"Mudar" para ficar na mesma...

por Alentejo Popular

A face oculta. As revelações do semanário Sol , com base em alegadas escutas efectuadas pelas autoridades policiais e judiciais, relativas a um eventual plano para criar um grupo de "media" favorável ao Partido Socialista e ao Governo de José Sócrates, não trouxeram nada de novo. Vejamos:

– Tentativa de controlar televisões, rádios e jornais? É uma prática antiga do PS, do PSD e do PP, que dominam o sistema mediático hegemónico, em conivência com os grupos económicos proprietários dos principais órgãos de comunicação social. Aliás, só assim se percebe que os mais recentes casos de "censura" e de afastamento de vozes incómodas de jornalistas não tenham atingido gente de Esquerda: é que, desde há muito, jornalistas, analistas e comentadores vagamente suspeitos de não alinharem com os "partidos responsáveis" não têm entrada ou aparecem apenas esporadicamente nos "media" da esfera do poder.

– Utilização de bancos e grandes empresas, conluios entre o poder político e o poder económico, para "esquemas" ilegais? A própria Portugal Telecom, no passado, e outras empresas privatizadas em que o Estado mantém alguma capacidade de decisão ou influência (lembram-se do cheque da EDP que um ministro veio trazer a Aljustrel, a uns meses das eleições?) já tinham estado envolvidas em negócios na área da comunicação social. Isto, para além das públicas negociatas de milhões envolvendo bancos e ex-governantes de diferentes matizes.

– Dúvidas sobre o papel do sistema de Justiça na protecção dos governantes alegadamente envolvidos em casos "complicados"? Também aqui não há nada de novo: para que serve a Justiça de classe se não para encobrir e defender as classes dominantes?

– Colocação de boys em conselhos de administração e noutros lugares chave, de empresas e do aparelho do Estado, para "servirem" os chefes? É uma prática antiga, tornada famosa quando António Guterres chegou ao poder, em meados dos anos Noventa, e, inspirado em Bill Clinton, proclamou que não haveria jobs para a rapaziada – fazendo depois exactamente o contrário, até proclamar "o pântano" e ir à vida.

O que há de "novidade", pois, nos mais recentes episódios do caso "Face Oculta" que, aliás, deverão continuar a ser revelados, a conta-gotas, à medida dos interesses do PSD à procura de uma liderança "forte"?

No essencial, o que há de novo é que o PS tem maioria relativa e já não consegue governar de forma "absoluta", é que a situação económica, financeira e social do País é catastrófica, é que José Sócrates – por muito que não tenha o perfil de um "desistente" (António Vitorino dixit) – está cada vez mais desacreditado.

O que se avizinha, pois, é uma recomposição do governo da direita. Ao capital já não servem os que lá estão? Pois, então, arranjam-se outros, na primeira oportunidade. Com os protagonistas do costume (Cavaco, Sócrates e putativos sucessores, PSD com novo chefe, Portas e companhia, mais os senhores do capital), as diversas facções da Direita – as mesmas que, invocando razões "patrióticas", aprovam orçamentos do Estado e programas de "estabilidade e crescimento" a contento de Bruxelas – preparam já "alternâncias". "Mudar" para que tudo fique na mesma – ou pior ainda.

A luta dos trabalhadores, claramente, é outra. Contra os sócrates ou os rangéis, contra o desemprego e a precariedade, contra o congelamento de salários, contra a subida de impostos, contra as injustiças e desigualdades, contra a exploração, por uma vida melhor!

18/Fevereiro/2010
O original encontra-se em http://www.alentejopopular.pt/pagina.asp?id=3858

Este editorial encontra-se em http://resistir.info/ .
21/Fev/10