Pico petrolífero e mercados financeiros: Uma previsão para 2008
por Gail, o Actuário
Nesta altura do ano, lemos muitas previsões financeiras para o ano que
se inicia. Quase todas são redigidas com o "filtro" da certeza
do crescimento infinito. "A questão da produção
petrolífera é uma dificuldade temporária; depois de uma
breve descida, é provável que a economia continue novamente a
crescer. Podemos ter uma ligeira recessão, mas voltaremos ao caminho
certo, como sempre". Etc.
Considero que este filtro é fundamentalmente um erro e conduz a uma
impressão errada no que diz respeito à direcção
para a qual o mundo se dirige. O petróleo escasseia e esta escassez
irá provavelmente aumentar no futuro. A pressão da
diminuição do fornecimento e os preços galopantes
acrescentam um desequilíbrio sistemático que a comunidade
financeira não está a aceitar. Este desequilíbrio tem na
sua base o facto de que está a tornar-se mais e mais difícil,
tanto para os cidadãos como para os comerciantes, pagar os seus
empréstimos devido aos custos ascendentes do petróleo e da
alimentação. Não é credível que esta
situação acabe. De facto, irá, quase de certeza, piorar
nos próximos anos, à medida que o fornecimento de petróleo
diminui.
Para além do desequilíbrio sistemático, existe
também um risco sistémico, que advém da
interligação de todas as partes da economia. Isto foi bem
descrito alguns dias atrás no
post
The Failure of Networked Systems
. Um dos problemas do risco
sistémico diz respeito ao próprio sistema financeiro. Se uma
parte do sistema falha, aumenta a probabilidade das outras partes falharem
também.
Outro aspecto do risco sistémico é a ligação
estreita entre o sistema financeiro e o resto da economia. Um exemplo é
o preço cada vez mais elevado do petróleo e dos bens alimentares
já mencionados que levam a um desequilíbrio sistemático em
relação a incumprimentos maiores. Um outro é o facto de
que a falta de petróleo irá certamente dificultar o crescimento
infinito, fazendo com que o modelo de crescimento infinito subjacente ao actual
sistema económico seja menos sustentável, baseado no
modelo económico
de Robert Ayres e Benjamin Warr. Uma outra
ligação é a do petróleo com o etanol, o que faz
aumentar ainda mais o custo da alimentação, como demonstrado por
Stuart Stanford em
Fermenting the Food Supply
.
Contextualização
Em primeiro lugar, algumas definições para acompanhar a
introdução.
O
desequilíbrio sistemático
ocorre num sistema quando um processo favorece um determinado resultado. Em
vez dos erros serem ocasionais, são consistentes e recorrentes. Um
exemplo é o termómetro que dá leituras elevadas
consistentemente. Na economia, o desequilíbrio sistemático
acontece quando os empréstimos sofrem uma tendência crescente em
direcção à falta de pagamento, devido a mudanças no
sistema (aumento do preço do petróleo) desde o momento em que a
probabilidade de incumprimento foi originalmente calculada. Como exemplo
adicional, o aumento do preço do petróleo pode também
provocar que lucros de empresas individuais cresçam mais lentamente (em
relação à experiência do período anterior) do
que o esperado, devido a uma contracção do crescimento
económico geral.
O
risco sistémico
é um risco que está relacionado com a interligação
do sistema. Um impulso numa das partes do sistema provoca uma sacudidela numa
outra parte, resultando em desaires não previstos. A título de
exemplo, o insucesso de um banco poderá levar ao insucesso de outros,
por causa do risco de contraparte. Existem motivos significativos para crer que
a interligação do sistema está a aumentar com o passar do
tempo, enquanto os alimentos começam a ser usada como combustível
e enquanto os produtos financeiros se tornam mais complexos.
Vide
The Failure of Networked Systems
.
A comunidade financeira já concebeu muitos modelos. Alguns usados por
"analistas" na avaliação de produtos financeiros mais
recentes. Outros são usados pelas companhias de seguros na
avaliação do risco de incumprimento das obrigações
e das hipotecas.
A suposição adoptada nestes modelos é a de que a
experiência histórica pode ser utilizada, apenas com ligeiros
ajustamentos, como um guia na avaliação dos produtos correntes.
Esta abordagem é insuficiente no reconhecimento do risco crescente que
está a entrar agora no sistema, derivado do desequilíbrio
sistemático resultante do aumento do preço do petróleo e
do maior risco sistémico devido à crescente
interligação.
Uma das formas de descrever estes modelos é afirmando que eles partem do
pressuposto de que os incumprimentos são "acontecimentos
independentes" isto é, não existe um
desequilíbrio em todo o sistema que causa cada vez mais incumprimentos.
Esta suposição mantém baixos os prémios de seguros
e faz funcionar a distribuição dos pacotes de títulos de
crédito. É óbvio que com o desequilíbrio
sistemático e o risco sistémico que actualmente contaminam o
sistema financeiro, estes pressupostos deixam de ser válidos.
Intimamente relacionado com o pressuposto de que os acontecimentos são
independentes está a suposição de que as
distribuições "normais" isto é, que
seguem a distribuição gaussiana. Benoit Mandelbrot demonstrou em
The (Mis) Behavior of Markets
que as caudas
(tails)
reais das
distribuições são muito mais "gordas" do que o
implícito na distribuição gaussiana. O
desequilíbrio originado pela situação petrolífera
torna a distribuição normal ainda menos apropriada. Por exemplo,
com o aumento do preço do petróleo, o número de
incumprimentos de obrigações será maior do que o previsto,
caso se parta do princípio de que a distribuição normal
aplicada à experiência do passado será indicativa de
experiências futuras.
Se atentarmos às teorias financeiras como o Modelo de
Avaliação de Activos Financeiros
(Capital Asset Pricing Model)
e
ao Modelo de Black Scholes
(Black Scholes Option Pricing Model)
, veremos que
supõem distribuições normais e independência
estatística. Já foi provado que tais modelos não
são apropriados, porque as distribuições subjacentes
não são realmente normais, tal como Mandelbrot demonstrou. Agora
que o desequilíbrio sistemático e o risco sistémico
estão a desempenhar um papel mais importante, o valor indicativo que
tinham anteriormente irá previsivelmente cair ainda mais.
O que se segue?
Não creio que possamos saber com precisão. Através dos
dados que seguem, apresento a minha opinião sobre como a
situação financeira poderá desenvolver-se no ano que temos
pela frente, levando em linha de conta as questões discutidas
anteriormente.
1- Muitas seguradoras de títulos de linha única (monoline)
sofrerão desvalorização em 2008 e algumas poderão
abrir falência.
As seguradoras de títulos e hipotecas irão quase certamente
passar por dificuldades porque estas coberturas são redigidas no
pressuposto de que a experiência de incumprimentos do passado pode ser
usada como um guia para os preços necessários. Se existe um
desequilíbrio sistemático em relação ao aumento de
incumprimentos, como se vê actualmente, os preços serão
demasiado baixos.
Assim que as seguradoras de obrigações percam as suas
avaliações de risco AAA, a sua cobertura terá pouco valor.
As agências de avaliação farão a sua
avaliação baseada na posição financeira da
organização que emite o título, em vez de associar a
notação de risco da seguradora à obrigação.
Isto poderá significar uma desvalorização global dos
títulos.
Warren Buffet
está a constituir
uma nova seguradora de títulos.
Mesmo que esta companhia se limite apenas aos títulos municipais e cobre
taxas mais elevadas, duvido da viabilidade da companhia a longo prazo.
Será difícil cobrar um preço em 2008 que reflicta o
verdadeiro risco de incumprimento daqui a cinco ou dez anos, quando o
fornecimento de petróleo será muito mais restrito do que
actualmente.
2- Cada vez mais pessoas com influência nos mercados financeiros
começarão a admitir o pico petrolífero.
Vimos já como os mercados petrolíferos se comportam de forma
diversa, assim que os comerciantes de petróleo se apercebem que o pico
petrolífero não anda longe. Tornam-se mais agressivos e exigem
contrapartidas mais favoráveis. Apercebem-se que têm uma alavanca
e começam a utilizá-la.
Parece-me que em 2008 os mercados financeiros começarão
também a aperceber-se do pico petrolífero. Os economistas mais
eminentes falam já abertamente sobre o assunto. A 15 de Dezembro de
2007, o
Wall Street Journal
citava
Alan Greenspan dizendo que o fornecimento de petróleo tinha atingido o
valor mínimo e num período mais curto do que se
previra. O
Toronto Star
citou
Jeff Rubin, economista-chefe do CIBC World Markets
[1]
: "Creio que já não vamos assistir a aumentos na
produção convencional de petróleo. Penso que (o pico
petrolífero) chegou". Com economistas como Greenspan e Rubin a
falar abertamente do pico petrolífero, é bem provável que
alguns governantes comecem a pensar sobre as suas implicações nos
empréstimos e noutros produtos financeiros. Isto parece especialmente
garantido, caso a produção petrolífera continue
relativamente estagnada ou diminua em 2008.
3- Empréstimos a longo prazo, incluindo aqueles para companhias de
energia, tornar-se-ão certamente menos disponíveis à
medida que a consciência do pico petrolífero aumenta.
Assim que os mercados financeiros se apercebam do pico petrolífero,
penso que as instituições de crédito passarão a ser
mais cautelosas em relação a empréstimos a longo prazo,
devido à dúvida sobre a liquidação destes
empréstimos mal a produção petrolífera mundial
comece a diminuir. As taxas de juro irão subir. Os endividados
marginalizados poderão nem conseguir contrair um empréstimo.
Todos estes efeitos irão progressivamente apertar o cerco à volta
dos empréstimos.
O banco central (Federal Reserve) poderá ter de baixar as taxas de juro,
mas à medida que os incumprimentos aumentam e as
instituições de crédito tomam consciência do pico
petrolífero, a margem de risco para os não pagamentos
incluída nas taxas de juro tenderá a aumentar. Assim, as taxas de
juro actuais cobradas aos consumidores e ao comércio poderão
não diminuir, mesmo que o Federal Reserve baixe as taxas de juro alvo
(target interest rates).
Não acredito numa total aceitação do pico
petrolífero pelos mercados financeiros em 2008, especialmente se uma
crise de crédito fizer baixar os preços do petróleo. Assim
que o pico petrolífero seja reconhecido (quase de certeza quando os seus
efeitos forem notórios e a sua atenuação não esteja
a resultar), a contracção de dívidas a longo prazo
deixará de estar disponível, até para os governos.
4- Existe uma forte probabilidade de uma grave recessão em 2008, que se
agravará com o decorrer do ano.
Os preços do petróleo e da alimentação irão
certamente aumentar, deixando os consumidores com menos dinheiro para gastar no
pagamento dos empréstimos e nas compras diárias. Reajustamentos
nas taxas de juro irão exacerbar ainda mais os problemas com hipotecas.
Os incumprimentos de hipotecas vão aumentar, tal como nos
empréstimos de todo o género incluindo empréstimos
a estudantes, débitos de cartões de crédito,
auto-empréstimos, hipotecas comerciais e outros mais. Eventualmente, os
problemas estender-se-ão às obrigações estatais e
municipais.
Cada vez mais negócios vão confrontar-se com dificuldades
financeiras, que levarão a incumprimentos de empréstimos. Os
comerciantes falidos irão despedir trabalhadores.
Com a desvalorização das habitações, as receitas
fiscais dos municípios irão diminuir. Esta situação
poderá levar a cortes na despesa, aumentando a contracção
económica. Aumenta também a probabilidade de incumprimentos em
títulos municipais.
5- Pelo menos alguns grandes bancos irão falir.
Com a desvalorização e falência das
obrigações e seguros hipotecários, e cada vez mais
incumprimentos de todo o tipo, parece que muitos bancos vão ficar em
dificuldade financeiras. A Federal Deposit Insurance Corporation
[2]
e outras agências governamentais irão tentar resolver estes
problemas, mas não é garantido que sejam bem sucedidos. Uma das
abordagens
poderá ser abrandar as necessidades de capital. Ou
então encontrar uma forma temporária de valorizar os
empréstimos que não reflictam a dimensão dos seus
problemas.
Em determinado momento, a FDIC irá ser forçada a fazer uso da sua
prometida cobertura de seguros (100 mil dólares na maioria das contas,
250 mil em Planos Poupança Reforma). A FDIC cobra prémios de
seguro aos bancos a que presta serviços, mas se muitos deles falirem, a
sociedade não possui fundos suficientes para reembolsar os depositantes
ao nível das garantias iniciais.
Parece-me que encontrar-se-á formas de ultrapassar esta dificuldade
por exemplo, poderá ser dada permissão à FDIC para
contrair um empréstimo ilimitado com o apoio do governo americano. Esta
abordagem requer compradores condescendentes para com a nova dívida.
Outra abordagem poderá ser a utilização da política
monetária para assegurar que os bancos possuam fundos suficientes para
cobrir os levantamentos, mesmo que pareçam estar falidos. Qualquer uma
delas será certamente inflacionária.
6- A capacidade de endividamento dos consumidores irá diminuir.
Até à data, grande parte do declínio da capacidade de
endividamento tem sido na área do crédito à
habitação. Penso que ao longo de 2008, esta capacidade vai
diminuir noutras áreas também. Parte desta queda será
resultado directo do aumento do número de incumprimentos. A
condição financeira debilitada dos bancos irá reduzir a
disponibilidade de crédito. Com o capital em queda, os bancos
estarão cada vez menos preparados para conceder empréstimos e
poderão apertar os critérios dos empréstimos que realmente
aprovam. Os consumidores com cartões de crédito poderão
ver diminuir o seu limite de endividamento. Os limites nos empréstimos
participativos poderão também ser reduzidos.
Existe também a possibilidade de que um grande número de bancos
com grandes emissões de cartões de crédito enfrente
dificuldades financeiras. Se isto acontecer, não é
provável que uma nova instituição de crédito
vá emitir novos cartões à totalidade dos anteriores
titulares. O seguro da FDIC está ligado aos depósitos, não
à disponibilidade de crédito, por isso, não há
garantias de um novo cartão. Alguns indivíduos, em especial com
baixas avaliações de crédito, poderão ser obrigados
a saldar dívidas antigas, sem nenhuma outra fonte de crédito.
7- Fannie Mae e Freddie Mac poderão necessitar de ajuda do governo.
Com o crescente número de incumprimentos, os problemas da
Fannie Mae
e do
Freddie Mac
vão manter-se. Ambos terão dificuldade em manter
meios financeiros suficientes e poderão necessitar de algum tipo de
intervenção do Estado, nem que seja para permitir que vivam com
menos dinheiro.
8- Uma nova categoria de casas as que "nunca se
venderão" irá emergir.
Em 2008, o número de compradores de casas tornar-se-á reduzido,
em parte devido ao distanciamento das regras descuidadas dos empréstimos
do passado recente. Se aos futuros proprietários for exigido provas de
um rendimento adequado às casas que pretendem adquirir, muitas pessoas
ficarão limitadas a habitações muito mais pequenas, ou
até nenhuma.
À medida que o pico petrolífero se torna mais evidente, o
número de futuros proprietários irá ser reduzido. Uma das
razões é que as pessoas estarão menos disponíveis
para viajar para uma casa de praia ou de campo e, então, vão
necessitar apenas de uma residência, em vez de ambas. Outro motivo
prende-se com o preço elevado do combustível para aquecimento, da
gasolina e dos alimentos, que serão um incentivo cada vez maior para as
famílias numerosas viverem juntas.
A dificuldade em vender a quantidade actual de habitações a um
número cada vez menor de futuros clientes é que algumas casas
não vão encontrar comprador num período de tempo
tolerável. Algumas serão eventualmente demolidas, muitas vezes
após terem sido vandalizadas. Existe uma forma eficaz para contornar
esta dificuldade, desde que os empréstimos continuem disponíveis.
Um futuro vendedor poderá aproveitar ao máximo a hipoteca sobre
uma propriedade, antes de a colocar no mercado. Depois, se não encontrar
comprador, o vendedor pode minorar os seus prejuízos enviando as chaves
à instituição de crédito.
Parece-me que nos próximos dois anos, as instituições de
crédito hipotecário começarão a aperceber-se que os
proprietários podem usar a hipoteca para diminuir as suas perdas no acto
de venda da casa. Por isso, penso que as instituições vão
começar a exigir pelo menos 20% de entrada em transacções
de habitações. Os que re-financiam casas estarão limitados
a um empréstimo total de 80% do valor da casa. Estas práticas
irão reduzir ainda mais o número de futuros proprietários,
dificultando a venda de habitações.
9- Os políticos continuarão a tentar ajudar os
proprietários e talvez outros tipos de subscritores de crédito.
Com o aumento das taxas de juro, uma economia em recessão e regras de
concessão de empréstimos mais rígidas, é pouco
provável que todas as casas continuem habitadas, a não ser que o
governo permita, de alguma forma, que as pessoas permaneçam em casas que
não podem pagar. Se as casas ficarem desocupadas, existe, é
claro, a hipótese de serem vandalizadas e o seu precioso recheio roubado.
A "ajuda" governamental poderá até estender-se a outros
tipos de empréstimo, tais como a estudantes universitários
impedidos de pagar o empréstimo contraído devido ao desemprego.
Toda esta intervenção do governo irá provocar
descontentamento entre as seguradoras de títulos de crédito.
10- A quantidade de endividamento estruturado irá cair para
níveis próximos do zero.
Ao longo de 2008, será cada vez mais notório que a dívida
estruturada tem demasiados problemas para ser um método viável de
transferência de dívidas do banco emissor para múltiplos
compradores. A deficiente avaliação apontada no início
deste artigo será mais evidente em 2008. Isto irá juntar-se aos
restantes problemas da dívida estruturada, incluindo a falta de
comissão de subscrição, avaliações
optimistas de obrigações, elevados custos do sistema e
rendimentos reduzidos devido à intervenção do governo na
ajuda aos endividados.
11- Para além dos bancos, muitos outros intervenientes nos mercados
financeiros vão enfrentar dificuldades financeiras em 2008.
Para além dos bancos, os mercados financeiros incluem fundos de
investimento especulativo, fundos de tesouraria, companhias seguradoras, fundos
de pensões e muitos fundos de investimento sectorial. Creio que as
dificuldades vão estender-se a muitas destas organizações,
por uma variedade de motivos:
-
O valor das obrigações e da dívida estruturada mantido por
estas organizações vai provavelmente diminuir
, à medida que mais negócios e indivíduos passam por
dificuldades financeiras. Da mesma forma, a venda de títulos de
crédito ao longo de 2008 tornará claro o seu real valor. As
organizações serão forçadas a ponderar o valor de
mercado.
-
Vendedores de Credit Default Swaps (CDS) irão provavelmente sofrer
graves prejuízos
. Os CDSs comportam-se como políticas de seguro contra incumprimento de
obrigações. As instituições que emitem CDSs
não mudaram o suficiente para cobrir o tipo de aumento sistémico
em risco que acontece actualmente. Estas instituições vão
acabar por ter enormes prejuízos. Compradores de CDSs verificarão
que os vendedores são incapazes de cumprir com as suas promessas.
-
O endividamento vai estar menos disponível ou apenas disponível
com elevadas taxas de juro.
As instituições que utilizam alavancagem, tais como fundos de
investimento especulativo, vão ter dificuldade em manter o mesmo
nível de endividamento e poderão até ser forçadas a
vender alguns dos seus activos devido à diminuta disponibilidade de
crédito.
Caso alguma destas organizações falhe, não se sabe ao
certo a amplitude que a intervenção do governo irá ter.
Não existe nenhuma razão em especial para esperar
intervenção governamental em fundos de investimento especulativo
ou fundos de tesouraria. Os fundos de pensões e as seguradoras possuem
algum tipo de garantias, mas os programas não são implementados
com o objectivo de lidar com múltiplas falências.
12- O valor do dólar irá cair em relação a algumas
moedas, fazendo com que o preço do petróleo aumente.
Prevejo que a Arábia Saudita e outros países produtores
petrolíferos do Médio-Oriente irão revalorizar as suas
moedas em relação ao dólar, provocando a descida deste.
Por causa desta revalorização, o custo do petróleo vai
aumentar, apesar da grave recessão económica.
Continuo sem perceber como é que o dólar americano irá
competir com outras unidades monetárias. A Europa, o Japão e o
Canadá terão também as suas próprias dificuldades
económicas relacionadas com o pico petrolífero e com a queda no
mercado imobiliário. As mudanças nestas moedas poderão ser
pouco significativas. Não me espanta que o dólar desvalorize em
relação à moeda chinesa, dada a capacidade da China para
usar o carvão na produção de exportações.
13- A bolsa de valores vai provavelmente entrar em declínio em 2008.
A combinação de uma recessão com taxas de juro mais altas
no endividamento das empresas irá resultar numa descida acentuada nos
valores do mercado bolsista. As empresas de serviços financeiros, em
especial, irão ter fracos resultados. Haverá ainda, porém,
uma ligeira possibilidade de aumento nos valores do mercado bolsista, devido
à grande quantidade de pagamentos de "petróleo
reciclado" e ao impacto inflacionário do endividamento
governamental suplementar e da política monetária imprudente.
14- Os preços da alimentação e da energia irão com
certeza subir em 2008. Os preços das casas e de bens e serviços
não-essenciais poderão baixar.
Os americanos irão verificar que o seu rendimento é cada vez mais
aplicado à alimentação e à energia, restando menos
para bens e serviços não-essenciais e pagamento de
dívidas. Esta situação verificar-se-á em muitos
países do mundo.
15- Existe a hipótese de que algum tipo de descontinuidade provoque uma
repentina mudança para pior das condições financeiras.
Será que a economia vai descarrilar? Honestamente, não sei.
Penso que existem alguns factores que poderão ajudar a prevenir uma
grande ruptura em 2008.
Em primeiro lugar, os acontecimentos tendem a desenrolar-se gradualmente. A
economia possui um ímpeto significativo e isto tenderá a manter
as coisas como estão. Levará alguns meses até que as
notações de risco baixem e para que esta informação
seja incluída nos balanços dos bancos e seguradoras. Se algumas
das seguradoras de títulos e hipotecas estiverem realmente falidas, a
sua identificação levará ainda mais tempo. Alguns dos
problemas potenciais a que aludi poderão não acontecer antes de
2009 ou posteriormente.
Em segundo lugar, os reguladores de vária ordem têm o poder de
mudar as regras à medida que avançam. Têm a capacidade de
negligenciar empréstimos que não rendem e de fazer baixar as
necessidades de capital. Podem emprestar dinheiro aos bancos, usando como
garantia os títulos de crédito que a maioria considera sem valor.
Podem criar, no mínimo, uma determinada quantia de capital novo. Em
alguns casos, poderá ser requerida a aprovação do
congresso para estas abordagens, mas se a alternativa resumir-se à
falência dos bancos e outros negócios, o congresso irá
provavelmente pactuar com qualquer proposta de planos de emergência.
Em terceiro lugar, de forma a manter as coisas a funcionar, o que é
necessário é manter o dinheiro em circulação.
Até certo ponto, os problemas que enfrentamos são problemas de
balanços valores de activo e passivo. Gostaria de ver mais
resultados da
acção
da Agência de Garantia de
Benefícios e Pensões (Pension Benefit Guaranty Corporation)
pagando benefícios, apesar dos compromissos financeiros serem
mais altos do que os activos. É possível atrasar o momento da
verdade através de uma valorização optimista dos fundos,
usando taxas de desconto elevadas sobre as obrigações e
concentrando-se no capital para as transacções actuais.
Finalmente, parece que algo vai acontecer para travar o desfile. Uma
possibilidade é os EUA deixarem de encontrar compradores para todo o
endividamento criado. Isto não ocorrerá até que haja uma
aceitação geral do pico petrolífero. Uma outra é
que os insucessos do sistema financeiro se sucedam de tal forma que
impossibilite a sua sustentabilidade. Outra possibilidade é o
predomínio da hiperinflação. Se é certo que alguma
delas, ou qualquer outra adversidade, vá provavelmente ocorrer,
não sei se será em breve.
Por que é esta informação sobre o sistema financeiro
importante para as companhias petrolíferas e outras companhias no campo
da energia?
Ter um sistema financeiro a funcionar é muito importante do ponto de
vista da produção petrolífera e sistema de
distribuição. As companhias petrolíferas têm de ser
capazes de pagar aos seus trabalhadores. Têm de estar aptas a contrair
empréstimos para iniciar novos projectos. Têm de estar aptas para
fazer contratos com outras companhias para serviços necessários,
como alugar equipamentos de perfuração. Têm de estar
preparadas para negociar petróleo do estrangeiro e pagar, utilizando
métodos de transacção estáveis. Tudo isto
poderá ser problemático, caso se verifiquem muitas
falências de bancos ou outras questões graves no sistema
financeiro. Isto possui o potencial de criar um mecanismo de resposta negativo
que irá limitar ainda mais o fornecimento de petróleo.
Notas
[1] Banco de investimentos norte-americano.
[2] Sociedade governamental americana que procura garantir os depósitos
dos bancos comerciais.
O original encontra-se em
http://www.theoildrum.com/node/3382
. Tradução de Ernesto Correia.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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