A dolarização financeira beneficiará os empresários
e investidores, não os trabalhadores
A nova promessa de recuperação económica do
presidente Maduro
por PCV
"Sem produção nacional, salários suficientes para
viver com
dignidade, melhoria das condições de vida da
população e controlo social sobre os processos produtivos, de
distribuição e comercialização, não
há recuperação económica que sirva os interesses
das maiorias populares. Tudo indica que a demagogia se tornou a Política
de Estado e as novas promessas do presidente Maduro só servem ao grande
capital",
disse a Comissão Política do Comité Central do
Partido Comunista da Venezuela (PCV), na sua reunião de
4 de janeiro de 2021.
Pelo oitavo ano consecutivo, o presidente Nicolás Maduro anuncia que o
atual será o ano da "
recuperação económica
", agora sustentada por uma parcial e iminente dolarização
financeira, formal e institucionalmente reconhecida.
A diferença com as outras ocasiões é que, desta vez, a
afirmação do presidente coincide com as projeções
de um poderoso setor capitalista, que aposta no
"pragmatismo económico"
e acordou na
"mesa de diálogo"
com o governo do presidente Maduro um novo pacto de elites entre a
burguesia oligárquica e a mal denominada e inexistente
"burguesia revolucionária",
especifica o PCV, organização integrante da Alternativa
Popular Revolucionária (APR), única coligação de
esquerda na nova Assembleia Nacional.
Esta tese consiste em impor de facto a flexibilização e
desregulamentação das condições de trabalho, que se
expressam em salários deprimidos, para garantir uma força de
trabalho quase escrava ao serviço do capital, a ausência de
acordos coletivos, a pulverização das prestações
sociais e das pensões e reformas, a eliminação da
estabilidade no emprego, a judicialização das lutas laborais e a
quase prescrição das organizações sindicais;
entretanto, na economia, impõe-se o crescimento da atividade financeira
especulativa e das importações, a dolarização e
privatização dos bens de propriedade pública, a
eliminação de impostos e taxas à importação,
enfim, a criação de um ambiente
"muito favorável para o investimento privado"
não produtivo.
Sem dúvida, esta é uma política de entrega das conquistas
alcançadas depois de jornadas memoráveis de combate
proletário, camponês, comunitário, juvenil e estudantil, de
mulheres, profissionais e intelectuais, dos povos indígenas, correntes
militares patrióticas e da diversidade cultural popular, muitas delas
obtidas durante a gestão do Presidente Chávez, e que hoje nos
estão a tirar para as negociar, em segredo, em cenáculos
privilegiados com o grande capital local e transnacional, em detrimento da
própria soberania nacional e dos direitos das maiorias
populares. Aos setores do reformismo entreguista que governam o
país só lhes interessa fortalecer a velha oligarquia e construir
a sua mal chamada
"burguesia revolucionária",
num novo pacto de elites da corte
puntofijista
[1]
.
Esta política de profundo conteúdo neoliberal, que já
está em marcha, criou condições para obter grandes lucros,
repatriar e branquear capitais advindos da corrupção de novos
ricos e investidores ligados à velha oligarquia e ao governo, com
dinheiro do desfalque dos cofres do Estado.
Alguns indicadores não associados à economia real, como as
operações nas bolsas de valores ou as transações em
criptomoedas começam a apresentar números positivos. Mas essa
recuperação é fictícia, porque não
está relacionada com o aumento da capacidade produtiva do país;
portanto, longe de nos levar a superar a emergência social, vai
potencializá-la enfatizou a Comissão Política
, ao questionar a recuperação de que falam analistas e
empresários afetos ao governo e os anúncios de uma iminente
dolarização financeira e digitalização da economia.
Como o Partido Comunista da Venezuela (PCV) e a Alternativa
Revolucionária Popular (APR) denunciaram, o novo pacto neoliberal entre
várias fações burguesas (incluindo a que controla o
governo) implementa um modelo económico, justificando-se com o cerco
financeiro imposto aos país pelas "
sanções
", que beneficia a burguesia financeira, comercial e importadora e coloca
todo o peso da crise nas costas dos trabalhadores.
Em 2021, as forças do movimento popular e da esquerda
revolucionária continuarão a lutar pela defesa da soberania
nacional e dos direitos dos trabalhadores da cidade e do campo, por todas as
camadas e setores explorados da sociedade, para reagrupar as forças
operárias, camponesas e comunitárias, jovens e estudantes,
mulheres, profissionais e intelectuais, militares patriotas, povos
indígenas e as diversidades culturais populares, dispostas a construir
uma nova correlação de forças que conquiste
com a organização, a mobilização e a luta de
todo o povo uma verdadeira mudança revolucionária, que
recupere o rumo do processo de libertação nacional liderado por
Chávez e abra perspetivas para a construção
científica do verdadeiro socialismo na Venezuela; e, assim, evitar que
entre as consequências das ilegais medidas coercivas unilaterais (mais
conhecidas como
"sanções")
impostas pelo imperialismo dos EUA (que, consequentemente, o PCV
rejeitou e condenou), e das políticas neoliberais do governo ocorra um
genocídio a conta gotas da população venezuelana.
A tragédia económica vivida pelo povo tem de ser travada e
só com a organização, a unidade na diversidade, a
mobilização e a luta popular o conseguiremos. Estamos convencidos
de que a Alternativa Popular Revolucionária (APR), da qual o PCV faz
parte, avançará nessa consequente direção, sendo a
convocatória, discussão e realização do seu
Congresso Nacional Fundador um momento chave desse processo de
acumulação de forças, que avança com as lutas
operárias, camponesas e populares, promovendo a mais ampla
participação e integração dos movimentos
políticos e sociais, incluindo os núcleos de base popular
chavista, concluiu a Comissão Política do Comité Central
do PCV.
04/Janeiro/2021
[1] O
Pacto de Punto Fijo
foi um acordo político firmado em 31 de outubro de 1958, entre os
três grandes partidos venezuelanos a
Acción Democrática (AD), de centro-esquerda, a Unión
Republicana Democrática (URD), de centro, e o democrata cristão
Comité de Organización Política Electoral Independiente
(Copei), de centro-direita. O propósito do acordo era assegurar a
estabilidade política do país, após a derrocada da
ditadura de Marcos Pérez Jiménez, a alguns meses das
eleições, marcadas para dezembro do mesmo ano.
O original encontra-se em
prensapcv.wordpress.com/...
e a tradução em
pelosocialismo.blogs.sapo.pt/a-dolarizacao-financeira-beneficiara-os-124222
Este documento encontra-se em
https://resistir.info/
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