As "vantagens" das privatizações
A "Infraestruturas de Portugal"
[1]
importou de Itália 6,4 milhões de euros de carris "para
obras de substituição e reabilitação de vias
férreas". E vamos importar muitas mais toneladas, na esperada
concretização do Programa Ferrovia 2020 que, mesmo assim,
não corresponde ao investimento ferroviário necessário em
novas linhas.
Na notícia, o jornalista Carlos Cipriano, conhecedor rigoroso e
sério dos problemas do sistema ferroviário nacional, escreve:
"Portugal não fabrica carris (
)". Mas devemos completar:
não fabrica, mas fabricou e fabricava! Mais uma das
"vantagens" das privatizações dos governos do PS, PSD e
CDS. O país deixou de fabricar carris.
Em 2017, a
MEGASA
, a empresa privada que ficou com a empresa pública,
veio proclamar em folheto de propaganda que era "Um dos 10 principais
exportadores nacionais" produzindo "Novos produtos com maior valor
acrescentado". De facto, Portugal deixou de fabricar carril, perfis,
barras comerciais, e até fio laminado para alimentação das
trefilarias produtoras de arame. Produtos que passamos a importar na
totalidade. Com a privatização, Portugal ficou reduzido à
solução tecnológica mais básica, a
solução dos países do 3º mundo em início de
industrialização: fabricação de varão para
betão a partir de sucatas ferrosas! Diga-se que a MEGASA se
"esqueceu", no folheto, de falar da importação dessa
sucata e da energia eléctrica a preço de favor, graças ao
subsídio dos consumidores portugueses.
Os sempre preocupados, e justamente, com o saldo negativo da balança
comercial, devem fazer contas ao custo daquela privatização. E em
particular os fervorosos combatentes pelas exportações,
não devem esquecer as importações, fundamentalmente as que
se podiam evitar..., por produção nacional.
A liquidação da Siderurgia Nacional é uma boa amostra da
submissão dos interesses estratégicos do país às
imposições da integração europeia. O bloqueio do
Plano Siderúrgico Nacional é um dos resultados da Adesão
à CEE, em 1986, deitando por terra a expansão da actividade
siderúrgica e os seus efeitos multiplicadores, nomeadamente o
aproveitamento do ferro de Moncorvo, prolongando o secular atraso industrial do
país face ao centro europeu.
Marca, de ferro e fogo, desse "crime" foi a venda, em 1989, por
Governo PSD/Cavaco Silva, do novo alto-forno que, acabado de adquirir, nunca
chegou a ser instalado. Manteve-se o velho alto-forno, cujo encerramento em
2001 é um símbolo da política de direita do PSD, PS e CDS,
foi um "brinde" à empresa indiana Tata Steel e um
prejuízo de milhões para o Estado português.
Ironias do destino: só por acaso o carril agora importado não foi
fornecido pela sucursal europeia da Tata Steel (British Steel France Rails
SAS), o que significaria poder ter sido produzido pelo alto-forno saldado por
Cavaco Silva! Resta a consolação de que vai ser transportado pela
Medway, isto é a CP-Carga privatizada
Na inauguração da Siderurgia, em 1961, o ministro da Economia do
Governo fascista da altura, terá dito (às vezes acertavam):
"País sem siderurgia não é um país, é
uma horta". Pois é, mas os governos PS, PSD e CDS, estiveram sempre
mais virados para as hortaliças
ou nem isso.
17/Outubro/2019
[1]
Público,
10/Out/19, Carlos Cipriano.
O artigo anterior de Agostinho Lopes, com o mesmo título, encontra-se
aqui
[*]
Do Comité Central do PCP.
O original encontra-se em
foicebook.blogspot.com/2019/10/privatizacoes-pegada-ecologica-e.html
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
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