Capitalismo e luta de classe
por James Petras
A luta de classe continua a desempenhar um papel central no processo da
acumulação capitalista, embora assuma formas diferentes consoante
o contexto sócio-económico. Para analisar a
situação da luta de classes é necessário
especificar conceitos chave relacionados com (a) as diversas
condições e os sectores dominantes do capital na economia global,
(b) a natureza da luta de classe, (c) os principais protagonistas das lutas de
classe, (d) o carácter das exigências e (e) as lutas de massas.
A acumulação capitalista desenrola-se num padrão muito
desigual com consequências importantes para a natureza e a intensidade da
luta de classe. Além disso, as reacções particulares dos
trabalhadores, e principalmente do estado capitalista, à
situação geral da economia moldam o grau em que a luta de classe
se intensifica e definem qual dos dois principais 'pólos' (capital ou
trabalho) assume a ofensiva.
Clarificação de conceitos
Ao analisar o capitalismo contemporâneo, a distinção mais
flagrante é entre três condições radicalmente
diferentes que o capitalismo enfrenta. Dizem respeito à
experiência dos países quanto a (a) alto desenvolvimento, (b)
estagnação, (c) crises profundas.
Os países capitalistas de alto crescimento dividem-se acentuadamente
entre (a) os que têm um alto crescimento do consumo, são grandes
exportadores de produtos agro-minerais-energia, na sua maioria situados em
África e na América Latina, (b) e os que são exportadores
de produtos fabricados situados principalmente na Ásia (China,
Índia, Coreia do Sul).
As economias em crise podem subdividir-se em três grupos.
(a)
Economias em recuperação rápida
, que incluem a
Alemanha e os países nórdicos, e que, depois de se afundarem num
crescimento negativo, alargaram as suas exportações industriais e
estão a crescer rapidamente desde 2010.
(b)
Economias em recuperação lenta ou em
estagnação
, que incluem os EUA, a Grã-Bretanha, a
França e a Itália, e que bateram no fundo, recuperaram lucros, em
especial no sector financeiro, mas têm feito pouco ou nenhum progresso na
redução do desemprego, na expansão das manufacturas e no
crescimento em geral.
(c)
Economias em crise prolongada e profunda
, que incluem Portugal, Espanha,
Grécia, os países bálticos e balcânicos, que
estão na bancarrota, com um desemprego crescente entre 15% a 20% e um
crescimento negativo. Têm um pesado fardo de endividamento e estão
a implementar fortes programas de austeridade destinados a prolongar a sua
depressão económica durante os próximos anos.
Assim como há padrões desiguais no desenvolvimento capitalista, o
mesmo acontece no que se refere à luta de classes. Há
vários conceitos chave que é preciso ter em
consideração na análise da luta de classes.
Em primeiro lugar, há a distinção entre luta de 'classes'
e luta de 'massas'. Na América Latina há muitas
situações de lutas de trabalhadores polivalentes, de camponeses
ou do sector público, lideradas por organizações ligadas a
classes. Por vezes estes movimentos baseados em classes tornam-se em 'lutas de
massas' e incorporam grupos heterogéneos (vendedores ambulantes,
trabalhadores independentes, etc). As revoltas árabes
contemporâneas são sobretudo lutas de massas, geralmente sem
liderança ou organizações de classe, ou nalguns casos
lideradas pela 'juventude' ou por 'organizações religiosas'.
Em segundo lugar, há a distinção entre lutas de classe
'ofensivas' e 'defensivas', em que as organizações de classe
lutam para aumentar os seus direitos sociais e aumentar salários ou
lutam para preservar ou limitar a perda de salários e dos níveis
de vida.
A luta de classe é uma proposta com dois sentidos: enquanto os
trabalhadores e outras classes exploradas lutam a partir de baixo, as classes
dirigentes e os seus estados empenham-se na luta de classes a partir de cima
para aumentar os seus lucros, produtividade e poder.
A luta de classe assume formas diversas. A maior parte das lutas de classe de
hoje é sobre 'questões económicas', incluindo uma fatia
maior do rendimento nacional. Há meia dúzia de anos, em toda a
América Latina, tal como hoje nos países árabes, a luta de
classes ou de massas era/é principalmente política, uma luta para
derrubar regimes neoliberais opressivos e regimes repressivos.
Com estes conceitos clarificados, podemos agora analisar a
relação entre países e regiões com diversos graus
de crises ou de crescimento e a sua relação com os diversos graus
e tipos de luta de classes.
Desenvolvimento desigual e luta de classe
Os países que experimentam um alto crescimento, quer na Ásia com
base na produção, quer na América Latina com base na
explosão das exportações agro-minerais, enfrentam uma
crescente luta de classes económica ofensiva por uma fatia maior do bolo
económico em crescimento. Na década passada, na China, sob a
pressão das bases, os salários ultrapassaram um aumento de 10%, e
nalgumas regiões de 20%
[1]
, enquanto que na América Latina os trabalhadores da Bolívia e
doutros países exigem mais de 10%
[2]
. Em grande parte, o alto crescimento é acompanhado pela
inflação
[3]
que corrói os aumentos nominais oferecidos pelo estado e pelos
empregadores. Especialmente provocadores são as fortes subidas nos
preços dos alimentos básicos, da energia e dos transportes que
afectam a vida quotidiana dos trabalhadores.
Entre os sinais mais promissores do avanço da luta de classes
estão as conquistas sócio-económicas reais e substanciais
conseguidas pelos trabalhadores na década passada na América
Latina. Na Argentina o desemprego diminuiu de mais de 20% para menos de 7%, os
salários reais aumentaram mais de 15%, o salário mínimo,
as pensões e a cobertura médica aumentaram substancialmente e a
filiação sindical aumentou. No Brasil ocorreram processos
semelhantes, embora numa escala menor: o desemprego passou de 10% para 6,5%
(Março de 2011), o salário mínimo aumentou mais de 50% nos
últimos 8 anos e várias centenas de terrenos foram ocupados e
expropriados sob a acção directa do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra. Na América Latina, embora a política social
revolucionária tenha diminuído desde a primeira década de
2000, a luta de classes económica tem tido êxitos na
obtenção de reformas substanciais que melhoram a vida da classe
trabalhadora e impõem algumas restrições à
exploração desenfreada da força de trabalho pelo
neoliberalismo, em profundo contraste com o que está a passar-se na
Inglaterra-América e na Europa do Sul.
Nos países imperialistas 'desenvolvidos' em estagnação, o
estado tem vindo a atirar o custo total da 'recuperação' sobre os
ombros dos trabalhadores e dos funcionários públicos, reduzindo o
emprego, os salários e os serviços sociais, enquanto enriquece os
banqueiros e a elite empresarial. Os EUA, a Inglaterra e a França
têm assistido a uma aguda ofensiva de classe a partir de cima que,
perante a fraca oposição de um aparelho sindical anquilosadamente
burocratizado, tem derrubado muitas das conquistas sociais anteriores dos
trabalhadores
[4]
. Na essência, as lutas dos trabalhadores são defensivas, na
tentativa de limitar o recuo mas falta-lhes a organização
política de classe para contra-atacar as medidas orçamentais
reaccionárias que cortam os programas sociais e reduzem os impostos aos
ricos, aprofundando as desigualdades de classe.
As lutas de classe mais intensas ocorreram nos países em que se
verificam as crises económicas mais profundas, nomeadamente, na
Grécia, em Espanha, na Irlanda e em Portugal. Nestes países, a
classe dirigente recuou meio século de conquistas sociais e de
salários no decurso de três anos a fim de satisfazer os
critérios dos banqueiros ocidentais e do FMI. A ofensiva de classe a
partir de cima, liderada pelo Estado, tem enfrentado uma série de greves
gerais, numerosas manifestações e montes de protestos mas tudo em
vão
[5]
. A elite industrial-estatal, liderada na maior parte dos casos pelos
políticos sociais-democratas, privatizaram empresas públicas,
cortaram milhões de empregos públicos, elevaram os níveis
de desemprego a níveis históricos (Espanha 20%, Grécia
14%, Portugal e Irlanda 13%) e canalizaram dezenas de milhares de
milhões para pagamentos da dívida
[6]
.
As crises têm sido aproveitadas pela classe dominante como arma para
reduzir os custos da mão-de-obra, para transferir receitas para os 5% do
topo da hierarquia de classes e para aumentar a produtividade, sem reactivar a
economia no seu todo. O PIB continua 'negativo' para o futuro
previsível, enquanto que a austeridade corrói a procura interna,
e os pagamentos da dívida impedem o investimento local de reactivar a
economia.
As crises políticas dos regimes clientes árabes,
rentistas, autocráticos e corruptos, manifestam-se nos movimentos
democráticos populares de massas na ofensiva que
derrubaram os regimes no Egipto e na Tunísia, para começar, e
desafiam o aparelho de estado pró-imperialista
[7]
. No Egipto e na Tunísia, foram derrubadas as autocracias
pró-imperialistas mas ainda não estão no poder regimes
democráticos populares que correspondam aos novos protagonistas de
massas da alteração política. No resto do mundo
árabe, surgiram revoltas de massas no Iémen, no Bahrein, na
Argélia, na Jordânia, na Síria e noutros locais, contra
autocracias imperialistas armadas, levantando o espectro de
alterações democráticas e sócio-económicas.
As potências imperiais, EUA e UE, inicialmente apanhadas
desprevenidas, acabaram por desencadear um contra-ataque, intervindo na
Líbia, apoiando a junta militar no Egipto e tentando impor 'novos'
regimes colaboracionistas para bloquear uma transição
democrática
[8]
. A luta de massas, influenciada pelas forças islâmicas e
seculares, tem um claro programa de rejeição da actual
situação política, mas, na falta de uma liderança
de classe, não tem sido capaz de apresentar uma estrutura
política e económica alternativa para além de vagas
noções de 'democracia'
[9]
.
Em resumo, o crescimento, acompanhado de um rápido aumento no rendimento
nacional e de uma inflação crescente, tem sido muito mais
mobilizador para a luta de classes ofensiva a partir de baixo do que as
'crises' ou a 'estagnação' que, quando muito, são
acompanhadas por lutas 'defensivas' ou de retaguarda. Em parte, a teoria da
'privação relativa' parece adequada à ideia duma crescente
luta de classes, mas esse tipo de luta é principalmente 'economicista' e
visa menos o estado propriamente dito. Além disso, os métodos de
luta são normalmente greves por salários mais altos. Isto
é sobretudo evidente na Argentina, no Brasil, no Chile e no Peru, onde
ocorreram intensas lutas por exigências economicistas diminutas. A
excepção são as lutas da comunidade índia no Peru e
no Equador contra as companhias mineiras estatais e estrangeiras que exploram e
poluem as suas terras, o ar e a água.
No entanto, há várias advertências a fazer. A classe
trabalhadora na
Bolívia, que goza de um dinâmico e forte crescimento nas
exportações agro-minerais, lançou uma greve geral de dez
dias (6 a 16 de Abril de 2011) pelos salários
[10]
. A prolongada greve no tempo acabou por levantar dúvidas
'políticas' sobre a legitimidade do regime de Morales nalguns sectores.
Isto deve-se, em parte, ao facto de que os aumentos de salários
são fixados pelo governo. Segundo a principal organização
de trabalhadores (COB), os aumentos ditados pelo regime ficaram abaixo do
aumento dos preços do cesto alimentar básico das famílias.
Daí que, o que começou como uma luta económica, acabou por
se politizar. Da mesma forma, no caso do Peru, com uma dinâmica economia
de exportação de minério, o regime neoliberal de Garcia
enfrentou agudos confrontos económicos e ecológicos com os
mineiros e as comunidades índias. Na campanha eleitoral presidencial de
2011, a luta tornou-se fortemente política, com uma pluralidade de
eleitores trabalhadores e camponeses a apoiar Humala, o candidato
centro-esquerda
[11]
. Em países de alto crescimento, que dependem de grandes companhias
mineiras de propriedade estrangeira e possuem substanciais comunidades
índias, o conflito de classe alia-se a exigências
ecológicas, de classe, nacionais e etnocomunitárias.
Por outras palavras, a distinção traçada acima entre lutas
de classe ofensivas/defensivas e económicas/políticas é
fluida, está sujeita a alterações, consoante muda a luta e
o seu contexto.
A terrível agudização da luta de classe numa China em
forte crescimento reflecte a crescente falta de trabalho nas regiões
costeiras, os enormes lucros duma nova classe de multimilionários, a
intensa exploração da mão-de-obra e a entrada de uma 'nova
geração' de jovens trabalhadores com opções
alternativas de trabalhar numa 'fábrica única'
[12]
. A 'socialização' de grandes concentrações de
trabalhadores em grandes fábricas, em proximidade estreita, facilita a
acção colectiva. Profundas desigualdades, especialmente à
luz do rápido crescimento dos capitalistas super ricos, ligados a
funcionários políticos corruptos e a sindicatos
irresponsáveis controlados pelo estado, levaram a uma 'espontânea'
acção directa de classe
[13]
. O impacto radicalizador da inflação é evidenciado pelo
surto duma greve de grande nível de camionistas em Baoshan, o maior
porto da China, em Xangai: os trabalhadores protestaram contra o aumento dos
custos do combustível e das taxas portuárias. Segundo uma
notícia, "Funcionários chineses alertaram para que a brusca
alta de preços e a crescente inflação da
corrupção oficial constitui a maior ameaça ao governo do
Partido Comunista". (
Financial Times
4/23-24/11 p1)
As lutas sindicais orientadas politicamente apareceram recentemente na
Venezuela, onde o governo de Chavez tem sublinhado o 'conteúdo
operário' da 'revolução socialista bolivariana'. Isto
encorajou os trabalhadores a entrar em greve nas empresas privadas para exigir
a expropriação de capitalistas intransigentes assim como a
alteração na gestão de empresas públicas
substituindo tecnocratas burocráticos por trabalhadores
[14]
.
A luta de classe menos desenvolvida passa-se nos Estados Unidos 'em
estagnação'.
Uma combinação da baixa densidade sindical (93% dos trabalhadores
do sector privado não estão sindicalizados) com uma
legislação laboral altamente repressiva e uma liderança
sindical milionária auto-perpetuadora, totalmente dependente do Partido
Democrático capitalista, inibem o desenvolvimento da consciência
de classe, com excepção de algumas 'bolsas locais' de
resistência
[15]
. A rápida erosão dos salários tem sido acompanhada por
uma exploração acrescida (menos trabalhadores e uma
produção reforçada) e pela redução dos
últimos vestígios da rede social (segurança social e
planos médicos para a população acima dos 65 anos)
[16]
.
Podíamos argumentar que o alto rendimento per capita, só por si,
não é uma razão bastante para pressupor um enfraquecimento
da luta de classe, já que a França e a Itália normalmente
têm mais greves gerais do que a Inglaterra apesar de o rendimento per
capita ser mais alto. O que é fundamental são os laços
institucionais entre os sindicatos e os partidos democráticos
laborais/sociais, por um lado, e a livre associação de
assembleias de trabalhadores nas fábricas, por outro. Nos EUA e no Reino
Unido a estagnação e a reacção estão ligadas
à subordinação da força de trabalho aos partidos
neoliberais sociais-democratas/democratas, enquanto que em França e na
Itália os sindicatos têm laços mais estreitos com as
assembleias de fábrica e mantêm um grau mais alto de autonomia de
classe
[17]
.
Por outras palavras, não há uma regra de ferro que ligue formas
particulares da luta de classe ao dinamismo ou à
estagnação da economia o que tem que ser incluído
é o grau de organização independente de classe capaz de
elevar o nível da luta no meio das voláteis
alterações económicas e políticas.
Imperialismo, luta inter-capitalista e luta de classe
Apesar das crises económicas de 2007-2009, que abalaram a maioria
mas não todos dos principais centros capitalistas neo-liberais
a classe capitalista na Europa e na América do Norte ficou mais
forte do que nunca. Seguindo as prescrições estabelecidas pelo
Fundo Monetário Internacional, os principais bancos privados de
crédito e os Bancos Centrais, toda a carga de pagamentos da
dívida, de défices fiscais e de desequilíbrios comerciais,
da responsabilidade dos regimes neoliberais, foi atirada para cima das classes
trabalhadoras e assalariadas. Em toda a 'periferia' da Europa de Leste e do Sul
foram aplicadas selectivas medidas de austeridade semelhantes. O resultado foi
uma reestruturação radical de pensões, de salários,
de relações sociais de produção todo o
conjunto de relações de classe estatais. Em consequência,
ocorreu uma verdadeira contra-revolução 'pacífica'
sócio-económica 'eleitoral' a partir de cima, que aprofunda a
exploração da força do trabalho pelo capital enquanto
concentra a receita nos 10% do topo da pirâmide social.
Os países imperialistas dos EUA e da Europa que enfrentam uma
competição cada vez mais intensa dos BRICs (em especial da China)
e
dos países em vias de industrialização da Ásia e os
crescentes preços dos bens, viraram-se para a procura de
'competitividade' através duma exploração interna
intensificada, duma maior pilhagem do erário público e de guerras
imperialistas.
Apesar disso, esta competição inter-capitalista está a ter
um efeito inverso, aumentando os rendimentos dos trabalhadores dos BRICs e
baixando os padrões de vida nos centros imperialistas
instituídos. Isto porque os BRICs investem na economia de
produção enquanto que os centros imperialistas esbanjam
milhões de milhões nas forças armadas e na actividade
especulativa
[18]
.
É preciso fazer um reparo no que se refere à
competição entre os países imperialistas e os BRICs, na
medida em que há milhares de fios financeiros, comerciais,
tecnológicos e de produção que os ligam uns aos outros.
Apesar disso, os conflitos entre formações sociais são
reais, tal como o é a natureza das clivagens internas de classes e das
suas configurações. O imperialismo, tal como existe hoje,
é um fardo para o avanço da classe trabalhadora
[19]
. Por agora a dinâmica interna das potências económicas
emergentes parece dotá-las com a capacidade de financiar o crescimento
interno expandindo o comércio ultramarino e as concessões de
salários à classe trabalhadora emergente que exige um
quinhão do bolo de receitas em crescimento.
Conclusão
Embora à superfície haja um declínio da luta de classe
revolucionariamente política, a partir de baixo, há potencial
para que as lutas económicas se tornem políticas no caso de a
inflação corroer os ganhos e de os líderes
políticos poderem fixar 'linhas de orientação'
rígidas sobre os aumentos salariais. Em segundo lugar, tal como ilustra
a Venezuela, os líderes políticos podem proporcionar as
condições que favorecem o avanço da luta de classe
do económico para o político.
Actualmente, a luta de classe política mais dinâmica vem de cima
o assalto sistemático a salários, à
legislação social, às condições de emprego e
de trabalho lançado nos EUA, na Espanha, na Grécia, na Irlanda,
em Portugal, na Inglaterra e nos estados bálticos/balcânicos.
Nestes países as crises económicas ainda não provocaram a
revolta das massas; em vez disso assistimos a acções defensivas,
a greves de grande escala até, tentando defender conquistas
históricas. Tem sido uma luta desigual em que a classe capitalista
manobra as alavancas institucionais, políticas e económicas,
apoiada pelo poder internacional dos bancos e estados imperialistas. A classe
trabalhadora não tem o que se lhe compare em termos de solidariedade
internacional
[20]
. Os sinais mais promissores na luta de classe global encontram-se na
acção directa dinâmica da classe trabalhadora
latino-americana e asiática. Aí, conquistas económicas
sólidas levaram ao reforço do poder e organização
de classe. Além disso, os trabalhadores podem basear-se em
tradições revolucionárias para criar as bases para o
relançamento de um novo projecto socialista
[21]
. Poderá isso detonar um novo ciclo de guerra de classe,
política e económica, a partir de baixo? O reaparecimento da
inflação, da recessão, da repressão e de cortes
ainda mais profundos poderá obrigar a força de trabalho a agir
independentemente e contra o estado como personificação deste
período regressivo.
25/Abril/2011
Notas
[1] Sobre a luta dos trabalhadores na China ver "Os trabalhadores é
que mandam"
Financial Times
(FT) 22/2/11, p. 3 e também
FT
16/2/11 "Salários chineses
aumentaram 12,6% entre 2000-2009 segundo o ILO"
[2]
La Jornada
9/4/11 - A Confederação dos Trabalhadores Bolivianos exigiu um
aumento de 15% nos salários. Em 2010, a Bolívia teve o maior
número de conflitos em 41 anos
El Pais
16/4/11.
[3] "Explosão da Inflação nos mercados
emergentes"
(Financial Times)
14/4/2011, p. 1 "Beijing obrigada a deixar subir o renminbi para
combater a inflação" (
FT
17/4/2001) p. 3.
[4] Sobre o orçamento para o ano fiscal de 2012, de Obama, comparar
New York Times
13/4/11 e 14/2/11. O último discurso sobre o orçamento sublinha
mais de 4 milhões de milhões de dólares em cortes durante
10 anos, que afectam em grande medida a rede social, uma importante
concessão aos extremistas republicanos da ala direita.
[5] Os trabalhadores gregos organizaram mais de seis greves gerais entre 2009 e
2011 (ver o semanário ateniense DROMOS desse período). Os
trabalhadores espanhóis organizaram duas greves gerais em 2010. Portugal
uma e a Irlanda uma importante manifestação.
[6] Dados compilados a partir dos Relatórios sobre o Emprego da
Organização Internacional do Trabalho 2010-11.
[7] Ver All Jazeera FevMarço 2011. Sobre o papel repressivo da
nova junta militar, ver Al Jazeera 7/4/2011.
[8] Reuters
14/2/11. Washington, nos bastidores, a manobrar a instalação de
um antigo lealista de Mubarak, Field Marshall Tatawi, para chefe da junta
é um exemplo flagrante.
[9] A incapacidade dos movimentos sociais árabes para assumir o poder
repete um problema semelhante da década anterior na América
Latina. Ver James Petras e Henry Veltmeyer Social Movements and State Power
(London: Pluto 2005).
[10] Sobre a greve geral na Bolívia, ver "Central Obrera declaran
huelga general"
La Jornada
(Cidade do Mexico)], 8 e 16 de Abril, 2011.
[11] Sobre a primeira volta das eleições presidenciais no Peru e
do vencedor populista centro esquerda Ollanta Humala, ver BBC "Peru facing
polarizing election as populists face off", 12/4/2011.
[12] Segundo uma notícia "discute-se a subida dos custos da
mão-de-obra (na China). Há oportunidades de emprego por todo o
lado, há muito menor necessidade de emigração"
Financial Times
18/3/11, p. 22.
[13] Sobre os multimilionários chineses ver
Forbes
Março 2011. Em consequência de "disputas irreflectidas entre
Maio e Agosto (2010) os patrões foram atingidos por greves ou outros
problemas. Isso resultou em aumentos de salários, nomeadamente um
aumento de 30% na Foxcomm, um fabricante de Taiwan".
Financial Times
16/2/11, p. 3.
[14]
Correo de Orinoco,
Caracas, Venezuela (English edition weekly) 3-9 de Abril, 2010.
[15] A greve geral dos trabalhadores do sector público de Wisconsin em
Março de 2011 foi a excepção à regra, a primeira do
seu género, induzida pelo governador republicano e pela
abolição efectiva da legislação de direitos de
negociação colectiva. Com excepção de uma greve de
um dia dos estivadores de São Francisco e de alguns protestos
esporádicos noutros estados, a confederação americana do
trabalho AFL-CIO não organizou uma única
manifestação pública nacional, mantendo-se dependente do
financiamento de muitos milhões de dólares dos políticos
Democratas.
[16] O congressista Republicano Ryan propôs a privatização
da segurança social e do programa de saúde sénior
(Medicare) e uma redução draconiana das despesas com os cuidados
de saúde aos pobres e deficientes. O presidente Obama prosseguiu com a
sua versão de cortes sociais regressivos embora numa escala menor mas na
mesma direcção. Ver o discurso de Obama ao povo americano no
comunicado de imprensa da Casa Branca em 3 Abril, 2011.
New York Times
14 Abril, 2011, p. 1.
[17] Discussões com delegados de fábricas e Luciano Vasapolla,
secretário do movimento sindical italiano militante "Reto di
communisti", Roma, Itália. 1 Maio, 2009.
[18] Sobre o impacto negativo da financiarização do capital e das
despesas militares na economia produtiva, ver Michael Chossudovsky e Andrew
Gavin Marshall ed The Global Economic Crises (Montreal: Global Research 2010)
ESP. Cap. 3, PP. 72-101 e Cap. 9, pp. 181-211.
[19] Para uma exposição clara da relação entre
imperialismo e decadência interna, ver James Petras and Morris Morley,
Empire or Republic? American Global Power and Domestic Decay (New York:
Routledge 1995).
[20] O "Fórum Social Mundial" e outros ditos
"fóruns de esquerda" são essencialmente
constituídos por discursos que criam oportunidades para as classes
palradoras constituídas por académicos e membros das ONG. Na
maior parte dos casos as fundações e os patrocinadores
proíbem-nos explicitamente de assumir uma posição
política, e muito menos organizar apoio material para as lutas de
classes existentes. Nenhuma das principais greves gerais da classe trabalhadora
na Europa, na América Latina ou na Ásia recebeu jamais apoio
material dos eternos assistentes dos fóruns de esquerda. O
declínio do internacionalismo operário não foi compensado
sob qualquer aspecto pela solidariedade internacional destas forças
díspares.
[21] Apesar da diabolização da Revolução Cultural e
social na China e na Indochina, muitos gestores, líderes de grupos e
até mesmo intelectuais liberais, têm consciência e receiam
as consequências de "empurrar a classe trabalhadora longe
demais". Na América Latina o legado revolucionário das
revoluções do passado e o exemplo de Cuba e da Venezuela ainda
servem como uma herança viva das lutas revolucionárias.
O original encontra-se em:
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=24487
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|