A Ucrânia e a ascensão do euro-fascismo
Os actuais acontecimentos na Ucrânia são guiados pelos
espíritos malignos do fascismo e do nazismo, embora aparentemente
tenham-se dissipado há muito depois da II Guerra Mundial. Setenta anos
após a guerra, o génio mais uma vez escapou da garrafa, colocando
uma ameaça não simplesmente na forma dos símbolos e
retórica dos apaniguados de Hitler mas também através de
uma obsessiva política
Drang nach Osten (Impulso para o Leste).
A garrafa foi desarrolhada, desta vez pelos americanos. Tal como há 76
anos atrás em Munique, quando britânicos e franceses deram a sua
bênção a Hitler para a marcha rumo ao Leste. Da mesma
forma, na Kiev de hoje Washington, Londres e Bruxelas estão a incitar
Yarosh, Tyahnybok e outros nazis ucranianos à guerra com a
Rússia. É-se forçado a perguntar: por que fazem isto no
século XXI? E por que está a Europa, agora unida na União
Europeia, a tomar parte no atear de uma nova guerra, como se sofresse de um
lapso total de memória histórica?
Responder a estas perguntas exige, antes de mais nada, uma
definição precisa do que está a suceder. Isto, por sua
vez, deve começar com a identificação dos componentes
chave dos acontecimentos, com base em factos. Os factos são geralmente
conhecidos: Yanukovych recusou-se a assinar o Acordo de
Associação com a UE, que a Ucrânia fora pressionada a
aceitar. Depois disso, os Estados Unidos e seus aliados da NATO removeram-no
fisicamente do poder ao organizarem um violento golpe de estado em Kiev e
levarem ao poder um governo que era ilegítimo, mas que lhes obedecia
plenamente. Neste artigo, será chamado "a junta".
O objectivo desta agressão era fazer com que o Acordo de
Associação fosse aceite, como se evidencia pelo facto de que foi
na verdade assinado, prematuramente, pelos líderes da UE e a junta
apenas um mês depois de esta última ter capturado o poder. Eles
relatam (o documento contendo suas assinaturas ainda não foi publicado!)
que apenas a parte política do acordo foi assinada, a parte que obriga a
Ucrânia a seguir a política externa e de defesa da UE e a
participar, sob a direcção da UE, na resolução de
conflitos civis e militares regionais. Com este passo, a adopção
do Acordo como um todo tornou-se uma mera tecnicalidade.
Na essência, os acontecimentos na Ucrânia assinalam a
subordinação forçosa do país à União
Europeia o que pode ser chamado de
"Euro-ocupação". Os líderes da UE que
insistentemente nos dão lições sobre a obediência
à lei e aos princípios de um estado baseado na lei, neste caso
marimbaram-se para a regra da lei ao assinarem um tratado ilegítimo com
um governo ilegítimo. Yanukovych foi derrubado porque se recusou a
assiná-lo. Esta recusa, além disso, precisa ser entendida em
termos não só do conteúdo do Acordo como também do
facto de que ele não tinha direito legal a aceitá-lo, porque o
Acordo de Associação viola a Constituição
Ucraniana, a qual não prevê a transferência da soberania do
estado a uma outra parte.
De acordo com a Constituição Ucraniana, um acordo internacional
que entre em conflito com a Constituição só pode ser
assinado se a Constituição for emendada previamente. A junta
instalada pelos EUA e pela UE ignorou esta exigência.
Segue-se que os EUA e a UE organizaram o derrube do governo legítimo da
Ucrânia a fim de privar o país da sua independência
política. O próximo passo será impor à
Ucrânia suas políticas económica e comercial preferidas,
através do seu acesso à parte económica do Acordo.
Além disso, embora a actual Euro-ocupação difira da
ocupação da Ucrânia em 1941 em que, até agora, se
verificou sem uma invasão por exércitos estrangeiros, sua
natureza coerciva está para além de qualquer dúvida. Assim
como os fascistas despojaram a população da Ucrânia ocupada
de todos os direitos civis, a junta moderna e seus apoiantes americanos e
europeus tratam os oponentes da Euro-integração como criminosos,
acusando-os sem fundamento de separatismo e terrorismo, aprisionando-os ou
mesmo posicionando guerrilhas nazis para alvejá-los.
Enquanto o Presidente Yanukovych estava em vias de assinar o Acordo de
Associação com a UE era o destinatário de toda
espécie de louvação e sedução de
políticos e altos responsáveis da UE. Contudo, no minuto em que
se recusou, agentes de influência americanos (bem como representantes
oficiais dos EUA, tais como o embaixador na Ucrânia, a secretária
de Estado Assistente e representantes de agências de inteligência),
juntamente com políticos europeus, começaram a castigá-lo
e a louvar seus oponentes políticos. Eles proporcionaram maciça
ajuda informacional, política e financeira aos protestos do Euromaidan,
transformando-o no terreno para o golpe de estado. Muitas das
acções de protesto, incluindo ataques criminosos contra pessoal
encarregado de aplicar a lei e tomadas de edifícios governamentais,
acompanhadas por assassinatos e espancamentos de um grande número de
pessoas, foram apoiadas, organizadas e planeadas com a
participação da Embaixada Americana, assim como de
responsáveis e políticos europeus, os quais não só
"interferiram" nos assuntos internos da Ucrânia como executaram
uma agressão contra o país através das guerrilhas nazis
que haviam cultivado.
A utilização de nazis e fanáticos religiosos para minar a
estabilidade política em várias regiões do mundo é
um método favorito das agências de inteligência americanas.
Ele foi empregado contra a Rússia no Cáucaso, na Ásia
Central e agora mesmo na Europa do Leste. O programa Parceria Oriental
(Eastern Partnership),
o qual os EUA encorajaram os responsáveis polacos e da UE a iniciar,
foi voltado contra a Rússia desde o princípio. O seu objectivo
era romper as relações das antigas repúblicas
soviéticas com a Rússia. Esta ruptura supunha-se que fosse
concluída por contratos de Acordos de Associação entre
cada um destes países e a UE. A fim de proporcionar bases
políticas para estes acordos foi lançada uma campanha para
espalhar russofobia e difundir um mito chamado "a escolha europeia".
Esta mítica "escolha europeia" foi então
artificialmente contraposta ao processo de integração
euro-asiático, com políticos e media ocidentais a descreverem a
última como uma tentativa de restaurar a URSS.
O programa Parceria Oriental fracassou em toda e qualquer antiga
república soviética. A Bielorússia já fez a sua
própria escolha, criando uma União Estatal com a Rússia. O
Cazaquistão, outro país euro-asiático chave (embora
não formalmente um alvo da Parceria Oriental) igualmente escolheu o seu
próprio caminho, constituindo a União Aduaneira com a
Rússia e a Bielorússia. A Arménia e o Quirguistão
decidiram aderir a este processo. A província de Gagauzia rejeitou a
adopção da russofobia como pedra angular da política de
Moldova. O referendo Gagauz, rejeitando a integração europeia em
favor da União Aduaneira, desafiou a legitimidade da "escolha
europeia" de Chisinau. A Geórgia, a única república
que tomou uma decisão relativamente legítima em favor da
associação com a UE, pagou a sua "escolha europeia" com
a perda de controle sobre uma parte do seu território, onde o povo
não quis viver sob a euro-ocupação. O mesmo cenário
está agora a ser imposto à Ucrânia perda de uma
parte do seu território, onde os cidadãos não aceitam a
"escolha europeia" da liderança.
A coação da Ucrânia para por a sua assinatura no Acordo de
Associação com a UE foi embrulhada na russofobia, como
reacção da consciência pública ucraniana magoada
pela decisão do povo da Crimeia de aderir à
Federação Russa. Uma vez que a maioria dos ucranianos ainda
não se consideram automaticamente como separados da Rússia, tem
havido ali uma forte pressão para inculcar uma percepção
deste episódio como agressão russa e anexação de
parte do seu território. Eis porque Brzezinski fala acerca na
"finlandização" da Ucrânia, um meio de anestesiar
os cérebros da nossa elite política durante a
operação americana de amputar os laços da Ucrânia
com a Rússia histórica. Ainda que sob anestesia, supõem
que nós russos devamos aceitar um sentimento de culpa pela nossa
mítica opressão do povo ucraniano, ao passo que este
último é alimentado à força com repúdio
à Rússia, com a qual alegadamente terá combatido ao longo
tempo sobre a Pequena Rússia e Novorossiya.
[1]
Contudo, só um observador superficial veria a actual histeria anti-russa
nos media ucranianos, tão impressionante na sua russofobia
frenética, como uma reacção espontânea ao drama na
Crimeia. Na realidade, é evidente que a guerra que está a ser
travada contra a Rússia está agora a entrar numa fase aberta.
Durante duas décadas fomos razoavelmente tolerantes com as
manifestações da ideologia nazi na Ucrânia, sem
considerá-la seriamente, em vista da aparente ausência de
pré-condições claras para o nazismo. A falta de tais
pré-condições, contudo, foi totalmente compensada pela
persistente semeadura de russofobia através do apoio a numerosas
organizações nacionalistas. A discrepância entre a sua
ideologia e a exactidão histórica não incomoda os fuehrers
destas organizações. Em troca de uma ninharia de países
membros da NATO, eles são completamente livres para pintarem a
Rússia como a imagem do inimigo. O resultado é inconvincente,
devido à nossa história, língua e cultura comuns: Kiev
é a mãe de todas as cidades russas, o Kiev-Pechersk Lavra
é o maior local sagrado dos ortodoxos do mundo e foi na Academia
Kiev-Mohyla que a moderna língua russa tomou forma. Portando, são
utilizadas mentiras loucas, jogando com episódios trágicos da
nossa história comum, tais como a Revolução e a Guerra
Civil, bem como a fome do Holodomor dos anos 1930, os quais são
falsamente atribuídos unicamente à tirania russa. A russofobia,
baseada no nazismo, está ser tornada a pedra angular da identidade
nacional da Ucrânia.
Este artigo não está preocupado em desvendar a objectividade da
absurda histeria russofóbica dos nazis ucranianos, mas sim em
estabelecer as razões para o seu ressurgimento no século XXI.
Isto exige uma percepção de que este "nazismo
ucraniano" é uma construção artificial, criada pelos
antigos inimigos do mundo russo. O nacionalismo e fascismo ucraniano, cultivado
do exterior, sempre tiveram Moscovo como alvo. A princípio era promovido
pela Polónia, a qual encarava a Ucrânia como a sua própria
zona fronteiriça e estabeleceu a sua estrutura de poder vertical para
administrá-la. A seguir veio a Áustria-Hungria, a qual investiu
grandes quantias de dinheiro ao longo de muito tempo para encorajar o
separatismo ucraniano. Durante a ocupação fascista alemã,
estas tendências separatistas foram o terreno no qual o movimento Bandera
e a Polizei se desenvolveram, ajudando os fascistas alemães a
estabelecerem a sua ordem na Ucrânia, inclusive através de
operações punitivas e escravização da
população. Seus seguidores modernos estão agora a fazer o
mesmo: sob a orientação dos seus instrutores americanos,
guerrilhas do Right Sector Banderista estão a efectuar
operações punitivas contra a população no Donbass,
ajudando a junta instalada pelos EUA a "limpar" cidades dos apoiantes
de maior integração com a Rússia e assumindo
funções de polícia para o estabelecimento de uma ordem
pró americana e anti russa.
É óbvio que sem o firme apoio americano e europeu não
teria sido possível nem o golpe de estado nem a existência da
junta de Kiev. Infelizmente, como diz o famoso ditado, "a história
ensina-nos que a história não ensina nada". Isto é
uma catástrofe para a Europa, a qual mais de uma vez teve de tratar com
casos de governos proto-fascistas como aquele que agora molda a Ucrània.
Ele envolve, essencialmente, um relacionamento entre fascistas e o grande
capital. Uma simbiose deste tipo permitiu a ascensão de Hitler, que foi
apoiado pelos principais capitalistas alemães, seduzidos pela
oportunidade, sob a cobertura da retórica nacional-socialista, de ganhar
dinheiro com encomendas do governo e com a militarização da
economia. Isto aplica-se não só aos capitalistas alemães
como também aos europeus e americanos. Houve colaboradores com o regime
de Hitler em praticamente todos os países europeus e os Estados Unidos.
Poucas pessoas perceberam que as marchas com tochas seriam seguidas pelos
fornos em Auschwitz e que dezenas de milhões de pessoas morreriam no
incêndio da II Guerra Mundial. A mesma dinâmica está a
desenvolver-se agora em Kiev, excepto que o berro de "Heil Hitler!"
foi substituído pelo de "Glória aos heróis!"
heróis cujo grande feito foi executar judeus indefesos em
Babi Yar
. Além disso, a oligarquia ucraniana incluindo os líderes
de algumas organizações judias está a financiar os
anti-semitas e nazis do Right Sector, os quais são os baluartes armados
do actual regime na Ucrânia. Os patrocinadores do Maidan esqueceram que,
no relacionamento simbiótico entre nazis e grande capital, os nazis
sempre obtém o controle sobre os homens de negócio liberais.
Estes últimos são forçados ou a tornarem-se nazis ou a
deixarem o país. Isto já está a acontecer na
Ucrânia: os oligarcas que permanecem no país estão a
competir com os pequeno fuehrers do Right Sector no domínio da
russofobia e da retórica anti-"moscovita", bem como em
sequestrar a propriedade daqueles antigos patrocinadores nazis que fugiram para
Moscovo.
Os actuais dominadores em Kiev contam com a protecção dos seus
patrões americanos e europeus, jurando-lhes diariamente que
combaterão a "ocupação russa" até o
último "moscovita"
[2]
.
Eles obviamente subestimam quão perigosos são os nazis, porque
estes acreditam realmente que são uma "raça superior",
ao passo que todas as outras, incluindo os homens de negócio que os
patrocinam, são encarados como criaturas "sub-humanas", contra
as quais é permissível violência de toda espécie.
Eis porque os nazis sempre prevalecerão, dentro do seu relacionamento
simbiótico com a burguesa, a qual é então forçada
ou a submeter-se ou a fugir do país. Não há dúvida
de que se os seguidores de Bandera não forem travados à
força, o regime nazi na Ucrânia desenvolver-se-á,
expandir-se-á e consolidar-se-á mais profundamente. A
única coisa ainda em dúvida será a "escolha
europeia" da Ucrânia, pois o país fede cada vez mais ao
fascismo de 80 anos atrás.
Naturalmente, o eurofascismo de hoje é muito diferente das suas
versões alemã, italiana e espanhola no século XX. Estados
nacionais europeus retrocederam ao passado, entrando na União Europeia e
submetendo-se à euroburocracia. Esta última tornou-se o principal
poder político na Europa, revogando facilmente quaisquer intentos de
soberania de países europeus individuais. O poder da burocracia
baseia-se não num exército, mas no seu monopólio sobre a
emissão de moeda, sobre os mass media e sobre a
regulamentação do comércio, todos os quais são
administrados pela burocracia no interesse do grande capital europeu. Em todo
conflito com governos nacionais europeus durante a última década,
a euroburocracia prevaleceu constantemente, forçando países
europeus a aceitarem seu governo e seus políticos tecnocratas. Tais
políticas são baseadas na rejeição constante de
todas as tradições nacionais, desde os padrões morais
cristãos até como são produzidas as salsichas.
Os europolíticos vulgares, do género neutro e livres de ideias
pouco se assemelham aos fuehrers enfurecidos do Terceiro Reich. O que eles
têm em comum é uma confiança maníaca em que
estão certos e na prontidão para forçar os povos a
obedecerem. Embora as formas eurofascistas de compulsão sejam mais
suaves, trata-se ainda de uma abordagem dura. A discordância não
é tolerada e a violência é permitida, até e
incluindo o extermínio físico daqueles que discordam das
políticas de Bruxelas. Naturalmente, os milhares que morreram durante o
esforço para instilar "valores europeus" na Jugoslávia,
Geórgia, Moldávia e agora na Ucrânia não se comparam
com os milhões de vítimas dos invasores fascistas alemães
durante a II Guerra Mundial. Nações europeias inteiras
estão a desaparecer no cadinho da integração europeia.
A palavra italiana
fascio,
da qual deriva "fascismo", indica uma união, ou algo atado
junto. No seu entendimento actual, refere-se à unificação
sem preservação da identidade do que é integrado
sejam povos, grupos sociais ou países. Os eurofascistas de hoje
estão a tentar apagar não só diferenças
económicas e culturais nacionais como também a diversidade de
individualidades humanas, incluindo a diferenciação por sexo e
idade. Ainda mais: a agressividade com que os eurofascistas estão a
combater para expandir sua área de influência por vezes
recorda-nos da paranóia dos apoiantes de Hitler, os quais estavam
preocupados com a conquista do
Lebensraum
[espaço vital] para a raça ariana superior. Basta recordar a
histeria dos políticos europeus que apareciam no Maidan e nos media
ucranianos. Eles justificaram os crimes dos proponentes da
euro-integração e de maneira infundada denunciaram aqueles que
discordavam da "escolha europeia" da Ucrânia, adoptando a
abordagem de Goebbels de que quanto mais monstruosa a mentira mais se assemelha
à verdade.
Hoje, o condutor do eurofascismo é a euroburocracia, a qual obtém
suas directrizes de Washington. Os Estados Unidos apoiam a expansão para
o Leste da UE e da NATO de todos os modo possíveis, vendo estas
organizações como importantes componente do seu império
global. Os EUA exercem controle sobre a UE através de
instituições supranacionais, as quais esmagaram os
estados-nação que aderiram à UE. Privada de soberania
económica, financeira, de política externa e militar, estes
submetem-se às directivas da Comissão Europeia, as quais
são adoptadas sob intensa pressão dos EUA.
Na essência, a UE é um império burocrático que
arranja as coisas dentro do seu espaço económico de acordo com os
interesses do capital europeu e americano, sob controle estado-unidense. Como
qualquer império, aspira expandir-se e faz isso atraindo países
vizinhos a Acordos de Associação, pelos quais estes entregam sua
soberania à Comissão Europeia. A fim de fazer com que tais
países aceitem tornar-se colónias da UE, apregoam o medo acerca
de uma ameaça externa, com o media guiados pelos EUA a retratarem a
Rússia como agressiva e belicosa. Sob este pretexto, a UE e a NATO
moveram-se rapidamente para ocupar os países da Europa do Leste
após o colapso da União Soviética; a guerra nos
Balcãs foi organizada para este objectivo. As vítimas seguintes
do eurofascismo foram as repúblicas bálticas, nas quais nazis
russofóbicos forçaram a adesão à UE e a NATO. A
seguir o eurofascismo alcançou a Geórgia, onde nazis sob
orientação americana desencadearam uma guerra civil. Hoje, os
eurofascistas estão a utilizar o modelo georgiano na Ucrânia, a
fim de forçá-la a assinar o Acordo de Associação
[ NR 1]
com a UE, como um território subserviente e cabeça-de-ponte para
atacar a Rússia.
Os EUA encaram o processo de integração da Eurásia como a
principal ameaça aos seus planos de colocar a euroburocracia como
responsável da área pós soviética. O processo de
integração está a desenvolver-se com êxito em torno
da União Aduaneira Rússia-Bielorússia-Cazaquistão.
A UE e os EUA investiram pelo menos US$10 mil milhões na
construção de redes anti-russas, a fim de impedir a Ucrânia
de tomar parte naquele processo. Em paralelo, utilizando o apoio de polacos e
bálticos russofobos, bem como dos media sob o controle dos magnatas
americanos dos media, os Estados Unidos estão a incitar
responsáveis europeus contra a Rússia, com o objectivo de isolar
as antigas repúblicas soviéticas do processo de
integração euro-asiático. O programa Parceria Oriental
(Eastern Partnership),
inspirado por eles, é uma cobertura para a agressão contra a
Rússia na antiga área soviética. Esta agressão toma
a forma de forçar antigas repúblicas soviéticas a entrarem
em Acordos de Associação com a UE, sob os quais transferem sua
soberania económica, comercial, de política externa e as
funções de defesa para a Comissão Europeia.
Para a Ucrânia, o Acordo de Associação com a União
Europeia significa transferir para Bruxelas suas funções
soberanas de regulação comercial e outras relações
económicas externas, de padrões técnicos e
inspecções veterinárias, sanitárias e de peste, bem
como abrir seus mercados a bens europeus. O acordo contém um milhar de
páginas de directivas da UE que a Ucrânia teria de cumprir. Cada
secção obriga a que a legislação ucraniana seja
alterada para cumprir as exigências de Bruxelas. Além disso, a
Ucrânia assumiria a obrigação de cumprir não
só as actuais directivas de Bruxelas como também as futuras, em
cuja redacção não exercerá qualquer papel.
Dito claramente, depois de assinar o Acordo a Ucrânia torna-se uma
colónia da União Europeia, obedecendo cegamente às suas
exigências. Isto inclui exigências que a indústria ucraniana
é incapaz de executar e que prejudicarão a economia do
país. A Ucrânia deve abrir completamente o seu mercado a bens
europeus, os quais levarão a um aumento de US$4 mil milhões nas
suas importações e expulsarão do mercado produtos
industriais ucranianos não competitivos. A Ucrânia será
obrigada a cumprir padrões europeus, os quais custarão 150 mil
milhões em investimentos para modernização
económica. Não há fontes para tais quantias de dinheiro.
Segundo estimativas de economistas ucranianos e russos, a Ucrânia, depois
de assinar o Acordo, pode esperar uma deterioração das suas
já negativas balanças comercial e de pagamentos e, em
consequência, o incumprimento
(default).
Portanto, assinar o Acordo de Associação significaria
[NR 2]
uma catástrofe económica para a Ucrânia. A UE obteria
certas vantagens, através de um mercado expandido para os seus produtos
e a oportunidade de adquirir activos ucranianos desvalorizados.
Corporações dos EUA, por sua vez, ganhariam acesso a reservas de
gás de xisto
(shale gas),
as quais gostariam de adicionar a infraestrutura de gasodutos e um mercado
para elementos combustíveis nucleares destinados a centrais
eléctricas. O objectivo principal, contudo, é geopolítico:
depois de assinar o Acordo de Associação, a Ucrânia
não poderia participar na União Aduaneira com a Rússia,
Bielorússia e Cazaquistão. Foi para este resultado que os EUA e a
UE recorreram à agressão contra a Ucrânia, organizando a
captura armada do poder pelos seus protegidos. Apesar de acusarem a
Rússia de anexar a Crimeia, eles próprios tomaram a Ucrânia
como um todo, com a instalação de uma junta sob o seu controle. A
missão da junta é despir a Ucrânia da sua soberania e
colocá-la sob a UE, através da assinatura do Acordo de
Associação.
O desastre na Ucrânia pode ser chamado de agressão contra a
Rússia pelos EUA e seus aliados da NATO. Isto é uma versão
contemporânea do euro-fascismo, a qual difere da cara anterior do
fascismo durante a II Guerra Mundial por empregar poder "soft" com
apenas alguns elementos de acção armada em casos de extrema
necessidade, bem como a utilização da ideologia nazi como uma
ideologia suplementar ao invés de absoluta. Um dos principais elementos
definidores do eurofascismo foi entretanto preservado e é a
divisão dos cidadãos em superiores (aqueles que apoiam a
"escolha europeia") e inferiores, os quais não têm
direitos às suas próprias opiniões e em
relação aos quais tudo é permitido. Uma outra
característica é a prontidão para utilizar violência
e cometer crimes ao tratar com oponentes políticos. O aspecto final que
precisa ser entendido é o que conduz ao renascimento do fascismo na
Europa. Sem apreender isto, é impossível desenvolver um plano de
resistência e salvar o mundo russo desta mais recente ameaça de
euro-ocupação.
A teoria do desenvolvimento económico a longo prazo reconhece um
inter-relacionamento entre ondas longas de actividade económica e ondas
longas de tensão militar e política. Mudanças
periódicas de um modo tecnológico dominante para o seguinte
alternam-se com depressões económicas, em que gastos
governamentais acrescidos são utilizados como incentivo para ultrapassar
a crise. Os gastos são concentrados no complexo militar-industrial,
porque a ideologia económica liberal permite o reforço do papel
do estado só para objectivos de segurança nacional. Portanto,
é promovida a tensão militar e política e são
provocados conflitos internacionais para justificar gastos acrescidos com a
defesa. Isto é o que está a acontecer actualmente: os EUA
estão a tentar resolver seus acumulados desequilíbrios
económicos, financeiros e industriais a expensas de outros
países, pelo agravamento de conflitos internacionais que lhes
permitirão cancelar dívidas, apropriarem-se de activos
pertencentes a outros e enfraquecer seus rivais geopolíticos. Quando
isto foi feito durante a Grande Depressão da década de 1930, o
resultado foi a II Guerra Mundial. A agressão americana contra a
Ucrânia prossegue todos os objectivos acima mencionados.
Primeiro,
sanções económicas contra a Rússia são
destinadas a eliminar milhares de milhões de dólares da
dívida estado-unidense para com a Rússia. Um
segundo
objectivo é tomar activos do estado ucraniano, incluindo o sistema de
transporte de gás natural, reservas minerais, as reservas ouro do
país e objectos valiosos artísticos e culturais.
Terceiro,
capturar mercados ucranianos com importância para companhias americanas,
tais como combustível nuclear, aeronáutica, fontes de energia e
outros.
Quarto,
enfraquecer não só a Rússia como também a
União Europeia, cuja economia sofrerá uma perda estimada em um
milhão de milhões
(trillion)
de dólares com as sanções económicas contra a
Rússia.
Quinto,
atrair para os EUA capitais em fuga da instabilidade na Europa.
Portanto, a guerra na Ucrânia é negócio apenas para os
Estados Unidos. A julgar pelos relatos nos media, os EUA já recuperaram
seus gastos com a Revolução Laranja e o Maidan ao levarem como
prémio tesouros dos saqueados Museu Nacional de Arte Russa e Museu
Histórico Nacional, ao tomarem campos potenciais de gás e ao
forçarem o governo ucraniano a mudar de russos para americanos os
fornecimentos de combustível nuclear para as suas centrais nucleares.
Além disso, os americanos avançaram no seu objectivo de longo
prazo de separar a Ucrânia da Rússia, transformando o que
costumava ser a "Pequena Rússia" num estado hostil à
Rússia, a fim de impedi-lo de aderir ao processo de
integração euro-asiático.
Esta análise não deixa espaço para dúvidas acerca
da natureza a longo prazo e constante da agressão americana contra a
Rússia na Ucrânia. Washington está a dirigir seus fantoches
de Kiev no sentido de escalar o conflito, ao invés de revertê-lo.
Eles também estão a incitar os militares ucranianos contra a
Rússia, tendo como objectivo arrastar forças terrestres russas a
uma guerra contra a Ucrânia. Eles estão a encorajar os nazis ali a
iniciarem novas operações de combate. Isto é uma guerra
real, organizada pelos Estados Unidos e seus aliados da NATO. Tal como
há 75 anos atrás, ela está a ser travada pelos
eurofascistas contra a Rússia, com a utilização de nazis
ucranianos cultivados para este propósito.
O que é surpreendente é a posição dos países
europeus, os quais estão a reboque dos EUA e nada fazem para impedir uma
nova escalada da crise. Eles deveriam entender melhor do que ninguém que
nazis só podem ser travados com a força. Quanto mais cedo isto
for feito, menos vítimas e menos destruição haverá
na Europa. A avalanche de guerras através da África do Norte, do
Médio Oriente, dos Balcãs e agora na Ucrânia, incitadas
pelos EUA no seu próprio interesse, ameaça acima de tudo a
Europa. E foi a devastação da Europa em duas guerras mundiais que
deu origem ao milagre económico americano no século XX.
Mas o Velho Mundo não sobreviverá a uma Terceira Guerra Mundial.
Impedir tal guerra significa que deve haver reconhecimento internacional de que
as acções dos EUA constituem agressão e que a UE e os
responsáveis estado-unidenses que as executam são criminosos de
guerra. É importante conferir a esta agressão a
definição legal de "eurofascismo" e condenar as
acções dos políticos e responsáveis europeus que
tomaram parte no ressuscitar do nazismo sob a cobertura da Parceria Oriental.
24/Junho/2014
Notas
[1]
Malorossiya
("Pequena Rússia" ou "Rússia Menor") é
uma expressão que remonta à toponímia grega para as
áreas populadas pelos eslavos orientais, mais próximas
("Rússia Menor") e mais remotas a Norte do Mar Negro
("Rússia Maior"). Ela tem sido utilizada ao longo dos tempos
para indicar toda a moderna Ucrânia ou, principalmente, o nordeste da
Ucrânia ou margem esquerda do Rio Dnieper. A expressão Novorossiya
("Nova Rússia") foi introduzida no século XVIII para
terras adquiridas pelo Império Russo, sob Catarina II, em guerras com o
Império Otomano. Estas incluíam o litoral do Mar Negro desde o
Rio Dniester até a Crimeia, o litoral do Mar de Azov a Leste até
aproximadamente a foz do Rio Don, e terras ao longo do baixo Dnieper.
[2]
Moskal
, ou "Moscovite, é um termo pejorativo ucraniano para um russo.
[NR 1] O acordo foi assinado em 27/Junho/2014.
[NR 2] Este artigo é anterior à assinatura do Acordo de
Associação.
Ver também:
Ukraine and EU sign free trade zone deal
5 facts you need to know about Ukraine-EU trade deal
NATO pledges new funding for Ukrainian military
"Impedir o reforço do exército ucraniano"
Les communistes moldaves dénoncent l'Accord d'association avec l'Union européenne
Ukraine's EU Association Agreement, A Prelude to Further Bloodshed
Batalhão "Azov": metade consiste de criminosos
Fascism As It Is
, filme de Andrey Karaulov (em inglês)
[*]
Da Academia de Ciências Russa e conselheiro do Presidente da
Federação Russa.
O original encontra-se em
www.globalresearch.ca/ukraine-and-the-rise-of-euro-fascism/5388443
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|