EUA: A classe trabalhadora contra a classe média
Solidariedade ou competição no enfrentamento da crise?
por James Petras
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"Creio que não percebe quão difícil é para os
oprimidos tornarem-se unidos. A sua miséria une-os (...) Mas por outro
lado a sua miséria é capaz de separá-los uns dos outros,
pois são forçados a arrancar as pobres migalhas das bocas uns dos
outros".
Bertolt Brecht, Collected Plays Vol. 9 (Pantheon Books New York 1972) p. 379
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Há dois factos incontestáveis acerca dos Estados Unidos: a
economia e a classe trabalhadora experimentam uma crise económica
prolongada a qual perdura há mais de três anos e não mostra
sinais de acabar; não houve grande revolta, resistência em massa
nacional ou mesmo protestos em grande escala com quaisquer consequências.
Poucos escritores tentaram abordar este paradoxo aparente e aqueles que o
fizeram deram respostas parciais as quais de facto levantam mais
questões do que respondem.
Linha de investigação
No essencial, a maior parte dos que escrevem enfatizam um dos dois lados do
"paradoxo". Os analistas da "crise" focam a
extensão, duração e natureza duradoura da ruptura
económica, descrevendo seu duro impacto sobre a classe trabalhadora e a
média em termos de perdas de emprego, benefícios,
salários, hipotecas, etc. Outros, principalmente na esquerda
progressista, enfatizam os protestos locais, respostas críticas em
inquéritos de opinião, queixas ocasionais de burocratas sindicais
e as esperanças e sermões de académicos e sabichões
de que uma "revolta" está a caminho no futuro próximo.
Dentre a minoria de analistas críticos menos confiantes, há
desespero ou, pelo menos, uma visão mais pessimista do
"paradoxo". Eles apontam vários obstáculos
psicológicos, organizacionais e políticos profundamente assentes
que impedem qualquer revolta ou inquietação de massa de
apossar-se do público dos Estados Unidos.
Em geral, estes críticos vêem a classe trabalhadora e média
como "vítimas" do sistema, influenciada por líderes
falsos, manipulação dos media, capitalismo corporativo e o
sistema de dois partidos, o que os impede de perseguir os seus interesses de
classe.
Neste ensaio, buscarei uma linha alternativa de análise a qual
argumentará que os "inimigos externos" bloqueando a
resistência da classe trabalhadora e da média são ajudados
e encorajados pelo comportamento e interesse percepcionado dentro das classes.
No prosseguimento desta linha de investigação, argumentarei que
tanto a natureza como o âmbito da "crises" foi mal compreendido
no seu impacto sobre a classe trabalhadora e a média e, em
consequência, o grau de contradições internas dentro
daquelas classes não tem sido adequadamente entendido.
Conceitos chave: clarificando 'crises' e o seu impacto
Crises económicas, mesmo severas, prolongadas, tal como a que afecta
hoje os EUA, não têm um impacto uniforme sobre todos os sectores
da classe trabalhadora e da média. O impacto desigual segmentou a classe
trabalhadora e a média entre aqueles que são afectados
adversamente e aqueles que não o são, ou quem é certas
circunstâncias saiu beneficiado. Esta segmentação é
um factor chave responsável pela falta de solidariedade de classe
resultou em "contradições" dentro e entre a classe
trabalhadora e a média.
Em segundo lugar o desenvolvimento da organização social
especialmente sindicalização entre trabalhadores do sector
público e privado levou os primeiros a assegurar e reter maiores
benefícios sociais e aumentos e salários, ao passo que os
últimos perderam terreno. Os trabalhadores do sector público
valem-se de financiamento público para financiar seus "interesses
corporativos" ao passo que os do sector privado são forçados
a pagar impostos acrescidos, devido à legislação fiscal
regressiva. O resultado é um aparente ou real conflito de interesses
entre trabalhadores públicos bem organizados unidos em torno de um
estreito conjunto de interesses (próprios) e a massa de trabalhadores
não organizados do sector privado a qual, incapaz de aumentar seus
salários através da luta de classe, posiciona-se ao lado dos
"conservadores fiscais" (financiados pelo
big business
) para exigir cortes entre trabalhadores do sector público.
O sectarismo político, especialmente entre democratas da classe
média e trabalhadora, mina a solidariedade de classe e enfraquece a
resistência social unificada. Isto é evidente em
relação a questões de guerra e paz, de crise
económica e de cortes em programas sociais. Quando os democratas ocupam
posição [no governo], quando anunciam guerra e os gastos de
guerra multiplicam-se, o grosso do movimento da paz desapareceu, protestos do
trabalho contra cortes orçamentais concentram-se sobre governadores
republicanos, não democratas, mesmo quando a classe trabalhadora e a
média (incluindo empregados do sector público) é afectada
adversamente.
Os milionários dirigentes sindicais de topo (salário médio
anual de mais de US$300 mil mais benefícios) aprofundam a divisão
ao dar prioridade à segurança da sua posição
através de contribuições de milhões de
dólares aos democratas, comprando portanto segurança quanto aos
fluxos de rendimento decorrentes de pagamentos devidos. A segurança do
funcionalismo, através do alinhamento com legisladores, governadores,
presidentes de municipalidades e líderes executivos do Partido contribui
mais uma vez para a divisão no interior da classe trabalhadora entre
"funcionários seguros" e seus seguidores por um lado e o resto
da classe média e da trabalhadora.
A operar com estes conceitos chave, voltaremos agora para a
descrição das "condições objectivas de
crise", um levantamento crítico de algumas
explicações para o "paradoxo", prosseguiremos com um
exame pormenorizado das "contradições internas" e
concluiremos esboçando alguns pontos de partida para a
resolução do paradoxo.
A crise económica é real, profunda e prolongada
Os sintomas e estruturas de uma crise económica profunda são
facilmente visíveis para qualquer um, mesmo o mais obtuso apologista do
governo ou economista de prestígio: os desempregados e subempregados
atingiram 18 a 20 por cento. Uma em cada três famílias dos EUA
é directamente afectada pela perda de emprego. Um em cada dez
proprietários de casa americanos está ou atrasado nos pagamentos
da hipoteca ou enfrenta o arresto. Mais da metade dos desempregados actuais
(9,1 por cento) esteve sem trabalho durante pelo menos seis meses. Cortes
maciços em despesas públicas e investimentos levaram ao fim de
programas de saúde, educacionais e de bem-estar para dezenas de
milhões de famílias de baixo rendimento, crianças, os
deficientes, os pensionistas idosos. Firmas privadas eliminaram ou reduziram
pagamentos de seguro de saúde, deixando mais de 50 milhões de
trabalhadores americanos sem seguro de saúde e outros 30 milhões
com cobertura médica inadequada. Isenções fiscais,
tributação reduzida e regressiva aumentaram pagamentos de
impostos sobre salário e trabalhadores assalariados, reduzindo seu
rendimento líquido. Aumentos sobre pagamentos de pensões e de
saúde forçaram empregados da classe média e trabalhadora a
sofrerem nova redução do rendimento líquido. As despesas
acrescidas para pelo menos quatro guerras (Iraque, Afeganistão,
Paquistão e Líbia), preparativos para uma quinta (Irão) e
apoio ao estado mais militaristas do mundo (Israel) e um altamente expandido e
custoso aparelho de segurança interna (só o Homeland Security
custa US$180 mil milhões) deterioram muito o ambiente, os lugares de
trabalho, o espaço de lazer e os padrões de vida.
O poder político corporativo e o controle absolutamente tirânico
sobre o lugar de trabalho aumentou o medo, a insegurança e o terror
virtual entre empregados que enfrentam ritmos acrescidos e
eliminação arbitrária de qualquer
intervenção na saúde e segurança do lugar de
trabalho, na programação do trabalho, nas cargas de trabalho
acima e abaixo dos prazos. Empregos em serviços de baixo pagamento
proliferam, empregos bem pagos são exportados do país;
fábricas manufactureiras são relocalizadas no exterior;
profissionais e trabalhadores imigrantes mal pagos são importados
aumentando a pressão sobre os trabalhadores americanos para competir por
pagamento mais baixo e menores benefícios. A "crise
económica" está incorporada na estrutura profunda do
capitalismo estado-unidense e não é um "fenómeno
cíclico" sujeito a uma recuperação dinâmica,
restaurando empregos, lares, padrões de vida e condições
de trabalho perdidos.
Respostas da classe trabalhadora e da média à crise
económica
A crise económica profunda, enraizada e generalizada não produziu
quaisquer revoltas proporcionais, rebeliões ou mesmo um movimento
nacional de protesto constante. Na melhor das hipóteses, protestos de
segmentos específicos da classe trabalhadora e da média tem
procurado defender estreitos interesses organizativos e económicos. O
movimento de protesto dos empregados públicos em Wisconsin foram
tão excepcionais na sua militância quanto ficaram isolados e
limitados quanto ao seu impacto nacional. Quando governadores republicanos na
Califórnia e democratas em Nova York eliminaram dezenas de milhares de
milhões de dólares em salários, pensões e
benefícios de saúde para centenas de milhares de empregados
públicos sindicalizados, responsáveis sindicais guincharam de
modo impotente do lado de fora, incapazes de organizar quaisquer protestos
sérios e muito menos movimentos populares. Embora inquéritos de
opinião pública registem altos níveis de
preocupação individual acerca das crises económicas e
insatisfação com a resposta de ambos os partidos políticos
às crises isto não levou à actividade prática, nem
tão pouco daí emergiu qualquer "movimento" de massa
o descontentamento permanece privado e inconsequente.
Até que milhões das classes média e trabalhadora estejam
profundamente preocupados com as crises económicas em cursos não
pode haver repercussões sociais ou políticas significativas
passadas, presentes ou no futuro previsível.
Todas as esperanças bombásticas e "prognósticos
ameaçadores" da parte de liberais e gente de esquerda, socialistas
e progressistas, que escreveram e previram uma próxima "revolta da
massas" estavam redondamente erradas. A crise continua e as altamente
insatisfeitas classe média e trabalhadora continuam a sofrer
privadamente, a resmungar seus descontentamentos isoladamente, pouco desejosas
de empenhar-se em qualquer acção colectiva de massa.
Mesmo quando os mass media, mesmo quando a Internet, o Facebook e o Tweeter
apresentam milhões a manifestarem-se, a golpearem e mesmo a derrubarem
regimes opressivos no Médio Oriente e na África do Norte, mesmo
quando nos noticiários transparecem repetidas greves gerais e
ocupações de massa de praças públicas por
empregados, trabalhadores e desempregados na Grécia, Espanha, Portugal,
Itália e França, os trabalhadores dos Estados Unidos permanecem
apáticos, indiferentes e impotentes para "aprender as
lições" e "efectuar acções
colectivas" mesmo quando as questões de emprego e cortes são
semelhantes.
Explicações para a imobilidade social face às crises
económicas
Não há falta de "reconhecimento" de que "alguma
coisa está errada" quanto a isto nos Estados Unidos. Não
há falta de sabichões a tentarem agarrar o paradoxo das crises
económicas e da imobilidade social.
Vários assaltos explicativos estão a pairar através dos
media e da Internet. Alguns escritores recorrem a explicações
psicológicas para a passividade social destacando o "medo"
generalizado da retaliação patronal, da repressão do
estado ou uma sensação de "futilidade" e de
indiferença e hostilidade a partidos políticos. Os argumentos
psicológicos têm algum mérito pois apontam para algumas das
causas imediatas do não envolvimento mas falham em explicar o que
provoca o "medo" e a sensação de futilidade.
Em resposta, muitos críticos progressistas citam a ausência ou
fraqueza de organizações sociais e apontam em particular para o
declínio de organizações sindicais, que deixam 93 por
cento do sector privado não organizado e os trabalhadores sindicalizados
do sector público com poderes limitados de negociação. Se
bem que estes críticos estejam certos ao enfatizar a relutância de
dirigentes sindicais milionários em romperem novo terreno
político e iniciarem novos esforços organizativos, é
preciso explicar porque as não organizadas classe média e
trabalhadora não lançou por si própria quaisquer novas
iniciativas. Dirigentes sindicais têm um longo historial de
"retornos" que remontam a pelo menos duas décadas e ainda
assim aqueles que são afectados directamente e de modo adverso e aqueles
que perderam seus empregos não organizaram uma rede alternativa de
solidariedade.
Analistas políticos enfatizam a natureza oligárquica e restritiva
do sistema eleitoral que esvazia previamente a emergência de novas
iniciativas políticas. O custo de muitos milhões de
dólares de concorrer a eleições, a dominância quase
monopolista dos mass media pela elite dos dois partidos e o obstáculo
legal de assegurar um lugar na votação desencorajam eleitores
desencantados a apoiar novas iniciativas políticas. Mas a questão
mais profunda é porque movimentos de massa, fora da estrutura dos
partidos eleitorais, não emergiram de modo a poder finalmente desafiar a
oligarquia política, o monopólio corporativo dos media e mudar os
constrangimentos legais quanto à entrada efectiva na arena eleitoral.
Por que em outros países ainda mais repressivos emergem movimentos de
massa, enfrentando constrangimentos semelhantes quanto a acesso legal e
confrontando oligarquias estabelecidas?
Se "constrangimentos externos" semelhantes àqueles encontrados
nos EUA levam a respostas comportamentais divergentes, isto levanta a
questão de se as diferenças dentro da classe média e da
trabalhadora podem ser a fonte da passividade e da imobilidade.
Alguns poucos escritores, principalmente na esquerda, mencionam o
divórcio entre intelectuais/académicos e a mobilidade declinante
da classe média e trabalhadora. Nos Estados Unidos há poucos
intelectuais politicamente empenhados e conferencistas políticos.
O que se passa quanto às classes educadas é que são
profissionais académicos em tempo integral que pouco diferem na sua vida
social e diária, pouco importando as suas filosofias ideológicas
declaradas. A vasta maioria dos académicos de esquerda concebe o seu
"activismo" como leitura de documentos uns para os outros em
"fóruns sociais" de "esquerda", os quais pouco
diferem em formato e consequências das reuniões dos profissionais
da corrente dominante.
Mesmo aqueles académicos que tomam um papel político, é
principalmente em relação aos multimilionários altos
dirigentes sindicais e seu leal aparelho. Em consequência, os
académicos progressistas acabaram com pouca penetração
junto à vasta maioria de trabalhadores que estão fora dos
sindicatos e cujas facções sindicais dissidentes desafiam o nexo
corporativo sindicato Partido Democrata.
Uma explicação alternativa para o "paradoxo"
Um dos problemas chave que inibe um entendimento do paradoxo é o
tratamento do conceito chave "crises". Muitos autores concebem
as "crises" de um modo "holístico", presumindo que
é "geral" ou "sistémica" e tem um efeito
homogéneo sobre a classe média e a trabalhadora. De facto a vasta
maioria, digamos três quartos, não sofreu um impacto sério
com as "crises". Assumindo que os desempregados e o subempregados
compreendam cerca de vinte por cento e acrescentando aqueles que sofreram grave
mobilidade para baixo, ainda temos pelo menos 70 por cento cuja
preocupação principal é manter sua posição
"privilegiada" e desconectar-se daqueles que caíram para fora
da órbita da sua classe social. Nos EUA, mais do que em qualquer outro
país, as agudas diferenças internas entre empregados
sub/desempregdos levaram à "competição"
não à solidariedade. Na maior parte dos países do mundo,
trabalhadores "desempregados" e "subempregados" podem
esperar apoio, suporte activo dos trabalhadores sindicalizados; nos EUA uma vez
que empregados da classe média e trabalhadores perdem o seu emprego e
não podem pagar dívidas eles são abandonados. Mesmo em
termos de vida social, familiar e de vizinhança, são vistos como
um "custo", uma drenagem potencial dos recursos daqueles que
estão empregados. O empregado vê o desempregado e mal pago como um
custo para a previdência, portanto um fardo tributário acrescido
ao invés de um aliado na luta para fazer com que a elite corporativa
pague impostos mais altos e reduza despesas de guerra. Impostos mais altos
entre trabalhadores empregados significa fuga de capital; menores despesas
militares significa poucos empregos na indústria de guerra.
A segmentação dentro da classe média e trabalhadora opera
a muitos níveis. O mais gritante é entre a escala de pagamento de
dirigentes sindicais de topo que ganham mais de US$ 300 mil mais
benefícios e os desempregados/subempregados que vivem com menos de US$
30 mil. Estas diferenças económicas são exibidas
política e socialmente. O aparelho sindical compra
"segurança de emprego" ao contribuir com dezenas de
milhões principalmente para os democratas, para assegurar que os
sindicatos mantêm a sua legalidade formal e direitos de
negociação colectiva. Por outras palavras, os sindicatos dos
"organizados", 12% da força de trabalho, são
"prisioneiros forçados" do estado "infestado de
crises", as quais excluem quaisquer novas iniciativas
sócio-políticas que reflectiriam as exigências e os
interesses dos sub/desempregados e trabalhadores não sindicalizados com
baixa remuneração.
A classe média e a trabalhadora sofrem o impacto das crises de modo
diferente: aqueles com empregos e ligações ao Partido Democrata
colocam as suas lealdades partidárias acima de qualquer
noção de solidariedade de classe. Os que têm emprego
não apoiam os desempregados vêem-nos como competidores numa
fatia de rendimento que se contrai.
Se examinarmos estes dois grupos em pormenores descobriremos que os mal pagos e
ou sub/desempregados tendem a ser jovens com menos de 30 anos, negros,
hispânicos e pais/mães solteiros; os empregados mais bem pagos da
classe média e da trabalhadora tendem a ser mais velhos, brancos
educados e de procedência anglófona ou judaica. As divisões
geracionais, raciais, étnicas desempenham um papel muito maior nos EUA
do que em qualquer outra parte, devido ao apagamento da identidade de classe e
de perspectivas, as quais diluíram qualquer noção de
solidariedade de classe.
A segmentação da classe média e trabalhadora é
aprofundada nos EUA pelo facto de que aqueles com emprego estável em
muitos casos beneficiam das consequências adversas que afectam a
mobilidade descendente (desemprego) dos empregados e trabalhadores.
Os arrestos hipotecários afectam mais de 10 milhões de
famílias americanas incapazes de cumprirem seus pagamentos. Bancos
ansiosos por recuperar alguma parte dos seus empréstimos, põem
à venda casas a preços drasticamente reduzidos. Empregados da
classe média e trabalhadora ficam exultantes em comprar casas, mesmo
quando membros da sua classe são expulsos para a rua ou para reboques de
campismo. Não há movimento para impedir ou protestar contra os
despejos por parte de vizinhos, colegas de trabalho e/ou parentes; ao
invés disso são feitas investigações discretas
acerca da data do leilão.
Trabalhadores mais bem pagos procuram obter bens de consumo mais baratos em
super-lojas que empregam trabalhadores de salário mínimo. Os
"interesses" dos trabalhadores são definidos pelos interesses
imediatos do consumidor individual e não em termos da melhoria de
interesses estratégicos resultando do poder social e político
potencial de uma classe organizada.
Proprietários de casa da classe média e trabalhadora
vêem-se como "contribuintes" aliados a magnatas corporativos e
imobiliários no combate pela redução de impostos
através de cortes na previdência e serviços sociais para a
classe trabalhadora de baixa remuneração e os desempregados. O
crescimento da revolta da classe superior e médica contra o estado
previdência é com efeito uma guerra de um segmento da classe
contra outro. Claramente um segmento combate para apanhar as migalhas da boca
do outro segmento.
Mesmo entre a classe trabalhadora organizada há
segmentação. Bolsões de trabalhadores sindicalizados do
sector público mais bem pagos asseguram aumentos de pagamentos,
pensões e planos de saúde através de luta colectiva,
ignorando os interesses, pedidos e necessidades do mar de trabalhadores
não sindicalizados, os quais estão em processo de mobilidade
descendente ao pagarem impostos mais altos. Portanto as suas diferenças
sócio-económicas foram politizadas pela direita e os
sectores público-privado da classe média e da trabalhadora
competem pelas migalhas de um orçamento em contracção.
Quando instalações públicas de saúde e
educação declinam, a classe média e a trabalhadora
dividiu-se entre aqueles que se voltaram para clínicas e escolas
privadas e aqueles que permanecem dependentes de instalações
públicas, baseadas em gastos estatais. Os segmentos ligados ao
"privado" rejeitam impostos para financiar o
"público", minando qualquer solidariedade de classe para
melhorar o financiamento e a qualidade da saúde e educação
públicas.
Conclusão
É claro que a crise do capitalismo provocou respostas
contraditórias entre diferentes segmentos da classe média e da
trabalhadora com base no seu impacto diferencial. Identidades de não
classe anteriores, divisão económica interna entre líderes
e seguidores, divisões geracionais e lealdades partidárias
minaram a solidariedade de classe e levaram a queixas inconsequentes e
hostilidade difusa.
Competição não solidariedade dentro e entre
a classe média e a trabalhadora é razão da profunda
imobilidade dos americanos face a uma crise económica prolongada e em
aprofundamento.
Isso é assim agora e foi no passado. Haverá quaisquer
perspectivas de um futuro diferente? Haverá qualquer possibilidade de
unir segmentos da classe média e trabalhadora em alguma luta prolongada?
Haverá caminhos alternativos para a solidariedade de classe
mobilizações populares?
O rumo mais promissor é começar ao nível local e regional
e envolver organizações da comunidade local, dissidentes da base
sindical e profissionais progressistas (advogados, médicos, etc) em
lutas, os quais entram em sintonia com os grupos mais gravemente afectados que
enfrentam desemprego, arrestos, sem planos de saúde, etc. Todos os
inquéritos mostram uma profunda divergência entre a vasta maioria
dos americanos e a elite política de ambos os partidos sobre
questões de salvamentos bancários, isenções fiscais
para os ricos, "reformas" (privatizações e
reduções), Medicare, Medicaid e Segurança Social. Existem
divergências sobre as perdas de vidas e as despesas das múltiplas
e prolongadas guerras da América (Afeganistão). Referendos
propondo (1) acabar com o tecto nas contribuições de
segurança social para os ricos finalizariam a chamada "crise da
segurança social". (2) Um imposto de vendas sobre
transacções financeiras financiaria o défice do Medicare.
Investimentos públicos na nossa infraestrutura em
deterioração com base na transferência de fundos de guerra
(US$790 mil milhões) criaria empregos, aumentaria a procura na economia
interna e aumentaria a produtividade e competitividade da economia dos EUA. O
apoio à saúde pública é uma questão que une
a maior parte dos segmentos da classe média e trabalhadora,
trabalhadores sindicalizados da saúde e organizações da
comunidade numa confrontação potencial com a grande
indústria farmacêutica e as corporações privadas das
indústrias da saúde.
Um salário mínimo mais alto arrancando nos US$12 por hora
podia mobilizar a maior parte dos segmentos da classe media e
trabalhadora; iniciativas ao nível local podiam atrair trabalhadores
imigrantes e nacionais com baixa remuneração.
Dados de entrevistas demonstram que a maior parte dos americanos têm
atitudes aparentemente "contraditórias": apoiam
políticas progressistas e regressivas. Exemplo: muitos apoiam o Medicare
e "pouco governo", criação de emprego federal e
redução do défice; tarifas de importação e
importações de bens de consumo baratos. Um programa de
educação política abrangente para activistas, que
demonstrassem serem factíveis e financiáveis reformas sociais
progressistas, pode ser convertido em organização e
acção directa. Começamos com uma realidade objectiva,
demonstrando que a crise contínua do capitalismo não atende e
não pode atender as exigências mais elementares: empregos,
habitação, segurança, paz e crescimento. Isso constitui
uma grande vantagem sobre os advogados do sistema os quais argumentam em favor
de medidas regressivas prolongadas e mais profundas no futuro previsível.
Em segundo lugar, começamos com a vantagem de saber que o país
tem a riqueza, qualificação e recursos potenciais para
ultrapassar as crises. Em terceiro, podemos argumentar a partir de programas
populares relativamente bem sucedidos os quais têm um apoio amplo
segurança social, Medicare, Medicaid como "exemplos" a
estender a aprofundar na cobertura social.
Para a maior parte dos americanos, o combate de hoje, para manter o que existe,
é defensivo esforços para preservar os últimos
vestígios de organização independente, defender a
segurança social, programas de saúde, educação
pública razoável, pensões. A ofensiva corporativa
está a "homogeneizar" cada vez mais a classe média e
trabalhadora com os segmentos não organizados de baixa
remuneração. Há cada vez menos "trabalhadores
privilegiados" mesmo que eles ainda não o reconheçam.
A próxima extinção do sindicalismo do sector privado e da
sua moribunda liderança milionária proporciona uma oportunidade
para começar de novo com uma liderança horizontal,
responsável para com os seus membros e integrada com
organizações da comunidade de cooperativas, ecologistas,
imigrantes e de consumidores. O que é absolutamente claro é que
as "crises" sozinhas não resultarão em qualquer
levantamento em massa; nem tão pouco "iluminados"
académicos progressistas aninhados no seu micro-mundo oferecem qualquer
liderança.
A estrada em frente começa com líderes locais a emergirem de
coligações locais, a construírem
organizações na base de iniciativas políticas e sociais
independentes em sintonia com seus vizinhos, trabalhadores amigos e os
americanos em mobilidade declinante, organizados e não organizados.
Não vejo soluções fáceis ou rápidas para o
"paradoxo" mas vejo condições objectivas para construir
um movimento. Ouço uma multidão de vozes iradas e dissonantes.
Acima de tudo, espero que os oprimidos cessem "arrancar as migalhas uns
dos outros".
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=25395
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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