Abandono dos biocombustíveis líquidos:
aumenta a pressão sobre a UE
Com os preços dos alimentos a disparar e a fé nos
biocombustíveis [líquidos]
[1]
a mergulhar, muita gente está a pedir que a União Europeia
abandone o seu compromisso em relação a este combustível.
Até mesmo os próprios cientistas da UE são cépticos.
O momento pode, no melhor dos casos, ser descrito como embaraçoso. Na
terça-feira, os novos regulamentos de biocombustíveis
[líquidos] no Reino Unido entrarm em vigor, exigindo que 2,5 por cento
do combustível vendido nas bombas fossem fabricados a partir de cereais
e ervas. Em 2010, a mistura será aumentada para 5 por cento tudo
num esforço para reduzir drasticamente a quantidade de dióxido de
carbono
[2]
emitida para a atmosfera.
Mas o regulamento chega numa semana de crítica crescente contra os
biocombustíveis [líquidos]. Com a
inquietação a crescer em todo o mundo
devido ao aumento dos preços alimentares, muitos começam a
apontar o dedo para o etanol e o biodiesel como culpados. Mesmo quando o novos
regulamento do Reino Unido aprova ambiciosos objectivos da União
Europeia para reduzir emissões de gases com efeito de estufa, a
própria UE enfrenta pressões crescentes para abandonar seu
objectivo de ver todo combustível vendido nas bombas europeias conter 10
por cento de biocombustíveis em 2020.
A primeira geração de biocombustíveis "não
possui tantos benefícios potenciais como as pessoas pensavam quando
embarcaram nestas políticas", disse Stefan Tangermann, director do
Departamento de Comércio e Agricultura da Organização para
a Cooperação e o Desenvolvimento Economico (OCDE), à
Spiegel Online.
"Temos de chegar à conclusão de que talvez seja tempo de
rever nosso compromisso para com os biocombustíveis"
[líquidos].
Tangermnn é apenas um no coro de vozes que urge a UE a reconsiderar. A
organização caritativa Oxfam fulminou o regulamento
britânico, dizendo que combustíveis verdes têm o potencial
para fazer muito mais dano do que bem. A Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO) argumenta, num documento emitido segunda-feira, que os
biocombustíveis [líquidos] afectam negativamente os que vivem em
países mais pobres. O documento argumenta que o crescimento da
indústria de biocombustíveis compete directamente com culturas
alimentares pela terra agrícola, pela água e pelo dinheiro para
investimento. Os preços dos alimentos aumentam em consequência e
os biocombustíveis [líquidos] "colocam em risco o acesso
à comida dos sectores mais pobres", afirma do documento.
E até mesmo o próprio corpo científico da União
Europeia admitiu o facto. "Não vejo absolutamente nenhuma
razão para usar tanta energia, dinheiro e grandes extensões de
terra agrícola" para produzir biocombustíveis
[líquidos], disse à
Spiegel Online
o Professor Helmut Haberl, membro do Comité Científico da
Agência Europeia de Ambiente. "A UE deveria desfazer-se das regras
dos 10 por cento de mistura".
O seu grupo inclui 20 destacados cientistas climáticos de Estados
membros da UE e desempenha um papel conselheiro chave para a política da
UE. Haberl afirma que a questão dos biocombustíveis tem tido um
papel cada vez mais dominante nas reuniões regulares do grupo uma
ênfase que na sexta-feira passada resultou num apelo
extraordinário para que a União Europeia abandone o seu objectivo
dos 10 por cento. Chamando o objectivo de "super ambicioso" e um
"experimento", o documento argumenta que os efeitos colaterais dos
biocombustíveis são demasiado danosos para serem ignorados.
"Um crime contra a humanidade"
A reacção imediata da UE a esta semana de críticas foi de
desafio. "Não está em causa por agora suspender o objectivo
fixado para biocombustíveis", disse segunda-feira à AFP
Barbara Helfferich, porta-voz do Comissário Ambiental da UE Stavros
Dimas.
Mas com as atenções do mundo a focarem os preços em
disparada dos alimentos, é duvidoso que a questão
desapareça dentro em breve. Na semana passada o Banco Mundial disse que
os preços alimentares haviam ascendido 83 por cento nos últimos
três anos e outras organizações internacionais
também saltaram para a briga com o Relator Especial da ONU para o
Direito à Alimentação, Jean Ziegler, a chamar a
produção de biocombustíveis [líquidos] "um
crime contra a humanidade" segunda-feira na rádio alemã.
Preços inatingíveis de alimentos levaram recentemente a tumultos
no Haiti, nos Camarões e em outros lugares e estão alimentar uma
crescente crise de governo nas Filipinas.
Mesmo que alguém ponha de lado a ascensão dos preços
alimentares, o cepticismo quanto à primeira geração de
biocombustíveis fabricados a partir de culturas plantadas
especificamente para este propósito ao invés de, como os
biocombustíveis da segunda geração
, processar sub-produtos agrícolas e outras biomassas não
comestíveis está desencadeado. Cientistas destacam que
fertilizantes utilizados para cultivar plantas para biocombustíveis
[líquidos] libertam mais gases com efeito de estufa do que o
próprio combustível que poupariam. Além disso, como a
indústria cresce, florestas húmidas estão a ser deitadas
abaixo para abrir caminho para plantações e pântanos com
turfa estão a ser drenados ambas as coisas valiosas como
"sumidouros de carbono" que absorvem dióxido de carbono da
atmosfera.
Mais: como destaca Haberl, o rendimento energético em
relação ao esforço investido não é
particularmente impressionante. "Podíamos poupar muito mais
energia se apenas queimássemos resíduos agrícolas para
aquecimento", afirma ele. "Isso seria muito mais eficiente e
você não estaria a competir com a produção
alimentar".
A Alemanha, até agora, foi o único país da UE que
parcialmente
recuou em relação ao seu compromisso
para com os
biocombustíveis mas, como diz Haberl, "pelas razões
erradas". Tendo determinado que demasiados automóveis seria
incapazes de processar este combustível, o Ministério do Ambiente
no princípio deste mês optou por não aumentar a mistura de
biocombustíveis dos actuais 5 por cento para 10 por cento como fora
planeado.
Apesar dos comentários em contrário, Bruxelas também pode
estar a inclinar-se para a reavaliação. A ideia de introduzir um
sistema de certificação de campo o qual daria sinal verde
apenas àquelas culturas de biocombustíveis plantadas
ecologicamente sobre terras não obtidas recentemente através da
destruição de florestas húmidas está a
ganhar crédito.
"Parece um pouco que as pessoas começam a levar em conta (a
crítica aos biocombustíveis)", disse Tangermann. "A UE
está a começar a ficar preocupada quanto à
sustentabilidade e alteração climática. E isto é
benvindo".
[1]
Este artigo refere-se exclusivamente aos biocombustíveis
líquidos. As críticas nele formuladas não são
aplicáveis à produção dos biocombustíveis
gasosos (biogás e biometano), a qual não compete com a
produção alimentar.
[2]
As emissões de CO2 são um falso problema, como já foi
demonstrado pelo grande climatologista Marcel Leroux. Ver
Aquecimento global: uma impostura científica.
O original encontra-se em
http://www.spiegel.de/international/europe/0,1518,547609,00.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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