria de Exploração e
Produção, setor que define os blocos a serem leiloados. Narciso,
segundo Siqueira, recebia na Halliburton de Angola um salário mensal de
100 mil dólares e veio ocupar o cargo na Petrobrás por R$ 8 mil.
"Na verdade, este senhor é um lobista que favorece as
transnacionais", afirma Siqueira.
Reflexos da crise financeira
Em audiência pública de detalhamento das áreas que
serão ofertadas no leilão, que contou com a presença de
cerca de 120 representantes da indústria do petróleo, inclusive
de várias empresas transnacionais, o diretor-geral da ANP afirmou que a
empresa que não entrar no próximo leilão estará
perdendo. E descartou a possibilidade de a crise econômica internacional
afastar investidores tanto da 10ª Rodada de Licitações,
quanto do desenvolvimento das áreas já concedidas. Lima considera
a crise financeira apenas conjuntural e que "não deverá
atrapalhar o plano estratégico de empresas que programam seus
investimentos pensando num futuro de dez anos".
Não é a opinião do engenheiro Paulo Metri, especialista em
questões petrolíferas. Segundo ele, "a crise, certamente,
vai afetar muito esta rodada. As empresas fazem cálculos de viabilidade
para decidir se entram nos leilões. Nestes cálculos, elas levam
em consideração, além de outros dados, o preço do
barril e a demanda mundial de petróleo, ambos no médio
prazo".
Metri avalia que a ANP cumpre o papel entreguista, ordenado pelo capital
internacional, que é o de transferir para as empresas estrangeiras
áreas do território nacional, com eventuais
acumulações de petróleo. "Infelizmente, a grande
mídia controlada pelo capital, e o povo brasileiro bastante
desinformado, não dão o respaldo político que o presidente
Lula necessita para barrar o entreguismo que a 10ª rodada
representa", lamenta.
As afirmações de Haroldo Lima na audiência pública,
na prática, estão estimulando a doação das reservas
petrolíferas "por alguns trocados", o que, no entender tanto
de Paulo Metri como de Fernando Siqueira, é uma atitude
lesa-pátria.
Segundo Metri, mais uma vez, a ANP deixa claro a quem ela está
subordinada. "No passado, esta Agência dizia que havia necessidade
das rodadas para garantir a auto-suficiência do país, argumento
que não pode ser usado agora, com tanto petróleo tendo sido
descoberto no pré-sal. Mesmo no passado, o argumento não era
verdadeiro, porque o petróleo que fosse descoberto pelas empresas
estrangeiras não seria destinado ao abastecimento do país, e a
Lei nº 9.478 e os contratos de concessão não têm
cláusulas para forçar este direcionamento", avalia Metri. E
acrescenta: "Assim, a ANP cumpre o papel entreguista que lhe foi ordenado
pelo capital internacional, que é o de transferir áreas do
território nacional, com eventuais acumulações de
petróleo, para as empresas estrangeiras."
Santander-Repsol
O presidente da Aepet, Fernando Siqueira, aproveita para denunciar
também o fato de o responsável pelo Banco de Dados da
Petrobrás, Nelson Narciso, estar conluiado com Nelson de Luca,
presidente da Repsol e do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo).
Segundo Siqueira, a ex-estatal espanhola Repsol se transformou numa
transnacional ao ser comprada pelo grupo financeiro Santander, que é um
braço da Scotland National Bank Corporation. "É assim que a
referida empresa anglo- saxônica esconde a sua origem, usando a
língua espanhola para atuar na América Latina".
O diretor da Aepet alerta também para uma grave
contradição que deveria merecer a atenção do
governo. Enquanto o artigo 21 da Constituição estabelece que a
produção da exploração do petróleo compete
à União, o lobby internacional petrolífero conseguiu
implantar o artigo 26, que diz que quem produz o petróleo é o
proprietário da riqueza. "Trata-se, segundo Siqueira, de uma
herança maldita da gestão do então presidente Fernando
Henrique Cardoso que contraria a Constituição e que deve ser
imediatamente revogada".
No entender de Siqueira, o diretor- geral da ANP Haroldo Lima na prática
se transformou de fato em um lobista que favorece as transnacionais ao defender
a não alteração do marco regulatório do
petróleo, o que abre um flanco prejudical principalmente ao controle da
riqueza do pré-sal pelos brasileiros. Na opinião de Paulo Metri,
só há uma forma de se evitar o furto das riquezas
petrolíferas brasileiras por empresas transnacionais. "O povo
precisa se organizar. Sem esta pressão, fica difícil o governo
garantir que o Congresso, repleto de entreguistas, faça com que as
riquezas das reservas do pré-sal permaneçam no Brasil",
assinalou.
[*] do jornal Brasil de Fato
(**) Paulo Metri, Conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro;
(***) Fernando Siqueira, Diretor da Associação dos Engenheiros da
Petrobrás (AEPET);
(****) Haroldo Lima, Diretor-Geral da ANP e vice-presidente nacional do PCdoB.
ANP ordena espancamentos e prisões durante manifestação
contra o leilão do petróleo
Cerca de 50 feridos e três pessoas detidas. Esse é o saldo
até agora computado deixado pela violenta reação da
Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Guarda Municipal, durante uma
manifestação pacífica, por volta de meio dia,
quinta-feira, 18 de Dezembro, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a
10ª Rodada de Licitação do Petróleo.
Depois de receberem uma ordem de despejo para desocupar o Edifício Sede
da Petrobrás, no Rio, os manifestantes cerca de 500 pessoas
dirigiram-se para a Candelária, que fica perto da Agência
Nacional do Petróleo (ANP)
[1]
, responsável pela
realização dos leilões das áreas
petrolíferas. Em seguida, a manifestação prosseguiu pela
Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia.
A violenta reação da Polícia Militar e da Guarda Municipal
surpreendeu os manifestantes que foram espancados durante toda a caminhada pela
Avenida Rio Branco. Até agora os organizadores da
manifestação, convocada pelo Fórum Nacional contra a
Privatização do Petróleo e Gás, que reúne
dezenas de entidades, confirmam a detenção de três pessoas:
Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro
(Sindipetro-RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação
Nacional de Lutas (Conlutas): Thiago Lúcio Costa, estudante de
jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos. Dentre os
feridos, está hospitalizado, com um corte na cabeça, no Hospital
Souza
Aguiar, o diretor do Sindipetro-RJ Eduardo Henrique Soares da Costa. Um
militante do MST quebrou o braço, ao ser espancado pela PM. As entidades
que compõem o Fórum ainda estão fazendo o levantamento do
número de feridos e estão tentando localizá-los. Muitos
ainda não foram encontrados.
Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás, ontem
à noite, os manifestantes sentiram a animosidade das forças de
repressão, mas não esperavam ação tão
agressiva, contra uma simples manifestação de protesto. Um dos
detidos, o coordenador do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, declarou:
"Nós acabamos de viver um momento que remonta à sombria
época da ditadura militar. O Capitão Moreira me deu ordem de
prisão, mesmo eu dizendo que era advogado. Ele bateu muito em mim.
Algemou o Pitel e o estudante e os policiais feriram gravemente nosso
companheiro Eduardo Henrique". Emanuel Cancella está com um
braço fraturado e costelas. Por de 14 horas estava concluindo o seu
depoimento na 1ª DP, na Rua Relação, 42. Logo seria
encaminhado para exame de corpo delito. A partir das 14h30, a
Rádio Petroleira
transmitirá flashes ao vivo.
Participavam da manifestação no Rio, parte de uma jornada de
Lutas pela suspensão do leilão do petróleo, iniciada desde
o dia 14 no dia 15, houve a ocupação do Ministério
das Minas e Energia, em Brasília, pela Via Campesina e petroleiros
representantes de dezenas de entidades
[2]
que compõem o
Fórum, dentre as quais: Sindipetro-RJ, Sindipetro-Litoral Paulista, MST
(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), MTD (Movimento dos Trabalhadores
Desempregados), FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto),
FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos
Estudantes), as centrais sindicais Conlutas, Intersindical e CUT, a
Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Frente Nacional
dos Petroleiros (FNP), o Centro Estudantil de Santos, movimentos de estudantes
secundaristas do Rio de Janeiro. A campanha "O Petróleo Tem que ser
nosso" continua.
(1) A ANP (Agência Nacional de Petróleo), dirigida por
Haroldo Lima, Vice-Presidente Nacional do PCdoB, é a agência que
promove os leilões das reservas do petróleo brasileiro, em que a
Petrobrás tem que disputar áreas com empresas privadas, inclusive
multinacionais, pagando caro para pesquisar e explorar o nosso próprio
petróleo;
(2) O PCB (Partido Comunista Brasileiro) e a UJC (União da
Juventude Comunista) participaram ativamente das manifestações.
Haroldo Lima e a privatização do petróleo brasileiro
Para quem esperava uma nota de retratação pela violência
contra a manifestação popular que pedia o cancelamento da
"10ª Rodada de Licitação do Petróleo", que
deixou 50 feridos (18/12/2008), deparou-se com uma peça rara de apologia
à fraseologia neoconservadora
Aos que não se guiam pelo dogma da infalibilidade papal, que se valem do
materialismo histórico, não podendo se contentar com a
confiança nas supostas "boas intenções" de
Haroldo Lima. Pois "o caminho do inferno está pavimentado de boas
intenções" como escreveu nosso camarada Marx. Resta a
análise da realidade.
Quanto aos fatos da rodada, parece que o Diretor-Geral subestima a
inteligência do leitor, segundo ele as multinacionais
"só" ganharam 5 blocos, enquanto a Petrobrás arrematou
"toda" a metade dos 54 postos em leilão. O que não
disse é que a maioria do capital da Petrobrás não é
mais estatal: 60% de suas ações foram privatizadas. O capital
estrangeiro já é dono de 40% da Petrobrás!
Então vamos ver a equação sem a maquiagem haroldiana:
54 leiloados;
27 privatizados diretamente (5 deles para multinacionais);
27 para a Petrobrás (60% ações são privadas, onde
40% pertencem à multinacionais);
27/54 = 0,5 (50%), arrematado pela Petrobrás;
0,5*0,4 = 0,2 (20%) de compras estatais;
logo, 80% foram para a privada.
Isso mesmo! 80% do leiloado foi privatizado, mesmo sendo um análise
superficial, eis que aparece o motivo da euforia do Haroldo Lima, do Governo e
das classes que representam, burguesia e o senhores da terra
Mas as "revelações" não se limitam ao
embelezamento de "números", há também uma
peça típica de apologia ao mercado, algo que nem os
neoconservadores (ditos liberais) têm a coragem de fazer atualmente:
As regras da Rodada não discriminam nem privilegiam qualquer
empresa
estamos conseguindo convencer as empresas brasileiras de que
também elas podem atuar em E&P [exploração e pesquisa] de
petróleo e gás em nosso país
A competição que privilegia os Programas
Exploratórios Mínimos faz com que os recursos destinados a esses
programas cresçam bem acima do mínimo, o que é muito bom
O governador estava exultante
[*]
Aos que estão cansados de ouvir os sofismas neoconservadores da
"concorrência", "tendência ao
equilíbrio", "eficiência do 'livre' mercado",
"não intervenção do Estado na economia", toda
aquela ladainha que até o Alan Greenspan
[*]
(personalidade anteriormente apelidada de "Maestro" ou
"Oráculo") deu como falha, e principalmente aos trabalhadores
e todo o povo que sofre na carne o resultado concreto da ofensiva capitalista
que tal ideologia expressa, tenho más notícias (não
novas
). A repetição do engodo pró mercado reaparece
na fraseologia haroldiana, e pior, implementa a ofensiva privatista contra o
interesse do proletariado.
23/Dezembro/2008
[*]
Economista e militante do PCB.
[1] "Haroldo Lima: "10ª Rodada nunca ameaçou
soberania"". Fonte:
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=48655
[2] "O colapso do edifício intelectual do Sr. Greenspan".
Fonte:
http://resistir.info/mreview/editorial_mr_dez08_p.html
Os originais encontram-se, respectivamente, em
http://www.pcb.org.br/aepet1.htm
,
http://www.pcb.org.br/anp.htm
e
http://www.apn.org.br/
Estes artigos encontram-se em
http://resistir.info/
.
|