A natureza da crise sistêmica global:
às vésperas do choque das placas tectônicas do capital
A crise sistêmica global,
[1]
que vem castigando os países capitalistas há mais de nove anos,
sem que haja perspectivas de retomada da economia no curto prazo, está
se aproximando de seu desfecho, podendo abrir um cenário inteiramente
novo na economia mundial e perspectivas do acirramento da luta de classes de
caráter global. Essa conjuntura pode levar a quebras generalizadas entre
os grandes monopólios, aprofundamento do processo recessivo,
ampliação do desemprego, dificuldades de gestão
política e social do sistema, além de extraordinários e
velozes levantamentos sociais tanto nos países centrais quanto na
periferia capitalista. As medidas tomadas pelos gestores do capital, tanto em
termos de política monetária e econômica, além da
forte ofensiva contra os direitos, garantias e salários dos
trabalhadores e pensionistas, aliadas aos cortes nos gastos públicos,
funcionaram apenas como paliativos para evitar o colapso do sistema, mas agora
esse arsenal está se esgotando e a crise profunda volta a se impor
novamente porque os problemas de fundo levantados pela crise não foram
resolvidos.
Vale lembrar que esta crise é muito diferente das crises cíclicas
que atingem periodicamente o capitalismo desde os seus primórdios. As
crises recorrentes, de tanta regularidade, já são administradas
com êxito pelos gestores capitalistas desde a metade dos anos 40,
mediante as políticas keynesianas. No entanto, as crises
sistêmicas são de outra natureza: elas colocam em questionamento o
conjunto do sistema e representam o esgotamento de um longo ciclo do capital.
[2]
Ou seja, a crise sistêmica global demonstra que as velhas
relações de produção do mundo atual não
comportam mais a estrutura material construída e desenvolvida ao longo
do ciclo que está se esgotando e, por isso mesmo, a base material
está se rebelando contra o conjunto do sistema e exigindo
mudanças quantitativas e qualitativas, como ocorreu nas crises
sistêmicas anteriores.
Por isso, as fórmulas e receitas que foram bem sucedidas nas crises
cíclicas, a partir da intervenção do Estado no sistema
econômico, são inadequadas para esta crise. Prova disso é
que os governos dos países centrais já injetaram cerca de U$18
milhões de milhões na economia, mas a estagnação
econômica e o desemprego continuam sendo um dado da realidade nesses
países. É bem verdade que o grande volume de recursos tem servido
apenas para salvar os banqueiros e especuladores em geral, evitar o colapso do
sistema financeiro, bem como para criar bolhas especulativas nas bolsas de
valores e em outros setores da economia. Como esses recursos não
têm base na economia real, em algum momento o dinheiro fictício,
criado a partir de ordens burocráticas dos Bancos Centrais,
poderá se transformar em combustível para crises ainda maiores ou
gerar uma escalada inflacionária com efeitos profundamente
desestabilizadores para as economias.
Em outros termos, a economia dos países centrais continua tão ou
mais doente do que no período da explosão da crise em 2008 com a
queda do Lehman Brothers, com o agravante de que até os chamados
países emergentes, que não foram atingidos nas mesmas
proporções que as economias centrais, agora também
estão em crise. Apesar dos meios de comunicação
diariamente procurarem encobrir a gravidade dos problemas, informando que
determinados países estão se recuperando, que as Bolsas de
Valores estão prósperas, que logo haverá perspectivas de
retomada do crescimento econômico e do emprego, essas
informações servem apenas para confundir e desorientar os
trabalhadores, retardando assim sua compreensão da gravidade da crise e
reduzindo a possibilidade de se colocarem em movimento em defesa dos seus
direitos e, inclusive, contra o próprio sistema.
Se analisarmos a conjuntura no coração do sistema os
países centrais em geral e os Estados Unidos e a União Europeia
em particular poderemos observar um panorama com enormes dificuldades
para o capital. Se por um lado, os trilhões de dólares e euros
colocados nas economias desenvolvidas conseguiram retardar o colapso do
sistema, por outro, essa orgia monetária está criando economias
autistas, nas quais os agentes econômicos se comportam como zumbis a
caminho do precipício, muito embora nessa trajetória haja
momentos de euforia, para logo depois se transformarem em perplexidade e
pânico. A situação é pouco compreensível para
as mentes acostumadas com a velha ordem construída após a Segunda
Guerra Mundial, pois normalmente as pessoas têm dificuldades para se
adaptar aos fenômenos novos, onde as mudanças são velozes e
radicais. Geralmente continuam raciocinando como no passado e buscando resolver
os problemas com as mesmas fórmulas de conjunturas anteriores. Qual
é a situação real hoje do mundo capitalista, especialmente
de sua parte mais desenvolvida?
A economia europeia vive uma estagnação prolongada a caminho da
depressão, apesar das políticas de flexibilização
quantitativa efetuadas pelo Banco Central Europeu. Trata-se de um continente em
queda livre, com recessão, aumento do desemprego e uma crise social de
vastas proporções, cuja ponta do iceberg é a
tragédia grega, onde o desemprego atinge mais de 25% da
população economicamente ativa, percentual que ultrapassa 50%
quando se trata dos jovens. A isso se junta a crise humanitária da
imigração de centenas de milhares de refugiados de regiões
desestabilizadas pelo imperialismo europeu e norte-americano.
Nos Estados Unidos, a situação não é muito
diferente, apesar do esforço diuturno da mídia para construir uma
conjuntura favorável. A dívida externa norte-americana já
ultrapassou os 100% do PIB e a cada período trava-se no Congresso uma
dura batalha sobre o aumento do teto do débito, com repercussões
desestabilizadoras em todo o mundo. A indústria de
transformação e seu contraponto, o consumo das famílias,
permanecem estagnados e o que o
establishment
denomina de crescimento é resultado das bolhas artificiais na
órbita da circulação, especialmente na Bolsa de Valores e
especulação financeira. Quando a crise se aprofundar e as bolhas
especulativas murcharem aí então se poderá observar a
gravidade dos problemas escondidos da população, com a
desvantagem de que o governo já não terá
condições para socorrer o sistema financeiro como aconteceu no
início da crise sistêmica atual.
A questão do aumento do emprego merece um comentário à
parte. A redução do desemprego, nos níveis anunciados pelo
governo, é apenas uma miragem, fruto da precarização do
trabalho e da desistência de milhares de trabalhadores que deixaram de
procurar emprego. O indicador que melhor pode aferir a situação
real é a relação entre a população do
País e o conjunto das pessoas empregadas. Por esses dados, pode-se
verificar que a relação continua muito semelhante ao
período da crise de 2008, o que significa que o aumento do emprego
é muito mais um contorcionismo estatístico do que aquilo que
ocorre efetivamente na realidade. Para completar o quadro, mais de 40
milhões de norte-americanos estão vivendo abaixo da linha de
pobreza, sobrevivendo em função dos cartões de
alimentação
(food stamps)
distribuídos pelo governo. Para a maior economia do mundo, esse
é um quadro nada alvissareiro.
Uma crise complexa, um sistema na encruzilhada
A crise sistêmica global ocorre num momento em que o capitalismo
já tinha se transformado num sistema mundial completo, com a
internacionalização da produção e das
finanças, profunda reconfiguração de seu sistema de
produção, com a emergência das tecnologias da
informação, internet, da microeletrônica, biotecnologia,
automação industrial, nanotecnologia, entre outros, e uma
superacumulação de capitais em escala global, o que levou o
sistema a buscar saída na financeirização da riqueza e na
especulação financeira global.
[3]
Esse conjunto de novos fenômenos que foram amadurecendo das
últimas décadas, alterou de maneira profunda as bases materiais
do sistema produtivo, financeiro e comercial do capitalismo, as
relações econômicas entre o centro e a periferia, o
processo tradicional de apropriação do valor, a
reconfiguração do sistema financeiro internacional e gerou a
possibilidade de valorização fictícia do capital na
órbita financeira ao longo das 24 horas do dia, em função
da interconexão das praças financeiras, viabilizada pela
internet, satélites e fibras óticas.
Para compreendermos essas mudanças, seu impacto no conjunto do sistema
capitalista, além da relação com a crise sistêmica
global, é fundamental avaliarmos separadamente cada um desses
fenômenos, apenas para efeito analítico, uma vez que as esferas
produtivas e financeiras e o conjunto de outras mudanças que ocorrem no
sistema são partes constitutivas do capitalismo monopolista atual. Mas
antes é necessário enfatizar que, ao contrário das duas
grandes transformações produtivas anteriores (a primeira e a
segunda revolução industrial), quando ocorreu um
extraordinário desenvolvimento das forças produtivas, o sistema
capitalista atual se encontra numa grave encruzilhada, pois está cada
vez mais impossibilitado de desenvolver todo o potencial dessas novas
forças produtivas em função de suas
limitações estruturais, que podem ser expressas na
insuficiência de demanda efetiva tanto de consumo produtivo quanto de
consumo das famílias e na superacumulação de capitais,
cuja expressão é a fuga para frente da
financeirização da riqueza e do frenesi especulativo global,
elementos que foram os principais detonadores da crise sistêmica global.
Vejamos cada um desses fenômenos para compreendermos a dinâmica da
crise.
a) A internacionalização da produção
O sistema capitalista, desde seus primórdios, sempre teve
vocação internacional, pois a própria natureza da
concorrência conduz à renovação constante das
forças produtivas e à necessidade de ampliação da
demanda e ocupação de novos espaços geográficos
[4]
. No entanto, a dimensão internacional do capitalismo só pode ser
considerada plena após o processo de internacionalização
da produção e das finanças. Se avaliarmos toda a
história do desenvolvimento desse modo de produção,
poderemos observar que esse sistema conquistou o mundo de uma maneira muito
peculiar: primeiro, eliminou a ordem feudal e instituiu as
relações capitalistas na produção; depois, a
indústria hegemonizou as relações de
produção na época concorrencial, levando à
mecanização das fábricas e à primeira
revolução industrial. Posteriormente, deu um salto de qualidade
com a união dos capitais bancário e industrial, a
reorganização do sistema produtivo e a constituição
dos monopólios, período em que as grandes empresas passaram a
dominar a vida econômica e ocupar as nações
periféricas em busca de matérias-primas. Emergia desse processo a
segunda revolução industrial. Mas a plenitude da
internacionalização capitalista só pode ser considerada
completa quando as grandes corporações transnacionais passaram a
extrair o valor, de maneira generalizada, fora de suas fronteiras nacionais,
[5]
mediante a produção direta nos países
periféricos, através de milhares de filiais instaladas em todos
os continentes.
Ao contrário do que muitos imaginam, o processo de
globalização da produção é um fenômeno
típico do capitalismo contemporâneo, fruto do próprio
desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e da busca de novas
oportunidades de valorização do capital, em função
da mão-de-obra e matérias-primas baratas, além de
vantagens creditícias e fiscais nos países hospedeiros. A partir
de meados da década de 50 pode-se verificar um movimento contínuo
das transnacionais no sentido de expandir sua produção para as
nações da periferia. Esse movimento foi realizado levando em
conta as regiões em que existia certa estabilidade política, uma
mão-de-obra mais organizada e com certo grau de estudo, sem problemas
tribais, guerras ou disputas territoriais, além de fontes de
matérias primas abundantes. O movimento das transnacionais não
ocorreu apenas no eixo centro periferia: entre os próprios
países centrais verificou-se também uma grande
interpenetração de capitais transnacionais, configurando-se um
processo próximo a uma remonopolização global do capital e
posterior consolidação de esferas de influência dos
países centrais a partir dos grandes blocos econômicos e tratados
comerciais.
Pode-se dizer que duas décadas depois, o processo de
internacionalização da produção já estava
maduro, com as corporações transnacionais presentes em todo o
planeta mediante a presença de suas filiais nos mais variados ramos de
produção. Essa nova performance colocou o processo de
industrialização mundial num novo patamar, de forma a que as
empresas transnacionais passaram a ter a possibilidade de produzir de acordo
com as melhores disponibilidades de matérias primas, mão de obra
cada e produtividade de cada País, sempre objetivando alcançar as
maiores taxas de lucro. Com a produção padronizada e
flexibilizada, cada unidade empresarial passou a ter condições de
produzir as peças de acordo com o planejamento da empresa matriz,
racionalizando de maneira extraordinária o processo produtivo mundial.
Estavam assim construídas as bases para as mudanças profundas que
viriam a ocorrer no sistema produtivo com a introdução das
tecnologias da informação, da internet, da microeletrônica,
robótica e novos materiais, entre outros.
Essa nova base industrial capitalismo, mais sofisticada e mais diversificada,
consolidou-se nos anos 80 e 90, proporcionando um salto de qualidade ao sistema
capitalista. A partir da introdução e amadurecimento desses novos
ramos industriais, esse modo de produção passou novamente por uma
grande transformação, uma vez que as novas tecnologias vieram
revolucionar as forças produtivas e produzir um conjunto de
fenômenos novos em todas as esferas da economia e da vida social. As
tecnologias da informação, a generalização dos
computadores, a internet, a engenharia genética e a biotecnologia, a
nanotecnologia e os robôs inteligentes comandando as máquinas
ferramentas alteraram de maneira radical o chão das fábricas e
empresas em geral, além do perfil do proletariado temas que
iremos abordar em outra seção.
b) A internacionalização das finanças
O processo de internacionalização das finanças ocorreu no
mesmo período da internacionalização da
produção, até mesmo porque os grandes bancos dos
países centrais já estavam umbilicalmente ligados aos
monopólios produtivos. A internacionalização financeira
cresceu rapidamente porque absorveu um conjunto de novas tecnologias, como os
satélites, a generalização dos computadores, as fibras
óticas e, especialmente, a internet. Contou ainda com uma série
de mudanças econômicas e políticas que ocorreram nos
países centrais, como o enfraquecimento do Estado do Bem Estar Social, a
emergência política de Ronald Reagan e Margareth Tatcher,
respectivamente nos Estados Unidos e na Inglaterra, e a posterior
desregulamentação da economia, cujo elemento mais fundamental
para a órbita financeira foi a instituição do rentismo em
praticamente quase todos os países e a livre mobilidade dos capitais.
Esse conjunto de fenômenos possibilitou às finanças
não só um extraordinário desenvolvimento, mas
principalmente certa hegemonia nos negócios do grande capital e relativa
autonomia em relação à órbita produtiva.
Vale destacar que a ordem financeira construída em Bretton Woods
começou a desmoronar a partir dos crescentes déficits no
balanço de pagamentos dos Estados Unidos, o que levou o governo do
presidente Richard Nixon a decretar o fim da paridade entre o ouro e o
dólar em 1971. Diante do fato consumado, o sistema financeiro
internacional, após algum período de hesitação,
passou a ser administrado pelo cambio flutuante, prática que foi
legalizada a partir de 1976 pelo Fundo Monetário Internacional. Ainda na
primeira metade da década de 70 o sistema financeiro internacional
passou por um grande processo de mudanças, impulsionado pela
privatização da liquidez internacional e pela
consolidação do mercado de eurodólares, especialmente
após a crise do petróleo do final de 1973. Este mercado foi o
principal responsável pela reciclagem dos petrodólares e pela
dinamização do crédito internacional privado,
especialmente para os países da periferia, cujo principal resultado foi
o extraordinário endividamento desses países e, posteriormente, a
primeira grande crise financeira do pós-guerra.
[6]
Mas a mudança de qualidade de atuação do sistema
financeiro internacional ocorreu a partir de 1979, com a
administração de Paul Volcker no comando do Federal Reserve (FED)
dos Estados Unidos. Diante de uma inflação crescente, Volcker
implementou uma política de aumento das taxas de juros buscando atingir
dois objetivos estratégicos: deter o processo inflacionário e a
desvalorização do dólar.
[7]
Com a reorientação neoclássica da política
monetária, o presidente do FED atingiu os objetivos a que se
propôs, ou seja, reduziu a inflação e restaurau a hegemonia
do dólar, uma vez que, em função das elevadas taxas de
juros, os capitais voltaram a migrar para os Estados Unidos. O exemplo da
política monetarista norte-americana foi posteriormente sendo assimilado
pelas economias dos países centrais. Abandonaram as políticas
keynesianas de estímulo ao crescimento econômico e do emprego para
eleger o combate à inflação como estratégia geral
da política econômica.
[8]
A nova estratégia se transformou em política geral do grande
capital internacional com a eleição de Tatcher e Reagan. A
eleição destes dois personagens representou uma mudança
profunda na correlação de forças internacional e entre os
vários segmentos do grande capital: a oligarquia parasitária,
mais ligada ao capital especulativo, passou a hegemonizar o poder nos Estados
Unidos e nos países centrais. Subordinou todos os outros setores
à lógica das finanças, resultando numa hegemonia que durou
cerca de três décadas. Nesse processo, o sistema capitalista em
geral, desde os países centrais até os mais distantes
rincões da periferia, passou por um intenso processo de
desregulamentação da economia, com uma ofensiva geral contra
salários, direitos e garantias dos trabalhadores,
liberalização financeira, fim do controle dos preços e
livre mobilidade dos capitais e privatização das empresas
públicas. Essa política era combinada com a retirada do Estado da
economia que, para os monetaristas, era a causa central de todos os problemas
econômicos.
A nova conjuntura proporcionou ao polo financeiro do grande capital um enorme
poder sobre o conjunto da política econômica e os banqueiros em
geral sentiram-se de mãos livres para criar novos "produtos
financeiros" cada vez mais sofisticados, num frenesi especulativo que
culminou num descolamento cada vez maior entre a órbita produtiva e a
esfera das finanças. Especulação com moedas, taxas de
juro, metais, produtos agrícolas e um conjunto infinito de novas
variáveis, a partir da criação dos
derivativos,
e securitização de dívidas públicas e privadas
tornaram-se as fontes privilegiadas dos negócios na órbita
financeira. A criatividade da oligarquia financeira parecia não ter
limites: para se ter uma ideia, antes da crise de 2008, o volume de recursos
que circulava na esfera das finanças era cerca de 10 vezes maior que o
PIB mundial,
[9]
fato que por si só já prenunciava um ambiente em que o resultado
não poderia ser outro que uma grande crise global, uma vez que o
processo especulativo contaminou praticamente todas as economias ligadas
à economia líder.
Novas tecnologias e impactos na base produtiva
As mudanças tecnológicas profundas que ocorreram no interior do
sistema capitalista, tais como as tecnologias da informação
(telecomunicações, satélites,
universalização dos computadores, internet e plataformas
digitais, telefonia móvel), a microeletrônica, a robótica,
a engenharia genética, a biotecnologia, nanotecnologia, além de
elementos de inteligência artificial, alteraram radicalmente a estrutura
produtiva do capitalismo. Relegaram a um segundo plano os ramos industriais
típicos da segunda revolução industrial, como a
metal-mecânica, a química fina e os plásticos. Da mesma
forma que a energia elétrica, o telégrafo, o telefone e os
motores a combustão revolucionaram o sistema capitalista e
contribuíram decisivamente para a emergência do capitalismo
monopolista e o domínio das grandes empresas em cada ramo de
produção, esses novos ramos industriais, especialmente as
tecnologias da informação, a engenharia genética e a
biotecnologia, cumprem o mesmo papel nessa fase do capitalismo.
[10]
Se analisarmos o capitalismo hoje, do ponto de vista da inovação,
poderemos observar que as tecnologias da informação fazem parte
de todos os processos da atividade econômica, quer na área
produtiva, comercial, financeira e de serviços em geral. O planejamento
industrial, o desenho do produto, a produção, as
relações com os fornecedores, a administração e as
vendas são todos permeados pelas tecnologias da
informação. Os robôs programáveis estão
presentes no chão da fábrica e cumprem um papel cada vez mais
determinante nos processos produtivos das grandes empresas. Nos circuitos
comerciais, os estoques, a distribuição, a estrutura de vendas e
a reposição cotidiana dos produtos são feitos a partir de
softwares sofisticados que possibilitam à administração
central controlar o fluxo de mercadorias, o volume de vendas e os lucros em
tempo real. Além disso, o comércio eletrônico vem
revolucionando o comércio mundial e ocupando cada vez mais os
espaços do varejo tradicional. Muitos analistas acreditam que num
espaço de tempo não muito distante o comércio
eletrônico deverá superar o volume de vendas das lojas e
supermercados.
Na área financeira, o processo de automatização
bancária, alavancado pelas tecnologias da informação,
possibilitou a interconexão entre matrizes, agências
bancárias e clientes, de forma que, de qualquer parte do mundo, se pode
sacar dinheiro, pagar contas, fazer depósitos e realizar
aplicações financeiras. As tecnologias da
informação possibilitaram a interconexão entre as diversas
praças financeiras mundiais, o que possibilitou a que os negócios
nas bolsas de valores e nos diversos mercados se convertessem numa arena
especulativa global, nos quais comprar ou vender ações de
qualquer empresa, especular com moedas, câmbio, ouro, produtos
agrícolas transformou de maneira radical a configuração
dos mercados financeiros internacionais, especialmente com a emergência
dos derivativos, cujos títulos ganharam uma dimensão tão
extraordinária que passaram a hegemonizar os negócios na
órbita das finanças.
A revolução das tecnologias da informação
não afetou apenas os setores produtivos, comerciais e financeiros, mas
atingiu toda a vida social da humanidade. Os meios de
comunicações e as transmissões por satélites, os
computadores e a emergência da internet e da telefonia móvel
transformaram efetivamente o mundo naquilo que Marshall McLuhan denominou nos
anos 60 de aldeia global. A internet permitiu uma democratização
do conhecimento tão elevada que só não alcança toda
a humanidade em função das limitações de classe do
sistema capitalista. Hoje, a maior parte do conhecimento produzido no planeta
está disponível na internet. Com um computador, um tablet ou
smart fone as pessoas podem acessar vários trilhões de
informações em todos os ramos do conhecimento, desde as
plataformas científicas das universidades até os principais
museus do mundo, realizar compras e interagir com qualquer pessoa em qualquer
parte do planeta em tempo real, mediante mensagem de texto ou de voz. As
tecnologias da informação têm hoje um impacto muito maior
do que a invenção da imprensa por Gutemberg no século XVI.
A engenharia genética e a biotecnologia também causaram profundas
alterações na base produtiva do capitalismo. Se observarmos todo
o setor agrícola e de pecuária, poderemos constatar que esses
ramos produtivos fundamentais para a sobrevivência da humanidade
estão profundamente marcados pelas inovações
tecnológicas oriundas dos desenvolvimentos genéticos e
biotecnológicos. Quase toda a produção mundial de
grãos, legumes e verduras é resultado de melhoramentos e ensaios
realizados por pesquisadores das universidades, institutos de pesquisa e
empresas públicas e privadas, fato que resultou no aumento
extraordinário da produção e da produtividade
agrícolas, muito embora os monopólios tenham se apropriado
não só do saber milenar dos povos originários, mas do
próprio processo de produção de sementes, adubos,
defensivos agrícolas e do comércio em escala mundial. Além
disso, a produção biotecnológica dos fármacos
está bastante desenvolvida e tem produzido impactos fundamentais na
indústria farmacêutica e pode, no médio prazo, hegemonizar
a produção farmacêutica mundial.
De forma semelhante, os melhoramentos genéticos alteraram profundamente
a produção de proteína animal, tanto bovina, como de aves
e peixes. Hoje se produz frangos de corte em menos de 40 dias, quando no
passado se levava cerca de seis meses para que uma ave estivesse pronta para o
abate. A carne bovina está hoje muito mais disponível em
função da redução do tempo de abate do gado, que
foi diminuído de quatro para cerca de dois anos. Há ainda uma
crescente indústria de pescado com a produção realizada em
tanques artificiais, que mais parecem uma linha de produção, e
que já vem respondendo por parcela significativa do consumo de peixes e
crustáceos. Em função dessas transformações
ocorridas a partir dos melhoramentos genéticos, pode-se dizer que a
produção de proteína animal mais que quintuplicou nas
últimas cinco décadas.
A microeletrônica também teve um papel fundamental para alavancar
o processo de mudanças que ocorreu no interior do sistema produtivo,
mediante a redução do tamanho dos bens de consumo e
miniaturização das peças, cujo exemplo mais significativa
são os
chips
não só dos computadores, mas de uso generalizado em praticamente
todos os bens de consumo duráveis. A robótica também
está generalizadamente instituída tanto no chão das
fábricas, quanto nos setores comerciais, financeiros e de
serviços em geral, ressaltando-se o fato de que na área comercial
a leitura ótica agilizou de maneira expressiva o fluxo de vendas no
comércio. Outro dos elementos que ainda não está
plenamente integrado, mas que já vem sendo utilizado em larga escala
pelas indústrias e vários setores econômicos é a
nanotecnologia. Quando sua utilização estiver plena na atividade
econômica poderemos ter mudanças tão significativas na base
produtiva quanto as resultantes das tecnologias da informação
neste momento.
O significado das transformações
Esse conjunto de fenômenos novos produziu também uma plêiade
de modificações tanto objetivas quanto subjetivas nas
relações econômicas, sociais, políticas e culturais
no sistema capitalista. As mudanças, comandadas pelas tecnologias da
informação, biotecnologia e engenharia genética e a
microeletrônica, alteraram de maneira radical a base produtiva do
capitalismo, de forma semelhante às duas revoluções
industriais anteriores. Vale ressaltar que a primeira revolução
industrial fez emergir a mecanização das fábricas e a
produção em massa, deslocando os homens práticos para
simples apêndices do sistema produtivo. A segunda revolução
industrial e a emergência do capitalismo monopolista, possibilitaram a
formação das grandes empresas e a construção das
linhas de produção. Esse processo consolidou novos ramos
industriais como a metal-mecânica, a química e os
plásticos, resultando na produção generalizada dos bens de
consumo duráveis e num impulso gigantesco para o desenvolvimento das
forças produtivas.
[11]
Mais especificamente, a internacionalização da
produção teve impactos profundos na economia capitalista. Pela
primeira vez na história, a burguesia dos países centrais passou
a extrair, de maneira generalizada, o valor fora de suas fronteiras nacionais
[12]
, tornando assim uma classe exploradora direta tanto dos trabalhadores da
periferia quanto dos próprios países industrializados.
Anteriormente, o valor era capturado através do comércio
internacional e da exportação de capitais. No primeiro caso, os
países periféricos vendiam matérias-primas para os
países centrais e compravam destes os produtos industrializados, gerando
assim o que Samir Amin denominou de troca desigual, pois a produtividade dos
produtos manufaturados é maior que a dos produtos de origem
agropecuária ou mineral. No segundo caso, os países centrais se
apropriavam dos juros e das remessas de lucro em função dos
capitais investidos ou dos financiamentos realizados na periferia. Dessa forma,
somente com a internacionalização da produção, o
capitalismo se transformou efetivamente num sistema mundial completo.
Essa nova configuração do capitalismo, com a interconexão
orgânica de sua base produtiva, transformou o mundo numa imensa fonte de
matérias-primas e mão de obra à sua
disposição do capital, possibilitou a padronização
das peças e a produção descentralizada dos bens e
transformou os velhos monopólios em corporações
transnacionais, que passaram a operar diretamente no interior de cada
País. Na prática, tornaram-se destacamentos avançados do
grande capital, com influência direta na formulação e
operação de políticas econômicas das
nações onde se instalaram, especialmente na periferia. A
internacionalização da produção possibilitou
também o surgimento de um fenômeno novo na dinâmica
macroeconômica global: a emergência de um ciclo único do
capitalismo, transformando as crises, que antes eram localizadas em
países ou regiões, em crises mundiais e cortando assim as rotas
de fuga do capital para áreas sem crises.
Outro dado a se constatar é o fato de que as forças produtivas
nas últimas sete décadas, especialmente no último meio
século, criaram uma capacidade de produção tão
extraordinária que deixaram o sistema com reduzidas possibilidades de
desenvolver todo seu potencial, fato que o aproxima de seu limite de
reprodução, dado à superacumulação de
capitais e insuficiência de demanda por bens de produção e
bens de consumo. Essa debilidade explica, em boa parte, o fenômeno da
financeirização da riqueza ou a fuga para frente do capital
buscando valorizar artificialmente esses recursos na órbita financeira
através do frenesi especulativo. Sem condições de
aterrisagem no chão das fábricas, uma vez que isso levaria a uma
gigantesca crise de superprodução de mercadorias, o capital
empreendeu essa aventura desesperada para a órbita da
circulação imaginando escapar da lei do valor, mas isso apenas
adiou a crise sistêmica global, que viria a se manifestar em 2007-2008.
Em outras palavras, a fuga para a financeirização é uma
espécie de contraponto funcional à incapacidade do sistema de
desenvolver plenamente toda sua potencialidade de produção
mediante o pleno funcionamento dos novos e sofisticados ramos produtivos. As
modificações também obrigaram o grande capital a realizar
uma espécie de remonopolização burguesa, cujos exemplos
mais significativos são as fusões e aquisições que
ocorreram em escala global e que modificaram completamente o perfil
societário do grande capital. Se avaliarmos o capitalismo hoje, é
fácil constatar que os velhos monopólios do final do
século XIX, inicio do século XXI, já não
compõem mais a parte hegemônica do sistema capitalista. Foram
substituídos, na maioria dos setores produtivos, financeiros e
comerciais, por novos monopólios, mais sofisticados e mais ávidos
por lucros, em plena sintonia com os postulados neoliberais, cuja ofensiva vem
buscando refundar todos os estatutos da dominação, numa
espécie de vingança histórica de classe contra o mundo do
trabalho.
[13]
As transformações também tiveram grande impacto no mundo
do trabalho, com a mudança expressiva do perfil dos trabalhadores. Como
os novos ramos industriais têm elevado grau de sofisticação
tecnológica, necessitou também de uma mão-de-obra
qualificada e especializada, o que deslocou para segundo plano o tradicional
proletariado da segunda revolução industrial. Entrou em cena um
novo proletariado, constituído pelos trabalhadores na indústria
da informática, telecomunicações, telemática,
plataformas digitais, desenvolvedores de softwares, engenheiros e
desenvolvedores da indústria biotecnológica e da engenharia
genética. Esse novo proletariado, mais jovem e mais instruído,
pode ser considerado o contraponto do novo padrão tecnológico do
capital.
As transformações na base produtivas também foram
acompanhadas de modificações profundas na área financeira.
O processo de internacionalização das finanças seguiu
passos semelhantes e marcou de maneira profunda o sistema capitalista,
ressaltando- se que o polo financeiro do capital absorveu de maneira plena as
novas tecnologias, especialmente a internet, e registrou um desenvolvimento sem
precedente em toda a sua história. Pela primeira vez, o setor financeiro
conseguiu superar a barreira do espaço e do tempo econômico e
conseguiu autoacrescentar o capital fictício nas 24 horas do dia,
bastando para tanto ajustar seus negócios aos fusos horários das
diversas praças financeiras mundiais. Esse processo transformou o polo
financeiro no centro hegemônico dos negócios internacionais, a
partir do momento em que consolidou a privatização da liquidez
internacional com o mercado de eurodólares, ampliando esse processo com
a desregulamentação e a livre mobilidade dos capitais. Nessa
conjuntura, não foi difícil para o setor financeiro exercer sua
imensa criatividade especulativa para transformar o mundo num imenso cassino.
Os bancos tradicionais foram cedendo espaço para novas
organizações financeiras, mais ousadas e mais agressivas, cujas
operações apresentavam a vantagem de não estar amarrada
às regulações como as instituições
bancárias.
[14]
Dessa forma, as aplicações especulativas se transformaram na
dinâmica principal da economia capitalista. Na sua saga para se apropriar
de alguma forma de valor, o capital fictício aprisionou em suas malhas
tanto as empresas produtivas quanto o orçamento do Estado.
a) No primeiro caso, os fundos financeiros ampliaram sua
participação na gestão das empresas produtivas e
transformaram a lógica do planejamento de longo prazo em
estratégia de curto prazo, própria das finanças, de forma
a fazer com as empresas se reorganizassem para apresentar resultados cada vez
mais robustos para os acionistas. Esse processo explica a
reestruturação produtiva, a reengenharia e os círculos de
controles da produção e da qualidade, as demissões em
massa de trabalhadores e a gestão das empresas por critérios das
finanças, onde os departamentos financeiros dessas
corporações passaram a ter um papel decisivo na performance das
empresas, uma vez que grande parte dos resultados são obtidos na
especulação financeira.
[15]
b) O Estado também caiu nas malhas do capital fictício, mediante
o aumento da dívida pública e das elevadas taxas de juros
cobradas pelo setor financeiro. Como os novos agentes financeiros ofereciam
financiamento em abundância com maiores facilidades burocráticas
e menores custos de transação, o Estado foi-se endividando
continuamente a partir de uma política orientada pelos novos gestores
políticos ligados ao neoliberalismo. Assim, uma parcela cada vez maior
do orçamento foi sendo desviada para pagar os juros e
amortizações da dívida pública até o ponto
em que os próprios financiadores passaram a ditar o destino das
políticas econômicas dos Estados.
A hegemonia das finanças teve como consequência
macroeconômica um descolamento cada vez maior entre a órbita
produtiva e a esfera financeira. Todos pareciam embriagados com o milagre da
multiplicação dos lucros nas bolsas de valores e nos mercados de
moedas, câmbio, metais, produtos agrícolas e, especialmente, nos
chamados mercado de títulos derivativos, este último o suprassumo
da especulação. Como se sabe, uma conjuntura dessa ordem,
especialmente num ambiente de integração eletrônica dos
mercados, os riscos sistêmicos e as rupturas de liquidez podem se
propagar na velocidade da luz, podendo levar o sistema ao colapso, até
mesmo porque a produção do valor é pouco expressiva diante
das necessidades de valorização desses capitais fictícios.
Sem bases reais de valorização, qualquer crise gera pânico
e se propaga também com uma velocidade extraordinária , como
aconteceu em 2008.
Esquecendo as lições do passado
A dimensão das mudanças na dinâmica do sistema capitalista
e os riscos inerentes a uma grande crise não passaram despercebidos
pelas mentes mais ilustradas dos gestores do capital. Eles tentaram reorganizar
o capitalismo, mediante a radicalização dos mecanismos de
mercado, a reestruturação produtiva, a
desregulamentação e a livre mobilidade dos capitais, mas essas
medidas contribuíram muito mais para acirrar as
contradições do que para resolver os problemas colocados pela
nova conjuntura. É um dado da realidade o fato de que as reformas
realizadas no bojo da construção do pacto social-democrata do
Estado do Bem Estar Social após a Segunda Guerra contribuíram
para a instituição do mais longo período de crescimento e
estabilidade do capitalismo, os chamados 30 anos gloriosos. A partir da segunda
metade da década de 70, com a crise econômica de 1974-1975, a
estagflação e o desemprego crônico, essa
construção começou a ser questionada. A
eleição de Tatcher e Reagan foi decisiva para a derrota do pacto
social-democrata. Em seu lugar, instituiu-se uma nova política
econômica inteiramente contrária aos postulados keynesianos, a
partir dos países centrais, e que se tornaria hegemônica
até os dias atuais.
Como na fábula do escorpião e do sapo,
[16]
o capitalismo não pode negar o seu DNA. O intervalo das três
décadas de concessões aos trabalhadores foi apenas uma
tática em função da fragilidade com que o sistema saiu da
segunda guerra. Tão logo reuniu condições para retomar seu
curso natural, buscou desmantelar todo o arcabouço construído
quando estava frágil, investiu contra os gastos públicos, os
salários dos trabalhadores e os proventos dos pensionistas. Sem
condições para atuar na economia real, buscou uma fuga
desesperada para a órbita das finanças, além de tentar
construir uma economia de serviços, centrada na
especulação financeira. Durante algum tempo essa política
conseguiu levar ao delírio os setores hegemônicos do capital, mas
a crise sistêmica global veio demonstrar que essa a aventura era apenas
uma miragem.
Realmente, parece que os capitalistas têm memória muito curta:
esqueceram-se rapidamente da Grande Depressão, da divisão do
mundo em dois sistemas e das próprias concessões que foram
obrigados a fazer no pós-guerra para poder sobreviver. Olvidaram-se
também de que o sistema foi salvo por Keynes e sua política de
intervenção do Estado na economia e gastos sociais. Como o
escorpião da fábula, seguiram caminho inverso na crise
sistêmica atual, mesmo sabendo que a crise já dura mais de nove
anos e que até agora não se encontrou uma saída para os
problemas colocados. Nessa perspectiva, os capitalistas ampliaram as medidas de
expropriação dos trabalhadores, o corte nos gastos
públicos e nas aposentadorias e levaram o mundo à
recessão, e à queda na renda
[NR]
dos trabalhadores, tudo isso para continuar privilegiando uma minoria
parasitária, enquanto a maioria da população está
mergulhada no desemprego e na piora das condições de vida.
Mas a estratégia capitalista, apesar de prejudicar a qualidade de vida
dos trabalhadores e da população em geral, tornou mais clara e
aberta a luta de classes em todo o mundo. No período dos chamados 30
anos gloriosos, a luta de classes ficara ofuscada pelo ambiente social e
político do pacto social. Os trabalhadores conquistaram um conjunto de
direitos e garantias que aumentaram os salários e melhoraram suas
condições de vida e do trabalho, especialmente nos países
centrais. Entretanto, nas três décadas depois da
implantação do neoliberalismo, o capitalismo voltou e demonstrar
sua verdadeira face, com aumento da exploração e
concentração de renda. Para se ter uma ideia, o contingente
representado pelo 1% mais rico da sociedade hoje tem renda
[NR]
superior aos 99% da população e apenas 62 multibilionários
possuem mais renda
[NR]
que a metade população mais pobre do mundo, segundo
relatório da Oxfan.
[17]
Mesmo nessas condições, a minoria parasitária continua
radicalizando o processo de exploração, o saque ao fundo
público, as políticas predatórias contra trabalhadores e
pensionistas e avançando sobre direitos e garantias conquistados com
sangue no passado. Toda essa conjuntura torna mais acirrada a luta de classes
e mais didática as luta contra o capital, o que prenuncia um quadro de
duras lutas sociais em todo o mundo.
O choque das placas tectônicas
As transformações profundas que ocorreram na base produtiva,
financeira, comercial e de serviços em geral estão exigindo novas
relações de produção no conjunto do sistema
capitalista como ocorreu nas duas grandes crises sistêmicas anteriores.
[18]
Estamos em meio ao esgotamento de um longo ciclo do capital iniciado
após a Segunda Guerra Mundial e a uma rebelião generalizada da
base material do capitalismo contra a velha ordem construída no
pós-guerra, cujos fundamentos são inadequados para esse novo
patamar de acumulação do sistema. Isso explica em grande parte o
fracasso das políticas implementadas pelos gestores do capital para sair
da crise, uma vez que as velhas fórmulas aplicadas no passado não
resolvem os problemas do presente. Como afirmávamos em trabalhos
anteriores, esta crise é profunda, devastadora e de longa
duração e somente será superada quando os problemas
levantados pela própria crise foram solucionados.
[19]
Em outros termos, a crise só será revertida com mudanças
também profundas na ordem econômica, social e política
capitalista ou com a emergência de uma nova ordem fundada na propriedade
social dos meios de produção.
Até agora, os governos dos países centrais conseguiram reduzir os
impactos mais devastadores da crise, mediante um conjunto de medidas que,
apesar de negarem toda a ideologia e a trajetória neoliberal do
período anterior, foram fundamentais para evitar o colapso da economia.
Entre essas medidas podem se destacar: a injeção de cerca de 13
trilhões de dólares para salvar os bancos no período
imediatamente posterior à crise,
[20]
a implantação das taxas de juros negativas e uma forte
intervenção do Estado na economia, induzindo fusões e
aquisições, encampando corporações quebradas e
comprando títulos podres do sistema financeiro. Posteriormente, tanto o
Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu, realizaram novas
injeções de moeda na economia, através das chamadas
flexibilidades quantitativas
(quantitative easing),
mas nada disso foi suficiente para reverter a crise. Essas medidas foram
objeto de intensa manipulação por parte de uma vasta rede mundial
de comunicações, com o objetivo de distorcer
informações e criar um clima de otimismo artificial, de forma a
evitar que os trabalhadores e a população em geral tomassem
conhecimento da gravidade da crise e passassem a questionar as autoridades
políticas.
É bem verdade que a crise fez grandes estragos no sistema financeiro,
muitas
instituições desapareceram, mas o grosso desse oligopólio
sobreviveu, se fortaleceu e, por incrível que pareça, continuou a
política especulativa global, criando bolhas nas bolsas de valores e nos
mercados em geral, inclusive nos países da periferia, e obtendo elevados
lucros com o dinheiro praticamente doado pelas autoridades monetárias. A
crise também provocou forte recessão nos Estados Unidos, na
Europa e Japão e em muitos países da periferia, mas esse processo
não se tornou mais grave porque o elevado crescimento da China (em torno
de 10% do PIB ao ano) serviu para suavizar a recessão nos países
centrais e, especialmente nos países emergentes, em função
das importações do mercado chinês e da forte demanda de
matérias-primas por parte da sua indústria. Ressalte-se que a
China é responsável por cerca de 30% do crescimento mundial e
por 16% da produção global, o que explica o papel da economia
chinesa na redução da crise naquele período.
[21]
Mas a conjuntura mudou bruscamente desde o ano passado porque todos os
mecanismos institucionais e financeiros utilizados para reduzir a crise
começaram a se esgotar. Parece consensual o fato de que a
impressão pura e simples de dinheiro pelos bancos centrais,
solução mágica sugerida por Friedman (jogar dinheiro de
helicóptero), não surtirá mais efeito algum, pois a
quantidade de moeda lançada na economia não só não
reverteu a crise como está se constituindo numa bomba de efeito
retardado. Inundar a economia com dinheiro a partir do nada, com os mercados
já saturados pelo processo de emissão anterior, só
aprofundaria a crise, com a emergência de novas bolhas especulativas,
inflação e desvalorizações monetárias. Se a
impressão de dinheiro sem lastro resolvesse as crises, o capitalismo
seria um regime eterno. Portanto, esta rota de fuga está fechada.
O segundo movimento que ajudou a reduzir os efeitos da crise, o crescimento
acelerado da China, também mudou bruscamente. Agora a economia chinesa
está se desacelerando e o Produto Interno Bruto chinês
deverá cair para algo próximo da metade do que vinha apresentando
até 2014, ou seja, em torno de 5 ou 6%. A redução do ritmo
de crescimento chinês levou a uma queda brusca nos preços das
commodities, com impactos bastante negativos entre as economias emergentes,
principais exportadoras de matérias-primas, além de reduzir as
vendas para o mercado chinês. Comparado com a performance de outros
países, os 6% do PIB seria um crescimento vigoroso, mas nas
circunstâncias da conjuntura mundial atual, esse é um golpe muito
forte para a economia do planeta, dado os impactos macroeconômicos de uma
redução desse nível na cambaleante economia global. Nessas
circunstâncias, a rota de fuga do crescimento chinês também
está cortada.
Se as duas grandes variáveis que evitaram o colapso do sistema
capitalista estão esgotadas, não deveria ser surpresa para
ninguém que estejamos nos aproximando de um momento definitivo da crise,
quando os efeitos do choque das placas tectônicas do capital, ou seja, as
contradições mais profundas do sistema chegarão à
superfície e levarão a outro momento da crise geral do sistema
capitalista, muito maior do que a sua explosão em 2008.
Recessão, crise bancárias e lutas sociais
Os fortes indícios desse novo quadro internacional já
estão bem visíveis, apesar do imenso poder manipulatório
dos meios de comunicação. Não se trata aqui de prever o
momento exato em que esse processo será detonado, mas elencar elementos
objetivos da conjuntura, alguns bastante divulgados pela mídia, outros
observados apenas nas entrelinhas e outros tantos baseados na experiência
histórica dos antecedentes das crises.
a) A crise do sistema bancário é muito grande, a começar
pelo Deutsche Bank, J. P. Morgan, Societé Generale, BNP Paribás,
UniCredit e Credit Suisse, HSBC, os bancos italianos, entre outros menores.
Todas essas instituições possuem grandes exposições
no mercado de títulos derivativos, bem como junto às empresas da
área de commodities e de energia que estão em dificuldades
econômicas. Como o mercado costuma precificar o desempenho das
instituições financeiras pelas expectativas em
relação ao futuro, nada mais natural que o preço das
ações dos bancos venha despencando em todo o mundo, movimento que
continuará à medida que a crise se agravar. Como o sistema
financeiro está praticamente todo interligado por dezenas de canais
especulativos e de crédito, uma quebra em um dos grandes bancos ou
grande empresa ligada a esses bancos pode acionar uma quebradeira geral, como
ocorreu com o Lehmann Bhothers em 2008;
b) A recente queda nas bolsas de valores em todo o mundo é um sintoma de
que a bolha especulativa, construída com dinheiro quase de graça
do FED e do BCE, está se desinflando. As bolsas são
instituições basicamente especulativas, mas não flutuam no
vácuo: elas têm ligação com a economia real e as
oscilações bruscas geralmente antecedem momentos difíceis
para a economia. Portanto, as oscilações bruscas no preço
das ações são também resultado das expectativas
pessimistas dos agentes econômicos diante da recessão mundial que
se avizinha nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e nos países
periféricos, além da redução do comércio
mundial, retração do crescimento da China e da possibilidade de
descumprimento do pagamento das dívidas públicas em
função da conjuntura adversa.
c) Os reflexos dessa conjuntura nos Estados Unidos podem ser observados na
crise do setor energético, em consequência da queda no
preço do petróleo; na crise do comércio varejista e ainda
na crise da infraestrutura do País, fato pouco comentado pela
mídia corporativa. O preço do petróleo, com uma queda de
mais de 75% de seu valor em relação a 2014, está
não só inviabilizando economicamente a indústria de
energia a partir do xisto, como tem levado à falência dezenas de
empresas nessa área. Vale ressaltar que o setor de energia teve um papel
anticíclico importante nos últimos anos nos Estados Unidos.
Diante da queda no ritmo da atividade econômica e a redução
dos salários, a crise também vem atingindo as cadeias varejistas,
todas elas muito sensíveis à questão da renda
[NR]
da população. O Wal-Mart, McDonald, Gap, Macy, Sears já
anunciaram o fechamento de centenas de lojas no País devido queda
acentuada no consumo da população.
d) Empresas ligadas ao comércio de commodities, como a Glencore, a maior
do mundo no ramo, Trafigura e Grupo Noble estão com grandes dificuldades
não só em consequência da queda nos preços das
commodities, mas especialmente porque todas elas estão expostas de
maneira muito acentuada no mercado de derivativos. Ressalte-se que os bancos
têm U$500 mil milhões em exposição com as empresas
de commodities. Nessa conjuntura, a teia de relações entre os
agentes econômicos dos mais variados setores da economia fornece mais
combustível para o agravamento da crise. Basta um elemento detonador
para que a crise se espalhe pelos circuitos do sistema, com as
consequências que todos podem imaginar.
Mas é necessário ressaltar que esses elementos da crise
representam apenas a ponta do iceberg de um processo muito mais profundo e
desestabilizador que é a crise do próprio sistema capitalista. O
sistema está doente e permanecerá enfermo enquanto todos os
problemas colocados pela crise não forem resolvidos. Estamos nos
aproximando daqueles momentos históricos em que a conjuntura pode mudar
com uma velocidade extraordinária e acontecimentos antes
impensáveis podem se transformar em fatos corriqueiros. Mesmo com toda a
ofensiva do capital, o quadro de aparente calmaria pode mudar bruscamente se as
massas se colocarem em movimento. Todas as revoltas sociais foram precedidas de
uma conjuntura de aparente calmaria, mas muita tensão social.
Vale lembrar que há um descontentamento generalizado da
população contra a ordem econômica, social e
política do capitalismo, sistema que funciona na prática apenas
para 1% dos mais ricos, enquanto os 99% são os perdedores na corrida
pela apropriação da renda. Há um descontentamento ainda
maior com a velha política, os políticos e partidos
tradicionais burgueses e o sistema representativo e institucional apartado do
povo. É um sentimento ainda difuso, mas pode se transformar em
mobilizações generalizadas com o agravamento da crise. As
condições em que essa minoria parasitária está
levando o mundo, em função da desigualdade e do aumento da
pobreza, inclusive nos países centrais, especialmente nos Estados
Unidos, se assemelha muito ao período anterior à
revolução francesa ou ao início do século XX,
quando a luta de classe se acirrou na Europa, resultando na
revolução bolchevique.
Numa conjuntura dessa ordem, o arcabouço institucional construído
nas últimas décadas poderá se desarticular, porque
está podre diante das necessidades de acumulação e de
novas relações de produção do sistema. Esse
é um processo que poderá abalar não somente os alicerces
da velha economia, mas também as instituições
políticas econômicas e sociais, além do poder das
frações do capital que hoje dirigem o sistema capitalista. A
crise poderá fazer emergir fenômenos nunca antes observados, em
função dos impactos da uma desarticulação global da
velha ordem, aliada a uma crise social e política de grandes
proporções. Nessa conjuntura não será surpresa a
emergência de manifestações das massas indignadas nas ruas
de Nova York, Los Angeles, Paris, Londres, Roma, Madri, Atenas, entre outras
principais cidades do mundo. Não está descartada a
emergência de uma situação revolucionária de
caráter global, cujo desfecho é muito difícil de prever,
dada a imponderabilidade da conjuntura.
[22]
Mas o mundo será bastante diferente quando esta crise terminar.
27/Maio/2016
[1] Apesar de muita polêmica sobre quem previu a crise econômica
mundial do capitalismo, vale registrar que foi o GEAB (Global Europe
Antecipation Bulletin) quem primeiro anunciou publicamente a possibilidade de
uma crise sistêmica global em seu boletim de fevereiro de 2006.
[2] Uma explicação mais completa sobre a diferença entre
crises cíclicas e crise sistêmica pode ser encontra em: Costa,
Edmilson. A crise econômica mundial, a globalização e o
Brasil. São Paulo: Edições ICP, 2013.
[3] Para melhor compreensão destes fenômenos, consultar: Moffitt,
Michael. O Dinheiro do mundo. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Michalet, C.
A. Capitalismo mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1984. Chesnais,
François. A mundialização do Capital. São Paulo:
Xamã, 1996. Chesnais, François et alli. A
mundialização Financeira. São Paulo: 1999. Chesnais,
François (org.) A finança mundializada. São Paulo:
Boitempo, 2005. Aglietta, Michel. Macroeconomia financeira. São Paulo:
Loyola, 2004. Costa, Edmilson. A globalização e o capitalismo
contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular. 2009.
[4] No Manifesto Comunista Marx já identificava essa tendência:
"A necessidade de um mercado em constante expansão para os seus
produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre ... A
burguesia, por sua exploração do mercado mundial, deu uma forma
cosmopolita à produção e ao consumo de todos os
países. Para grande pesar dos reacionários, roubou da
indústria a base nacional em que se assentava. As primitivas
indústrias nacionais foram aniquiladas ... São ultrapassadas por
novas indústrias ... Essas indústrias já não
trabalham matérias-primas nacionais, mas matérias-primas oriundas
das zonas mais afastadas e cujos produtos são consumidos no
próprio País, mas em todos os continentes ao mesmo tempo"
[5] Um dos estudos pioneiros do processo de internacionalização
da produção pode ser encontrado em: Michalet, Charles-Albert.
Capitalismo mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1984.
[6] Moffitt, Michael. O dinheiro do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984
[7] Moffit, op. cit.
[8] Phihon, Dominique. Desequilíbrios mundiais e instabilidade
financeira. A responsabilidade das políticas neoliberais. Um ponto de
vista keynesiano.
In
Mundialização Financeira (coordenado por François
Chesnais). São Paulo: Xamã, 1999.
[9] BIS (Banco de Compensações Internacionais). OTC derivatives
Market. Activity in the half of 2009. Disponível em;
www.bis.org
. Acesso em 20 de novembro de 2009.
[10] Para compreender melhor as mudanças profundas provocadas pelas
tecnologias da informação e, especialmente, pela internet,
consultar: Castells, Manual. A galáxia da internet. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2003.
[11] Esta seção está baseada fundamentalmente em: Costa,
Edmilson. A globalização e o capitalismo contemporâneo.
São Paulo: Expressão Popular, 2009.
[12] O primeiro autor a se referir à produção do valor
fora das fronteiras nacionais foi Michalet: Charles-Albert. Capitalismo
mundial. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, muito embora esse autor não
estivesse se referindo ao processo de globalização.
[13] Costa, Edmilson. Para onde vai o capitalismo. Notas sobre a
globalização neoliberal e a nova fase do capitalismo. In
São Paulo: Aduaneiras, 2004.
[14] Guttmann, Robert. As mutações do capital financeiro. In A
mundialização financeira: gênero, custos e riscos.
São Paulo: Xamã, 1998.
[15] Serfati, Claude. O papel ativo dos grupos predominantemente industriais na
financeirização da economia. In A mundialização
financeira (coordenação de François Chesnais). São
Paulo: Xamã, 1998.
[16] Conta a fábula que o escorpião estava à beira de um
rio e queria atravessá-lo, mas como não sabia nadar, se entrasse
na água morreria. Foi então que chegou um sapo ao rio e o
escorpião pediu-lhe uma carona. Hesitante, o sapo perguntou se ele
não o mataria durante a travessia. Prontamente o escorpião
respondeu: não poderei matá-lo porque também morreria
afogado. O sapo se dispôs a levá-lo ao outro lado do rio, mas
quando chegou na metade do caminho o escorpião picou fortemente o sapo.
Perplexo com aquela atitude suicida o sapo perguntou: por que você me
picou, não sabe que iremos morrer juntos? O escorpião respondeu:
desculpa, senhor sapo, é a minha natureza.
[17]
www.oxfam.org
. A economia para o 1%. Documento informativo 210 (Resumo em português).
Acesso em 25 de fevereiro de 2016. A Oxfam é uma ONG que estuda as
questões de distribuição de renda no mundo.
[18] As duas grandes crises sistêmicas anteriores ocorreram em 1873-1896
e em 1929-1945. Todas essas crises provocaram mudanças de qualidade no
sistema capitalista e em sua gestão. Na primeira, a consequência
mais geral foi a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo
monopolista e, no segundo, ocorreu a segunda guerra mundial e a divisão
do mundo em dois sistemas, o socialista e o capitalista, e no interior dos
países do capitalismo central os trabalhadores conquistaram um conjunto
de direitos e garantias que ficaram conhecidos como Estado do Bem Estar Social.
[19] Para uma compreensão mais profunda dos trabalhos anteriores,
consultar: Costa, Edmilson. A crise econômica mundial, a
globalização e o Brasil. São Paulo: Edições
ICP, 2013.
[20] Whitney, Mike.
2010, o ano da contração econômica severa
. Disponível em resistir.info. Acesso em 20/01/2010.
[21] Sewel, Rob. Peligro: Se aproxima una depresión mundial.
Disponível em
www.marxism.com
. Acesso em 15 de dezembro de 2015.
[22] Há uma confusão generalizada sobre o conceito marxista de
situação revolucionária. Geralmente, as pessoas imaginam
que a situação revolucionária levará
inevitavelmente à revolução, o que é um erro. A
situação revolucionária é um período da luta
de classes em que a crise do capital e as condições de vida das
massas chegam a um ponto tal em que os de baixo já não aceitam
viver como antes e os de cima já não conseguem dominar como
sempre dominaram. Abre-se um período de luta entre os interesses dos
capitalistas e dos trabalhadores. O desfecho desse processo é
imponderável: tanto pode haver uma vitória dos trabalhadores,
quando também pode ocorrer um retrocesso muito grande, como foi o
período do nazismo e do fascismo.
[NR] Os trabalhadores não são rentistas mas no Brasil chamam o
rendimento de renda.
[*]
Doutorado em economia pelo Instituto de Economia da
Unicamp, com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da mesma instituição. É autor, entre outros, de
A globalização e o capitalismo contemporâneo
(Expressão Popular, 2009) e
A crise econômica mundial, a globalização e o Brasil
(Edições ICP, 2013),
além de vários ensaios publicados em revistas e sites do Brasil e
do exterior. É membro do Comitê Central do PCB, diretor do
Instituto Caio Prado Junior e um dos editores da revista
Novos Temas.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|