A caminho do desastre grego
As linhas de orientação política contidas no
Orçamento do Estado são uma brutalidade sem precedentes,
evidenciando uma indisfarçável aversão aos trabalhadores.
Aos que se encontram no activo e aos que já se reformaram.
A todos, e em especial aos das administrações e empresas
públicas.
Não é aceitável que salários 1.000 e 600 euros
sejam reduzidos em 14 e 5%, respectivamente. Em termos nominais. Porque em
termos de rendimento disponível real (inflação, aumento de
impostos,
) as reduções efectivas são ainda mais
brutais. Não é admissível que o Governo há mais de
três meses encha a boca com as "gorduras" do Estado e no
concreto faça incidir 80% da brutal redução da despesa
sobre os salários, as pensões e a saúde.
E, irresponsabilidade acrescida, essa brutalidade nem sequer pode ser
sustentada numa melhoria futura da economia.
A forte redução dos rendimentos disponíveis irá
repercutir-se na diminuição da procura interna, da
produção e do investimento, no agravamento e prolongamento da
recessão, no aumento do desemprego. Paralelamente, a
diminuição dos rendimentos e do consumo terá como efeito,
como já se verifica este ano, a redução das receitas
fiscais ou o seu aumento menos que proporcional ao agravamento das taxas. Um
obstáculo acrescido à redução do défice
orçamental. Aliás, o desvio da execução
orçamental, em particular no segundo semestre, demonstra a
impossibilidade de reduzir drasticamente o défice em tão curto
prazo. O que exige o alargamento dos prazos de ajustamento. E mostra a
urgência da renegociação da dívida.
O resultado da orientação do Orçamento será passar
da recessão à depressão e multiplicar o desemprego e a
penúria. Ele não inverte o caminho da recessão, é a
antecâmara do desastre grego.
19/Outubro/2011
[*]
Economista
O original encontra-se em
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=513321
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