Recapitalizar a banca sim, favorecer os banqueiros não
O sistema bancário é "o coração que faz
circular o sangue da economia". Assim, o sistema bancário é
um efectivo bem público.
E sendo-o, é ao Estado que deve competir a sua propriedade e
gestão. Sucede que a situação actual não é
essa. Mas nem por ser predominantemente privado o Estado poderá correr o
risco de ver deflagrar o sistema.
Ora, é generalizadamente reconhecido que os erros e a irresponsabilidade
dos banqueiros conduziram à necessidade de recapitalização
dos bancos para salvaguardar esse bem público, para que eles possam
exercer a sua função de concessão de crédito
à economia real.
Sendo privados, para a recapitalização os bancos devem recorrer
aos seus accionistas, ou aos seus activos tal como, por
discriminação ideológica, a troika impõe à
CGD. Todos os bancos os têm. Mas, porque valiosos e rentáveis, os
banqueiros não querem vendê-los preferindo recorrer ao Estado para
satisfazer as necessidades financeiras da recapitalização.
Deveria ser-lhes imposta a venda dos activos necessários e só na
medida em que se mostrassem insuficientes poderiam recorrer aos fundos
públicos.
Mas ao entrar no capital de um qualquer banco o Estado tem não só
o direito como a obrigação de passar a ser um accionista em
plenitude. Não é admissível que o Governo, por vontade
própria e com o apoio dos ultraliberais BP e BCE, invista 12 mil
milhões e se proponha assumir o papel de um accionista cego, mudo e
surdo, de um accionista que o não é.
A proposta do Governo, que os bancos arrogantemente ainda consideram pouco,
não é uma efectiva participação do Estado no
capital dos bancos. É, isso sim, a injecção nos bancos de
volumosos dinheiros públicos para beneficiar os interesses e a gula
insaciável dos banqueiros.
29/Novembro/2011
[*]
Economista
O original encontra-se em
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=522689
Este artigo encontra-se em
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