Obsolescência programada das vacinas dos EUA e das
revacinações anuais
A guerra da Big Pharma só agora começou
É sem dúvida uma surpresa para todos os que acreditam nos
"remédios milagrosos" e nas soluções garantidas
sob palavra de honra nos EUA e na União Europeia ou por Macron: a
aliança Pfizer-BioNtech, pioneira com a Moderna das famosas vacinas de
ARN contra a Covid-19, anuncia-nos já uma subida dos seus preços,
instalando-se "a longo prazo" numa "lógica
clássica de mercado" e, isto é importante, uma
possível "terceira dose", destinada a "reforçar a
eficácia" da vacina contra as atuais variantes. "É cada
vez mais provável que seja necessária uma
revacinação anual" declarou recentemente Franck D'Amelio,
diretor financeiro da Pfizer
[1]
Em suma, o que a Pfizer anuncia, mas também, na sua esteira, a Moderna e
a AstraZeneca (a nova vacina de ARN "reatualizada" para as novas
variantes, misturas de vacinas, terceiras doses) está nos
antípodas da estratégia dos chineses ou dos cubanos: a
"durabilidade". É a confirmação duma mal
disfarçada estratégia lucrativa e da "obsolescência
programada das vacinas".
Lembramos que os chineses trabalharam em vacinas consideradas
"arcaicas" pela "comunidade científica mundial"
(melhor dizendo, "a aliança dos gigantes da indústria
farmacêutica das potências imperialistas ocidentais e seus
porta-vozes"). "Arcaicas" porque amplamente comprovadas
há mais de cem anos e demasiado "caras" porque é
preciso cultivar maciçamente o vírus
in vitro
para fabricar a vacina. "Caras" sim, mas também muito mais
duradouras, coisa que propositadamente se esquecem de dizer. O que significa o
"custo" de produção da vacina, quando ela
permitirá evitar depender dos aumentos incessantes de preços das
vacinas imperialistas?
Quando a Pfizer, a Moderna (vacinas a ARN "nova
geração") e a AstraZeneca (vacina recombinada que integra um
gene do SARS-CoV-2) apostaram num procedimento rápido e muito lucrativo
visto que não utiliza a cultura
in vitro
do próprio vírus, baseia-se na única proteína de
espículas
(spyke)
versão 2020, e não prevê nenhuma das suas
mutações ulteriores a vacina chinesa (vacina atenuada
contendo várias proteínas virais conjuntas para atenuar a
possível mutação de uma delas) e a vacina cubana (vacina
recombinada contendo não apenas um mas vários genes virais, pelas
mesmas razões) previram na sua primeira fórmula as famosas
variações atuais. É precisamente isso que faz delas uma
estratégia "duradoura", de grande espetro e aplicável
de forma homogénea por todo o planeta. Quando as vacinas
norte-americanas são "eficazes a 99%" mas ficam imediatamente
obsoletas logo que surgem variantes, as vacinas chinesas podem ser eficazes
só em 80% mas mantêm-se a longo prazo! Quem é politicamente
responsável? Quem se agarra a estratégias de
marketing
totalmente pueris?
As consequências não se fizeram esperar: por um lado, é
absolutamente certo que, se as vacinas "arcaicas" do "eixo do
mal" (vacinas russa, cubana, chinesa, sino-cubana, irano-cubana
)
tivessem provocado efeitos secundários inquietantes, ou se não
tivessem a eficácia anunciada de início, os
media
ocidentais tê-lo-iam anunciado diariamente já há muitas
semanas. O mesmo para a Sputnik V russa que, tal como as vacinas acima
referidas, são utilizadas no mundo inteiro (com exceção do
Ocidente, cujos contratos foram assinados ao abrigo da conhecida piada
"concorrência livre e não falseada"), ou seja, muito
para além do seu território onde seriam suspeitos de esconder os
números
Por outro lado, parece agora que efetivamente a vacina AstraZeneca não
é a única a perder a eficácia perante a variante
"sul-africana" (a que se perfila como "vaga" depois da
variante "inglesa", na Europa): investigadores da entidade sionista
(que vacinou abundantemente com as vacinas de ARN) estão em vias de
demonstrar que a Pfizer, tal como a AstraZeneca, também perde a sua
eficácia com a variante "sul-africana" (e sem dúvida
com as seguintes
)
[2]
Talvez o neguem e sem dúvida serão seguidos por todos os
promotores de bata branca duma "ciência positivista e limpa",
nunca parasitada pelos conflitos de interesse, mas preparam-se para organizar
uma nova vaga de vacinações perante esta
constatação.
Assim, temos, em traços largos, dois tipos de estratégias de
vacinação. A primeira, ocidental, baseia-se no princípio
da rentabilidade e da "obsolescência programada": vacinas pouco
dispendiosas (não é necessário cultivar o vírus
para fabricar vacinas de ARN sintético), reducionistas e baseadas na
imunogenicidade de uma única molécula viral (a mais
estratégica do vírus, a que reconhece as células
alvo
mas que, consequentemente, sofre mais mutações do que
todas as outras). Tanto melhor: cada nova variante será objeto de uma
campanha de vacinação ainda mais lucrativa. A perda de
eficácia para as novas mutações, que os nossos
"conselhos científicos" nos disseram ser impossíveis,
ainda no ano passado (quando o professor Raoult foi o único a avisar-nos
duma sazonalidade de variantes), é ao mesmo tempo uma visão
reducionista e de curto prazo, típica da investigação em
países capitalistas e uma oportunidade financeira a cada nova
mutação. Aliás, as patentes das vacinas nunca serão
públicas. Até a Universidade de Oxford, que tinha
aperfeiçoado a vacina AstraZeneca na intenção de oferecer
a patente ao domínio público (como a Soberana cubana, por
exemplo!), arrepiou caminho imediatamente por ordem de Bill Gates.
[3]
Não é por acaso que o segundo tipo de estratégia de
vacinação, a estratégia "duradoura" embora mais
cara (e, por isso, assumida pelos Estados e não pelas indústrias
farmacêuticas privadas, ávidas de lucros imediatos), provém
de Estados socialistas como Cuba ou a China. Estes têm todos os meios
técnicos para produzir vacinas de ARN. Mas o problema das vacinas de ARN
para o contexto atual é claramente a "simplicidade" da sua
imunogenicidade: um só gene dá um só tipo de anticorpo,
quando as vacinas atenuadas (chinesa e sino-cubana
[4]
ou recombinadas com vários genes (cubana e russa) resultam duma escolha
de poli-imunogenicidade otimizada na hipótese de formas de
resistência posteriores. Se uma molécula sofre uma
mutação para resistir às pressões de
seleção mundiais que impomos ao vírus, é preciso
que uma vacina provoque a formação de anticorpos contra
várias moléculas virais ao mesmo tempo. É mais complexa,
mais "arcaica" também, segundo a OMS, mas igualmente mais
ética e mais segura.
Não se trata de desacreditar o princípio da vacina de ARN;
ninguém duvida da sua eficácia na hora H, nem que ela é
tão inócua como as vacinas clássicas. As biotecnologias de
ARN são as formas de luta mais promissoras contra os cancros de
amanhã, por exemplo. Mas não são necessariamente a melhor
forma de luta contra a pandemia mundial que vivemos e que impõe uma
espécie de guerrilha médica, em que é necessário
usar tudo o que temos e agir em toda a parte, ao mesmo tempo, de forma coerente.
A ideia de utilizar vacinas duradouras, ao mesmo tempo que profilaxias que
melhor armem o nosso sistema imunitário (Interféron 2B cubano ou
Hidroxicloroquina em numerosos países do sul), numa política
nacional de detetar/isolar/tratar (com um confinamento de curto prazo ou
não), é claramente a via seguida pelos países
sobreviventes do campo socialista, quando nós aqui decidimos proibir as
"moléculas arcaicas" (medicamentos "reposicionados"
pouco rentáveis), promover "remédio milagrosos", tipo
Remdesivir da Gilead (virucida que ataca o vírus iludindo o sistema
imunitário e provocando nele inúmeras mutações
perigosas, como os virucidas atualmente testados pela Pfizer em 2021!
[5]
, confinar tarde demais, sem limite de tempo e sem detetar/isolar/tratar
(demasiado caro, ou mesmo impossível, depois de décadas de
destruição programada dos hospitais públicos e da
indústria nacional pelos governos ultraliberais).
A obsolescência programada capitalista das moléculas, que
identificámos há umas semanas num artigo publicado na
coletânea "Dis-leur! Bulletin d'information 2021" (por
iniciativa da associação ALBA Malta North Africa
[6]
e de que fala o IHU Instituto Hospitalar Universitário
Méditerranée de forma explícita
[7]
) é uma questão de tratamento, claro, mas também uma
questão de vacina
visto que caracteriza, tanto
epistemológica como financeiramente, a própria essência da
investigação a cargo do privado nos atuais países
imperialistas.
A guerra das gigantes farmacêuticas está apenas a
começar
tanto para o melhor, no caso dos burgueses, como para o
pior, no nosso caso e naquilo a que outrora se chamava a "saúde
pública"
[1]
"Dirigentes da Pfizer falam de uma subida de preço da vacina e da inoculação de uma terceira dose" (Buzinessinsider)
[2]
"A vacina Pfizer BioNTech será menos eficaz contra a variante sul-africana" (Capital)
[3]
"Como Bill Gates sacrificou a vacina" (Blogue François Ruffin)
[4]
"A China e Cuba desenvolvem uma vacina contra várias versões de vírus" (Les2rives)
[5]
"A Pfizer desenvolve dois medicamentos contra a Covid" (Le Point)
[6]
"Dis-leur! Bulletin d'Information 2021" (ALBA malta north africa)
[7]
"Contra a obsolescência programada dos medicamentos" (IHU Méditérranée)
Do mesmo autor em resistir.info:
Remdesivir, vacinas ARN e "obsolescência programada" das moléculas: o capitalismo é um travão para a ciência
Uma bela história de vírus (contra a virofobia ambiente...)
Por uma agricultura patriótica, popular e (portanto) ecológica!
Pavel Groudinine, candidato do PCFR às presidenciais de 2018
L'écologie à la lumiére du marxisme leninisme
(livro para descarregamento)
[*]
Professor agregado de Ciências da Vida e da Terra. Autor de
Evolution: La preuve par Marx
(2016),
L'Ecologie réelle, une expérience soviétique et cubaine
(2018),
L'origine de la vie: Un siècle après Oparine
(2020), éditions Delga
O original encontra-se em
germinallejournal.jimdofree.com/...
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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