Implosão financeira e estagnaçãoDe volta à economia real
por John Bellamy Foster e Fred Magdoff
[*]
Nesse mesmo discurso, Bernanke sugeria que nessas circunstâncias "um
corte de impostos, financiado por dinheiro" destinado a evitar a
deflação, era "equivalente na sua essência à
famosa 'chuva de helicóptero' de dinheiro, de Milton Friedman"
uma afirmação que lhe granjeou a alcunha de
"Helicóptero Bem".
[16]
A resposta de Bernanke a tudo isto foi reafirmar solidamente que o que tinha
precipitado (e explicado) a Grande Depressão, eram os factores
monetários praticamente por si sós, e eram eles os meios
fundamentais, na verdade quase os únicos, para combater a
dívida-deflação. Quase não valia a pena abordar as
tendências na economia real, tais como o aparecimento do excesso de
capacidade na indústria. Quando muito, eram uma ameaça
deflacionária que seria contrariada pela reflação.
[19]
Nem, conforme argumentou noutro sítio, era necessário explorar o
ponto de vista de Minsky de que o sistema financeiro da economia capitalista
era instável por natureza, visto que esta análise dependia da
irracionalidade económica associada a loucuras especulativas e portanto
se afastava do modelo formal de "comportamento económico
racional" da economia neoclássica.
[20]
Bernanke concluiu um discurso, que comemorava o 90º aniversário de
Friedman em 2002, com as palavras: "Gostaria de dizer a Milton e a Anna:
Quanto à Grande Depressão, vocês tinham razão, fomos
nós que a fizemos. Lamentamos muito. Mas graças a vocês,
não voltaremos a fazer isso".
[21]
"Isso", claro, era a Grande Depressão.
Fontes: Flow of Funds Accounts of the United States, Table L.1 Credit Market Debt Outstanding, Federal Reserve and Table B-1, Gross domestic product, 1959-2007, Economic Report of the President, 2008. ![]() Esta subida na carga da dívida acumulada em percentagem do PIB estimulou fortemente a economia, especialmente no sector financeiro, alimentando enormes lucros financeiros e marcando a financiarização crescente do capitalismo (a mudança de gravidade da produção para a finança no seio da economia como um todo). A imagem dos lucros, associados a esta financiarização acelerada, está representada no gráfico 2, que fornece um índice de série tempo (1970 = 100) dos lucros americanos financeiros versus não financeiros e o PIB. A partir de 1970, os lucros financeiros e não financeiros tendiam a aumentar ao mesmo ritmo do PIB. Mas, nos finais dos anos 90, a finança pareceu assumir vida própria, com os lucros das corporações financeiras americanas (e em menor grau os lucros das corporações não financeiras também), projectados para a estratosfera, aparentemente divorciados do crescimento do rendimento nacional, que se manteve relativamente estagnado. As corporações, jogando no que se transformou num gigantesco casino, usaram e abusaram da alavancagem ou seja, apostavam frequentemente trinta ou mais dólares emprestados por cada dólar seu que era utilizado. Isto ajuda a explicar os lucros extraordinariamente altos que conseguiram ganhar enquanto as suas apostas tiveram êxito. Claro que o crescimento da finança não se restringiu meramente aos Estados Unidos mas foi um fenómeno global com exigências especulativas de riqueza muito distanciadas da produção global, e com a mesma contradição essencial que percorreu todo o mundo capitalista avançado e as economias "emergentes". ![]() Como exemplo duma avalanche financeira à espera de acontecer, apontaram para o "mercado de acções de Tóquio em grande alta", como um possível prelúdio para uma enorme implosão financeira e uma subsequente estagnação profunda uma realidade que se iria materializar pouco tempo depois, resultando na crise financeira do Japão e na "Grande Estagnação" dos anos 90. Os valores dos activos (tanto no mercado de acções como no imobiliário) caíram num valor equivalente a mais de dois anos de PIB. Quando as taxas de juro chegaram ao zero e se instalou a dívida-deflação, o Japão ficou preso na clássica armadilha da liquidez sem forma expedita de relançar uma economia já profundamente atolada na sobrecapacidade da economia produtiva. [24] "No mundo actual dominado pela finança", escreveram Magdoff e Sweezy em 1987 na sequência imediata da queda do mercado de acções nos EUA:
Estas contradições, associadas a bolhas especulativas, têm
sido evidentemente, até certo ponto, endémicas no capitalismo
através de toda a sua história. Mas, na era pós Segunda
Guerra Mundial, conforme argumentaram Magdoff e Sweezy, em linha com Minsky, a
carga da divida tornou-se cada vez maior, apontando para o crescimento de um
problema que era acumulativo e cada vez mais perigoso. Em
The End of Prosperity,
Magdoff e Sweezy escreveram: "Na ausência de uma grave
depressão durante a qual as dívidas são
forçosamente eliminadas ou drasticamente reduzidas, as medidas de
salvamento do governo para evitar o colapso do sistema financeiro resumem-se
apenas a preparar o terreno para mais camadas de dívidas e
constrangimentos adicionais durante o avanço económico
seguinte". Conforme Minsky disse, "Sem uma crise e um processo de
dívida-deflação para contrabalançar as
crenças no êxito de riscos especulativos, estimula-se a
propensão para a subida dos preços e para uma
estratificação financeira ainda mais alta".
[26]
Evidentemente, Paul Baran e Sweezy em
Monopoly Capital,
e posteriormente Magdoff e Sweezy na
Monthly Review,
tinham assinalado outras formas de absorção de mais-valia tais
como as despesas do governo (em especial as despesas militares), o
esforço de vendas, o estímulo proporcionado por novas
inovações, etc.
[29]
Mas todas elas, embora importantes, mostraram-se insuficientes para manter a
economia em coisas como o pleno emprego, e nos anos 70 o sistema estava atolado
numa profunda estagnação (ou estagflação). Era a
financiarização e o crescimento da dívida que esta
promovia activamente que ia surgir como o estímulo
quantitativamente mais importante para a procura. Mas apontava inevitavelmente
para um dia de avaliações financeiras e de uma cascata de
incumprimentos de pagamentos.
A ideia duma reversão da média de lucros financeiros à sua
linha tendencial a longo prazo na economia como um todo foi adiantada apenas
para sugerir a dimensão da mudança iminente, visto que Reid
aceitava a possibilidade de que existem razões estruturais do
"mundo real" para explicar o peso relativo da finança
embora ainda não estivesse disposto a aceitar nenhuma delas. Como
reconheceu, "avaliar a dimensão 'natural' adequada para o sector
financeiro em relação ao resto da economia é uma charada
impressionantemente difícil". Com efeito, será de pôr
em dúvida se existe mesmo um nível "natural". Mas
só a ideia de que era possível ocorrer uma maciça
"destruição de lucros", antes que o sistema pudesse
continuar a sua marcha e que isso implicaria um "longo período de
permanente intervenção das autoridades numa tentativa de fazer
parar a sua destruição potencial", demonstrava bem o facto
de que a crise era muito mais grave do que na altura se supunha uma
coisa que pouco depois se tornou evidente.
[30]
Foi a realidade da estagnação económica a partir dos anos 70, conforme recentemente sublinharam os economistas heterodoxos Riccardo Bellofiore e Joseph Halevi, que levou ao aparecimento do "novo regime capitalista financiarizado", uma espécie de "keynesianismo financeiro paradoxal" no qual a procura na economia era estimulada basicamente "graças a bolhas de valores". Além disso, foi o papel de liderança dos Estados Unidos em gerar essas bolhas apesar (e também por causa) do enfraquecimento da acumulação de capital propriamente dita conjuntamente com o estatuto de divisa de reserva do dólar, que fez com que o capital monopólio-finança americano fosse o "catalisador da efectiva procura mundial", a partir dos anos 80. [32] Mas esse padrão de crescimento financiarizado foi incapaz de produzir um rápido avanço económico, nem por muito nem por pouco tempo, e era insustentável, conduzindo a novas bolhas que rebentavam periodicamente, fazendo com que a estagnação aparecesse cada vez mais à superfície. ![]() Isto fez parte duma redistribuição maciça de receitas e riqueza para o topo. Ao longo dos anos de 1950 a 1970, por cada dólar adicional ganho pelos 90 por cento de pessoas que estavam em baixo, os que estavam no topo - 0,01 por cento receberam 162 dólares adicionais. Em contrapartida, de 1990 a 2002, por cada dólar acrescentado ganho por esses 90 por cento de baixo, os tais 0,01 por cento do topo (actualmente cerca de 14 mil famílias) ganharam 18 mil dólares adicionais. Nos Estados Unidos os 1 por cento dos muito ricos em 2001, no seu conjunto, detinham mais do dobro do total dos 80 por cento da população em baixo. Se medíssemos isto apenas em termos de riqueza financeira, i.e., excluindo o património da habitação ocupada pelos seus proprietários, os 1 por cento do topo possuíam mais do que o quádruplo dos 80 por cento de baixo. Entre 1983 e 2001, os 1 por cento do topo apoderaram-se de 28 por cento da subida no rendimento nacional, de 33 por cento dos ganhos totais em situação líquida e de 52 por cento de todo o crescimento em valor financeiro. [35] O facto verdadeiramente notável nestas circunstâncias foi que o consumo familiar continuou a aumentar de um pouco mais de 60 por cento do PIB no início dos anos 60 para cerca de 70 por cento em 2007. Isto só foi possível porque passou a haver maior número de famílias com dois ordenados (visto que as mulheres engrossaram a força do trabalho), as pessoas passaram a trabalhar mais horas e a ter múltiplos empregos, e a dívida do consumidor foi aumentando constantemente. A dívida da habitação foi estimulada, principalmente nas últimas fases da bolha da habitação, por uma subida dramática nos preços das casas, levando os consumidores a contrair empréstimos maiores do que o valor da propriedade (o chamado "efeito riqueza" da habitação) um processo que acabou subitamente quando a bolha rebentou e os preços das casas começaram a cair. Conforme se mostra no gráfico 1, a dívida da habitação aumentou de cerca de 40 por cento do PIB em 1960 para 100 por cento do PIB em 2007, com um aumento especialmente acentuado a partir dos finais dos anos 90. [36] Este crescimento do consumo, baseado na expansão da dívida familiar, veio a provar-se ser o calcanhar de Aquiles da economia. A bolha da habitação assentava num acentuado aumento da dívida familiar com base na hipoteca, enquanto que os salários reais tinham estado essencialmente congelados durante décadas. Os consequentes incumprimentos entre novos proprietários marginais originaram a queda dos preços das casas. Isto originou um número cada vez maior de proprietários que ficaram a dever mais pelas suas casas do que aquilo que elas valiam, criando mais incumprimentos e uma queda maior dos preços das casas. Os bancos, procurando reforçar os seus balanços começaram a rejeitar novas extensões da dívida de cartões de crédito. O consumo entrou em queda, perderam-se empregos, desapareceram as despesas de capital e começou uma espiral descendente de duração desconhecida. ![]() E assim, os lucros foram sendo cada vez mais desviados do investimento na expansão da capacidade produtiva e canalizados para a especulação financeira, enquanto que o sector financeiro parecia gerar tipos ilimitados de produtos financeiros destinados a fazer uso deste capital em dinheiro. (Este fenómeno existia à escala global, levando Bernanke a referir-se em 2005 a uma "abundância de poupanças global", com enormes quantidades de capital à procura de investimento circulando por todo o mundo e canalizado cada vez mais para os Estados Unidos dado o seu papel de liderança na financiarização). [37] Podemos observar as consequências disso no gráfico 5, que mostra o dramático divórcio entre lucros e investimento líquido em percentagem do PIB nos últimos anos, como investimento fixo privado não residencial como parte do rendimento nacional a cair significativamente durante o período, mesmo quando os lucros como parte do PIB se aproximam de um nível nunca visto desde os finais dos anos 60/princípios dos anos 70. Isto marca, na terminologia de Marx, uma viragem da "fórmula geral para o capital" D(Dinheiro)-M(Mercadorias)-D' (dinheiro original mais mais-valia), em que os bens eram centrais para a produção de lucros para um sistema cada vez mais assente no circuito do capital em dinheiro por si só, D-D' , em que o dinheiro gera mais dinheiro sem qualquer relação com a produção. ![]() O facto de o consumo americano (facilitado pelo enorme défice contabilístico americano actual) ter proporcionado uma efectiva procura crucial para a produção de outros países significa que o abrandamento nos Estados Unidos já está a ter efeitos desastrosos externamente, com uma liquidação financeira a nível global a todo o vapor. As economias "emergentes" e subdesenvolvidas foram apanhadas por uma série de problemas desconcertantes. Estes englobam a queda de exportações, a descida dos preços dos bens, e as repercussões de altos níveis de financiarização no topo duma base económica instável e altamente exploradora enquanto são sujeitas a renovadas pressões imperialistas dos estados centrais. Os próprios estados centrais também estão em dificuldade. A Islândia, que tem sido comparada ao canário na mina de carvão, sofreu um colapso financeiro total, exigindo ajuda do exterior e possivelmente um assalto maciço aos fundos de pensões dos cidadãos. Durante mais de dezassete anos a Islândia tem tido um governo de direita liderado pelo ultra-conservador Partido da Independência em coligação com os partidos centristas sociais-democratas. Sob esta liderança a Islândia adoptou em força a financiarização neoliberal e a especulação e assistiu a um crescimento excessivo dos seus sectores da banca e da finança com os activos totais dos seus bancos a aumentar de 96 por cento do PIB no final de 2000 para nove vezes o seu PIB em 2006. Agora os contribuintes islandeses, que não foram responsáveis por estas acções, têm que aguentar a carga das dívidas especulativas externas dos seus bancos, o que se traduz num drástico declínio do seu nível de vida. [38] Uma economia política A economia na sua fase clássica, que abrangia a obra não só de individualistas-possessivos, como Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus, e John Stuart Mill, mas também de pensadores socialistas, como Karl Marx, chamava-se economia política. Esta designação era significativa porque apontava para a base de classes da economia e para o papel do estado. [39] A bem dizer, Adam Smith introduziu a noção da "mão invisível" do mercado que substituía a anterior mão visível do monarca. Mas, apesar disso, o contexto político de classe da economia mantinha-se presente em Smith e em todos os outros economistas clássicos. Nos anos 1820, conforme Marx observou, havia "disputas magníficas" entre economistas políticos que representavam diversas classes (e fracções de classes) da sociedade. No entanto, a partir das décadas 1830 e 40 em diante, quando a classe trabalhadora surgiu como uma força na sociedade, e quando a burguesia industrial conquistou o controlo firme do estado, desalojando interesses instalados (muito especialmente com a rejeição das Leis dos Cereais), a economia passou da sua anterior forma de discussão para a "má consciência e intenção malévola da apologética". [40] O fluxo circular da vida económica foi sendo reconceptualizado a pouco e pouco como um processo envolvendo apenas os indivíduos, o consumo, a produção e os lucros marginais. O conceito de classe desapareceu assim da economia, mas foi abraçado pelo novo campo da sociologia (em formas cada vez mais abstraídas das relações económicas fundamentais). Também se dizia que o estado não tinha nada a fazer directamente com a economia e passou para o novo campo da ciência política. [41] A economia foi assim "purificada" de todos os elementos de classe e políticos, e apresentada cada vez mais como uma ciência "neutra", tratando de princípios universais e trans-históricos das relações entre capital e mercado. Tendo perdido quaisquer raízes significantes na sociedade, a economia neoclássica ortodoxa, que se apresentava como um simples paradigma, tornou-se numa disciplina dominada por abstracções largamente sem sentido, modelos mecânicos, metodologias formais e linguagem matemática, divorciada das evoluções históricas. Era apenas uma ciência do mundo real; a sua principal importância residia no seu papel enquanto ideologia auto-confirmada. Entretanto, os negócios reais prosseguiam ao longo das suas próprias linhas, esquecidos completamente (por vezes também intencionalmente) das teorias económicas ortodoxas. A incapacidade de a economia aceite aprender as lições da Grande Depressão, i.e., as falhas inerentes de um sistema de acumulação com base em classes na sua fase de monopólio, incluía uma tendência para ignorar o facto de que o problema real reside na economia real, e não na economia monetário-financeira. Actualmente, nada parece mais míope do que a laminar rejeição de Bernanke das teorias tradicionais da Grande Depressão que traçaram as causas subjacentes ao desenvolvimento da sobrecapacidade e procura fraca convidando a uma rejeição semelhante de tais factores hoje em dia. Tal como o seu mentor Milton Friedman, Bernanke defendeu a opinião económica neoliberal dominante das últimas décadas, com a sua insistência em que ao escorar "a rocha que inicia um deslizamento de terras" era possível impedir indefinidamente uma avalanche financeira de "proporções importantes". [42] Se o estado do terreno por cima estava em movimento, e se isso se devia a processos reais, relacionados com o tempo, não era motivo para preocupação. Ironicamente, Bernanke, o académico especialista da Grande Depressão, adoptou a política de "não ver o mal, não ouvir o mal, não falar do mal" que tinha sido descrita por Ethan Harris, principal economista americano do Barclays Capital, em relação às bolhas de valores. [43] Devemos pois voltar-nos para a opinião contrária que sublinha as contradições socioeconómicas do sistema. Durante algum tempo, em resposta à Grande Depressão dos anos 30, na obra de John Maynard Keynes, e de outros pensadores associados às tradições keynesianas, institucionalistas e marxistas o mais importante dos quais foi o economista polaco Michael Kalecki houve um certo revivalismo de perspectivas político-económicas. Mas a seguir à Segunda Guerra Mundial, o keynesianismo foi sendo reabsorvido a pouco e pouco pelo sistema. Isto ocorreu em parte através do que se chamou a "síntese neoclássica-keynesiana" que, como afirmou Joan Robinson, um dos colegas mais jovens de Keynes, teve o efeito de abastardar Keynes e em parte através do crescimento estreitamente relacionado do keynesianismo militar. [44] Por fim, surgiu o monetarismo como a resposta dominante para a crise de estagflação dos anos 70, juntamente com a ascensão de outras ideologias conservadoras do mercado livre, tais como a teoria do lado da oferta, as expectativas racionais, e a nova economia clássica (resumida como ortodoxia neoliberal). A economia perdeu a sua categoria explícita político-económica e o mundo voltou de novo para a mitologia dos mercados auto-reguladores, auto-equilibradores, isento das questões de classes e de poder. Quem quer que questionasse isto, era caracterizado como um político e não como um economista, e portanto excluído da discussão económica dominante. [45] Não é necessário dizer que a economia nunca deixou de ser política; o que aconteceu é que a política que era promovida estava tão entrelaçada no sistema do poder económico que quase se tornava invisível. A mão visível do monarca, de Adam Smith, estava transformada na mão invisível, não do mercado, mas da classe capitalista, que estava escondida por detrás do véu do mercado e da concorrência. No entanto, em cada crise económica grave esse véu ia sendo parcialmente rasgado e expunha a realidade do poder de classe. O pedido do secretário do Tesouro Paulson ao Congresso em Setembro de 2008, de 700 mil milhões de dólares para salvar o sistema financeiro pode constituir um ponto de viragem no reconhecimento e escândalo popular do problema económico, levantando pela primeira vez em muitos anos a questão da economia política. Tornou-se de imediato visível para toda a população que a questão crítica na crise financeira e na profunda estagnação económica que estava a surgir era: Quem vai pagar? A resposta do sistema capitalista, entregue às suas próprias manobras, foi a mesma de sempre: os custos seriam suportados desproporcionalmente pelos que estão em baixo. O velho jogo da privatização de lucros e da socialização de prejuízos seria jogado de novo pela enésima vez. A população seria chamada a "apertar o cinto" para "pagar a factura" de todo o sistema. A capacidade de o público em geral ver para além desta fraude nos próximos meses e anos dependerá, claro, duma enorme quantidade de esclarecimento pelos sindicalistas e activistas dos movimentos sociais, e do grau com que o império do capital fique desnudado pela crise. Não há dúvidas de que a actual bancarrota económica crescente e o escândalo político produziram uma rotura fundamental na continuidade do processo histórico. Como é que as forças progressistas vão abordar esta crise? Primeiro que tudo, é importante rejeitar quaisquer tentativas para apresentar os graves problemas económicos que agora enfrentamos como uma espécie de "desastre natural". Têm uma causa, e ela reside no próprio sistema. E embora a crise não tenha sido com certeza bem recebida pelos que estão no topo da economia, a verdade é que foram eles os principais beneficiários do sistema, enriquecendo descaradamente às custas do resto da população, e devem ser responsabilizados pelas pesadas cargas agora impostas à sociedade. São os ricos que devem pagar a factura não só por razões de elementar justiça, mas também porque eles, colectivamente, e o seu sistema constituem a razão de as coisas estarem tão mal como estão; e porque a melhor forma de ajudar a economia e os que estão em baixo é tratar directamente das necessidades destes últimos. Não pode haver pára-quedas dourados para a classe capitalista pagos à custa dos contribuintes. Mas o capitalismo tira partido da inércia social, usando o seu poder para roubar descaradamente quando não pode confiar apenas na exploração "normal". Sem uma revolta de baixo, a carga recairá pura e simplesmente sobre os que estão em baixo. Tudo isto requer um levantamento de massas, social e económico, tal como aconteceu na segunda metade dos anos 30, incluindo a revivificação dos sindicatos e dos movimentos sociais de massas de todos os tipos utilizando o poder para a mudança garantido ao povo pela Constituição; indo mesmo ao ponto de ameaçar a actual bipolaridade do sistema de dois partidos. Que irá tentar fazer nestas circunstâncias esse movimento radical a partir de baixo, se vier a surgir? Aqui hesitamos responder, não porque haja falta de acções necessárias a fazer, mas porque um movimento político radicalizado determinado a varrer décadas de exploração, desperdício e irracionalidade será, se surgir, como uma tempestade em fúria, abrindo novas perspectivas para a mudança. Qualquer coisa que se possa sugerir nesta altura corre o duplo risco de parecer demasiado radical agora e demasiado tímido no futuro. Alguns economistas e comentadores liberais argumentam que, dada a presente crise económica, nada será eficaz sem um programa de importantes obras públicas destinado a promover o emprego, uma espécie de outro Novo Acordo. Robert Kuttner defendeu no Desafio de Obama que "uma recuperação económica exigirá mais do que 700 mil milhões de dólares por ano em novos gastos públicos, ou em compensação um corte de 600 mil milhões de dólares em despesas militares. Porquê? Porque não há mais nenhuma estratégia plausível para conseguir uma recuperação económica geral e para o reequilíbrio da economia". [46] Mas isto é mais difícil de fazer do que de dizer. Há razões para crer que os interesses económicos dominantes bloquearão o aumento dos gastos civis governamentais a uma escala destas, mesmo numa crise, por interferirem com o mercado privado. A verdade é que as compras civis do governo em 1939 se situavam em 13,3 por cento do PNB o que Baran e Sweezy em 1966 teorizaram como estando a aproximar-se dos seus "limites máximos" e desde então pouco mudaram, com o consumo civil do governo e as despesas de investimento desde 1960 até ao presente numa média de 13,7 por cento do PNB (13,8 por cento do PIB). [47] Portanto não se deve subestimar as forças de classe que podem bloquear um importante aumento nas despesas governamentais não militares, mesmo numa profunda estagnação. Quaisquer avanços nesta direcção exigirão uma forte luta de classes. No entanto, não pode haver dúvidas de que a mudança deve ser dirigida primeiro e acima de tudo para a satisfação das necessidades básicas da população no que se refere à alimentação, à habitação, ao emprego, à saúde, à educação, a um ambiente sustentável, etc. Irá o governo assumir a responsabilidade de proporcionar trabalho útil a todos os que o desejarem e dele necessitarem? Irá haver habitação disponível (livre de hipotecas esmagadoras) para toda a gente, alargando-se também aos sem abrigo e aos que vivem em habitações degradadas? Irá ser instituído um sistema de saúde nacional para cobrir as necessidades de toda a população, substituindo o pior e mais caro sistema de saúde do mundo capitalista avançado? Irão as despesas militares ser reduzidas drasticamente, renunciando-se ao domínio imperialista global? Irão os ricos pagar pesados impostos e as receitas e riqueza ser redistribuídas? Irá o ambiente, quer global quer local, ser protegido? Irá o direito a organizar tornar-se uma realidade? Se estes pré-requisitos elementares de qualquer futuro decente parecem impossíveis no actual sistema, então o povo deve tomar nas suas próprias mãos a criação de uma nova sociedade que proporcione estes bens genuínos. Acima de tudo é necessário "insistir em que tanto a moral como a economia apoiam o sentimento intuitivo das massas de que os recursos humanos e naturais da sociedade podem e devem ser usados em benefício de toda a gente e não apenas de uma minoria privilegiada". [48] Nos anos 30 Keynes condenou o crescente domínio do capital financeiro, que ameaçava reduzir a economia real a "uma bolha num redemoinho de especulação", e recomendou a "eutanásia do senhorio". Mas a financiarização é tão essencial para o capital monopólio-finança de hoje, que tal "eutanásia do senhorio" não pode ser conseguida contrariando o sonho de Keynes de um capitalismo mais racional sem passar para além do próprio sistema. Neste sentido estamos nitidamente num ponto de viragem global, em que o mundo talvez esteja finalmente preparado para dar o passo, como Keynes também visionou, de repudiar e alienar o código moral de "o justo é ilegal e o ilegal é justo" utilizado para justificar a ganância e a exploração necessários para a acumulação do capital virando-o do avesso para criar uma ordem social mais racional. [49] ] Para tal, porém, é necessário que a população assuma o controlo da sua economia política, substituindo o actual sistema de capitalismo por algo que se assemelhe a uma real democracia política e económica; aquilo que os actuais dirigentes do mundo mais temem e condenam como o "socialismo". [50]
25/Outubro/2008.
1- Harry Magdoff e Paul M. Sweezy, The Irreversible Crisis (New York: Monthly
Review Press, 1988), 76.
2- James K. Galbraith, The Predator State (New York: The Free Press, 2008), 48. 3- "Congressional Leaders Were Stunned by Warnings," New York Times, September 19, 2008. 4- Manas Chakravarty e Mobis Philipose, "Liquidity Trap: Fear of Failure," Livemint.com, October 11, 2008; John Maynard Keynes, The General Theory of Employment, Interest and Money (London: Macmillan, 1973), 174. 5- "Drama Behind a $250 Billion Banking Deal," New York Times, October 15, 2008. 6- "Government's Leap into Banking Has its Perils," New York Times, October 18, 2008. 7- "Single-Family Homes in U.S. Fall to a 26-Year Low," Bloomberg.net, October 17, 2008; "Economic Fears Reignite Market Slump," Wall Street Journal, October 16, 2008. 8- Ver "Depression of 2008: Are We Heading Back to the 1930s," London Times, October 5, 2008. Sobre a estagnação japonesa, ver Paul Burkett e Martin Hart-Landsberg, "The Economic Crisis In Japan," Critical Asian Studies 35, no. 3 (2003): 33972. 9- "The U.S. is Said to Be Urging New Mergers in Banking," New York Times, October 21, 2008. 10- "CDO Cuts Show $1 Trillion Corporate-Debt Bets Toxic," Bloomberg.net, October 22, 2008. 11- "Banks are Likely to Hold Tight to Bailout Money," New York Times, October 17, 2008. 12- Hyman Minsky, Can "It" Happen Again? (New York: M. E. Sharpe, 1982), viixxiv; "Hard Lessons to be Learnt from a Minsky Moment," Financial Times, September 18, 2008; Riccardo Bellofiore and Joseph Halevi, "A Minsky Moment?: The Subprime Crisis and the New Capitalism," in C. Gnos and L. P. Rochon, Credit, Money and Macroeconomic Policy: A Post-Keynesian Approach (Cheltenham: Edward Elgar, forthcoming). Para as opiniões de Magdoff e Sweezy sobre Minsky ver The End of Prosperity (New York: Monthly Review Press, 1977), 13336. 13- Irving Fisher, "The Debt-Deflation Theory of Great Depressions," Econometrica, no. 4 (October 1933): 344; Paul Krugman, "The Power of De," New York Times, September 8, 2008. 14- "Amid Pressing Problems the Threat of Deflation Looms," Wall Street Journal, October 18, 2008; "A Monetary Malaise," Economist, October 1117, 2008, 24. 15- Ben S. Bernanke, "Deflation: Making Sure 'It' Doesn't Happen Here," National Economists Club, Washington, D.C., November 21, 2002, http://www.federalreserve.gov . 16- Ethan S. Harris, Ben Bernanke's Fed (Boston, Massachusetts: Harvard University Press, 2008), 2, 173; Milton Friedman, The Optimum Quantity of Money and Other Essays (Chicago: Aldine Publishing, 1969), 414. 17- Ben S. Bernanke, Essays on the Great Depression (Princeton: Princeton University Press, 2000), 5; Milton Friedman and Anna Schwartz, A Monetary History of the United States, 18671960 (Princeton: Princeton University Press, 1963). Para opiniões mais realistas sobre a Grande Depressão, tendo em consideração a economia real, assim como factores monetários, e encarando-a sob a perspective da estagnação do investimento, que caracterizou sobretudo a Depressão, ver Michael A. Bernstein, The Great Depression (Cambridge: Cambridge University Press, 1987), e Richard B. DuBoff, Accumulation and Power (New York: M.E. Sharpe, 1989), 8492. Sobre as teorias clássicas da Grande Depressão, ver William A. Stoneman, A History of the Economic Analysis of the Great Depression in America (New York: Garland Publishing, 1979). 18- Ben S. Bernanke, "Money, Gold, and the Great Depression," H. Parker Willis Lecture in Economic Policy, Washington and Lee University, Lexington, Virginia, March 2, 2004, http://www.federalreserve.gov. 19- Ben S. Bernanke, "Some Thoughts on Monetary Policy in Japan," Japan Society of Monetary Economics, Tokyo, May 31, 2003, http://www.federalreserve.gov. 20- Bernanke, Essays on the Great Depression, 43. 21- "On Milton Friedman's Ninetieth Birthday," Conferência de homenagem a Milton Friedman, Universidade de Chicago, 8 de Novembro de 2002. Ironicamente, Anna Schwartz, agora com 91 anos, indicou numa entrevista ao Wall Street Journal que o Fed sob a batuta de Bernanke estava a travar a última Guerra, esquecendo que o problema era a incerteza quanto à solvência dos bancos, e não um problema de liquidez como o que levou à Grande Depressão. "Bernanke is Fighting the Last War: Interview of Anna Schwartz," Wall Street Journal, October 18, 2008. 22- Ben S. Bernanke, "Asset Prices and Monetary Policy," discurso ao New York Chapter of the National Association for Business Economics, New York, N.Y., October 15, 2002, http://www.federalreserve.gov; Harris, Ben Bernanke's Fed, 14758. 23- Ben S. Bernanke, "The Economic Outlook," October 25, 2005; citado em Robert Shiller, The Subprime Option (Princeton: Princeton University Press, 2008), 40. 24- Magdoff e Sweezy, The Irreversible Crisis, 76; Burkett and Hart-Landsberg, "The Economic Crisis in Japan," 347, 35456, 3666; Paul Krugman, "Its Baaack: Japan's Slump and the Return of the Liquidity Trap," Brookings Papers on Economic Activity, no. 2 (1998), 14142, 17478; Michael M. Hutchinson and Frank Westermann, eds., Japan's Great Stagnation (Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 2006). 25- Magdoff e Sweezy, The Irreversible Crisis, 51. 26- Magdoff e Sweezy, The End of Prosperity, 136; Hyman Minsky, John Maynard Keynes (New York, Columbia University Press, 1975), 164. 27- Citação de Greenspan, New York Times, October 9, 2008. Ver também John Bellamy Foster, Harry Magodff, e Robert W. McChesney, "The New Economy: Myth and Reality," Monthly Review 52, no. 11 (April 2001), 115. 28- Manas Chakravarty, "A Turning Point in the Global Economic System," Livemint.com, September 17, 2008. 29- Ver John Bellamy Foster, Naked Imperialism (New York: Monthly Review Press, 2006), 4550. 30- Jim Reid, "A Trillion-Dollar Mean Reversion?" , Deutsche Bank, July 15, 2008. 31- Ver Paul A. Baran e Paul M. Sweezy, Monopoly Capital (New York: Monthly Review Press, 1966); Harry Magdoff e Paul M. Sweezy, The Dynamics of U.S. Capitalism (New York: Monthly Review Press, 1972), The Deepening Crisis of U.S. Capitalism (New York: Monthly Review Press, 1981), e Stagnation and the Financial Explosion (New York: Monthly Review Press, 1987). 32- Bellofiore e Halevi, "A Minsky Moment?" 33- Ver Michael Yates, Longer Hours, Fewer Jobs (New York: Monthly Review Press, 1994); Michael Perelman, The Confiscation of American Prosperity (New York: Palgrave Macmillan, 2007. 34- Economic Report of the President, 2008, Table B-47, 282. 35- Correspondents of the New York Times, Class Matters (New York: Times Books, 2005), 186; Edward N. Wolff, ed., International Perspectives on Household Wealth (Cheltenham: Edward Elgar, 2006), 11215. 36- Para a discriminação por classes da dívida familiar, ver John Bellamy Foster, "The Household Debt Bubble," capítulo 1 em John Bellamy Foster e Fred Magdoff, The Great Financial Crisis: Causes and Consequences (New York: Monthly Review Press, 2009). 37- Ben S. Bernanke, "The Global Savings Glut and the U.S. Current Account Deficit," Sandridge Lecture, Virginia Association of Economics, Richmond Virginia, March 10, 2005, http://www.federalreserve.gov . 38- Steingrímur J. Stigfússon, "On the Financial Crisis of Iceland," MRzine.org, October 20, 2008; "Iceland in a Precarious Position," New York Times, October 8, 2008; "Iceland Scrambles for Cash," Wall Street Journal, October 6, 2008. 39- Ver Edward J. Nell, Growth, Profits and Prosperity (Cambridge: Cambridge University Press, 1980), 1928. 40- Karl Marx, Capital, vol. 1 (New York: Vintage, 1976), 9698. 41- Ver Crawford B. Macpherson, Democratic Theory (Oxford: Oxford University Press, 1973), 195203. 42- Friedman e Schwartz, A Monetary History of the United States, 419. 43- Harris, Ben Bernanke's Fed, 14758. 44- Ver John Bellamy Foster, Hannah Holleman, e Robert W. McChesney, "The U.S. Imperial Triangle and Military Spending," Monthly Review 60, no. 5 (October 2008): 119. 45- Para a discussão da estagnação da economia desde os anos 70, ver Perelman, The Confiscation of American Prosperity. Ver também E. Ray Canterbery, A Brief History of Economics (River Edge, NJ: World Scientific Publishing, 2001), 41726. 46- Robert Kuttner, Obama's Challenge (White River Junction, Vermont: Chelsea Green, 2008), 27. 47- Baran e Sweezy, Monopoly Capital, 159, 161; Economic Report of the President, 2008, 224, 250. 48- Harry Magdoff e Paul M. Sweezy, "The Crisis and the Responsibility of the Left," Monthly Review 39, no. 2 (June 1987): 15. 49- Ver Keynes, The General Theory of Employment, Interest, and Money, 376, e Essays in Persuasion (New York: Harcourt Brace and Co., 1932), 372; Paul M. Sweezy, "The Triumph of Financial Capital," Monthly Review 46, no. 2 (June 1994): 111; John Bellamy Foster, "The End of Rational Capitalism," Monthly Review 56, no. 10 (March 2005): 113. 50- Sobre este aspecto, é necessário, pensamos, ir mais além da economia liberal, e tentar uma crítica impiedosa de tudo o que existe. Mesmo um economista liberal relativamente progressista, como Paul Krugman, recentemente galardoado com o prémio de economia do Banco da Suécia em honra de Alfred Nobel, torna claro que o que o torna num pensador predominante, e daí ser membro do clube no topo da sociedade, é o seu profundo compromisso com o capitalismo e os "mercados livres" e o seu desdém pelo socialismo proclamando altivamente que "há bem poucos anos uma revista chegou mesmo a dedicar-me um ataque numa notícia de capa por causa das minhas opiniões pró-capitalistas". Paul Krugman, The Great Unraveling (New York: W. W. Norton, 2004), xxxvi. Neste contexto, ver Harry Magdoff, John Bellamy Foster, e Robert W. McChesney, "A Prizefighter for Capitalism: Paul Krugman vs. the Quebec Protestors," Monthly Review 53, no. 2 (June 2001): 15. [*] John Bellamy Foster: editor da Monthly Review e professor de sociologia na Universidade de Oregon. É o autor de Naked Imperialism (Monthly Review Press, 2006), entre muitas outras obras. Fred Magdoff: professor emérito de ciências das plantas e do solo na Universidade de Vermont em Burlington, professor adjunto de cereais e solos na Universidade Cornell, e director da Fundação Monthly Review. Este artigo é o capítulo final do livro de John Bellamy Foster e Fred Magdoff, The Great Financial Crisis: Causes and Consequences ( Monthly Review Press , Janeiro de 2009). O original encontra-se em http://monthlyreview.org/081201foster-magdoff.php . Tradução de Margarida Ferreira. Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |