Porque o petróleo abaixo dos US$30/barril é um grande problema
por Gail Tverberg
Lê-se frequentemente que preços baixos do petróleo
US$30/barril, por exemplo estimularão a economia e esta em breve
se recuperará. O que há de errado nesta narrativa? Um bocado de
coisas, como se verá:
1. Os produtores de petróleo não podem realmente produzir a
US$30/barril.
Alguns países podem extraí-lo a US$30/barril. A Figura 1
dá uma aproximação dos custos técnicos de
extracção para vários países. Ainda assim,
não há muitos países a extraírem petróleo
abaixo dos US$30/barril só a Arábia Saudita, Irão e
Iraque. Não haveria muito petróleo bruto se apenas estes
países o produzissem.
Figura 1. Breakeven global de preços (considerando só custos
técnicos de extracção) e produção de
petróleo.
Fonte: Alliance Bernstein, Outubro 2014
2. Os produtores de petróleo realmente necessitam preços mais
altos do que os custos técnicos de extracção mostrados na
Figura 1, o que torna a situação ainda pior.
O petróleo só pode ser extraído dentro de um sistema mais
vasto. As companhias precisam pagar impostos. Estes podem ser muito altos.
Historicamente,
para muitos países da OPEP, a inclusão dos mesmoselevou os custos totais a mais de US$100/barril
.
Companhias independentes em países não OPEP também
têm outros custos além dos técnicos de
extracção, incluindo impostos e dividendos para accionistas.
Além disso, se as companhias quiserem evitar tomar emprestado um enorme
montante de dinheiro, precisam ter preços mais elevados do que
simplesmente os custos técnicos de extracção. Se
precisarem contrair empréstimos, os custos dos juros também
precisam ser considerados.
3. Quando os preços do petróleo caem muito baixo, os produtores
geralmente não interrompem a produção.
Há demoras inerentes ao sistema de produção de
petróleo. Leva vários anos por em andamento um projecto de
extracção. Companhias a trabalharem num projecto não
costumam parar se ocorrerem preços baixos. Uma das razões para
continuarem num projecto é a existência de dívida que deve
ser reembolsada com juros, continue ou não o projecto.
Além disso, uma vez feito, um furo pode continuar a produzir durante
vários anos. Os custos permanentes após a
perfuração inicial geralmente são muito baixos. Os furos
efectuados anteriormente geralmente serão mantidos em
operação, pouco importando o preço corrente de venda do
petróleo. Em teoria, estes furos podem ser interrompidos e
recomeçados, mas os custos envolvidos tendem a desencorajar esta
acção.
Os exportadores de petróleo continuarão a perfurar novos
poços porque os seus governos precisam das receitas fiscais das vendas
para financiarem seus programas. Estes países tendem a ter baixos custos
de extracção, aproximadamente toda a diferença entre o
preço de mercado e o preço exigido para operar a companhia acaba
por ser pago em impostos. Portanto, há um incentivo para elevar a
produção a fim de gerar receita fiscal adicional, se os
preços caírem. Esta é a questão para a
Arábia Saudita e muitos outros países da OPEP.
Muito frequentemente, companhias de petróleo compram contratos
derivativos que as protegem do impacto de uma queda nos preços de
mercado durante um período de tempo especificado (tipicamente um ano ou
dois). Estas companhias tenderão a ignorar quedas de preços
enquanto estes contratos estão em vigor.
Há também a questão da retenção de
empregados. Num certo sentido, os maiores activos de uma companhia são
os seus empregados. Uma vez perdidos estes empregados, será
difícil contratar e treinar outra vez novos empregados. Assim, os
empregados são mantidos por tanto tempo quanto possível.
Os EUA continuam a
aumentar seu empenho nos biocombustíveis
, sem se preocuparem com o preço do petróleo. Ninguém
pára para pensar que na situação actual de super-oferta,
este empenho aumenta a pressão por preços baixos.
Um travão no sistema deveria ser a aflição financeira
induzida pelos preços baixos do petróleo, mas este efeito de
travagem não ocorre necessariamente muito depressa. Exportadores de
petróleo muitas vezes têm
fundos de riqueza soberana
a que podem recorrer para compensar baixa receita fiscal. Devido à
disponibilidade destes fundos, alguns exportadores podem continuar a financiar
serviços governamentais durante dois ou mais anos, mesmo com
preços de petróleo muito baixos.
Incumprimentos de empréstimos de companhias de petróleo
também deveriam actuar como um travão no sistema. Sabemos que
durante a Grande Recessão,
os reguladores permitiram que empréstimos para o imobiliário comercial fossem estendidos
, mesmo quando as avaliações da propriedade caíam,
mantendo oculto o problema.
Para os reguladores há uma tentação de permitirem complacência semelhante quanto a empréstimos a companhias de petróleo
. Se isto acontecer, o "efeito travagem" no sistema é
reduzido, permitindo que o problema do incumprimento cresça até
se tornar muito grande e não puder mais ser escondido.
4. A procura de petróleo não aumenta muito rapidamente
após quedas de preços de um nível alto.
Algumas pessoas pensam que ir de um preço baixo para um preço
alto é o
oposto
de ir de um preço alto para um preço baixo, em termos dos
efeitos sobre a economia. Realmente não é o caso.
4a. Quando os preços do petróleo ascendem de um preço
baixo para um preço alto
, isto geralmente significa que a produção tem sido insuficiente,
apenas com a produção que podia ser obtida ao nível de
preço mais baixo anterior. O preço deve ascender a um
nível mais alto a fim de estimular produção adicional.
A razão porque o custo da produção de petróleo
tende a ascender é porque o óleo de extracção mais
barata é removido primeiro. Os produtores de petróleo devem
portanto continuar a acrescentar produção que é sempre
mais carta por uma razão ou por outra: localização de
alcance mais difícil, tecnologia mais avançada, ou necessidade de
passos adicionais que exigem trabalho humano adicional e mais recursos
físicos. Eficiências crescentes podem de certo modo compensar esta
tendência, mas a tendência global do custo de
produção tem sido drasticamente de subida
desde cerca de 1999
.
A ascensão do preço do petróleo tem um impacto adverso
sobre a viabilidade
(affordability).
O padrão habitual é que após uma subida no preço
do petróleo economias de países importadores de petróleo
entram em recessão. Isto acontece porque os salários dos
trabalhadores não aumentam ao mesmo tempo que os preços do
petróleo. Em consequência, os trabalhadores descobrem que
não podem comprar tantos produtos e devem reduzir os gastos. Estas
reduções em compras criam problemas para os negócios,
porque estes geralmente têm custos fixos que incluem hipotecas e outros
pagamentos de dívidas. Se estes negócios tiverem de continuar a
operar são forçados a cortar custos de um modo ou de outro. A
redução de custo ocorre de muitas maneiras, incluindo
reduções de salários de trabalhadores, despedimentos,
automação e deslocalizações de manufacturas para
locais mais baratos.
Tanto para empregadores como para empregados, o impacto destas mudanças
rápidas frequentemente é sentido como se um tapete tivesse sido
puxado debaixo dos pés. É muito desagradável e
desconcertante.
4b. Quando os preços caem,
a situação que se verifica não é a oposta de 4a. O
patronato acha que graças a preços mais baixos do petróleo
os seus custos são um pouco mais baixos. Muito frequentemente, eles
tentarão manter algumas destas poupanças como lucros mais
elevados. Governos podem optar por elevar taxas de impostos sobre produtos
petrolíferos quando os preços caem, porque os consumidores
serão menos sensíveis a uma tal mudança do que seria o
caso de outra forma. Negócios não têm qualquer
motivação para abandonar técnicas de poupança de
custos que adoptaram, tal como a automação ou a
deslocalização para lugares mais baratos.
Poucos empresários construirão novas fábricas com a
expectativa de que os preços baixos do petróleo estarão
disponíveis por longo tempo, porque entendem que os preços baixos
são apenas temporários. Eles sabem que se os preços
não recuarem num razoável período de tempo (meses ou
poucos anos), a quantidade de petróleo disponível é
provável que caia precipitadamente. Se houver suficiente petróleo
disponível no futuro, os preços precisarão ser
suficientemente alto para cobrirem o verdadeiro custo de
produção. Portanto, os baixos preços actuais são no
máximo um benefício temporário algo como o olho de
um furacão.
Uma vez que o impacto dos preços baixos é apenas
temporário, os empresários desejarão adoptar apenas
mudanças que possam acontecer rapidamente e possam ser facilmente
revertidas. Um restaurante ou bar pode acrescentar mais empregados e empregadas
de mesa. Um negócio de vendas de carros pode acrescentar mais alguns
vendedores porque as vendas podem ser melhores. Uma fábrica
automobilística pode programar mais turnos de trabalhadores, de modo a
manter muito alto o número de carros produzidos. Companhias de
aviação podem acrescentar mais voos, se o puderem fazer sem
comprar aviões adicionais.
Devido a isso, os empregos que são acrescentados à economia
são provavelmente sobretudo no sector de serviços. Assim, pode-se
esperar que continue a mudança rumo à
deslocalização em países de custo mais baixo e à
automação. Cidadãos obterão algum benefício
com os preços do petróleo mais baixos, mas não tanto se
governos e empresários avançarem para partilhar suas
poupanças. O benefício para cidadãos será muito
menor dos que se todas as pessoas que despedidas na última
recessão obtivessem seus empregos de volta.
5. A queda drástica nos preços do petróleo nos
últimos 18 meses tem pouco a ver com o custo de produção.
Os preços recentes do petróleo representam, ao contrário,
uma tentativa do mercado para encontrar um equilíbrio entre oferta e
procura. Uma vez que
a oferta não desce rapidamente em resposta a preços mais baixos e
a procura não sobe rapidamente em resposta a preços mais baixos,
os preços podem cair muito baixo
bem abaixo do custo de produção.
[NR]
Como observado na Secção 4,
preços altos do petróleo tendem a ser recessivos.
O método primário de compensar forças recessivas
é, directa ou indirectamente, acrescentar dívida a baixas taxas
de juro. Como isto aumenta-se a dívida, mais casas e fábricas
podem ser construída e mais carros podem ser comprados. A economia pode
ser forçada a actuar de uma maneira mais "normal" porque as
baixas taxas de juro e a dívida adicional em certo sentido neutralizam o
impacto adverso de altos preços do petróleo.
Figura 2. Oferta mundial e preços do petróleo com base em dados
da EIA
Os preços do petróleo caíram muito baixo em 2008
devido a influências recessivas que se verificaram quando os preços estavam altos
. Foi apenas com o benefício do estímulo baseado em dívida
considerável que os preços do petróleo foram gradualmente
inflados ao nível de mais de US$100 por barril. Este estímulo
incluiu o gasto deficitário estado-unidense, a Quantitative Easing (QE)
que arrancou em Dezembro de 2008, e um considerável aumento de
dívida por parte dos chineses.
Os preços das commodities tendem a ser muito voláteis porque
utilizamos grandes quantidades delas e porque a [capacidade de] armazenagem
é bastante limitada. A oferta e procura tem de equilibrar-se quase
exactamente, ou os preços ajustam-se mais altos ou mais baixos. Agora
estamos de volta a uma situação "fora de
equilíbrio", semelhante à que estávamos no fim de
2008. Nossas opções para consertar a situação desta
vez são mais limitadas. As taxas de juro já estão muito
baixas e os governos geralmente sentem que têm demasiada dívida
para poderem tratá-la com segurança.
6. Um factor contributivo para os baixos preços do petróleo
actuais é abandono dos esforços de estímulo de 2008.
Como observado na Secção 4, altos preços do
petróleo tendem a ser recessivos. Como observado na Secção
5, este impacto recessivo pode, pelo menos em alguma medida, ser compensado por
estímulos na forma de dívida acrescida e taxas de juro mais
baixas. Infelizmente, este estímulo tem tendido a ter
consequências adversas. Ele encorajou a construção
excessiva tanto de casas como de fábricas na China. Encorajou uma
ascensão especulativa nos preços de activos. Encorajou
investimentos em empresas de lucratividade questionável, incluindo
muitos investimentos petrolíferos em formações xistosas
nos EUA.
Em resposta a estes problemas, o montante dos estímulos está a
ser reduzida. Os EUA descontinuaram seu programa QE e
reduziram seu gasto deficitário
. Em Dezembro de 2015 começaram mesmo a aumentar taxas de juro. A China
também está a reduzir a quantidade de nova dívida que
está a acrescentar.
Infelizmente, sem o alto nível de estímulos do passado, é
difícil para a economia mundial crescer bastante rapidamente a fim de
manter altos os preços de todas as commodities, incluindo o
petróleo. Isto é um factor importante que contribui para os
actuais preços baixos.
7. O perigo com muito baixos preços do petróleo é que
perderemos os produtos energéticos sobre os quais repousa nossa economia.
Há um certo número de diferentes meios pelos quais a
produção petrolífera pode ser perdida se os preços
baixos do petróleo continuarem por um período extenso.
Em países exportadores de petróleo pode haver
revoluções e tumultos políticos que levem a uma perda da
produção do óleo.
Em quase qualquer país, pode haver uma redução
drástica na produção porque companhias de petróleo
não podem obter financiamento de dívida para pagar mais
serviços. Em alguns casos, companhias podem ir à bancarrota e os
novos proprietários podem optar por não extrair petróleo a
preços baixos.
Pode também haver problemas financeiros em sistemas vastow que
indirectamente levam à redução da produção.
Exemplo: se bancos não podem confiar em serviços de folhas de
pagamento ou garantir o pagamento para despachos internacionais, tais problemas
afectariam todas as companhias de petróleo, não apenas aquelas em
dificuldade financeira.
O petróleo não é o único dos seus problemas. O
carvão e o gás natural também estão a experimentar
preços baixos. Poderiam passar por rupturas indirectamente devido aos
preços baixos continuados.
8. A economia não pode ir longe sem uma oferta adequada de
petróleo e outros produtos de combustíveis fósseis.
Frequentemente lemos na imprensa artigos que parecem sugerir que a economia
poderia singrar sem combustíveis fósseis. Exemplo: dá-se a
impressão de que as [energias] renováveis estão "logo
ali" e que a sua existência eliminará a necessidade de
combustíveis fósseis. Infelizmente, neste momento, nós de
modo algum seremos capazes de ir muito longe sem combustíveis
fósseis.
Os alimentos são cultivados e transportados utilizando produtos
petrolíferos. As estradas são feitas e mantidas utilizando
petróleo e outros produtos energéticos. O petróleo
é o maior produto energético individual.
A experiência num longo período mostra um laço estreito
entre a utilização de energia e o crescimento do PIB (Figura3).
Praticamente toda a tecnologia é fabricada a partir de produtos de
combustíveis fósseis. Assim, mesmo o crescimento
energético atribuído a melhorias tecnológicas poderia ser
considerado estar disponível devido em grande medida aos
combustíveis fósseis.
Figura 3. Crescimento do PIB mundial comparado com o crescimento do consumo
energético mundial para períodos de tempo seleccionados desde
1820. As tendências do PIB real mundial desde 1975 até o presente
são baseadas no
USDA real GDP data
em 1975 e anos seguintes, a preços de 2010 (estimativa do autor para
2015). A estimativa anteriores a 1975 são baseadas no
Maddison project updates
. O crescimento na utilização de produtos energéticos
é baseado numa combinação de dados do Apêndice A de
Energy Transitions: History, Requirements and Prospects
, de VaclavSmil, juntamente com a BP Statistical Review of World Energy 2015
para 1965 e anos seguintes.
Se bem que as renováveis estejam a crescer, elas ainda representam
apenas uma minúscula fatia do consumo energético mundial.
Figura 4. Consumo energético mundial por combustível,
com base na BP Statistical Review of World Energy 2015.
Portanto, não estamos próximos do ponto em que a economia mundial
possa continuar a funcionar sem uma oferta adequada de petróleo,
carvão e gás natural.
9. Muita gente acredita que os preços do petróleo tornarão
a recuperar e tudo ficará bem outra vez. Isto parece improvável.
O custo crescente da extracção de petróleo com que nos
deparamos nos últimos 15 anos representa uma forma de retornos
decrescentes. Uma vez tornados altos os custos de fazer produtos
energéticos, uma economia está permanentemente mutilada.
Preços mais elevados do que aqueles verificados no período
2011-2014 são realmente necessários se a extracção
tiver de continuar e crescer. Infelizmente, preços tão altos
tendem a ser recessivos. Em consequência, preços altos tendem a
pressionar a procura para a baixa. Quando a procura cai demasiado, os
preços tendem a cair muito baixo.
Há vários meios para melhorar a procura por commodities e,
portanto, elevasr os preços outra vez. Isto inclui (1) aumentar
salários de trabalhadores não elite; (b) aumentar a
proporção da população com empregos; e (c) aumentar
o montante de dívida. Nenhum destes meios está a mover-se na
direcção "correcta".
Joseph Tainter em
The Collapse of Complex Societies
destaca que uma vez começados os retornos decrescentes, a resposta
é mais "complexidade" para resolver estes problemas. Os
programas de governo tornam-se mais importantes e os impostos frequentemente
ficam mais altos. A educação dos trabalhadores de elite torna-se
mais importante. Os negócios tornam-se maiores. Esta complexidade
acrescida leva a que mais do produzido pela economia seja canalizado para
sectores da economia diferentes daqueles com salários de trabalhadores
não elite. Como há demasiado destes trabalhadores não
elite, sua falta de poder de compra afecta adversamente a procura por bens que
utilizam commodities, tais como casas, carros e motociclos.
[1]
Outra força tendente a restringir a procura é uma
proporção mais pequena da população na força
de trabalho. Há muitos factores que contribuem para isto: Pessoas jovens
ficam mais tempo na escola. O grosso dos trabalhadores nascidos após a
II Guerra Mundial está agora a atingir a idade de reforma.
Salários cadentes tornam cada vez mais difícil para pais jovens
cuidarem de crianças de modo a que ambos possam trabalhar.
Como observado na Secção 5, o crescimento da dívida
já não está a subir tão rapidamente como no
passado. De facto, estamos a ver o começo de aumentos nas taxas de juro.
Quando acrescentamos a estes problemas a desaceleração do
crescimento da economia chinesa e o novo petróleo que o Irão
estará a acrescentar à oferta mundial, é difícil
ver como o desequilíbrio petrolífero será reparado num
período de tempo razoável. O desequilíbrio, ao
contrário, parece provável que permaneça num nível
elevado, ou mesmo pior. Com [capacidade de]
armazenagem disponível limitada
, os preços tenderão a continuar a cair.
10. O avanço rápido da produção de petróleo
nos EUA depois de 2008 deu uma contribuição significativa para o
descompasso entre a oferta e a procura de petróleo que se tem verificado
desde meados de 2014.
Sem a produção dos EUA, a produção mundial de
petróleo (definida de modo amplo, incluindo biocombustíveis e
líquidos de gás natural) está quase estagnada.
Figura 5. Produção total de líquidos para o mundo como um
todo e para o mundo excluindo os EUA,
com base em dados do International Petroleum Monthly, da EIA.
Encarada separadamente, a produção de petróleo
estado-unidense ascendeu muito rapidamente. A produção total
subiu seis milhões de barris/dia entre 2008 e 2015.
Figura 6. Produção de líquidos dos EUA, com base em dados
da EIA
(International Petroleum Monthly, Junho/2015, complementado
pela Monthly Energy Review para dados mais recentes).
A razão porque a oferta de petróleo estado-unidense pôde
ascender muito rapidamente deveu-se em parte à QE que levou à
disponibilidade de dívida a taxas de juro muito baixas. Investidores
encontravam rendimentos
(yields)
de dívida tão baixos que compravam quase qualquer
participação no capital que parecesse ter uma possibilidade de
valor a longo prazo. A combinação destes factores, mais a
crença de que os preços do petróleo aumentariam sempre
porque os custos de extracção tendem a subir ao longo do tempo,
canalizou grandes montantes de fundos de investimento para o sector dos
combustíveis líquidos.
Em consequência, a produção de petróleo (definida de
modo amplo) nos EUA aumentou rapidamente, crescendo de aproximadamente 1
milhão de barris/dia em 2012, para 1,2 milhão b/d em 2013 e 1,7
milhão b/d em 2014. Os números finais ainda não
estão disponíveis, mas dão a impressão de que a
produção estado-unidense ainda aumentou outros 700 mil b/d em
2015. Os 700 mil b/d acrescentados pelos EUA em 2015 são provavelmente
mais do que o montante acrescentado pela Arábia Saudita ou pelo Iraque.
O consumo
mundial
não aumenta rapidamente quando os preços estão altos. O
consumo mundial aumentou 871 mil b/d em 2012; 1.397.000 b/d em 2014; e 843 mil
b/d em 2014,
segundo a BP
. Portanto, em 2014 os EUA sozinhos acrescentaram aproximadamente tanto
petróleo, o
dobro,
quanto o aumento da procura mundial. Este descompasso provavelmente contribuiu
para o colapso dos preços em 2014.
Dado o papel evidente dos EUA em criar o descompasso entre a oferta e a
procura, não deveria ser demasiado surpreendente que a Arábia
Saudita esteja relutante em tentar consertar o problema.
Conclusão
As coisas não estão a funcionar do modo que esperávamos.
Não parece que possamos fazer com que oferta e procura se equilibrem. Se
os preços estiverem altos, as companhias podem extrair um bocado de
petróleo, mas os consumidores não podem aceder aos produtos que o
utilizam, tais como casas e carros; se os preços estiverem baixos, as
companhias tentam continuar a extrair petróleo, mas a seguir decorrem
problemas financeiros.
Para complicar o problema há a contínua necessidade de
estímulos da economia a fim de manter os preços do
petróleo e outras commodities suficientemente altos para encorajar a
produção. Os estímulos parecem assumir a forma de
dívida sempre crescente mesmo a taxas de juro mais baixas. Tal programa
não é sustentável, parcialmente porque leva a mau
investimento e parcialmente porque leva a uma bolha de dívida que
está sujeita a colapso.
O estímulo parece ser necessário devido ao actual alto custo de
extracção do petróleo. Se o custo de
extracção ainda fosse muito baixo, este estímulo
não seria necessário porque produtos que utilizam petróleo
seriam mais acessíveis.
Alguns decisores pensam que o [problema do]
pico petrolífero (peak oil)
poderia ser resolvido simplesmente produzindo mais petróleo e mais
produtos substitutivos. Está a tornar-se cada vez mais claro que o
problema é mais complicado do que isso. Precisamos encontrar um meio de
fazer com que todo o sistema opere correctamente. Precisamos produzir
exactamente a quantidade correcta de petróleo que compradores possam
comprar. Os preços precisam ser suficientemente altos para produtores de
petróleo, mas não demasiado altos para compradores de bens que
utilizam o petróleo. O montante de dívida não deveria
disparar fora de controle. Não parece haver um meio de produzir o
resultado desejado, agora que os custos de extracção são
altos.
As rigidezes construídas no interior do sistema de preços do lado
da oferta (como descrito nas Secções 3 e 4) tendem a ocultar
problemas, deixando-os tornarem-se cada vez maiores. Eis porque
poderíamos subitamente deparar-nos com um grande problema financeiro que
poucos anteviram.
Infelizmente, o que estamos a enfrentar agora é uma
situação aflitiva, ao invés de um problema. Muito
provavelmente não há boa solução. Isto é
preocupante.
19/Janeiro/2016
[1] Por exemplo: mais dividendos e juros são pagos, tendendo a
beneficiar a indústria financeira e as classes da elite. Mas o
produto da economia vai para trabalhadores em posições de
supervisão ou com educação avançada. Outros
trabalhadores aqueles com responsabilidades mais "comuns"
vêem os seus salários ficarem para trás da
ascensão geral do custo de vida. Em consequência, eles
verificarão que é cada vez mais difícil comprar casas,
carros, motociclos e outros bens que utilizam commodities.
[NR] Esta explicação, que é a convencional, é
contrariada por Katasonov. Ele considera que a situação foi
alterada a partir do momento em que a Wall Street inventou o
"petróleo-papel", ou seja, o mercado de futuros do
petróleo o qual é facilmente manipulável.
Actualmente, considera Katasonov, os preços spot do petróleo
estão a ser determinados pelo mercado de futuros. Ver
O cartel bancário que dirige o mercado petrolífero
.
Ver também:
What's Really Going on with Oil?
, F. William Engdahl
A querela saudita-iraniana: Outra escaramuça na guerra do petróleo
, Pepe Escobar
Whatever Happened to Peak Oil?
US oil drillers to report billions in 2015 losses
O original encontra-se em
ourfiniteworld.com/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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