A bomba discreta lançada pela Arábia Saudita
os media não deram atenção à notíca
por Steve Andrews e Randy Udall
[*]
No dia 13 de Abril, em telegrama de Riyadh, a Reuters informou que o rei
Abdullah, da Arábia Saudita, ordenara que as novas descobertas de
petróleo fossem deixadas por explorar a fim de preservar para futuras
gerações a riqueza petrolífera do maior exportador de
petróleo do mundo.
"Quando houver alguma nova descoberta, disse-lhes, deixem-na no
chão, com a graça de deus, nossos filhos precisam dela",
declarou o rei Abdullah.
A capacidade de produção saudita anda à volta dos 11,3
milhões de barris por dia e prevê-se que seja aumentada para 12,5
milhões de b/d no próximo ano.
As observações do rei parecem confirmar uma
declaração pronunciada no ano passado pelo ministro saudita do
Petróleo, Ali al-Naimi, que, quando perguntado "Quão alta
pode a sua produção chegar?" respondeu: "Bem,
chegaremos aos 12,5 milhões de b/d e então veremos".
Apesar de o anúncio saudita ser uma verdadeira bomba, quase todos os
jornais americanos ignoraram-no. Assim, decidimos colher uma amostra de
opiniões de peritos para ver o que pensavam. Seguem-se os excertos:
Tom Petrie, vice presidente, Merrill Lynch:
"A citação do rei Abdullah fala-nos da realidade que
está a emergir rapidamente a que chamo "pico prático do
petróleo". Os sauditas em outros exportadores estão a por
uma nova ênfase no prolongamento da exploração do
petróleo e do ciclo de esgotamento. Isto deriva de uma
consciência crescente dos desafios da maturidade dos recursos
convencionais, bem como de uma ascensão do nacionalismo de recursos.
Isto provavelmente resultará numa antecipação da
ocorrência do pico da produção petrolífera global,
antes do que muitos consumidores esperam".
Charles T. Maxwell, analista senior de energia, Weeden & Co:
"Se as reservas de petróleo da Arábia Saudita não se
tornarem disponíveis para o mundo em anos futuros, para além da
expansão que eles já assinalaram (para 12,5 milhões de
barris/dia), então os constrangimentos geológicos da oferta que
estamos a sentir em muitas outras partes do mundo irão fechar-se sobre
nós mais cedo e mais severamente do que havíamos pensado
anteriormente. Trata-se de uma
grande
mudança de politica. É uma mensagem poderosa. Isto torna a
mensagem geológica muito mais decisiva".
Chris Skrebowski, editor da
Petroleum Review:
"A declaração do rei Abdullah representa o selo final de
aprovação sobre uma política saudita que está a
emergir de restringir a produção a fim de poupar petróleo
para futuras gerações. Em anos recentes os sauditas tem estado
constantemente a gerir expectativas de capacidade futura num sentido
descendente. Agora já ninguém fala em alcançar os 15
milhões de b/d. Se eles atingirem 12,5 milhões de b/d, enquanto
mantêm 1-2 milhões de b/d como capacidade de "reserva",
deveríamos planear para uma produção saudita de 9-11
milhões b/d no futuro previsível.
"Altos preços de petróleo e tesourarias cheias estão
a dar aos países produtores a opção de maximizar o plateau
de produção. Nunca conseguimos saber se estas decisões
estão a ser ditadas pela geologia ou conduzidas por um imperativo
político de 'poupar petróleo para gerações
futuras'. Suspeito que se trate de uma mistura de ambos.
"Seja como for, há agora um vasto movimento dos exportadores de
energia, incluindo a Rússia, Angola, Azerbaijão e Noruega, no
sentido de restringir a expansão a fim de maximizar os fluxos do
plateau. Se isto se estabelecer, então os abastecimentos globais
atingirão um pico mais cedo do que a análise de projectos futuros
indicaria".
Matt Simmons, presidente da Simmons & Co. International:
"Esta declaração do dirigente supremo da Arábia
Saudita tem implicações de extremo alcance. Que o rei Abdullah
instruísse agora os seus suditos a conservarem o petróleo que
bombeiam e a pouparem algum para os filhos e netos dos sauditas de hoje
é assunto da máxima profundidade.
"O rei Abdullah mostrou um sentido de compreensão que não se
via no seu irmão, o rei Faisal que dirigiu o reino até o seu
trágico assassinato. Assumindo que a sua saúde continua, ele
pode conduzir com êxito a Arábia Saudita para um mundo pós
Pico Petrolífero e criar uma sustentável riqueza tipo classe
média para os 90% da Arábia Saudita que foram deixados para
trás. O mundo deveria abençoar este pronunciamento inteligente.
Trata-se de um reflexo do crepúsculo principiado nos campos de
petróleo da Arábia uns poucos anos atrás".
Richard Nehring, presidente da Nerhingdatabase.com
"Este desenvolvimento faz parte do que denominei o "Plateau
prudente". Alguns países chave com grandes reservas e recursos
decidiram manter a produção aos níveis actuais mas
não aumentá-la. Isto é uma espada de dois gumes:
você já não pode contar com estes países para
aumentos, mas pode contar com eles para a base. Os Emirados Árabes
Unidos e o Qatar provavelmente aderirão a esta mudança".
Jeffrey Rubin, economista chefe, CIBC World markets
"Um explicação muito mais plausível para o
crescimento vacilante da produção e exportação
saudita é que eles estão rapidamente a aproximar-se da
produção máxima. Dadas as taxas ascendentes de consumo
interno de petróleo, eles em breve estarão a exportar menos,
não mais, petróleo bruto para os mercados mundiais.
"O ministro russo dos Recursos Naturais, Yuri Trutnev, disse que a
produção e as exportações russas cairão este
ano, pela primeira vez em uma década. Prevemos que as
exportações da OPEP, da Rússia e do México
declinarão realmente em 2,5 milhões de barris por dia entre esta
data e 2012. Está longe de ser óbvio quem irá preencher
este fosso da oferta, menos ainda em atender o necessário crescimento
futuro da procura global de petróleo".
Jeremy Gilbert, engenheiro chefe de petróleo aposentado, BP
"Não faço ideia se havia uma escolha real a ser feita pelos
sauditas. Talvez seja tudo 'manipulação', talvez tenha havido
descobertas, mas houvesse alguma característica dos reservatórios
que os tornassem muito difícil desenvolver, e faz sentido atrasar o
desenvolvimento até haver tecnologia melhorada ou preços muito
mais elevados; talvez seja a simples verdade básica uma
mercadoria muito rara.
"O que sei é que vários países no Golfo optaram
há muito por operar os seus campos com taxas de esgotamento muito abaixo
daquelas que uma companhia ocidental consideraria óptima, ou mesmo
lógico. Taxas de esgotamento entre 1 e 2% ao ano não são
incomuns nos Emirados Árabes Unidos. Os líderes locais têm
dito repetidamente que sentem uma obrigação de preservar algum
dos seus recursos naturais. Estes sentimentos devem ser intensificados quando
a sua produção recente tem sido vendida em troca da US
dólares, os quais depreciaram-se em 25% ou mais contra outras divisas
fortes do mundo ao longo dos últimos quatro anos.
"Os países do Golfo, os quais outrora vieram em ajuda dos EUA,
agora estão ou deliciados com os apuros americanos ou simplesmente
não se importam. Eles não estão a fazer seja o que for
para reduzir os preços mundiais do petróleo. Ao invés
disso, eles estão em vias de maximizar as suas entradas
económicas enquanto minimizam o esgotamento do seu único recurso
natural".
Herman Franssen, presidente da International Energy Associates
As observações do rei Abdullah reflectem o novo pensamento
no Médio Oriente, em que o parlamento kuwaitiano também exprimiu
a necessidade de estabilizar as exportações de petróleo.
Preços mais elevados de petróleo permitirão aos produtores
enfatizarem mais os investimentos internos do que aumentos de
exportações. Todos os países do Golfo assistiram enormes
crescimentos na procura interna de energia e combustível. Em 2015, o
Irão poderá consumir tanto petróleo quanto exporta. As
observações do rei significam que é melhor nós nos
países industrializados começarmos a procurar outras
soluções".
[*]
Co-fundadores da ASPO-USA
O original encontra-se em
Peak Oil Review
, Vol. 3, No. 16, 21/Abril/2008
Este comentários encontram-se em
http://resistir.info/
.
|