Mais um bom aluno
O pretexto do Governo para um aumento de 8% da colecta do IRS deste ano foi o
da divulgação pelo INE das contas do 1º trimestre do sector
público.
Pretexto reforçado a uma só voz pela comunicação
social, praticamente com o mesmo título, sugerindo que a central de
informações governamental entrou em pleno. Com base naquelas
contas ninguém pode extrapolar que o défice de 5,9% será
ou não atingido sem acrescida penalização dos
cidadãos. Carece de sentido fazer uma projecção linear do
1º trimestre para o resto ano. Por múltiplas razões, entre
as quais o facto de o IVA ter aumentado em Janeiro mas uma boa parte da sua
cobrança só se efectivar no trimestre seguinte e de as medidas
adicionais no corte de despesa (aplicação parcial do PEC IV)
só terem efeitos no resto do ano. Aliás, quando foi negociado o
programa de resgate essas contas já eram conhecidas no essencial. Os
técnicos da troika reviram em alta os juros a pagar (800 milhões,
por coincidência o valor que o Governo quer retirar ao 13º
mês) e não consideraram necessário reforçar a
austeridade em 2011. Chamar-lhes tecnicamente incompetentes parece
excessivo
De facto os tais 7,7% de défice (-1,8 pp de variação
homóloga) são mero pretexto. A razão é Passos
Coelho querer mostrar-se um "bom aluno" em Bruxelas. A
afirmação de uma fonte governamental de que "não
estamos só a governar para Portugal, estamos a governar para
Bruxelas" e a apreciação feita pela Comissão
são concludentes e deprimentes. O Governo quer dar a Bruxelas mais do
que lhe é exigido. Com sacrifício dos cidadãos e da
economia. Para além do mais, agravamento do IRS em 8% e nada no IRC diz
tudo sobre a justiça na repartição dos sacrifícios.
Só falta que os rendimentos sujeitos a taxas liberatórias
também fiquem isentos
06/Julho/2011
[*]
Economista e ex-deputado PCP
O original encontra-se em
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=494547
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|