Obama eleva as apostas militares:
Confrontação nas fronteiras com a China e a Rússia
por James Petras
Depois de sofrer grandes derrotas militares e políticas em campos de
batalha sangrentos no Afeganistão e no Iraque, de fracassar no apoio a
antigos clientes no Iémen, Egipto e Tunísia e de testemunhar a
desintegração de regimes fantoches na Somália e no
Sudão do Sul, o regime nada aprendeu: Ao invés disso ele
voltou-se rumo a maior confrontação militar com potências
globais, nomeadamente a Rússia e a China. Obama adoptou uma
estratégia provocativa de ofensiva militar junto às fronteiras
tanto da China como da Rússia.
Depois de andar de derrota em derrota na periferia do poder mundial e
não satisfeito em incorrer em défices que arruínam o
tesouro na ânsia de construir um império contra países
economicamente fracos, Obama abraçou uma política de cerco e
provocação contra a China, a segunda maior economia do mundo e o
mais importante credor dos EUA, e a Rússia, o principal fornecedor de
petróleo e gás da União Europeia e a segunda mais poderosa
potência do mundo em armamento nuclear.
Este documento trata da escalada altamente irracional e ameaçadora de
militarismo imperial do regime Obama. Examinamos o contexto militar global,
económico e político interno que motivam estas políticas.
Examinamos então os múltiplos pontos de conflito e
intervenção nos quais Washington está empenhada, desde o
Paquistão, Irão, Líbia, Venezuela, Cuba e para além
disso. Analisaremos a seguir a lógica para a escalada militar contra a
Rússia e a China como parte de uma nova ofensiva que vai além do
mundo árabe (Síria, Líbia) e frente à
posição económica declinante da UE e dos EUA na economia
global. Depois disso esboçaremos as estratégias de um
império declinante, criado em guerras perpétuas, confrontando
declínio económico global, descrédito interno e uma
população trabalhadora a cambalear desde o desmantelamento em
grande escala dos seus programas sociais básicos.
A viragem do militarismo: Da periferia para a confrontação militar
global
Novembro de 2011 é um momento de grande importância
histórica: Obama declarou duas importantes posições
políticas, tendo ambas tremendas consequências estratégicas
que afectam potências mundiais competidoras.
Obama decidiu uma política de cerco militar da China com base no
estacionamento de uma armada marítima e aérea frente à
costa chinesa uma política destinada abertamente a enfraquecer e
perturbar o acesso da China a matérias-primas e ligações
comerciais e financeiras na Ásia. A declaração de Obama de
que a Ásia é a região prioritária para a
expansão militar dos EUA, a construção de bases e
alianças económicas foi dirigida contra a China, desafiando
Pequim nas suas próprias traseiras. O punho de ferro da
declaração política de Obama, pronunciada perante o
Parlamento australiano, foi clara como cristal na definição dos
objectivos imperiais estado-unidenses.
"Nossos interesses duradouros na região [Ásia
Pacífico] exigem nossa presença duradoura nesta região...
Os Estados Unidos são uma potência do Pacífico e estamos
aqui para permanecer ... Quando finalizamos as guerras de hoje [i.é, as
derrotas e retiradas do Iraque e do Afeganistão]... dirigi minha equipe
de segurança nacional para que assegure uma prioridade principal
à nossa presença e missões na Ásia Pacífico
... Em consequência, a redução nos gastos de defesa dos EUA
não será ... às expensas da Ásia
Pacífico". (CNN.com, 16/Nov/2011).
A natureza precisa do que Obama chamou de "a nossa presença e
missão" foi sublinhada pelo novo acordo militar com a
Austrália para despachar navios e aviões de guerra e 2500
fuzileiros navais para a cidade mais a Norte da Austrália (Darwin)
destinados à China. A secretária de Estado Clinton passou a maior
parte de 2011 a fazer sondagens altamente provocatórias junto a
países asiáticos que têm conflitos de fronteira
marítima com a China. Clinton introduziu vigorosamente os EU nestas
disputas, encorajando e exacerbando as exigências do Vietname, Filipinas
e Brunei no Mar do Sul da China. Ainda mais gravemente, Washington está
a promover seus laços militares e de vendas com o Japão, Formosa,
Singapura e Coreia do Sul, bem como a aumentar a presença de navios de
guerra, submarinos nucleares e sobrevoos de aviões de guerra ao longo
das águas costeiras da China. Na linha da política de cerco
militar e provocação, o regime Obama-Clinton está a
promover acordos comerciais multilaterais que excluem a China e privilegiam
corporações multinacionais dos EUA, bem como seus banqueiros e
exportadores, baptizado como "Partenariado Transpacífico"
("Trans-Pacific Partnership").
Este inclui principalmente
países mais pequenos, mas Obama tem a esperança de convencer o
Japão e o Canadá a aderirem ...
A presença de Obama na reunião da APEC de líderes
asiáticos e sua visita à Indonésia em Novembro de 2011
envolvem esforços para assegurar hegemonia estado-unidense.
Obama-Clinton esperam contrariar o declínio relativo das
ligações económicas estado-unidenses face ao crescimento
geométrico dos laços de comércio e investimento entre a
Ásia Oriental e a China.
Um exemplo recente dos esforços ilusórios, mas destrutivos, de
Obama-Clinton para deliberadamente perturbar os laços económicos
da China na Ásia está a ter lugar em Myanmar (Birmânia). A
visita de Clinton em Dezembro de 2011 a Myanmar foi antecedida por uma
decisão do regime Thein Sein de suspender um projecto de barragem no
Norte do país financiado pela China Power Investment. Segundo documentos
oficiais confidenciais divulgados pela WikiLeaks as "ONGs birmanesas que
organizaram e conduziram a campanha contra a barragem foram fortemente
financiadas pelo governo dos EUA" (
Financial Times,
02/Dez/2011, p. 2). Isto e outras actividades provocatórias e discursos
de Clinton condenando "ajuda ligada" chinesa desvanecem-se em
comparação aos interesses em grande escala que ligam Myanmar
à China. A China é o maior parceiro comercial e investidor de
Myanmar, incluindo seis outros projectos de barragens. Companhias chinesas
estão a construir novas auto-estradas e linhas ferroviárias
através do país, abrindo o Sudoeste da China a produtos
birmaneses e a China está a construir oleodutos e portos. Há uma
poderosa dinâmica de interesses económicos mútuos que
não será perturbada por uma disputa (
FT,
02/Dez/2011, p.2). A
crítica de Clinton dos investimentos da China, de milhares de
milhões de dólares, na infraestrutura de Myanmar é um dos
mais bizarros da história mundial, vindo na sequência dos oito
anos de presença militar brutal de Washington no Iraque a qual destruiu
US$500 mil milhões de infraestrutura iraquiana, segundo estimativas
oficiais de Bagdad. Só uma administração iludida poderia
imaginar que umas flores de retórica, uma visita de três dias e o
financiamento de uma ONG são um contra-peso adequado aos profundos
laços económicos que ligam Myanmar à China. O mesmo
posicionamento ilusório acompanha todo o repertório de
políticas que informam os esforços do regime Obama para deslocar
o papel predominante da China na Ásia.
Se bem que a política adoptada pelo regime Obama não apresente,
em si mesma, uma ameaça imediata à paz, o impacto acumulado de
todos estes pronunciamentos políticos e projecções de
poder militar desenvolvem-se como um esforço abrangente total para
isolar, intimida e degradar a ascensão da China como uma potência
regional e global. O cerco militar e as alianças, a exclusão da
China nas associações económicas regionais propostas, a
intervenção com tomada de partido em disputas marítimas
regionais e o posicionamento de aviões de guerra tecnologicamente
avançados, estão destinados a minar a competitividade da China e
a compensar a inferioridade económica dos EUA através de redes
políticas e económicas fechadas.
Os movimentos militares e económicos da Casa Branca e a demagogia
anti-chinesa no Congresso dos EUA são claramente destinados a
enfraquecer a posição comercial da China e a obrigar seus
líderes voltados para os negócios a privilegiarem interesses da
banca e dos negócios dos EUA além das suas próprias
empresas. Levada aos seus limites, a prioridade de Obama à grande
pressão militar poderia levar a uma ruptura catastrófica nas
relações económicas EUA-China. Isto resultaria em
consequências calamitosas, especialmente mas não exclusivamente,
na economia dos EUA e particularmente no seu sistema financeiro. A China possui
mais de US$1,5 milhão de milhões de dólares em
dívida americana, principalmente Títulos do Tesouro, e compra a
cada ano de US$200 a US$300 mil milhões de novas emissões, uma
fonte vital no financiamento do défice dos EUA. Se Obama provocar uma
ameaça grave aos interesses da segurança China e Pequim for
forçada a responder, a retaliação não será
militar mas sim económica: a liquidação de umas poucas
centenas de milhares de milhões de títulos do tesouro e a
redução de novas compras de dívida estado-unidense. O
défice dos EUA disparará, suas classificações de
crédito descerão para a categoria "lixo" e o sistema
financeiro tremerá à beira do colapso. As taxas de juro para
atrair novos compradores de dívida dos EUA aproximar-se-ão dos
dois dígitos. As exportações chinesas para os EUA
sofrerão e verificar-se-ão perdas devido à
desvalorização dos Títulos do Tesouro em mãos
chinesas. A China diversificou seus mercados por todo o mundo e o seu enorme
mercado provavelmente poderia absorver a maior parte do que a China perdesse no
exterior no caso de um recuo do mercado estado-unidense.
Enquanto Obama vaga pelo Pacífico a anunciar suas ameaças
militares à China e se esforça para isolar economicamente a China
do resto da Ásia, a presença económica dos EUA está
a desvanecer-se rapidamente do que costumava ser o seu "quintal".
Citando um jornalista do
Financial Times:
"A China é o único espectáculo para a América
Latina" (
Financial Times,
23/Nov/2011, p.6). A China deslocou os EUA e a UE com principal parceiro
comercial da América Latina; Pequim despejou milhares de milhões
em novos investimentos e proporciona empréstimos com juros baixos.
O comércio da China com a Índia, Indonésia, Japão,
Paquistão e Vietname está a aumentar a uma taxa muito mais
rápida do que a dos EUA. O esforço estado-unidense para construir
uma aliança de segurança na Ásia centrada no
império baseia-se em fundamentos económicos frágeis. Mesmo
a Austrália, a âncora e fulcro do ímpeto militar dos EUA na
Ásia, está pesadamente dependente de exportações
minerais para a China. Qualquer interrupção militar remeteria a
economia australiana para um mergulho.
A economia dos EUA não está em condições de
substituir a China como mercado para exportações de mercadorias
asiáticas ou da Austrália. Os países asiáticos
devem estar agudamente conscientes de que não há vantagem futura
em ligarem-se a um império, altamente militarizado, em declínio.
Obama e Clinton enganam-se a si próprios se pensam que podem atrair a
Ásia para uma aliança a longo prazo. Os asiáticos
estão simplesmente a utilizar as aberturas amistosas do regime Obama
como um "dispositivo táctico", um truque negocial, para
conseguirem melhores termos para assegurar fronteiras marítimas e
territoriais com a China.
Washington está iludida se acredita que pode convencer a Ásia a
romper laços económicos lucrativos a longo prazo e de grande
escala com a China a fim de aderir a uma associação
económica exclusiva com tão dúbias perspectivas. Qualquer
"reorientação" da Ásia, desde a China até
os EUA, exigiria mais do que a presença de força naval e
aerotransportada apontada para a China. Exigiria a reestruturação
tal das economias dos países asiáticos, da estrutura de classe e
da elite militar. Os mais poderosos grupos empresariais da Ásia
têm profundas e crescentes ligações com a China/Hong Kong,
especialmente entre as dinâmicas elites de negócios transnacionais
chinesas na região. Uma viragem em direcção a Washington
implica uma contra-revolução maciça, que substitua
"compradores" coloniais por empresários estabelecidos. Quando
muito alguns oficiais militares asiáticos treinados nos EUA, economistas
e antigos financeiros da Wall Street e bilionários podem procurar
"equilibrar" uma presença militar estado-unidense com poder
económico chinês, mas eles devem perceber que em última
análise a vantagem está em desenvolver uma solução
asiática.
A era dos "capitalistas compradores" asiáticos, desejosos de
liquidar a indústria nacional e a soberania em troca de acesso
privilegiado a mercados dos EUA, é história antiga. Qualquer que
seja o ilimitado entusiasmo por consumismo de luxo e estilos de vida
ocidentais, os quais os novos ricos da Ásia e da China celebram
descuidadamente, qualquer que seja a aceitação das desigualdades
e da exploração capitalista selvagem do trabalho, há o
reconhecimento de que a história passada da dominação
estado-unidense e europeia impediu o crescimento e o enriquecimento de uma
burguesia e classe média indígenas. Os discursos e
pronunciamentos de Obama e Clinton exalam nostalgia por um passado de
supervisores neocoloniais e compradores colaboracionistas uma
ilusão tola. Suas tentativas de realismo político assumem uma
feição bizarra ao imaginarem que posicionamentos militares e
projecções de força armada reduzirão a China a um
actor marginal na região.
A escalada da confrontação de Obama em relação
à Rússia
O regime Obama lançou uma grande investida militar frontal sobre as
fronteiras da Rússia. Os EUA avançaram sítios de
mísseis e bases da Força Aérea na Polónia,
Roménia, Turquia, Espanha, República Checa e Bulgária:
complexos de mísseis anti-aéreos Patriot PAC-3 na Polónia;
radar avançado AN/PPY-2 na Turquia e vários mísseis (SM-3
IA) embarcados em navios de guerra na Espanha estão entre as armas mais
importantes que cercam a Rússia, a maior apenas a minutos do seu alvo
estratégico. Em segundo lugar, o regime Obama fez um enorme
esforço para assegurar e expandir bases militares dos EUA na Ásia
Central entre antigas repúblicas soviéticas. Em terceiro,
Washington, através da NATO, lançou grandes
operações económicas e militares contra os principais
parceiros comerciais da Rússia na África do Norte e Médio
Oriente. A guerra da NATO contra a Líbia, que derrubou o regime Kadafi,
paralisou ou anulou investimentos russos de milhares de milhões de
dólares em petróleo e gás, vendas de armas e substituiu o
antigo regime amigo da Rússia por um fantoche da NATO.
As sanções económicas ONU-NATO e a actividade terrorista
clandestina EUA-Israel contra o Irão minaram o lucrativo comércio
nuclear da Rússia, de milhares de milhões de dólares, e
empreendimentos petrolíferos conjuntos. A NATO, incluindo a Turquia,
apoiada pelas ditaduras monárquicas do Golfo, impuseram duras
sanções e financiaram assaltos terroristas à Síria,
o último aliado remanescente da Rússia na região e onde
ela tem a sua única instalação naval (Tartus) no Mar
Mediterrâneo. A anterior colaboração da Rússia com a
NATO enfraquecendo a sua própria posição económica
e de segurança é produto da monumental má
interpretação da NATO e especialmente das políticas
imperiais de Obama. O presidente russo Medvedev e seu antigo ministro dos
Estrangeiros, Sergey Lavrov, assumiram erradamente (tal como Gorbachev e
Yeltsin antes deles) que apoiar políticas da NATO contra parceiros
comerciais da Rússia resultaria em alguma espécie de
"reciprocidade". o desmantelamento americano da sua ofensiva
"missile shield" nas suas fronteiras e apoio para a admissão
da Rússia na Organização Mundial do Comércio.
Medvedev, seguindo suas liberais ilusões pró ocidentais, entrou
na linha e apoiou sanções estado-unidenses-israelenses contra o
Irão, acreditando nos contos de um "programa de armas
nucleares". A seguir Lavrov entrou na linha da NATO de "zonas de
interdição de voo para proteger vidas de civis
líbios" e votou a favor, só com um "protesto"
delicado, demasiado tardio, de que a NATO estava a "exceder o seu
mandato" ao bombardear a Líbia, regredi-la à Idade
Média e instalar um regime fantoche pró NATO de patifes e
fundamentalistas. Finalmente, quando os EUA apontaram um punhal ao
coração da Rússia, fazendo um enorme esforço para
instalar sítios de lançamento de mísseis a 5 minutos de
Moscovo ao mesmo tempo que organizava assaltos armados à Síria, a
dupla Medvedev-Lavrov acordou do seu estupor e opôs-se a
sanções da ONU. Medvedev ameaçou abandonar o tratado de
redução de mísseis nucleares (START) e colocar
mísseis de médio alcance a 5 minutos de Berlim, Paris e Londres.
A política de consolidação e cooperação de
Medvedev-Lavrov, baseada na retórica de Obama de
"redefinição de relações"
("resetting relations")
encoraja a agressiva construção do império: Cada
capitulação levava a uma nova agressão. Em
consequência, a Rússia está cercada por mísseis na
sua fronteira ocidental; ela sofreu perdas entre os seus principais parceiros
comerciais no Médio Oriente e enfrenta bases dos EUA no Sudoeste e na
Ásia Central.
Tardiamente responsáveis russos mexeram-se para substituir o iludido
Medvedev pelo realista Putin, como presidente seguinte. Esta mudança
para uma política realista previsivelmente provocou uma onda de
hostilidade a Putin em todos os media ocidentais. A agressiva política
de Obama para isolar a Rússia através da minagem de regimes
independentes não afectou, contudo, o status da Rússia como
potência com armas nucleares. Ela apenas aumentou tensões na
Europa e talvez tenha encerrado qualquer oportunidade futura de
redução pacífica de armas nucleares ou esforços
para assegurar um consenso no Conselho de Segurança da ONU sobre
questões de resolução pacífica de conflitos.
Washington, sob Obama-Clinton, transformou a Rússia de um cliente
acomodatício num grande adversário.
Putin encara o aprofundamento e expansão de laços com o Leste,
nomeadmente a China, face às ameaças do Ocidente. A
combinação de tecnologia de armas avançadas e recursos
energéticos russos e de dinâmica manufactureira e crescimento
industrial chinês são mais do que suficientes para as economias
infestadas de crise dos EUA e da UE a chafurdarem na estagnação.
A confrontação militar de Obama contra a Rússia
prejudicará muito acesso da mesma a matérias-primas e
impedirá definitivamente qualquer acordo estratégico de
segurança a longo prazo, o qual seria útil para reduzir o
défice e reviver a economia estado-unidense.
Entre realismo e ilusão: O realinhamento estratégico de Obama
O reconhecimento de Obama de que o centro presente e futuro da política
e do poder económico está a mover-se inexoravelmente para a
Ásia foi um lampejo de realismo político. Depois de durante uma
década despejar centenas de milhares de milhões de dólares
em aventuras militares nas margens e na periferia da política mundial,
Washington finalmente descobriu que não é o lugar onde o destino
das nações, especialmente as Grandes Potências, será
decidido, excepto num sentido negativo de sangria recursos sobre causas
perdidas. O novo realismo e prioridades de Obama aparentemente estão
centrados no Sudeste e Nordeste da Ásia, onde economias dinâmicas
florescem, mercados estão em crescimento a uma taxa com dois
dígitos, investidores preparam dezenas de milhares de milhões de
actividade produtiva e o comércio expande-se três vezes mais do
que o dos EUA e da UE.
Mas o "Novo realismo" de Obama é destruído por
suposições totalmente ilusórias, as quais minam quaisquer
esforços sérios para realinhar a política dos EUA.
Em primeiro lugar, o esforço de Obama para "entrar" na
Ásia é através de uma acumulação de meios
militares e não através de um aperfeiçoamento e melhoria
da competitividade económica estado-unidense. O que é que os EUA
produzem para os países asiáticos que promova sua fatia de
mercado? Além de armas, aviões e agricultura, os EUA têm
poucas indústrias competitivas. Os EUA teriam de reorientar amplamente
sua economia, melhorar o trabalho qualificado e transferir milhares de
milhões da "segurança" e do militarismo para a
aplicação de inovações. Mas Obama trabalha dentro
do actual complexo financeiro militarista-sionista. Ele não conhece
qualquer outro e é incapaz de romper com ele.
Em segundo lugar, Obama-Clinton operam sob a ilusão de que os EUA podem
excluir a China ou minimizar o seu papel na Ásia, uma política
que é enfraquecida pelo investimento enorme e crescente, e a
presença, de todas as grandes corporações multinacionais
dos EUA na China, as quais utilizam-na como uma plataforma de
exportação para a Ásia e o resto do mundo.
A acumulação militar dos EUA e a sua política de
intimidação forçarão a China a reduzir o seu papel
como credor que financia a dívida estado-unidense, uma política
que a China pode realizar porque o mercado dos EUA, se bem que ainda
importante, está em declínio, pois a China expande a sua
presença no seu mercado interno e nos da Ásia, América
Latina e Europa.
O que antes parecia ser Novo realismo revela-se agora ser a reciclagem de
Velhas ilusões. A noção de que os EUA podem voltar a ser a
Potência suprema no Pacífico era do pós Segunda Guerra
Mundial. As tentativas dos EUA sob Obama-Clinton para retornar à
dominação do Pacífico, com uma economia avariada, com o
fardo de uma economia super-militarizada e com grandes desvantagens
estratégicas: Ao longo da última década a política
externa dos Estados Unidos esteve nas mãos da quinta coluna de Israel (o
"lobby" israelense). Toda a classe política estado-unidense
é destituída de senso comum, prático e projecto nacional.
Eles estão imersos em debates trogloditas sobre
"detenções indefinidas" e "expulsões em
massa de imigrantes". Pior: estão todos nas folhas de pagamento de
corporações privadas que vendem nos EUA e investem na China.
Por que Obama renunciaria a guerras custosas na periferia não lucrativa
e a seguir promoveria a mesma metafísica militar no centro
dinâmico do universo económico mundial? Será que Barack
Obama e seus conselheiros acreditam que ele é o Segundo Advento do
Almirante Perry, cujos navios de guerra no século XIX através de
bloqueios obrigaram a Ásia a abrir-se ao comércio ocidental?
Acreditará ele que alianças militares serão a primeira
etapa para um período subsequente de presença económica
privilegiada?
Acreditará Obama que o seu regime pode bloquear a China, tal como
Washington fez com o Japão nos dias que precederam a Segunda Guerra
Mundial? É demasiado tarde. A China é muito mais central para a
economia do mundo, demasiado vital mesmo para o financiamento da dívida
dos EUA, demasiado soldada às corporações multinacionais
do Forbes 500. Provocar a China, mesmo fantasiar acerca da
"exclusão" económica para deitar abaixo a China,
é perseguir políticas que abalarão totalmente a economia
mundial, em primeiro lugar e acima de tudo a economia dos EUA!
Conclusão
O "realismo de pacotilha" de Obama, sua comutação das
guerra no mundo muçulmano para a confrontação militar na
Ásia, não tem valor intrínseco e coloca custos
extrínsecos extraordinários. Os métodos militares e os
objectivos económicos são totalmente incompatíveis e para
além da capacidade dos EUA, como estão actualmente
constituídos. As políticas de Washington não
"enfraquecerão" a Rússia ou a China, muito menos a
intimidarão. Ao invés disso, irá encorajar ambos a
adoptarem posições mais adversas, tornando menos provável
que ajudem as guerras sequenciais de Obama em proveito de Israel. A
Rússia já enviou navios de guerra ao seu porto na Síria,
recusou-se a apoiar um embargo de armas contra a Síria e o Irão e
(em retrospectiva) criticou a guerra da NATO contra a Líbia. A China e a
Rússia têm demasiados laços estratégicos com a
economia do mundo para sofrerem quaisquer grandes perdas de uma série de
postos avançados militares dos EUA e de alianças
"exclusivas". A Rússia pode apontar tantos mísseis
nucleares para o ocidente quanto os EUA podem montá-los nas suas bases
na Europa do Leste.
Por outras palavras, a escalada militar de Obama não mudará o
equilíbrio de poder nuclear, mas levará a Rússia e a China
para uma relação mais estreita e aliança mais profunda.
Ultrapassados estão os dias da estratégia "divida e
conquista" de Kissinger-Nixon contrapondo acordos comerciais EUA-China
contra armas russas. Washington exagerou totalmente a significância das
actuais querelas marítimas entre a China e seus vizinhos. O que os une
em termos económicos é muito mais importante no médio e
longo prazo. As ligações económicas asiáticas da
China desgastarão quaisquer ténues ligações
militares aos EUA.
O "realismo de pacotilha" de Obama vê o mercado mundial
através de lentes militares. A arrogância militar em
relação à Ásia levou à ruptura com o
Paquistão, seu regime cliente mais dócil na Ásia. A NATO
deliberadamente chacinou 24 soldados paquistaneses e esfregou-os no nariz dos
generais paquistaneses, ao passo que a China e a Rússia condenaram o
ataque e ganharam influência.
No final das contas, o posicionamento militar e excludente da China
fracassará. Washington exagerou a sua mão e afugentou da sua
anterior orientação para os negócios os parceiros
asiáticos, os quais só querem utilizar a presença militar
dos EUA para ganharem vantagem económica táctica. Eles certamente
não querem uma nova "Guerra fria" instigada pelos EUA que
divida e enfraqueça o dinâmico comércio e investimento
intra-asiático. Obama e os seus apaniguados aprenderão
rapidamente que os actuais líderes da Ásia não têm
aliados permanentes apenas interesses permanentes. Na análise
final, a China apresenta-se de forma destacada na configuração de
uma nova economia mundial centro-asiáticas. Washington pode afirmar ter
uma "presença permanente no Pacífico" mas até
que demonstre que pode cuidar do seu "negócio básico em
casa", como reparar as suas próprias finanças e equilibrar
seus défices de transacções correntes, o comando naval dos
EUA pode acabar por arrendar suas instalações marítimas a
exportadores transportadores asiáticos, que transportam bens para eles,
e protegendo-os perseguindo piratas, contrabandistas e narco-traficantes.
Se chegar a pensar acerca disto, Obama pode reduzir o défice comercial
dos
EUA com a Ásia pelo arrendamento da Sétima Frota a fim de
patrulhar estreitos, ao invés de desperdiçar o dinheiro do
contribuinte estado-unidense a intimidar potências económicas
asiáticas.
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28144
Este artigo encontra-se em
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