Alternativas à crise na UE:
Direitos, produção, solidariedade e soberania
por Jerónimo de Sousa
[*]
Permitam-me, no encerramento deste debate, começar com duas
saudações.
Em primeiro lugar, a todos os intervenientes. Na globalidade, as suas
intervenções encerram no seu conteúdo quatro
princípios que para os comunistas portugueses são fundamentais:
qualidade e rigor na análise concreta e teórica da realidade;
profunda ligação à vida e a essa mesma realidade;
compromisso de classe com os direitos, a democracia, a solidariedade e o
progresso social; e, por último, profunda convicção de que
no movimento das sociedades não existem nem caminhos únicos nem
inevitabilidades.
Em segundo lugar, aos deputados e representantes de partidos comunistas e
progressistas que acederam ao nosso convite para participarem neste debate.
Deputados e forças com que temos tido experiências positivas de
trabalho e cooperação no seio do Grupo Unitário da
Esquerda /Esquerda Verde Nórdica, dando expressão concreta
à ideia de que existe uma alternativa real às políticas
neoliberais e militaristas da União Europeia, que os desenvolvimentos
exigem uma redobrada determinação na possibilidade de uma outra
Europa dos trabalhadores e dos povos e na necessidade da
concretização do objectivo da criação de novas
sociedades, de justiça e de progresso social.
Agradecendo a vossa presença expressamos-vos a nossa profunda
solidariedade para com as importantes lutas que em cada um dos vossos
países estão a travar. Lutas que são a outra face do
embate de classes que se agudiza no continente europeu, a face da
esperança e da confiança na força dos trabalhadores e dos
povos e na sua luta. Ao fazê-lo, queremos igualmente reiterar-vos a
determinação do PCP em continuar a agir no seio do nosso Grupo no
Parlamento Europeu defendendo e reafirmando a sua natureza e bases
fundamentais: o seu valioso património de luta, de resistência e
de proposta e o seu carácter de cooperação efectiva
direccionada para a acção, dando voz no Parlamento Europeu
às lutas dos trabalhadores e dos povos os únicos a quem
devemos obediência e prestação de contas e que nunca
abandonaremos.
O nosso debate realiza-se num momento especialmente delicado e importante da
situação económica, social e política em Portugal.
Um momento demonstrativo do quão fundas e negativas podem ser as
consequências de duas expressões simultâneas (nacional e
supranacional) de uma mesma linha e opção política e
ideológica: o capitalismo e a sua expressão actual na Europa
consubstanciada no projecto de União Europeia, por um lado, e três
décadas de contra-revolução e de restauração
monopolista em Portugal, por outro.
GUERRA SOCIAL E DESTRUIÇÃO DO APARELHO PRODUTIVO
Uma linha e pensamento únicos que no plano supranacional se caracterizam
pela acelerada concentração e centralização do
poder económico e político no grande capital financeiro e no
directório de potências da União Europeia; pela cruzada
contra os direitos laborais e sociais e contra a soberania dos povos e pela
política belicista e intervencionista da União Europeia. Linha e
pensamento únicos que no plano nacional se caracterizam pelas
correspondentes (e não meramente dependentes)
políticas nacionais de autêntica guerra social e de
destruição do aparelho produtivo nacional; pelas
privatizações e venda a retalho do País; pelo ataque
cerrado às funções sociais do Estado e
privatização dos serviços públicos e por uma
política face à União Europeia, às grandes
potências imperialistas e à NATO, de colaboracionismo,
abdicação nacional e submissão aos seus ditames.
Por isso, dizemos ao nosso povo: olhem para este País e retirem as
conclusões desse pensamento único. Mas as conclusões
certas! É que este caminho, esta situação não
são nem únicos nem inevitáveis! É que nós
sabemos onde estão e como agiram os responsáveis!
É necessário dizer a Barroso, a Merkel, a Sarkozy, a Trichet, a
Sócrates, a Passos Coelho, entre outros, que este País é
muito mais do que as suas políticas e os seus terríveis efeitos.
É preciso afirmar que este País é um povo, a sua
produção, a sua capacidade de lutar, de amar e sonhar. E este
povo, o que trabalha e luta, sabe o que Abril significa e nunca
desistirá do seu País. Esta é a conclusão certa!
Mas, se a nossa situação nacional faz deste debate um importante
momento, o facto de ele se realizar no dia em que em Bruxelas reúne o
Conselho Europeu confere-lhe também maior importância. Ainda
não conhecemos em detalhe todas as suas conclusões, mas há
algumas coisas que já sabemos. E a primeira é que o quadro em que
o Conselho se reúne é o do
aprofundamento vertiginoso da crise do capitalismo
, crise que, como afirmámos, é também, a
crise dos fundamentos da UE.
As projecções económicas e sobretudo a realidade social e
política confirmam aquilo que há muito vínhamos dizendo: o
processo de integração capitalista na Europa; os seus
instrumentos fundamentais e a sua evolução; a forma como as
classes dominantes na Europa reagiram à crise tudo isso iria
aprofundar a exploração, as desigualdades, as assimetrias, as
profundas contradições, a real natureza e o carácter
antidemocrático desta União Europeia.
Bastaram poucos anos para que todas as chamadas de atenção, os
alertas, as críticas e as previsões do PCP se confirmassem.
O rumo consolidado no Tratado de Maastricht e aprofundado com o Tratado de
Lisboa levou a que, como previmos, a União Europeia se afirmasse cada
vez mais como um instrumento do capital e não dos povos; como um
instrumento de domínio económico e político e não
de cooperação; como um instrumento de aprofundamento de
relações de dependência e não de coesão e
solidariedade; como um instrumento de regressão histórica dos
direitos dos trabalhadores e dos povos e não de coesão,
avanço ou justiça social.
Ou seja, a crise não foi um teste que correu mal, a crise é um
elemento mais das contradições inerentes ao próprio
processo de integração capitalista na Europa e, assim sendo,
aconteceu o que aconteceu ao sistema no seu todo: operou-se uma fuga para a
frente que visa salvaguardar os interesses daqueles que detêm o poder no
e do sistema, que dele não pretendem abdicar, que
vêem na crise uma oportunidade de o concentrar e centralizar ainda mais e
de condicionar cada vez mais a vontade dos povos. Ou seja, a crise apenas fez
cair a máscara mais cedo do que alguns estariam à espera.
As medidas ditas de combate à crise revelaram isso mesmo. Veja-se a
situação: para o capital mais poder, mais apoios, mais lucros,
mais liberdade, mais Estado e espaço institucional. Para o trabalho:
menos direitos, menos liberdade, menos poder, menos Estado, menos democracia e
menos soberania. Dir-se-á então: "mas isso não
é novo!". E nós respondemos que se é verdade que a
natureza das políticas é velha, já a forma e a intensidade
com que são impostas contém de facto elementos novos. É
que nesta crise nem os engodos do neo-keynesianismo tiveram campo para fazer o
seu papel. Estamos no olho de um furacão soprado pelo grande capital que
não para de aumentar e de sugar riqueza pública, direitos
sociais, laborais e democráticos e que está a destruir os Estados
por onde passa e é à luz desta conclusão que analisamos o
que se está a passar hoje em Bruxelas.
A AGRESSÃO AO POVO LÍBIO
As políticas que o Conselho está a aprovar não nasceram
hoje. São aspirações antigas do capital e das suas
estruturas, como as confederações europeias patronais. São
aspirações históricas da grande burguesia nas grandes
potências capitalistas europeias, de domínio económico e
político no espaço europeu e que tiveram várias caras ao
longo da história. São aspirações daqueles que
sonham com uma Europa potência imperialista, alargando o seu
domínio Mundo fora à custa dos direitos dos povos, da soberania,
da paz e do direito dos povos ao desenvolvimento. E, como
é simbólico este Conselho realizar-se no exacto momento em que
forças militares britânicas e francesas, com os EUA e a NATO no
comando, agridem o povo líbio e tentam impor à bomba e às
portas da Europa o seu domínio imperial no continente africano.
Este Conselho, não é apenas mais um. É uma espécie
de "fechar do cerco", uma articulação de três
frentes de ataque nos planos económico, anti-social e político. A
consumação de uma violenta fuga para a frente e o aprofundamento
de um ciclo vicioso de destruição económica e social, de
estagnação e recessão, que terá consequências
devastadoras não só para os povos mais directamente visados
e que são sujeitos a autênticos testes de esforço
para se aferir até onde a corda pode ser esticada, como é o caso
português mas também para todos os povos da Europa e para a
própria História do continente europeu.
A "governação económica", reforçada e
complementada pela recente inclusão do rebaptizado "Pacto para o
Euro" imposto pelo eixo franco-alemão, são dois dos
elementos centrais de uma dupla tenaz que visa esmagar os povos e as
nações e que tem no Tratado de Lisboa e na Estratégia 2020
os outros dois elementos. É hoje claro que a dita
"governação económica" tem um objectivo central:
uma mais estreita coordenação, e mesmo fusão, do poder
económico com o poder político supra nacional que o serve e que
tem no directório das grandes potências um reforçado centro
de articulação segura dos seus interesses. Mas não
só na governação económica. Também é
o caso da mal chamada flexibilização do "mecanismo de ajuda
EU/FMI" aos Estados, que a pretexto da crise, visa confiscar, por um
determinado preço, o que resta da capacidade de decisão nacional
sobre os principais instrumentos de política económica e social.
A ESTUPIDEZ DO PEC
A convergência e complementaridade de objectivos do conjunto das medidas
legislativas ditas de "governação e económica" e
das orientações inscritas no " Pacto para o Euro"
significam de facto um salto qualitativamente novo no carácter
neoliberal e federalista da União Europeia. Desde logo, com as medidas
de governação económica nas quais se inclui um coercivo
sistema de sanções, uma reforçada supervisão e uma
revisão ampliada dos critérios do
Pacto de Estabilidade e Crescimento, um colete-de-forças circunscrito
à estrita visão e lógica dos grandes interesses
económicos e financeiros e que no nosso País é aplicado e
defendido por quem há muito declinou as tarefas da
promoção do crescimento económico, do emprego e do
bem-estar das populações.
Um PEC que acentuará o seu nível de estupidez, com novas
exigências nas quais se incluem a imposição de compromissos
quantificados de redução da dívida, sobretudo em
países confrontados, como é o caso de Portugal, com uma
prolongada estagnação e risco de recessão prolongada,
elevado desemprego e profundas desigualdades sociais. Mas, o carácter de
classe e de domínio imperial de uns poucos sobre o espaço da
União Europeia está bem patente também no conteúdo
do incluso "Pacto para o Euro" na "governação
económica", cuja aprovação tinha já sida
decretada na cimeira da Zona Euro.
Trata-se de um pacote de medidas de aprofundamento e dogmatização
da ofensiva neoliberal e de formatação geral e
inquestionável de mais severos programas de austeridade com a
elevação para um novo patamar da ofensiva contra os direitos
laborais e sociais e de destruição do chamado "Estado
Social". Uma cartilha europeia neoliberal bem patente no ataque que
avança contra os sistemas de protecção social, nas
propostas de aumento da idade da reforma e da sua penalização, de
rebaixamento dos salários com a institucionalização de
sanções à sua actualização e nas
orientações visando uma ainda maior desregulação
das leis laborais. Novas orientações que se testam já em
Portugal com as medidas adicionais de austeridade acabadas de anunciar pelo
actual governo do PS de alterações à
legislação de trabalho para fomentar ainda mais a precariedade
laboral e debilitar a contratação colectiva, para embaratecer e
facilitar os despedimentos com a redução brutal das
indemnizações aos trabalhadores. Medidas acrescidas de um novo
ataque aos salários e reformas, agravamento dos impostos sobre os
rendimentos do trabalho e do consumo. Novas orientações que se
reflectem igualmente na degradação da vida dos trabalhadores e
das camadas populares, através de uma injusta política fiscal que
visa penalizar o consumo popular e libertar os rendimentos de capital das suas
responsabilidades colectivas. Mas um Conselho Europeu marcado também
pelo objectivo de dar um novo e decisivo avanço no processo de
liberalização e privatização dos serviços
públicos com o forçar da implementação integral da
Directiva de Serviços. Ou seja:
no plano social, a regra é a política de terra queimada e o
nivelamento por baixo. No plano económico e financeiro a lei do mais
forte. Ou seja, apesar das distâncias Bruxelas aproxima-se cada vez mais
de um faroeste económico e social.
Longe vai o tempo das encenadas preocupações com as
práticas abusivas do grande capital financeiro e das prometidas medidas
para a regulação e transparência das suas actividades
especulativas.
Onde estão as medidas para acabar com o mercado dos produtos derivados,
taxar as transacções bolsistas e para acabar com os
paraísos fiscais?
Nem essas
nem essas
Pelo contrário o que se anuncia
é uma renovada disponibilidade para considerar
novas ajudas estatais à Banca com o pretexto da sua
estabilização intensificando assim o roubo que é a
transferência directa dos activos tóxicos do sector financeiro
para as contas públicas.
No nosso país vivemos há muito uma situação de
prolongada crise económica e social que assume contornos hoje
também de crise política.
Uma crise económica e social que se intensificou de forma mais
dramática com a adesão de Portugal à União
Económica e Monetária.
Esta semana foi anunciada a auto demissão do governo português que
viu recusado no Parlamento o apoio a um novo programa de austeridade o
quarto no espaço de ano decorrente de compromissos assumidos que
se enquadram já nas novas orientações da
"governação económica" e do "Pacto para o
Euro". Uma demissão que não está desligada do
agudizar das contradições na frente dos partidos que têm
sido suporte à concretização no país das
políticas de direita dominantes na Europa e que estão na origem
da grave crise que enfrentamos, mas também uma demissão
determinada pela luta que no interior do bloco da política de direita
(PS e PSD) se trava pelo domínio hegemónico do poder.
ALTERNÃNCIA SEM ALTERNATIVA
Não se trata, portanto, de uma crise aberta em resultado do confronto de
políticas alternativas ou de procura de efectivas soluções
para a crise que o país enfrenta, mas no domínio do mero
jogo da alternância sem alternativa
, num quadro de um crescente isolamento social e político do executante
governamental de serviço que a luta social e de massas tem vindo a
determinar. Debilitado por anos consecutivos de políticas de direita, de
recuperação capitalista, Portugal é bem exemplo das
consequências da aplicação das políticas
monetaristas e da prioridade dada ao cumprimento dos irracionais
critérios do Pacto de Estabilidade e do conjunto da
orientações que enformam a União Económica e
Monetária, nomeadamente as do Banco Central Europeu.
A política do Euro forte significou logo à partida uma
significativa perda da competitividade das nossas exportações que
se estima em cerca de 20%. Com a mudança qualitativa operada no
enquadramento comunitário que impôs a Portugal graves
limitações da sua soberania na política económica,
orçamental e monetária, o país ficou crescentemente
manietado na definição de políticas de defesa e
promoção das actividades produtivas nacionais, elas
próprias já secundarizadas por opções de
política interna de favorecimento e restauração do capital
monopolista e de consolidação do seu domínio dos sectores
básicos e estratégicos da economia do país.
Com a adesão à moeda única, a viragem operada,
concretizada por parte de sucessivos governos nacionais, passou a conformar um
quadro de políticas contrárias ao desenvolvimento
económico, à criação de emprego e ao combate
às injustiças sociais, e, da mesma forma, favoráveis
à concentração e acumulação capitalistas, ao
ataque às funções do Estado e aos serviços
públicos, à liquidação de capacidade produtiva e
agravamento da exploração e à soberania económica.
Os seus reflexos na vida do país não se fizeram esperar.
Portugal viu agravados todos os seus problemas e assistiu ao acumular dos seus
défices crónicos e estruturais. O processo de
desindustrialização ganhou um novo ritmo e a
amputação do aparelho produtivo e da produção
nacional ganhou uma nova dimensão.
Portugal vê o peso dos seus sectores eminentemente produtivos
agricultura, pescas e indústria substancialmente reduzidos,
nomeadamente a favor do sector das actividades financeiras e
imobiliárias que, em meados da última década, superavam
já o peso da indústria na produção nacional. A
defesa da soberania alimentar desce para um perigoso patamar de
segurança com uma nova regressão operada na
produção agrícola e pesqueira.
A década que findou e
que coincide com os primeiros anos de permanência na UEM
foi atravessada por uma persistente situação de
estagnação económica com taxas médias de
crescimento anual de 0,4%, enquanto a taxa de desemprego duplicava fixando-se
no último trimestre de 2010 em 11,1%.
Como resultado desta destruição dos sectores produtivos, o nosso
défice da balança de mercadorias situa-se hoje nos 10% do PIB. Em
resultado desta evolução o país assistiu ao aumento
exponencial da sua dívida externa. Uma evolução altamente
preocupante, já que
o endividamento externo líquido, em percentagem do PIB, saltou de cerca
de 32% para cerca de 107%, entre 1999 e 2010.
São hoje bem visíveis e preocupantes no nosso país as
consequências das políticas que promoveram a
desregulamentação financeira e a economia de casino, as
privatizações, a liberalização dos mercados, em
detrimento da produção real e das condições de vida
dos trabalhadores e dos povos. Portugal é hoje um país a divergir
da média da União Europeia, com mais profundas assimetrias
sociais e regionais.
A DITADURA DO DÉFICE
Sob a batuta da ditadura do défice, das orientações da
falhada Estratégia de Lisboa e de uma política nacional que
assumiu como seus os dogmas neoliberais dominantes na União Europeia,
estes anos ficaram igualmente marcados pelo desenvolvimento de uma ofensiva
violenta e global contra os direitos laborais e sociais dos trabalhadores e aos
rendimentos do trabalho e que conduziu à degradação das
condições de vida de largas massas. Em nome do combate ao
défice e da aplicação dos critérios Pacto de
Estabilidade e Crescimento deram-se também passos, como antes não
se não tinham dado, no ataque ao direito dos portugueses à
saúde, à segurança social e à
educação e cultura. O Sistema Público de Ensino, a
Segurança Social e o Serviço Nacional de Saúde sofreram
nestes últimos anos uma das maiores ofensivas de sempre.
É este o quadro breve de uma evolução que põe a nu
a inadequação e a
incapacidade das políticas nacionais e comunitárias para
responder aos problemas do desenvolvimento e do bem-estar dos povos.
Incapacidade que se revelou de forma ainda mais evidente nestes anos marcados
pela crise do capitalismo e pelas guerras especulativas contra o Euro cujos
reflexos foram direccionados para um conjunto de países, como Portugal,
atirando-os para o centro da arena das batalhas monetárias
inter-imperialistas fazendo-os pagar com a vida económica a
política do Euro forte.
A opção dos centros de decisão do grande capital e do
directório das grandes potências é clara: impor até
ao limite, e para lá do limite, condições severas
associadas à moeda única e às políticas de
centralização e concentração de capital que atingem
o conjunto dos povos dos países da União Europeia e de forma
particularmente grave os povos e países da chamada
"periferia". É esta a opção que está na
origem das brutais operações de chantagem e extorsão
atribuídas ao estafado conceito do "funcionamento dos
mercados" e é esta opção que está na origem
dos severos programas de austeridade.
AS NEFASTAS CONSEQUÊNCIAS DO EURO
Toda a evolução mostra que tínhamos razão sobre a
insustentabilidade e as nefastas consequências do Euro.
Consequências hoje ainda mais trágicas quando se vê Portugal
a ser presa fácil dos ataques especulativos e dos mecanismos de
extorsão de recursos nacionais por via do crescente endividamento
externo que esta desastrosa política de integração
europeia também provoca e avoluma. Perante o agravamento do nível
de ameaça que paira sobre o país, muitos avisados e até
insuspeitos portugueses têm colocado a
necessidade de reflectir sobre a manutenção do país na UEM
.
Para nós o debate não é um tabu. Trata-se de um problema
que precisa de aprofundamento e reflexão. Uma reflexão
própria e também conjunta com outros países que se
encontram nas mesmas condições, nomeadamente e em primeiro lugar
com o objectivo de discutir a criação de condições
para a eliminação de todos e quaisquer riscos de
penalização ou prejuízos económicos para os
países que entendam que a sua manutenção na União
Económica e Monetária se torna incomportável. Mas,
independentemente da celeridade desse necessário debate, duma coisa
temos a certeza:
a resposta à crise e a solução dos problemas do
desenvolvimento do país e da União Europeia não podem
passar, nem passam, pela imposição de medidas de austeridade que
se renovam, sem fim à vista, numa espiral de endividamento, nem pelas
soluções que deixam mão livre à agiotagem
financeira e aos interesses do grande capital, nem tão pouco pelo
recurso a um fundo com as velhas imposições draconianas do FMI
que o ainda ministro das Finanças reconheceu nesta última
terça-feira e que outros há muito, como o PSD, assumiram.
A ruptura com as políticas dominantes da direita em Portugal e com os
eixos fundamentais do processo de integração capitalista europeu
são a resposta necessária e tornaram-se num imperativo nacional
para assegurar uma vida melhor para os portugueses e, é nossa
convicção, para outros povos da Europa.
No plano nacional aquilo que a situação do país reclama
é uma ruptura e uma profunda mudança que abra caminho a uma
política patriótica e de esquerda. Uma política que tenha
como eixo central a valorização do trabalho e dos trabalhadores,
o que significa uma justa redistribuição da riqueza produzida,
como factor de justiça social mas também como questão
crucial para a dinamização do mercado interno. Uma
política assente na valorização dos salários, das
reformas e pensões, numa nova política fiscal e que comporte o
objectivo do pleno emprego e da defesa do emprego com direitos.
Uma política de defesa e promoção dos sectores produtivos
e da produção nacional; de reforço do investimento
público e alargamento dos serviços públicos; de fim das
privatizações e de
recuperação pelo Estado de um papel determinante nos sectores
económicos estratégicos, designadamente na banca e nos seguros,
na energia, nas telecomunicações e nos transportes, dando
prioridade à nacionalização da banca comercial
, como instrumento indispensável para garantir um sistema financeiro ao
serviço do crescimento económico, do emprego e da soberania
nacional.
Uma política de defesa intransigente da renegociação da
Política Agrícola Comum e da Política Comum de Pescas,
entre outras, de forma a possibilitar o desenvolvimento de sectores
fundamentais da economia nacional e da nossa soberania.
Políticas nacionais de profunda e real mudança que reclamam uma
ruptura com o rumo neoliberal e federalista da União Europeia, com as
orientações da sua política económica e
monetária conduzida pelo BCE e pelo fim do mal chamado "Pacto de
Estabilidade e Crescimento". Uma mudança de rumo que acabe com a
chamada "livre" circulação de capitais, decida do fim
dos paraísos fiscais e dos produtos financeiros derivados e assuma, de
uma vez por todas, uma real linha de combate à especulação
financeira e bolsista.
Estes objectivos, longe de esgotarem tudo quanto é necessário
para uma ruptura com a uma política de desastre nacional e com o rumo da
integração capitalista europeia, constituem contudo, e no
imediato, uma resposta clara e alternativa à brutal ofensiva que o
grande capital e os governos ao seu serviço impõem aos
trabalhadores e aos povos, integram-se na necessária e urgente resposta
patriótica e de esquerda à situação que vivemos e
são parte integrante do combate do PCP contra a natureza e o rumo da
União Europeia.
O povo português não está condenado a um presente e futuro
de dependência e submissão face aos interesses do grande capital e
das grandes potências. É possível a abertura de novos
caminhos de desenvolvimento económico e social que, assentes numa
verdadeira concepção de desenvolvimento da produção
nacional e de intensificação e diversificação das
relações económicas do País, garantam aos
trabalhadores e ao povo português o direito ao seu desenvolvimento,
à dignidade e à justiça social. Mas, como a realidade o
demonstra e a História o comprova, tais soluções,
contrárias ao interesse do capital e favoráveis aos trabalhadores
e aos povos não nos vão ser dadas de mão beijada.
Têm de ser conquistadas a pulso, seja aqui em Portugal seja em qualquer
outro País da Europa e do Mundo.
Em Portugal o PCP, ciente das suas responsabilidades numa
situação tão complexa e difícil, sabe que só
por via do aprofundamento da participação dos trabalhadores e do
povo português na definição dos destinos do nosso
País, que só por via de uma real tomada de consciência
política de que é no povo que reside o poder de transformar
é que se poderão operar reais mudanças na nossa
situação nacional. A força do povo e sua
convicção de que não tem que ficar tudo na mesma
são factores essenciais para a mudança e para a
construção da alternativa, assim como é o alargamento da
luta dos trabalhadores e do povo e o seu apoio um governo capaz de, no plano
institucional, levar a cabo uma real mudança na política nacional.
Uma mudança que para nós é inseparável da luta por
uma democracia avançada para Portugal nas suas diversas vertentes e se
integra na luta mais vasta por uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos e
no objectivo deste Partido Comunista Português que tem sempre presente no
horizonte da sua luta a perspectiva da construção do socialismo.
[*]
Secretário-Geral do PCP. Intervenção no debate
"Alternativas à crise na União Europeia" promovido pelo
PCP e GUE/NGL em 25/Março/2011. Os destaques a vermelho, os sublinhados
e os inter-títulos são da responsabilidade de resistir.info.
O original encontra-se em
www.pcp.pt/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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