Caso Skripal
Oito mentiras de Theresa May
por Alexander Shulgin
[*]
Senhor Presidente,
Gostaria de começar o meu discurso com palavras que pertencem ao
grande pensador Martin Luther King: "uma mentira é como uma
bola de
neve: quanto mais rola, maior se torna".
Este sábio aforismo é plenamente aplicável em
política. Quem escolheu o caminho do engano terá de mentir
repetidamente, inventar explicações para as divergências,
espalhando desinformação e falsificando, usando desesperadamente
todos os meios para cobrir as pistas das mentiras e esconder a verdade.
O Reino Unido entrou nesta via escorregadia. Tudo Isto vê-se claramente
no exemplo do "caso Skripal" fabricado pelas autoridades
britânicas, esta provocação anti russa mal
disfarçada, acompanhada de uma campanha de propaganda sem precedentes,
retomada por um grupo de países, com a expulsão definitiva sem
precedentes de diplomatas sob um pretexto rebuscado. Por favor, não se
tente fazer passar esse grupo pela comunidade internacional está
longe de ser o caso.
Faz um mês que a primeira-ministra britânica Theresa May
lançou acusações extremamente graves contra a
Rússia relativas à utilização de armas
químicas. Esperamos desde há longo tempo uma
explicação, confiando nos nossos colegas britânicos, para
apoiar estas afirmações ruidosas com factos pelo menos
parcialmente inteligíveis. Propusemos várias vezes trabalharmos
juntos, no inquérito sobre os eventos de Salisbury, pedimos
informações. A resposta consistiu em declarações
altivas e arrogantes dizendo que a Rússia deveria confessar o crime.
A parte britânica continua a divulgar acusações
absolutamente infundadas, espalhando cada vez mais novas versões, muitas
vezes sem sentido, dos acontecimentos. Políticos e funcionários
britânicos não podem simplesmente continuar a derramar novas
torrentes de mentiras. Londres sabota qualquer tentativa de conduzir uma
investigação verdadeiramente objetiva do incidente de Salisbury,
com a participação de especialistas russos. Eles tudo
classificaram, fazendo a sua própria investigação. Embora
os "responsáveis" já tivessem sido apontados.
A razão pela qual fazem isto é óbvia. A
Grã-Bretanha pretende evitar a todo custo o estabelecimento da verdade
sobre os factos, para esconder todas as provas que podem expô-los. Eles
jogam apenas para ganhar tempo. Porque quanto mais se avança, mais
difícil será saber o que realmente aconteceu (ou não) em
Salisbury.
A mentira teme sempre a verdade, porque a verdade é a mais
terrível arma contra a mentira. Passemos então aos factos a nu
que demonstram a que ponto o governo britânico difunde com
insolência e desajeitadamente insinuações sobre o caso
"Skripal".
MENTIRA Nº1
A Rússia não responde a nenhuma pergunta legítima
apresentada pelo Reino Unido em 12 de março de 2018, através do
embaixador da Federação da Rússia em Londres, A.V.
Yakovenko (alguns aliados do Reino Unido não cessam de o repetir como um
mantra).
Eu gostaria de vos relembrar que o lado britânico sugeriu que nós
confessássemos uma das duas versões que ela inventou: ou o
envenenamento de Sergey e Yulia Skripal foi uma ação deliberada
da Rússia; ou a Rússia perdeu o controlo do arsenal de armas
químicas que teria. Apesar da natureza descarada deste ultimato,
nós certamente não o ignorámos e demos imediatamente uma
resposta inequívoca: a Rússia não tem nada a ver com o
incidente químico de Salisbury. A Grã-Bretanha não nos
contactou para mais perguntas.
MENTIRA Nº2
Grã-Bretanha agiu em estrita conformidade com a Convenção
sobre armas químicas.
Os fatos mostram exatamente o oposto. Por exemplo, o artigo IX do
Convenção determina que os Estados partes nos casos, devem
realizar consultas bilaterais sobre qualquer questão ambígua.
Vemos que, na realidade, o Reino Unido não estava em conformidade com
esta disposição e ainda se recusa a interagir connosco. Em
relação ao ultimato britânico já mencionado, dado ao
embaixador da Federação da Rússia, não pode em
nenhum caso ser considerado como uma "proposta de
cooperação", no sentido da Convenção ou um
"pedido de assistência jurídica".
Pela nossa parte, a 13 de abril, enviamos, através do Secretariado
Técnico, uma nota para a parte britânica em virtude do nº 2
do artigo IX, com uma lista de questões legítimas que temos sobre
o "caso" Skripal". Agimos estritamente em conformidade com a
Convenção e esperamos que nossos parceiros de Londres
façam o mesmo. Ainda assim, não houve resposta. É como se
o Reino Unido não se tivesse absolutamente apercebido da
existência da Convenção ou não quisesse agir em
conformidade com as suas normas.
Também fomos testemunhas da maneira como Londres desenvolveu uma nova
forma de trabalho "verificação independente pelo
Secretariado Técnico da OPAQ sobre as conclusões da parte
britânica". Quero sublinhar que não há nada como isto
na Convenção. É uma invenção do Reino Unido.
Ao invés de seguir as disposições da
Convenção, o Reino Unido decidiu não assumir as
disposições da Convenção.
MENTIRA Nº3
A Rússia recusa-se a cooperar no estabelecimento da verdade.
Na realidade, é exatamente o contrário. A Rússia
está extremamente interessada - provavelmente mais do que qualquer outro
país - numa investigação honesta, aberta e imparcial sobre
o incidente de Salisbury. Temos repetidamente proposto, pedido, pedido e
exigido ao lado britânico para cooperar com a investigação.
Submetemos a exame da 57ª sessão extraordinária do Conselho
Executivo um projeto de decisão pedindo à Rússia e
à Grã-Bretanha para estabelecerem uma interação com
a participação do Secretariado Técnico. Manifestamos e
confirmamos agora a nossa disponibilidade para cooperar com a OPAQ e no seio da
OPAQ.
Infelizmente, todos os nossos esforços esbarram com a parede cega da
relutância total de Londres em interagir.
MENTIRA Nº4
O Reino Unido pretende que a Rússia multiplique até ao infinito
as suas versões do incidente químico de Salisbury, tentando
desviar de si mesmo a onda de críticas pela alegada
utilização de armas químicas em solo britânico.
Na realidade, foi isso o que fez o lado britânico, difundiu
através de seus meios de comunicação ditos
"independentes" versões infinitas: primeiro o veneno
estava
na mala, depois na maçaneta da porta, em seguida no trigo,
depois no restaurante, depois no ramalhete de flores, a seguir no sistema de
ventilação do carro e em seguida no perfume, etc.
MENTIRA Nº5
Os dirigentes russos teriam declarado que o extermínio dos traidores no
exterior é uma política de Estado da Federação da
Rússia.
É uma calúnia e um total absurdo. Mostrem onde viram isso. Claro,
o Reino Unido não poderá apresentar um único exemplo de
uma declaração deste tipo porque nada de semelhante alguma vez
foi dito
pelos líderes russos.
MENTIRA Nº6
As conclusões dos peritos do Secretariado Técnico com base nos
resultados da análise de amostras colhidas do pai e filha Skripal
confirmaram que tinham sido envenenados com uma substância da
família "Novichok".
Os nossos peritos militares estão prontos a apresentar a sua
avaliação do que foi dito no relatório do Secretariado
Técnico com base nos resultados do trabalho do grupo de especialistas do
Reino Unido.
Por agora, direi apenas uma coisa: a afirmação de que o
Secretariado Técnico confirmou que este produto químico indica
sua origem russa é uma mentira. O próprio relatório
não diz uma única palavra sobre o nome "Novichok"; a
Convenção sobre Armas Químicas contém apenas um
conceito. E no relatório do Secretariado Técnico, não
há além disto confirmação de "pegada"
russa na substância química encontrada em Salisbury.
No entanto, as autoridades britânicas imediatamente lançaram nos
media de todo o mundo a notícia falsa de que a OPAQ teria confirmado que
os Skripal haviam sido envenenados com "Novichok", e que este
último, dizem, foi desenvolvido na URSS e na Rússia, donde a
culpa seria de Moscovo. É assim que as conclusões do
relatório do Secretariado Técnico são falsificadas.
MENTIRA Nº7
O dito "Novichok" é uma invenção
soviética que, supostamente, não poderia ser produzido
senão na Rússia.
É necessário lembrar que "Novichok" é o nome
inventado no Ocidente para um grupo de substâncias químicas que
foram desenvolvidas em muitos países, incluindo o Reino Unido. Numa de
suas entrevistas recentes, o Secretário de Estado Boris Johnson
confirmou que o Reino Unido tem amostras dessa substância no
laboratório em Porton Down. Na verdade, temos muitas perguntas para este
laboratório. Seria interessante saber como é que eles
determinaram que os Skripal haviam sido envenenados com um agente
neurotóxico tipo "Novichok". Porque qualquer pessoa
razoável entenderia que só se poderia estabelecê-lo se
tivessem o componente original para poderem comparar com a substância
química que foi encontrada. Segue-se que este laboratório tem um
stock de "Novichok" e possivelmente também os antídotos
que foram usados no tratamento dos Skripal.
Na Rússia, nunca houve pesquisa e desenvolvimento ou trabalhos
experimentais no âmbito de um programa conhecido como
"Novichok". Repito, nunca houve programa com tal nome. Na era
soviética, na década de 1970, não só os
soviéticos, mas também cientistas britânicos e americanos
estavam a trabalhar na criação de novos tipos de agentes
neurotóxicos. Foi assim que o famoso gás de nervos VX foi criado.
E na década de 1990, após o colapso da URSS, os serviços
especiais ocidentais levaram da Rússia um grupo de químicos e
documentação. Especialistas ocidentais começaram a olhar
para os documentos e, com base neles começaram a trabalhar nesse
sentido, tendo obtido alguns resultados, que se tornaram públicos.
Sabemos muito bem que os agentes neurotóxicos do tipo
"Novichok" estavam em produção em vários
países. E, contrariamente ao que os nossos parceiros ocidentais fazem,
que não se cansam de baixar os olhos e dizer que sabem algo, mas que se
trata, como dizem, de assuntos secretos e que não podem
revelá-lo, nós operamos de forma diferente. Trabalhamos com
fontes abertas. Assim em 1 de dezembro de 2015, o United States Patent and
Trademark Office contactou a agência russa responsável para as
questões relativas às patentes com um pedido de
verificação de patenteabilidade de uma invenção
feita por um cientista americano T. Rubin.
Eis o documento. (demonstração).
Este documento fala sobre a invenção de uma bala especial, cuja
peculiaridade é ter uma cavidade separada para equipá-la com
diferentes tipos de agentes tóxicos. Ao usar a invenção
mencionada, o efeito letal é alcançado graças ao efeito
deste agente tóxico no organismo humano. Por outras palavras, estas
munições são da responsabilidade da
Convenção sobre armas químicas. O princípio de
funcionamento da bala é equipar componentes binários que
interagem uns com os outros no momento do impacto. E isso é o que lemos
na página 11 deste documento americano oficial, "Pelo menos um dos
ingredientes ativos pode ser selecionado entre agentes neurotóxicos,
incluindo... tabun (GA), sarin (GB), soman (GD), cyclosarin (GF) e VG,... VM,
VR, VX e [atenção!]! agentes Novichok "
Por outras palavras, este documento confirma que nos Estados Unidos, os agentes
neurotóxicos "Novichok" não só foram produzidos,
mas também patenteados como arma química. E não há
muito tempo, só há alguns anos a patente é datada
de 1 de dezembro de 2015.
Além disso, pesquisando a palavra-chave "Novichok" no
google.patents.com, podem encontrar-se mais de 140 patentes concedidas pelos
Estados Unidos, relativas à utilização e à
proteção contra a exposição ao agente
neurotóxico "Novichok".
Estes são os factos reais e não palavras no ar. É a
resposta para aqueles que pretendem com insolência que os agentes
nervosos, do tipo "Novichok" existiam e foram produzidos na URSS e na
Rússia.
MENTIRA Nº8
Uma das vítimas, uma cidadã russa, Yulia Skripal, evitaria
contactos com parentes e recusou assistência consular russa.
Atualmente, as autoridades britânicas zelosamente ocultam Yulia Skripal
dos media e do público. Não sabemos onde ela está. Do lado
russo, bem como seus parentes (à sua prima Victoria foi negado um visto
de entrada pelas autoridades britânicas) é negado o acesso a ela.
Não tem a possibilidade de voltar para a Rússia e submeter-se a
um exame médico e tratamento.
As circunstâncias acima mencionadas indicam que a cidadã russa
Yulia Skripal foi feita refém pelas autoridades britânicas, detida
pela força no território do Reino Unido e submetida a
manipulações psicológicas.
Dei alguns exemplos da maneira como as autoridades britânicas espalham
desinformação e mentem abertamente. Esta lista de
divulgações poderia provavelmente prosseguir, mas provavelmente
devemos parar por aqui. É sintomático que o Reino Unido
não pense em retirar sequer uma qualquer das suas teses, mesmo que elas
sejam totalmente infundadas.
Não tenho quaisquer dúvidas de que no futuro podemos esperar
novas vagas de desinformação, de pseudo fugas nos meios de
comunicação, ataques insolentes por parte das autoridades
britânicas. Mas nenhuma prova real jamais será produzida.
O Reino Unido mostra claramente que não está disposto a cooperar
adequadamente no quadro da pesquisa sobre esta história obscura. Isto
convence-nos de que o Reino Unido não quer a verdade. Eles não
podem permitir que seja revelada.
O relatório apresentado pelo Secretariado Técnico sobre as
conclusões dos peritos britânicos suscita uma série de
perguntas e chamadas para exame pormenorizado suplementar, inclusive do lado
britânico. Qualquer especialista entenderia que as conclusões
finais não podem ser feitas senão tendo perante os nossos olhos
os materiais do produto químico e a análise espectral das
amostras mencionadas. E o Secretariado Técnico não transmitiu
esses documentos senão a Londres.
Sublinhamos que a Rússia não tomará à letra as
conclusões relativas ao caso "Skipal", enquanto uma simples
condição não for cumprida: os especialistas russos
terão acesso às vítimas, bem como aos documentos referidos
na análise dos peritos da OPAQ e todas as informações
reais que Londres dispõe sobre este incidente.
Temos fortes razões para acreditar que é uma
provocação grosseira contra a Rússia por parte dos
serviços especiais do Reino Unido. E se o lado britânico continua
a recusar-se a cooperar connosco, não fará senão reafirmar
a nossa convicção de que é exatamente o caso.
Senhor Presidente,
Não podemos deixar de lembrar o seguinte ditado: para algumas pessoas, a
mentira não é um meio de justificação, mas um meio
de defesa. Em 16 de abril, ouvimos uma outra declaração estranha:
o G7 apelou à Rússia para responder a questões
legítimas do Reino Unido sobre o caso Skripal. Podeis considerar esta
declaração como a nossa resposta.
Ao mesmo tempo, gostaríamos que a parte britânica respondesse
às numerosas perguntas específicas da Federação da
Rússia sobre o incidente de Salisbury. Além disso,
ficaríamos gratos se os representantes do G7 pudessem explicar-nos por
que razão os seus países lançaram uma guerra
diplomática contra a Rússia com base em
falsificações.
Obrigado, Sr. Presidente.
[*]
Embaixador da Federação da Rússia na
Organização para a Proibição de Armas
Químicas (
OPAQ
). A presente declaração foi
apresentada na 59ª reunião dessa organização da ONU.
A versão em inglês encontra-se em
netherlands.mid.ru/...
e a versão em francês em
www.legrandsoir.info/...
Esta declaração encontra-se em
http://resistir.info/
.
|