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							A mentira pela omissão e o papel da desinformação
						
								
									por Jorge Figueiredo
								
							 
							Este artigo encontra-se em
								 http://resistir.info/
								. Nada do que é importante no mundo é hoje reflectido pela
							comunicação dita "social", os media empresariais que
							arrogantemente se auto-intitulam como padrão de
							"referência". 
 Para quem pretende uma transformação do mundo num sentido
							progressista isto é um problema, e problema grave. Significa um brutal
							atraso na tomada de consciência dos povos, cuja atenção
							é desviada para balelas, entretenimentos idiotas, falsos problemas e
							outros diversionismos.
 
 Omissão não é a mesma coisa que
							desinformação. Vejamos exemplos de uma e outra, a começar
							pela primeira.
 
 A mais actual é a ameaça da instalação de 
							 mísseis Iskander junto às fronteiras ocidentais da Europa.
							 Isso é praticamente ignorado pelos media ocidentais, assim como
							é ignorada a razão porque eles estão a ser agora
							instalados: o cerco da Rússia pela NATO, que instalou novos sistemas de
							mísseis numa série de países junto às suas
							fronteiras. É indispensável reiterar que tanto os da NATO como o
							da Rússia são dotados de 
							
								ogivas nucleares.
 
 Outro exemplo de omissão é o apagamento total de
							informação quanto ao terrífico 
							 acidente nuclear de Fukushima,
							 que tem consequências pavorosas e a longuíssimo prazo para toda a
							humanidade. Continua o despejo diário de 400 toneladas de água
							com componentes radioactivos no Oceano Pacífico, o equivalente a uma
							disseminação igual à de todos os mais de 2500 ensaios de
							bombas nucleares já efectuados pela espécie humana. Caminha-se
							assim para o extermínio de uma gama imensa de espécies vivas
							 da humana inclusive  pois tal poluição entra no
							ecossistema que lhes dá suporte.
 
 Outro exemplo ainda é o silenciamento deliberado quanto às
							consequências do 
							  desastre com a plataforma de pesquisa da British Petroleum (BP) no Golfo do México.
							 Tudo indica que a gigantesca 
							 fuga de petróleo ali verificada ao longo de meses
							 (100 mil barris/dia?) não está totalmente sanada, pois este
							continua a vazar embora
							em quantidades menores. A política activa de silenciamento conta com o
							apoio não só da BP como do próprio governo americano.
							Este, aliás, já autorizou o reinício da
							exploração de petróleo em águas profundas ao longo
							das costas norte-americanas.
 
 Este silenciamento verifica-se com o pano de fundo do 
							 Pico Petrolífero
							 (Peak Oil)
							 , que também é deliberadamente escondido da opinião
							pública pelos media corporativos. Pouquíssima gente hoje no mundo
							sabe que a humanidade já atingiu o 
							 pico máximo da produção possível de petróleo convencional
							, que
							esta está estagnada há vários anos. Trata-se do fim de uma
							era, com consequências irreversíveis, cumulativas, definitivas e a
							longo prazo.
							Mas este facto é ocultado da opinião pública.
 
 A maioria dos governos de hoje abandonou há muito a pretensão de
							ser o gestor do bem comum: passou descaradamente a promover os interesses de
							curto prazo do capital  em detrimento das condições de
							sobrevivência a longo prazo da espécie humana. Trata-se, pode-se
							dizer, de uma política tendente ao extermínio. Veja-se o caso,
							por exemplo, do 
							
								
									fracking,
								
							
							 ou exploração do 
							 petróleo e metano de xisto
							
								(shale)
							
							 através de explosões subterrâneas e injecção
							de produtos químicos no subsolo  o que tem graves
							consequências sísmicas e polui lençóis
							freáticos de água potável. O governo Obama estimula
							activamente o 
							
								fracking,
							
							 na esperança  vã  de dotar os EUA de autonomia
							energética.
 
 Mas há assuntos que para os media corporativos dominantes são
							não apenas omitidos como rigorosamente proibidos  são tabu.
							É o caso da disseminação do 
							 urânio empobrecido
							
								(depleted uranium, DU)
							
							 que o imperialismo faz por todo o mundo com as suas guerras de
							agressão. Países como o Iraque, a antiga Jugoslávia, o
							Afeganistão e outros estão pesadamente contaminados pelas
							munições de urânio empobrecido. Trata-se do envenenamento
							de populações inteiras por um agente que actua no plano
							químico, físico e radiológico, com consequências
							genéticas teratológicas e sobre todo o ecossistema. A
							Organização Mundial de Saúde é conivente com este
							crime contra a humanidade pois esconde deliberadamente relatórios de
							cientistas que examinaram as consequências da invasão
							estado-unidense do Iraque. Absolutamente nada disto é reflectido nos
							media
							empresariais.
 
 Um caso mais complicado é aquela categoria especial de mentiras em que
							é difícil separar a omissão da
							desinformação. Omitir pura e simplesmente a 
							
								crise capitalista
							
							  como os media corporativos faziam até um passado recente 
							já não é possível: hoje ela é gritante.
							Portanto entram em acção as armas da desinformação,
							as quais vão desde o diagnóstico até as terapias
							recomendadas. Os economistas vulgares têm aqui um papel importante:
							cabe-lhes dar algum verniz teórico, uma aparência de
							cientificidade, às medidas regressivas que estão a ser tomadas
							pela nova classe dominante  o capital financeiro parasitário. As
							opções de classe subjacentes a tais medidas são assim
							disfarçadas com o carimbo do "não há
							alternativa". E a depressão económica que agora se inicia
							é apresentada como coisa passageira, meramente conjuntural. Os media
							passaram assim da omissão para a desinformação.
 
 Desde o iluminismo, a partir do século XVIII, a difusão da
							imprensa foi considerada um factor de progresso, de ascensão progressiva
							das massas ao conhecimento e entendimento do mundo. Hoje, em termos de saldo,
							isso é discutível. A enxurrada de lixo que actualmente se difunde
							no mundo superou há muito as publicações sérias.
							Basta olhar a quantidade de revistecas exibidas numa banca de jornais ou a
							sub-literatura exposta nos super-mercados. Tal como na Lei de Greshan, a
							proliferação do mau expulsa o bom da circulação. E
							esta proliferação quantitativa não pode deixar de ter
							consequências qualitativas. Ela faz parte integrante da 
							
								política de desinformação.
 
 Os grandes media corporativos esmeram-se neste trabalho de
							desinformação. Além de omitirem os assuntos realmente
							cruciais para os destinos humanos eles ainda promovem activamente campanhas de
							desinformação. Um caso exemplar foi a maneira como apresentavam e
							apresentam a 
							
								agressão à Síria.
							
							Assim, bandos sinistros de terroristas e mercenários pagos pelo
							imperialismo  alguns até praticaram o canibalismo como se viu num
							vídeo famoso difundido no 
							 YouTube
							  são sistematicamente
							tratados
							como "Exército de Libertação". E daí
							passaram à mentira pura e simples, afirmando que o governo
							legítimo da Síria teria utilizado armas químicas contra o
							seu próprio povo. 
							 Denúncias públicas de que os crimes com gases venenosos foram cometidos pelos bandos terroristas (com materiais fornecidos pelos serviços secretos sauditas)
							, não tiveram
							qualquer reflexo nos media corporativos  foram simplesmente ignoradas.
							Verifica-se neste caso um padrão misto de omissão deliberada e
							desinformação/mentira. Tudo orquestrado pelos centros de guerra
							psicológica do império, que os colonizados media portugueses
							reproduzem entusiasticamente. A submissão é tamanha que
							até publicações conservadoras e burguesas dos centros do
							império, como a 
							
								Der Spiegel
							
							 ou o 
							
								Financial Times,
							
							 dão uma informação mais objectiva do que os media lusos.
 
 A par da omissão & desinformação, os media corporativos
							esmeram-se em campanhas para instilar terrores fictícios. É o
							caso da 
							 impostura do aquecimento global,
							em que gastam rios de tinta. Nesta campanha orquestrada pelo IPCC e pela UE
							procura-se instilar o medo com aquilo que poderia, dizem eles, acontecer daqui
							a 100 anos  mas escondem cuidadosamente o que já está
							acontecer agora. Os terrores actuais e bem reais devem ser escondidos e, em sua
							substituição, inventam-se terrores para o futuro, com a 
							 diabolização do CO2
							 erigido em arqui-vilão. Carradas de
							políticos e jornalistas ignorantes embarcam nessas balelas. Os mais
							espertos conseguem sinecuras à conta do dito aquecimento global (agora
							rebaptizado como "alterações climáticas"). Passam
							assim a sugar no orçamento do Estado português e dos fundos
							comunitários.
 
 Este mostruário de exemplos de omissão &
							desinformação poderia prolongar-se indefinidamente. Ele é
							o pão nosso de cada dia para milhões de pessoas, em Portugal e no
							mundo todo. Mas a omissão & desinformação dificulta
							extraordinariamente a transformação das classes em si em classes
							para si. A situação é hoje o inverso da que existia no
							princípio do século XX, quando a consciência de classe dos
							oprimidos era mais aguda (ainda que o nível de literacia fosse muito
							menor). Hoje, quem tem maior consciência de classe é a burguesia e
							a da massa dos despojados é mais ténue. Por isso mesmo a primeira
							impõe uma lavagem cerebral colectiva e permanente às classes
							subalternas. Mas a realidade tem muita força e, apesar de tudo,
							acabará finalmente por se impor. Os povos do mundo já
							começaram a acordar. Não se pode enganar toda a gente eternamente.
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