Chávez vs. Obama: Enfrentando as eleições presidenciais
"Estímulo Capitalista" vs.
"Recuperação económica socialista"
por James Petras
Dois presidentes em exercício candidatam-se à
reeleição em 2012, Hugo Chávez na Venezuela e Barack Obama
nos Estados Unidos. O que torna estas duas corridas eleitorais significativas
é que representam duas respostas opostas à crise económica
global:
Chávez, de acordo com o seu programa socialista democrático,
continua a aplicar políticas de promoção de investimento
público de larga escala e longo prazo nas áreas do emprego, do
bem-estar social e do crescimento económico; Obama, guiado pelo seu
compromisso ideológico com o capitalismo financeiro das grandes
empresas, despeja milhares de milhões de dólares no resgate dos
especuladores da Wall Street, concentra-se na redução do
défice público e na redução de impostos, enquanto
oferece subsídios governamentais às empresas na esperança
de que os bancos voltem a emprestar e o sector privado volte a investir.
Obama espera que o sector privado comece a contratar os desempregados. A
estratégia de Chávez dirige-se para um aumento da procura interna
popular através do aumento dos salários sociais. A
estratégia de Obama dirige-se para o enriquecimento da elite, contando
com um efeito de gotejamento para a base da sociedade
(trickle down effect).
O programa de recuperação económica de Chávez
baseia-se no sector público, o estado, que toma a dianteira face
às crises induzidas pelo mercado capitalista e à incapacidade de
investimento do sector privado. O programa de recuperação de
economia e do emprego de Obama depende inteiramente do sector privado,
utilizando benefícios fiscais para estimular investimentos
domésticos que possam gerar emprego.
De acordo com os especialistas e os politólogos, o desempenho
sócio-económico de cada um dos Presidentes será decisivo
para as suas reeleições em 2012.
Medindo o desempenho dos presidentes Chávez e Obama face à crise
económica
Durante os últimos três anos, ambos os presidentes enfrentaram
crises sócio-económicas profundas, das quais resultaram um
aumento do desemprego, uma recessão económica e a
exigência, por parte da população, de que a
formulação de um programa de recuperação da
economia fosse politicamente liderada.
O presidente Chávez respondeu a essa exigência através de
um largo programa de investimento público em programas sociais. Milhares
de milhões foram investidos num programa de urbanização
destinado a construir um milhão de casas nos próximos anos.
Chávez diminuiu as tensões militares e reduziu os conflitos
fronteiriços negociando um acordo político com o regime de
direita do colombiano Santos.
Chávez aumentou o salário mínimo, a segurança
social e os pagamentos de pensões, aumentando assim o consumo das
camadas de baixos rendimentos, estimulando a procura e aumentando o lucro das
pequenas e médias empresas. O estado também iniciou projectos
infraestruturais de grande porte, dos quais se destacam as auto-estradas e
transportes em geral, criando assim emprego em actividades de grande
intensidade. O governo Chávez manteve o nível de vida ao
controlar os preços alimentares e de outros bens essenciais, o que
beneficiou a procura popular em detrimento dos lucros dos donos dos
super-mercados. O governo Chávez nacionalizou minas de ouro lucrativas e
repatriou as reservas ultramarinas de forma a poder financiar o seu programa de
recuperação económica baseado no aumento da procura,
abstendo-se de dar benefícios fiscais aos ricos e de resgatar bancos
falidos e empresas privadas.
Obama recusou todo e qualquer grande investimento público de longo prazo
destinado a criar empregos: a sua proposta de "Empregos para a
América" reduzirá temporariamente, na melhor das
hipóteses, o desemprego em menos de 0,5%. Prosseguindo as
políticas em favor dos accionistas da Wall Street, Obama envolveu-se
profundamente na redução do défice, ou seja, em cortes de
grande amplitude ao nível da despesa pública, especialmente na
sua vertente social. Obama, com o apoio da extrema-direita, concordou com as
propostas regressivas de cortes nos impostos destinados a financiar a popular
Medicare, a Medicaid e os programas da Segurança Social. A sua proposta
de financiamento do programa "Empregos para a América" depende
dos cortes na taxa para a Segurança Social, o que garantidamente,
resultará numa redução dos pagamentos e num défice,
ou pior, facilitará a privatização oferecendo a
Segurança Social à Wall Street, uma ameixa de três
milhões de milhões
(trillion)
de dólares.
Obama ignora a execução das hipotecas de mais de 10
milhões de famílias aumentando o número de
sem-abrigo e a degradação da habitação de
forma a poder resgatar os bancos e as suas hipotecas fraudulentas.
Obama aumentou as despesas militares, multiplicou as tropas em combate no
estrangeiro, as operações terroristas clandestinas e o aparato da
espionagem interna, aumentando assim os défices em detrimento de
investimentos produtivos na educação, no desenvolvimento
tecnológico e na promoção das exportações.
Ao contrário de Chávez, que indexou as pensões e os
salários à inflação e reforçou o controlo
dos preços, Obama congelou os salários federais e os pagamentos
da Segurança Social, o que resultou num decréscimo de 7% do
rendimento real ao longo dos últimos três anos.
Segundo os mais recentes dados do Instituto de Censos dos Estados Unidos
(Setembro 2011), durante a presidência de Obama, 46,2 milhões de
americanos são pobres, o maior número de sempre. O rendimento
familiar médio caiu 2,3% entre 2009 e 2010. O número de
americanos pobres aumentou de 13,2% em 2008 para 15,1% em 2010. Quase uma em
cada quatro crianças vivia na pobreza em 2010, e mais de 2,6
milhões de cidadãos americanos caíram na pobreza num
único ano. Por outro lado, e na linha da política
económica do gotejamento levada a cabo por Obama, o número de
americanos ricos que ganham mais de 100 mil dólares sofreu
pouco, ou nada: lojas especializadas no sector do luxo, como a Tiffany's,
dão conta de um aumento de 15% nas vendas.
Os 10% mais pobres da população foram aqueles que sofreram mais,
uma queda no rendimento de 12,1% entre 2009 e 2010, enquanto os 10% mais ricos
viram o seu rendimento diminuir 1,5%. Dos 34 membros da OCDE, os Estados Unidos
têm, juntamente com o México, o Chile e Israel, o maior
índice de desigualdade entre as classes sociais. As políticas de
estímulo "de cima para baixo" de Obama salvaram os banqueiros
sacrificando a classe trabalhadora e a classe média.
As consequências político-económicas do
top down
de Obama e do
bottom up
de Chávez são gritantes em todos os aspectos. A Venezuela
cresceu 3,6% na primeira metade de 2011 enquanto os Estados Unidos estagnaram a
menos de 2%. Ainda pior, durante a segunda metade do ano, Obama e os seus
assessores confessaram temer que os Estados Unidos se estejam a dirigir para um
processo de recessão dupla intercalada por um período de
recuperação, ou seja, para um repique recessivo
(double dip recession).
O Presidente do Banco Central Venezuelano, ao contrário, previu um
crescimento acelerado em 2012.
Enquanto o desemprego norte-americano se mantém acima dos 9%, e mesmo a
mais de 19% se combinado com o sub-emprego, na Venezuela, os vastos
investimentos públicos feitos no sector imobiliário e em
infraestruturas estão a gerar empregos e a diminuir o número de
desemprego e sub-emprego no mercado de trabalho formal e informal. A
condescendência de Obama para com os banqueiros da Wall Street e os
falcões da redução do défice, assim como o amplo
aumento das despesas em guerras no estrangeiro e aparato securitário
interno, levou à bancarrota do tesouro. Pelo contrário,
Chávez nacionalizou o lucrativo sector privado das minas, dos bancos e
das empresas de energia e diminuiu as tensões militares para aumentar as
verbas dos programas sociais, tal como subsídios alimentares. As
reduções do défice de Obama levaram a despedimentos
massivos no sector da educação e dos serviços sociais.
As despesas sociais de Chávez aumentaram o número de
universidades públicas, de escolas básicas e secundárias e
de hospitais. Milhões de pessoas perderam as suas casas e Obama ignorou
os despejos forçados feitos pelos bancos de crédito, enquanto
Chávez começou a resolver o problema da habitação
com 1 milhão de novas casas.
Obama empresta dinheiro a custo zero a bancos privados que são incapazes
de emprestar às empresas produtivas que criam emprego, preferindo
especular em activos estrangeiros (brasileiros) cujas taxas de juro são
mais elevadas. Chávez investe directamente em programas infraestruturais
de trabalho intensivo, na auto-suficiência económica e no
desenvolvimento de centrais eléctricas, refinarias e
fundições.
Como resultado da sua estratégia económica reaccionária
"de cima para baixo" e das ameaças públicas de cortes
em programas sociais básicos como a Medicare, a Medicaid e a
Segurança Social, a popularidade de Obama desceu de 80% para 40% ao
longo dos últimos três anos e continua a descer. Para além
disso, as suas políticas militaristas e pró Wall Street
que aprofundam e alargam as guerras e operações terroristas de
Bush e Rumsfeld viraram o cenário político americano ainda
mais para a extrema-direita. Neste último trimestre de 2011, Obama
parece vulnerável a uma derrota eleitoral.
O presidente Chávez, ao contrário, impulsionado pela
recuperação económica, baseada em programas positivos de
expansão social e investimento público, viu a sua popularidade
aumentar de 43% em Março de 2010 para 59,3% em 7 de Setembro de 2011. A
oposição apoiada pelo Estados Unidos, está fragmentada,
fraca e incapaz de contrariar a percepção esmagadoramente
positiva que a população tem da urbanização e dos
projectos infraestruturais que beneficiam os trabalhadores, as empresas de
construção e os empreiteiros.
Chávez é vulnerável no que toca a questões de
segurança, corrupção administrativa e ineficácia.
Mas é visto como tendo dado passos importantes para corrigir estas
áreas problemáticas. Polícias formados por uma nova
academia fazem um policiamento de proximidade honesto e eficiente, o qual, nos
projectos piloto, reduziu o crime violento em 60%. Esforços no que toca
a acabar com a corrupção e a ineficácia burocrática
estão ainda pendentes.
Conclusão
A comparação entre as presidências de Chávez e de
Obama mostra-nos um contraste agudo entre um programa de
recuperação da economia de "baixo para cima"
(bottom up),
socialista e informado e um programa fracassado de estímulo capitalista
de "cima para baixo"
(top down).
Enquanto o público americano exprime a sua hostilidade face à
pilhagem do tesouro por parte da banca privada, às ameaças do
governo em relação ao que resta do sistema de segurança
social, e à incapacidade de Obama no que toca à
redução dos níveis, persistentemente elevados, de
desemprego e sub-emprego, a popularidade de Chávez aumenta, juntamente
com o optimismo de três quintos do eleitorado em relação ao
seu mandato. Se o governo de Chávez prosseguir e aprofundar o seu
programa de estímulos económicos "de baixo para cima",
se a economia continuar a crescer, e ele recuperar do cancro, é muito
provável que obtenha em 2012 uma vitória esmagadora.
Pelo contrário, se Obama continuar a submeter-se aos interesses das
grandes empresas e da elite financeira, enquanto corta e queima os programas
sociais, continuará o seu caminho descendente rumo a uma bem merecida
derrota e ao esquecimento.
A recuperação económica da Venezuela através de
programas sociais avançados é uma mensagem poderosa
endereçada ao povo americano: existe uma alternativa às
políticas económicas de
top down:
chama-se socialismo democrático e o presidente Chávez é
o seu defensor, que fala e trabalha para o povo, e que assim se opõe ao
vigarista Obama que fala para o povo e trabalha para os ricos.
17/ Setembro /2011
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26617
. Tradução de MQ.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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