O desmoronar dos balanços das multinacionais petrolíferas
por Manuel Peinado Lorca
[*]
![]() Figura 1. Números em milhares de milhões de dólares americanos (US$). (SRSrocco Report).
Aí está a raiz do problema. Uma das desvantagens de arcar com uma
dívida é a quantidade crescente de juros que a companhia tem que
pagar para servi-la. Se olharmos a Figura 1, a brasileira Petrobrás
está à testa do grupo devedor: o encargo financeiro da
Petrobrás quase quintuplicou ao passar de 21 mil milhões em 2008
para 109 mil milhões em 2016. Ao acumular dívida, também
teve de pagar mais para amortizá-la. Nesses oito anos, os pagamentos por
juros creditícios da Petrobrás aumentaram de 793 milhões
em 2008 para 6 mil milhões em 2016. Para os seus accionistas está
a ser um desastre: o incremento dos juros da dívida impediu que a
companhia pagasse dividendos nos últimos dois anos. Em contrapartida, no
triénio 2009-2011, enquanto o mundo apertava a cinta, a Petrobrás
pagou dividendos no valor de 19,5 mil milhões de dólares.
![]() Figura 2. Números em milhares de milhões de dólares americanos (US$). (RSRrocco Report).
Outra consequência negativa da queda do EROI nos balanços
financeiros das companhias petrolíferas é a
diminuição dos lucros, uma vez que o custo de produzir
petróleo aumenta mais do que o mercado pode pagar pelo mesmo. Para poder
entender a má situação financeira das multinacionais do
petróleo é preciso olhar para trás e comparar a
rentabilidade da indústria com o preço do petróleo. Para
encontrar um ano em que o preço do petróleo era semelhante ao de
2016 temos de regressar a 2004, quando o preço médio era de
US$38,26/b frente aos 43,67 do ano passado (Figura 2). Sim, o preço do
petróleo era mais baixo em 2004 do que em 2016, mas as companhias
petrolíferas não se queixavam porque nesse ano o rendimento
líquido combinado das sete petrolíferas foi de 99,2 mil
milhões. Todas elas obtiveram enormes lucros com um preço do
petróleo de US$38,26/b. Contudo, no ano passado, os lucros
líquidos do grupo desmoronaram nuns 90% (10,5 mil milhões),
inclusive quando o preço do petróleo havia aumentado em mais de
cinco dólares por barril. Só quatro obtiveram lucros em 2016, ao
passo que três perderam dinheiro (Tabela 1).
![]() Tabela 1. Rendimentos líquidos das sete maiores petrolíferas do mundo. (SRSrocco Report).
Além disso, a situação financeira está muito pior
devido ao facto de o registo contabilístico "rendimentos
líquidos" não ter em conta os gastos de capital ou os
pagamentos de dividendos das empresas. Em qualquer caso, está claro que
a rentabilidade das principais companhias petrolíferas se esfumou
inclusive com preços do petróleo mais elevados.
![]() Figura 3. Retorno do Capital Empregado. (SRSrocco Report).
Na Figura 3 pode-se verificar que a BP teve o ROCE mais baixo (19,68%) do
grupo, ao passo que a Statoil teve o mais alto (46,20%). Se fizermos a
média dos números mais altos e mais baixo, a média para o
grupo foi de 29%. Agora, compare-se essa percentagem com a média de 2,4%
em 2016 e isso sem incluir os rendimentos negativos da BP (-0,64%) e
Chevron (-0,84%), respectivamente. Ainda que não tenham sido negativos,
observe-se o desmoronamento do ROCE da Statoil que experimentou uma queda desde
os 46,2% de 2004 para menos de 1% em 2016, um sintoma de que algo cheira muito
mal nessa companhias. Devemos recordar que o ROCE elevado obtido em 2004 pelas
companhias manteve-se com preço de US$38/b, ao passo que os ROCE de um
só algarismo de 2016 decorreram de um preço mais alto (US$43/b).
Estas são más notícias porque o mercado não pode se
permitir um preço alto do petróleo a menos que a Reserva Federal
e os bancos centrais voltem a mover a manivela do dinheiro com programas de
estímulo QE (
Quantitative Easing
).
![]() Tabela 2. Fluxo de caixa das sete maiores petrolíferas do mundo. (SRSrocco Report).
Portanto, o menor efectivo operacional e os maiores gastos de capital tiveram
um grande impacto nos balanços destas companhias petrolíferas.
Essa é precisamente a razão porque a dívida a longo prazo
dispara, especialmente nos últimos três anos, quando o
preço do petróleo caiu abaixo dos cem dólares em 2014.
Para continuar a satisfazer seus accionistas, muitas das companhias
estão a pedir dinheiro emprestado a fim de pagar dividendos.
Lamentavelmente, endividar-se para pagar aos accionistas não é um
modelo de negócio prudente a longo prazo.
![]() Figura 4. Fluxo de caixa menos dividendos para o total das sete petrolíferas maiores do mundo. (SRSrocco Report).
As principais companhias petrolíferas do mundo continuarão a
operar com um preço do barril em torno dos cinquenta dólares.
Ainda que alguns analistas prognostiquem que está próxima uma
alta dos preços do barril, a bonança não durará
muito. Sim, é certo que os preços do petróleo poderiam
subir mais durante algum tempo, mas a tendência será menor
à medida que as economias mundiais comecem a contrair-se. À
medida que os preços do petróleo baixem para quarenta
dólares ou menos, as companhias petrolíferas
começarão a cortar os gastos de capital ainda mais. Portanto, o
ciclo de preços mais baixos e o desmoronamento contínuo da
indústria petrolífera irão acelerar-se.
04/Janeiro/2018
[*]
Catedrático da Universidade de Alcalá
O original encontra-se em www.vientosur.info/spip.php?article13373 Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |