Pico Petrolífero
Onde estão os economistas?
O mundo está "efectivamente" nos espasmos do Pico
Petrolífero. Os preços do bruto e dos refinados tendem para cima
ao mesmo tempo que os mercados se tornam cada vez mais sensíveis a
notícias e rumores.
Tempestades junto a portos, perturbações num país produtor
do terceiro mundo ou retórica populista e com floreados
geopolíticos do seu líder, um acidente num oleoduto, um
encerramento para reparações, novas preocupações
acerca de taxas de câmbio qualquer destas coisas seria suficiente
para os media financeiros informarem que "saltam os preços no
mercado de futuros devido a preocupações quanto à
oferta".
Mas nessa altura uma única opinião crível (mesmo que ela
seja astuciosamente calculada e atempada) pode fazer com que as sombras se
desvaneçam momentaneamente: "Os preços do petróleo
bruto caem. Estará ultrapassada a corrida ao mercado? Os dados do
passado confirmam o recuo".
O que estamos a testemunhar é a consciência intensificada quanto
às disponibilidades juntamente com um potencial crescente para amplificar
pequenas margens em grandes ganhos ou perdas. Isto é o que significa
estar "efectivamente" no pico o resultado sumário de
realidades económicas, negociais, tecnológicas, institucionais e
políticas a ganharem a cena frontal em relação às
incertezas geológicas.
A deslocação económica (isto é, recessão ou
pior) não resolverá o problema.
Como Keynes nos recordaria de além túmulo, por que assumiria o
capital privado enormes compromissos para construir e expandir a
infraestrutura para um input substitutivo mais caro (produtos
petrolíferos não convencionais) quando a procura agregada
é morosa?
Talvez as autoridades públicas pudessem ajudar. Sim, mas onde governos
de países industrializados, já a lutar com dívidas,
obtêm os recursos para abastecer a economia do mundo com os
cobiçados substitutivos do petróleo convencional? Novos impostos
poderiam piorar as perspectivas de crescimento (ameaça de
deflação) e "pressionar a bomba" (criar e gastar moeda)
poderia acelerar a inflação. Vender activos nacionais? (A
não atractividade de qualquer destas abordagens não exclui,
naturalmente, a sua aplicação futura).
QUEDA PARA 58 E 39 MILHÕES B/D, EM 2020 E 2030
O independente
Energy Watch Group
projecta um grande declínio no consumo
global de petróleo, do nível actual de mais de 80 milhões
de barris por dia para 58 milhões em 2020 e 39 milhões em 2030
(nem sequer metade do consumo actual). Uma vez que as tendências
actualmente observadas excluem o preenchimento do fosso com energia
não-exaurível e substitutivos verdes de refinados de
petróleo, as previsões optimistas acerca de um crescimento
económico vigoroso (acompanhado por uma lenta mas firme ascensão
no consumo de petróleo) durante as próximas décadas
parecem ser irrealistas. Será que o esticar das capacidades de
produção do Médio Oriente altera estas
projecções, afastando-as no tempo por uns poucos anos?
Não há resposta precisa mas é claro que a actual
geração já terá de se adaptar a um mundo de
constrangimento petrolífero. Isto posto, não seria de esperar
que os melhores e mais brilhantes profissionais das Ciências
Económicas saíssem à liça quando ventos
ameaçadores assopram sobre a excitada linha de frente do interesse
humano geral, a defender nossa civilização, a analisar, a
argumentar apaixonadamente, a aconselhar governos nacionais e
organizações internacionais, não permitindo jamais que o
sentido de urgência se afaste da consciência pública?
Se mantinha tais expectativas, ficará sem fôlego ao olhar os
conteúdos mostrados nos índices das principais
publicações de Ciências Económicas.
Como fartamente demonstrado pelas edições mais recente do
American Economic Review, Econometrica, Journal of Political Economy, Journal
of Economic Theory, Quarterly Journal of Economics, Journal of Econometrics,
Econometric Theory, Review of Economic Studies, Journal of Business and
Economic Statistics, Journal of Monetary Economics, Games and Economic
Behavior, Journal of Economic Perspectives, Review of Economics and Statistics,
European Economic Review
e
International Economic Review,
o assomar da emergência petrolífera não liberta as asas da
criatividade nos mais elevados escalões da profissão. (A lista
de publicações foi tomada do Professor W.C. Horrace, da
Universidade de Syracuse).
[NR]
O SENHOR PRESTIMOSO & A SENHORITA IRRESISTÍVEL
Será que a maior parte da academia ainda acredita no mito simplista de
que graças à interacção ininterrupta entre o
sempre prestimoso Sr. Tecnologia Protectora e a irresistível Srtª
Mercado Não Regulamentado o mundo já está prenhe de
uma solução para a sua difícil situação
petrolífera, e de que a eterna necessidade de bens materiais nunca se
deparará com inalteráveis constrangimentos físicos?
O núcleo de convicções dominantes, com sabor
neoclássico (grosso modo neoliberal) nas Ciências
Económicas implica que a preocupação com o "Pico
Petrolífero" nada mais é do que medo amedrontado
intensificado por terror aterrorizado. Mas se insistir numa resposta pode
obtê-la na forma de uma repreensão: "Você não
tem fé suficiente na mão invisível". Qual jovem
professor assistente que aspira a um lugar permanente se arriscaria a uma
censura tão explícita do presidente do departamento?
Apesar da sua diversidade ostensiva e controvérsias aparentes, a teoria
económica permanece agarrada uniformemente à visão de
mundo newtoniana de ciclos idealizados que mostram o futuro como uma
reflexão simétrica do passado.
A morte do autor
, de Roland Barthes, tornou-se aplicável ao Economista. Afinal de
contas, se fosse efectuado um inquérito junto a profissionais da
corrente dominante
(uma categoria que exclui o grupo dos economistas ecologistas, mais arejado),
ele provavelmente indicaria um expectável declínio nos
preços do petróleo para as vizinhanças dos US$45/barril
por volta de 2010.
A explicação de que a ciência económica é uma
ideologia ao serviço de interesses adquiridos não se
mantém. Encorajar decisores políticos na crença de que
mordiscar nas margens, persuasão moral e cenários de sublimes
objectivos pode substituir profundas e inéditas mudanças
políticas bem como programas drásticos prejudica toda a gente,
incluindo os interesses adquiridos.
A questão petrolífera global é mais iminente e
directamente ameaçadora do que o do "ambiente". Mas onde
está o "Al Gore" do Pico Petrolífero? Pelo menos agora
já sabemos onde não procurar.
23/Abril/2008
[NR]
Em Portugal, o motor de pesquisa no sítio web da
Ordem dos Economistas
apresenta 0 (zero) resultados para a expressão "Pico Petrolífero".
[*]
Economista, autor do livro
Rethinking the World
.
O original encontra-se em
http://www.energybulletin.net/43046.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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