Redes do império e realinhamentos do poder mundial
por James Petras
Os estados imperialistas constroem redes que ligam as actividades
económicas, militares e políticas num sistema coerente que se
reforça mutuamente. Esta tarefa é desempenhada em grande parte
pelas diversas instituições do estado imperialista.
Assim, a acção imperialista nem sempre é directamente
económica, já que se torna necessária uma
acção militar num país ou numa região para abrir ou
proteger zonas económicas. Nem todas as acções militares
são decididas por interesses económicos se o sector mais
influente do estado imperialista for decisivamente militarista.
Além disso, a sequência da acção imperialista pode
variar consoante as condições particulares necessárias
para a construção do império. Assim, a ajuda do estado
pode comprar colaboradores; a intervenção militar pode assegurar
regimes clientes seguidos posteriormente por investidores privados. Noutras
circunstâncias, a entrada de empresas privadas pode preceder a
intervenção do estado.
Na penetração, quer privada quer estatal, liderada
económica e/ou militarmente, como apoio à
construção do império, o objectivo estratégico
é explorar as características económicas e
geopolíticas especiais do país visado para criar redes em que o
império é o centro. No pós mundo colonialista
eurocêntrico, a posição privilegiada dos EUA na sua
política centrada no império, nos seus tratados, acordos
comerciais e militares, é disfarçada e justificada por uma aura
ideológica, que varia com o tempo e as circunstâncias. Na guerra
para fragmentar a Jugoslávia e implantar regimes clientes, tal como no
Kosovo, a ideologia imperialista utilizou a retórica humanitária.
Nas guerras genocidas no Médio Oriente, é central a ideologia
anti-terrorismo e anti-islâmica. Contra a China, predomina a
retórica dos direitos democráticos e humanos. Na América
Latina, o poder imperialista vacilante apoia-se na retórica
democrática e anti-autoritária dirigida contra o governo de
Chavez democraticamente eleito.
A eficácia da ideologia imperialista está em
relação directa com a capacidade de o império promover
alternativas de evolução viáveis e dinâmicas aos
países visados. Por esses critérios a ideologia tem tido pouco
poder de persuasão entre as populações visadas. A
retórica islamofóbica e anti-terrorista não teve qualquer
impacto nos povos do Médio Oriente e alienou o mundo islâmico. As
lucrativas relações comerciais da América Latina com o
governo de Chavez e o declínio da economia dos EUA corroeram a campanha
ideológica de Washington para isolar a Venezuela. A campanha dos EUA
pelos direitos humanos contra a China tem sido completamente ignorada em toda a
UE, em África, na América Latina, na Oceânia e nas 500
maiores empresas americanas (e até mesmo no Tesouro dos EUA que se
esforça por vender títulos do tesouro à China para
financiar o inflado défice orçamental dos EUA).
A cada vez menor influência da propaganda imperialista e o cada vez menor
peso económico de Washington, significam que as redes imperialistas
americanas construídas durante os últimos cinquenta anos
estão a ser corroídas ou pelo menos sujeitas a forças
centrífugas. As redes, outrora totalmente integradas na Ásia,
são actualmente meras bases militares à medida que as economias
adquirem uma maior autonomia e se orientam para a China e para mais longe
ainda. Por outras palavras, as redes imperialistas estão hoje a ser
transformadas em postos avançados de operações limitadas,
e já não são centros da pilhagem económica
imperialista.
Redes imperialistas: O papel central dos colaboradores
A construção de um império é essencialmente um
processo de penetração num país ou numa região, que
institui uma posição privilegiada e que garante o controlo a fim
de assegurar (1) recursos lucrativos, mercados e mão-de-obra barata (2)
de instituir uma plataforma militar para se expandir a países e
regiões vizinhos (3) bases militares para implantar um estrangulamento
sobre estradas ou canais estratégicos a fim de permitir ou negar o
acesso de competidores ou adversários (4) operações
secretas e clandestinas contra adversários e competidores.
A história tem demonstrado que o custo mais baixo para manter um
domínio a longo prazo e à escala imperialista é
através do fomento de colaboradores locais sob a forma de dirigentes
políticos, económicos e/ou militares que operam a partir de
regimes clientes. Um domínio imperialista político-militar aberto
resulta em guerras dispendiosas e divisões, principalmente entre uma
ampla panóplia de classes negativamente afectadas pela presença
imperialista.
A formação de dirigentes e classes colaboracionistas resulta de
várias políticas imperialistas a curto e longo prazo que
vão desde actividades directas militares, eleitorais e
extra-parlamentares até ao recrutamento a médio e longo prazo,
à formação e à orientação de jovens
dirigentes promissores através da propaganda e de programas
educacionais, atractivos culturais-financeiros, promessas de apoio
político e económico para acesso a cargos políticos e
através de substancial apoio financeiro clandestino.
O apelo mais básico feito pelos políticos imperialistas à
"nova classe dirigente" num estado cliente emergente é a
oportunidade de participar num sistema económico ligado aos centros
imperialistas, em que as elites locais partilham a riqueza económica com
os seus benfeitores imperialistas. Para garantir o apoio das massas, as classes
colaboradoras escondem as novas formas de subserviência imperialista e de
exploração económica realçando a
independência política, a liberdade pessoal, as oportunidades
económicas e o consumismo privado.
Os mecanismos para a transferência de poder para um estado cliente
emergente aliam a propaganda imperialista, o financiamento de
organizações de massas e de partidos eleitoralistas, assim como
de violentos golpes de 'levantamentos populares'. Os regimes
autoritários burocraticamente ossificados que se apoiam em controlos
policiais para limitar ou combater a expansão imperialista são
"alvos fáceis". As campanhas selectivas em defesa dos direitos
humanos tornam-se na arma organizativa mais eficaz para recrutar activistas e
promover dirigentes para a nova ordem política centrada no imperialismo.
Logo que ocorre a transferência de poder, os membros anteriores da elite
política, económica e cultural são exilados, reprimidos,
detidos e presos. Emerge uma nova cultura política homogénea de
partidos rivais que aderem à nova ordem mundial de centro imperialista.
A primeira palavra de ordem a nível de negócios, a seguir
à purga política, é a privatização e a
entrega dos postos de comando da economia às empresas imperialistas. Os
regimes clientes tratam de fornecer soldados que se oferecem como
mercenários pagos para guerras imperialistas e de transferir bases
militares para as forças imperialistas como plataformas de
intervenção. Toda esta "pantomima pela
independência" é acompanhada pelo desmantelamento
maciço dos programas públicos de bem-estar social
(pensões, saúde e educação gratuitas),
códigos de trabalho e políticas de pleno emprego. A
promoção de uma estrutura de classes altamente polarizada
é a consequência final de domínio do estado cliente. As
economias dos regimes clientes, centradas no imperialismo, enquanto
réplicas de qualquer vulgar estado sátrapa, são
justificadas (ou legitimadas) em nome de um sistema eleitoral alegadamente
democrático na verdade um sistema político dominado pelas
novas elites capitalistas e pelos seus meios de comunicação
fortemente financiados.
Os regimes centrados no imperialismo dirigidos por elites colaboracionistas,
que vão desde os estados balcânicos, Europa central e de leste
até aos Balcãs, são o exemplo mais flagrante da
expansão imperialista no século XX. O desmantelamento e conquista
da União Soviética e do bloco de leste e a sua
incorporação na aliança da NATO, liderada pelos EUA, e na
União Europeia resultaram num excesso de confiança imperialista.
Washington fez declarações prematuras de um mundo unipolar
enquanto a Europa ocidental continuava a pilhar recursos públicos, desde
fábricas a imobiliário, explorando a mão-de-obra barata,
no ultramar e através da imigração, constituindo um
formidável 'exército de reserva' para corroer os padrões
de vida da força de trabalho sindicalizada no Ocidente.
A unidade de objectivos dos regimes imperialistas europeus e americano permitiu
a apropriação pacífica da riqueza das novas regiões
através de monopólios privados. Os estados imperialistas
subsidiaram inicialmente os novos regimes clientes com transferência em
grande escala e empréstimos sob a condição de eles
permitirem que empresas imperialistas se apoderassem de recursos,
património, terras, fábricas, sectores de serviços, meios
de comunicação, etc. Pesadamente endividados os estados passaram
de crises agudas no período inicial para um crescimento 'espectacular',
até chegarem a profundas e crónicas crises sociais de desemprego
de dois dígitos num período de 20 anos de
construção do estado cliente. Enquanto aumentavam os protestos
dos trabalhadores à medida que os salários se degradavam, o
desemprego aumentou e foram cortadas as prestações de
benefício social. Mas a 'nova classe média' embrenhada nos
aparelhos políticos e de comunicação social e em empresas
económicas mistas são suficientemente financiadas por
instituições financeiras imperialistas para proteger o seu
domínio.
Contudo, a dinâmica da expansão imperialista no leste, centro e
sul da Europa não proporcionou o impulso para um avanço
estratégico, por causa da ascendência do capital financeiro
altamente volátil e duma poderosa casta militar nos centros
políticos euro-americanos. Em aspectos importantes, a expansão
militar e política deixou de estar atrelada à conquista
económica. O que se verificou foi o inverso: a pilhagem económica
e o domínio político serviram de instrumento para projectar o
poder militar.
Sequências imperialistas: Da guerra para a exploração
à exploração pela guerra
As relações entre políticas imperialistas militares e
interesses económicos são complexas e mudam com o tempo e o
contexto histórico. Em determinadas circunstâncias, um regime
imperialista pode investir fortemente em pessoal militar e aumentar as despesas
monetárias para derrubar um dirigente anti-imperialista e implantar um
regime cliente muito para além de qualquer retorno económico
estatal ou privado. Por exemplo, as guerras dos EUA no Iraque e no
Afeganistão, as guerras por procuração na Somália e
no Iémen não proporcionaram grandes lucros às empresas
multinacionais americanas nem estimularam a exploração privada de
matérias-primas, mão-de-obra ou mercados. Quando muito, as
guerras imperialistas deram lucros a empreiteiros mercenários, a
empresas de construção e a 'indústrias de guerra' afins
que beneficiaram de transferências do Tesouro dos EUA e da
exploração dos contribuintes americanos, na sua maioria
assalariados e trabalhadores por conta de outrem.
Em muitos casos, especialmente depois da II Guerra Mundial, o emergente estado
imperialista americano gastou muitos milhares de milhões de
dólares de empréstimos num programa de ajuda à Europa
ocidental. O Plano Marshall evitou levantamentos sociais anti-capitalistas e
recuperou o domínio político capitalista. Isso permitiu o
aparecimento da NATO (uma aliança militar liderada e dominada pelos
EUA). Subsequentemente, as empresas multinacionais americanas investiram e
negociaram com a Europa ocidental recolhendo receitas lucrativas, visto que o
estado imperialista criara condições políticas e
económicas favoráveis. Por outras palavras, a
intervenção político-militar do estado imperialista
precedeu a ascensão e expansão do capital multi-nacional
americano. Uma análise míope a curto prazo da actividade inicial
pós-guerra subestimaria a importância dos interesses
económicos privados americanos enquanto força motora da
política dos EUA. Alargando o período de tempo às duas
décadas seguintes, a interacção entre as grandes despesas
iniciais estatais, militares e económicas com os posteriores altos
ganhos privados, ficamos com um exemplo perfeito de como funciona o processo do
poder imperialista.
O papel do estado imperialista enquanto instrumento para abrir, proteger e
expandir o mercado privado, a exploração da força de
trabalho e dos recursos corresponde a uma altura em que tanto o estado como as
classes dominantes estavam principalmente motivados pela
construção do império industrial.
A intervenção militar directa dos EUA e os golpes no Irão
(1953), na Guatemala (1954), no Chile (1973), na República Dominicana
(1965) estiveram ligados a interesses económicos específicos e a
empresas imperialistas específicas. Por exemplo, os EUA e as empresas
petrolíferas inglesas tentaram inverter a nacionalização
do petróleo no Irão. A United Fruit Company, dos EUA,
opôs-se à política de reforma agrária na Guatemala.
As mais importantes companhias americanas de cobre e de
telecomunicações apoiaram e apelaram ao golpe no Chile,
patrocinado pelos EUA.
Em contraste, as actuais intervenções militares e guerras dos EUA
no Médio Oriente, no sul da Ásia e no Corno de África
não são promovidas por multi-nacionais americanas. A
política imperialista é promovida por militaristas e sionistas
infiltrados no estado, nos meios de comunicação e nas poderosas
organizações 'civis'. Os mesmos métodos imperialistas
(golpes e guerras) servem diferentes dirigentes imperialistas e seus interesses.
Regimes clientes, aliados e fantoches
As redes imperialistas envolvem garantir uma série de 'bases de
recursos' complementares, económicas, militares e políticas, que
fazem parte do sistema imperialista mas mantêm graus diversos de
autonomia política e económica. Nas fases dinâmicas
iniciais da construção do Império americano, por volta de
1950-1970, as empresas multinacionais americanas e a economia americana no seu
conjunto dominaram a economia mundial. Os seus aliados na Europa e na
Ásia estavam fortemente dependentes dos mercados, do financiamento e do
desenvolvimento dos EUA. A hegemonia militar dos EUA reflectia-se numa
série de pactos militares regionais que garantiam um apoio quase
imediato às guerras regionais americanas, aos golpes militares e
à construção de bases militares e de portos navais
americanos no seu território. Os países estavam divididos em
'especializações' que serviam os interesses especiais do
Império americano. A Europa ocidental era uma base avançada
militar, um parceiro industrial e um colaborador ideológico. A
Ásia, sobretudo o Japão e a Coreia do Sul, serviam de 'postos
avançados militares de primeira linha', assim como de parceiros
industriais. A Indonésia, a Malásia, as Filipinas eram
essencialmente regimes clientes que forneciam matérias-primas assim como
bases militares. Singapura e Hong Kong eram entrepostos financeiros e
comerciais. O Paquistão era um regime militar cliente que servia de
pressão na linha da frente sobre a China. A Arábia Saudita, o
Irão e os mini-estados do Golfo, governados por regimes
autoritários clientes, forneciam o petróleo e bases militares. O
Egipto e a Jordânia e Israel asseguravam os interesses imperialistas no
Médio Oriente. Beirute funcionava como centro financeiro para os
banqueiros americanos, europeus e do Médio Oriente.
A África e a América Latina, que incluíam regimes clientes
e nacionalistas-populistas, eram uma fonte de matérias-primas e de
mercados para produtos acabados e também mão-de-obra barata. A
prolongada guerra EUA-Vietname e a subsequente derrota de Washington corroeram
o poder do império. A expansão industrial na Europa ocidental, no
Japão e na Coreia do Sul desafiou o predomínio industrial dos
EUA. A procura da América Latina de políticas nacionalistas, de
substituição das importações, forçaram o
investimento dos EUA a dirigir-se para a manufactura ultramarina. No
Médio Oriente os movimentos nacionalistas derrubaram os clientes dos EUA
no Irão e no Iraque e corroeram os postos avançados militares. As
revoluções em Angola, Namíbia, Moçambique,
Argélia, Nicarágua e noutros locais cortaram o acesso 'aberto'
euro-americano a matérias-primas, pelo menos temporariamente.
O declínio do Império americano foi temporariamente suspenso pelo
colapso do comunismo na União Soviética e na Europa de leste e a
implantação de regimes clientes por toda a região. Do
mesmo modo, a onda de regimes clientes centrados no imperialismo na
América latina, entre os meados dos anos 70 e os finais dos anos 90, deu
a impressão duma recuperação imperialista. Mas a
década de 90 não foi o início da repetição
da descolagem imperialista do início dos anos 50; foi o
"último hurra" antes de um declínio irreversível
a longo prazo. Todo o aparelho político imperialista, que tanto
êxito teve nas suas operações clandestinas para subverter
os regimes soviéticos e europeus de leste, desempenhou um papel
secundário quando se tratou de capitalizar as oportunidades
económicas que se seguiram. A Alemanha e outros países da UE
lideraram o caminho na conquista das lucrativas empresas capitalizadas. As
oligarquias russas-israelenses (sete das oito principais) apoderaram-se e
pilharam indústrias estratégicas privatizadas, bancos e recursos
naturais. Os principais beneficiários americanos foram os bancos e
empresas de Wall Street que lavaram milhares de milhões de ganhos
ilícitos e cobraram comissões lucrativas a partir de
fusões, aquisições, listas de acções e
outras actividades menos que transparentes. Por outras palavras, o colapso do
colectivismo soviético fortaleceu o sector financeiro paradisíaco
do Império americano. Pior ainda, o conceito de um "mundo
unipolar" tão gabado pelos ideólogos americanos, favoreceu
os militaristas, que a partir daí se convenceram de que os anteriores
constrangimentos em relação aos ataques militares dos EUA aos
nacionalistas e seus aliados soviéticos tinham desaparecido. Em
consequência, a intervenção militar tornou-se a principal
força motora na construção do império americano que
descambou na primeira guerra do Iraque, na invasão da Jugoslávia
e da Somália, e na expansão de bases militares americana por todo
o antigo bloco soviético e Europa de leste.
As sementes da decadência e do declínio foram lançadas em
pleno auge do poder político e militar global dos EUA durante os anos
90, quando todos os principais regimes latino-americanos se encontravam
envolvidos na trama neo-liberal centrada no imperialismo. As crises
económicas dos finais dos anos 90 levaram a grandes levantamentos e
derrotas eleitorais em praticamente todos os clientes americanos na
América Latina, anunciando o declínio do domínio
imperialista americano. O extraordinariamente dinâmico e cumulativo
crescimento da China desalojou a manufactura americana e enfraqueceu o poder
negocial dos EUA perante governantes na Ásia, na África e na
América Latina. A enorme transferência de recursos estatais
americanos para aventuras imperialistas ultramarinas, bases militares e apoio a
clientes e aliados levou ao declínio interno.
O império americano, enfrentando passivamente os competidores
económicos que despojavam os EUA de mercados vitais e metendo-se em
guerras prolongadas e infindáveis que esgotavam o tesouro, atraiu uma
legião de políticos medíocres a que faltava uma
estratégia coerente para rectificar políticas e reconstruir o
estado para vitalizar uma actividade produtiva capaz de 'reconquistar
mercados'. Pelo contrário, as políticas de guerras sem fim e
insustentáveis favoreceram um sub-grupo especial (sui generis) de
militaristas, os sionistas americanos. Tiraram benefícios da sua
infiltração em posições estratégicas do
estado, reforçaram a sua influência nos meios de
comunicação de massas e numa ampla rede de "grupos de
pressão" organizados para reforçar a
subordinação dos EUA à tendência de Israel para a
supremacia do Médio Oriente.
O resultado foi o total "desequilíbrio" do aparelho
imperialista americano: a acção militar foi desligada da
construção do império económico. Uma casta superior
altamente influente de militaristas sionistas atrelou o poder militar dos EUA a
um estado economicamente marginal (Israel), numa hostilidade permanente para
com 1,5 mil milhões no mundo muçulmano. Igualmente devastador, os
ideólogos e políticos sionistas americanos promoveram
instituições repressivas, legislação e propaganda
ideológica islamofóbica destinada a aterrorizar a
população americana. Uma ideologia islamofóbica igualmente
importante serviu para justificar a guerra permanente no sul da Ásia e
no Médio Oriente e os exorbitantes orçamentos militares, numa
altura de aguda deterioração das condições
sócio-económicas internas. Gastaram-se centenas de milhares de
milhões de dólares improdutivamente na "Segurança
Interna" que tentou por todos os meios recrutar, treinar, enquadrar e
prender muçulmanos afro-americanos como "terroristas".
Milhares de agências secretas, com centenas de milhares de
funcionários a nível local, estatal e nacional, espiaram os
cidadãos americanos que, em qualquer altura, pudessem ter tentado falar
ou agir para corrigir ou reformar as políticas
militaristas-financeiras-sionistas centradas no imperialismo.
No final da primeira década do século XXI, o império dos
EUA só conseguiu destruir adversários (Iraque, Paquistão e
Afeganistão), provocar tensões militares (península da
Coreia, Mar da China) e corroer as relações com parceiros
comerciais potencialmente lucrativos (Irão, Venezuela). Um autoritarismo
galopante fundiu-se com a quinta coluna do militarismo sionista para fomentar a
ideologia islamofóbica. A convergência de mediocridades
autoritárias, vigaristas em ascensão e lealistas tribais da
quinta coluna no regime de Obama impediu qualquer recuo previsível da
decadência imperialista.
A crescente rede económica global da China e o avanço
dinâmico na modernização da tecnologia aplicada em tudo,
desde as energias alternativas aos comboios de alta velocidade, contrastam com
o império americano, infestado de militaristas-sionistas. As
exigências dos EUA aos governantes do Paquistão cliente para
esgotar o seu tesouro em apoio de guerras islâmicas americanas no
Afeganistão e no Paquistão, contrastam com os 30 mil
milhões de dólares de investimentos chineses em infra-estruturas,
energia e electricidade e os aumentos de muitos milhares de milhões de
dólares no comércio.
Os subsídios militares de 3 mil milhões de dólares dos EUA
a Israel contrastam com os investimentos de muitos milhares de milhões
de dólares em petróleo iraniano e acordos comerciais. O
financiamento dos EUA das guerras contra os países islâmicos no
sul e centro da Ásia contrasta com a expansão do comércio
económico da Turquia e os acordos de investimento na mesma
região. A China substituiu os EUA enquanto parceiro comercial chave em
importantes países da América do sul, enquanto que os desiguais
acordos "de comércio livre" (NAFTA) empobrecem o
México. O comércio entre a União Europeia e a China
ultrapassa o dos EUA.
Em África, os EUA subsidiam as guerras na Somália e no Corno de
África, enquanto a China assina um investimento de muitos milhares de
milhões de dólares e acordos comerciais, construindo
infra-estruturas africanas em troca do acesso a matérias-primas.
Ninguém tem dúvidas de que o futuro económico de
África cada vez está mais ligado à China.
O Império dos EUA, em contraste, está num abraço mortal
com um insignificante estado militarista colonialista (Israel), com estados
falidos no Iémen e na Somália, com regimes clientes estagnados e
corruptos na Jordânia e no Egipto e com os decadentes estados
petrolíferos absolutistas e cobradores de rendas da Arábia
Saudita e do Golfo. Todos eles fazem parte duma coligação
atávica improdutiva apostada em manter o poder através da
supremacia militar. No entanto, os Impérios do século XXI
constroem-se na base de economias produtivas com redes globais ligadas a
parceiros comerciais dinâmicos. Reconhecendo a supremacia
económica e as oportunidades de mercados que começam a fazer
parte da rede global chinesa, antigos ou actuais clientes dos EUA e até
mesmo governantes fantoches começaram a desviar-se da submissão
aos ditames americanos. Ocorreram por toda a América Latina viragens
fundamentais nas relações económicas e nos alinhamentos
políticos. O Brasil, a Venezuela, a Bolívia e outros
países apoiam o programa nuclear não militar do Irão
desafiando a agressão de Washington liderada pelos sionistas.
Vários países desafiaram os políticos de Israel-EUA
reconhecendo a Palestina enquanto estado. O comércio com a China
ultrapassa o comércio com os EUA nos maiores países da
região.
Os regimes fantoches no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão
assinaram importantes acordos económicos com a China, o Irão e a
Turquia apesar de os EUA injectarem milhares de milhões de
dólares para reforçar a sua posição militar. A
Turquia, um antigo cliente militar do comando EUA-NATO alarga a sua procura de
hegemonia capitalista expandindo laços económicos com o
Irão, a Ásia central e o mundo árabe-muçulmano,
desafiando a hegemonia militar EUA-Israel.
O Império americano ainda mantém importantes clientes e perto de
um milhar de bases militares em todo o mundo. À medida que os regimes
clientes e fantoches diminuem, Washington aumenta o papel e o âmbito das
operações de esquadrões de morte extra-territoriais de 50
para 80 países. A crescente independência de regimes no mundo em
desenvolvimento é alimentada sobretudo por um cálculo
económico: a China oferece maiores retornos económicos e menor
interferência político-militar do que os EUA.
A rede imperialista de Washington cada vez se baseia mais em
ligações militares com aliados: com a Austrália, o
Japão, a Coreia do Sul, Formosa no Extremo Oriente e na Oceânia;
com a União Europeia no ocidente; e com um pequeno conjunto de
países na América central e do sul. Mesmo assim, os aliados
militares já não são dependências económicas:
os principais mercados de exportação da Austrália e da
Nova Zelândia estão na Ásia (China). O comércio
UE-China está a crescer exponencialmente. O Japão, a Coreia do
Sul e Taiwan estão cada vez mais ligados à China, através
do comércio e dos investimentos
tal como o Paquistão e a
Índia.
Estão a desenvolver-se na América Latina e na Ásia novas
redes regionais igualmente importantes, que excluem os EUA, criando potencial
para novos blocos económicos. Por outras palavras, a rede
económica imperialista americana, construída após a II
Guerra Mundial e amplificada pelo colapso da URSS, está num processo de
decadência, apesar de as bases militares e tratados se manterem como uma
'plataforma' formidável para novas intervenções militares.
O que é claro é que os ganhos militares, políticos e
ideológicos na construção da rede dos EUA em todo o mundo,
obtidos com o colapso da URSS e as guerras pós-soviéticas,
não são sustentáveis. Pelo contrário o exagerado
desenvolvimento do aparelho ideológico-militar-segurança suscitou
expectativas económicas e esgotou recursos económicos o que
resultou na incapacidade de explorar oportunidades económicas ou
consolidar redes económicas. Os "levantamentos populares" na
Ucrânia, financiados pelos EUA, levaram a regimes clientes incapazes de
promoverem o crescimento. No caso da Geórgia, o regime meteu-se numa
guerra aventureira com a Rússia que resultou em prejuízos
comerciais e territoriais. É uma questão de tempo até que
os regimes clientes no Egipto, na Jordânia, na Arábia Saudita, nas
Filipinas e no México enfrentem importantes revoltas, devido às
bases precárias de governos de dirigentes corruptos, estagnados e
repressivos.
O processo de decadência do Império americano é causa e
consequência do desafio das potências económicas emergentes
que estabelecem centros alternativos de crescimento e desenvolvimento. As
mudanças no interior de países na periferia do império e o
crescente endividamento e défices comerciais no 'centro' do
império estão a corroer o império. A actual classe
governante dos EUA, tanto na variante financeira como militarista, não
mostra nem vontade nem interesse em enfrentar as causas da decadência.
Pelo contrário, apoiam-se mutuamente uma à outra: o sector
financeiro baixa os impostos afundando a dívida pública e pilha o
tesouro. A casta militar esgota o tesouro na manutenção de
guerras e bases avançadas militares e aumenta o défice comercial
sabotando as iniciativas comerciais e investimentos.
02/Janeiro/2011
O original encontra-se em
http://petras.lahaine.org/articulo.php?p=1834&more=1&c=1.
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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