Infrastruturas e vidas destruídas são os feitos da
Coligação contra o Daech
por Bachar al-Jaafari
[*]
Senhor Presidente:
Aristóteles teria dito: "Querer provar coisas que são claras
por si mesmas é iluminar o dia com uma lamparina"...
É um pensamento que me transporta a alguns dos meus colegas presentes
nesta sala, os quais comportam-se como se, com o microscópio na
mão, procurassem sob as suas objectivas alguns grãos de verdade
aqui ou ali, fazendo cara de ignorar o enorme elefante [feito de mentiras e de
enganos] que deveria simbolizar esta sessão assim como as anteriores.
Um enorme elefante que corresponde, evidentemente, à tripla
agressão do meu país por Estados Membros permanentes deste
Conselho e à ocupação de um terço do seu
território por estes três Estados agressores por outros,
ocupações acerca das quais retornarei ulteriormente.
Minha colega representando a delegada permanente dos Estados Unidos declarou
orgulhosamente que as forças do seu país haviam retirado 3000
engenhos explosivos em Raqqa. Não teria valido mais que as forças
do seu país as quais ocupavam e ocupam sempre esta cidade
exigissem a entrega do mapa indicando a colocação de mais de 10
mil destes engenhos quando elas protegeram a saída de 4000 elementos
terroristas do Daech antes de os reposicionar sobre toda uma região que
vai do norte de Deir ez-Zor até Al-Chaddadi? Não teria valido
mais que as forças do seu exigissem isso em lugar de se vangloriarem, um
ano e meio depois de terem retirado o Daech de Raqqa, de terem conseguido
desembaraçar-se de 3000 engenhos explosivos?
Também gostaria de começar por me dirigir sucintamente ao colega
representando o delegado permanente da Suécia, o qual mencionou meu
país 16 vezes instando o governo sírio a responder a esta ou
aquela pergunta, sem jamais exigir que os Estados Unidos pusessem fim à
sua ocupação de uma parte do nosso território; sem jamais
exigir que a Turquia e Israel façam o mesmo; sem jamais pedir a
condenação da tripla agressão ao meu país neste 14
de Abril; sem jamais pronunciar uma única palavra a propósito do
terrorismo que devasta nosso solo sob os auspícios dos Estados, que
acabo de citar, e das empresas do gás e do petróleo na nossa
região. Quantos pontos omitidos nas vossas propostas, meu caro colega!
Quanto ao nosso colega francês, ele deu muitas informações
aparentemente obtidas junto à organização de
invenção francesa, "Médicos sem fronteiras ", a
qual é comparável àquelas dos "Capacetes
brancos", salvo que esta última é uma invenção
dos Serviços de informação britânicos.
De facto, a organização "Médicos sem fronteiras"
está presente em Raqqa sem autorização do governo
sírio, assim como a organização Daech. Médicos sem
fronteiras que entraram na Síria, à maneira dos traficantes sem
fronteiras, criminosos sem fronteiras, opositores sem fronteiras na moda de
hoje, agentes sem fronteiras, de uma agressão fronteiras, do terrorismo
sem fronteiras; o importante sendo que a ingerência nos assuntos
sírios seja "sem fronteiras" para plena
satisfação do delegado francês e dos outros.
Senhor Presidente,
Em resposta às difamações, às mentiras e à
hipocrisia dos comunicados de certos delegados a propósito da
missão de inquérito a Douma, gostaria de partilhar convosco
certas informações. Naturalmente, elas poderiam a sede da
delegada britânica que vos instou a fornecer-lhe o relatório desta
missão no prazo de 24 horas. Eu me empenho, pois é inútil
fazê-la esperar.
-
Eu vos havia anteriormente informado que o governo sírio facilitou todos
os procedimentos necessários para a chegada da missão de
inquérito na Síria. Hoje mesmo, o grupo onusiano entrou em Douma
às 15 horas de Damasco, portanto às 8 horas de Nova York, a fim
de avaliar a situação securitária no terreno e
começar seu a partir de amanhã se o considerar
satisfatório. Por outras palavras, a decisão de investigar Douma
depende unicamente da equipe da ONU e da OIAC, tendo o governo sírio
feito o necessário para lhes facilitar a tarefa.
-
Além disso, desde ontem, ou seja, desde a sua chegada a Damasco, a
equipe pôde ouvir algumas testemunhas do presumido ataque [químico
em Douma]; o que significa que ela já começou a trabalhar e que
todos os rumores e todas as mentiras que ouviram não visam senão
desfigurar sua missão e encobrir a agressão à Síria.
Senhor Presidente,
Esta reunião realiza-se no dia da Festa nacional síria, a Festa
da Independência, na sequência da expulsão do colonialismo
francês em 17 de Abril de 1946 e lamentamos ter de dizer que alguns
Estados inclusive a França e aqueles que lançaram sua
agressão covarde à Síria em 14 de Abril último
ainda não compreenderam que a vontade de liberdade e de
independência doravante está solidamente ancorada entre todos os
povos e que as épocas da sua dominação hegemónica
fazem parte de um passado longínquo.
As tentativas de andar para trás não terão êxito,
qualquer que seja o porte dos seus navios de guerra, dos seus aviões e
dos seus mísseis "belos, novos e inteligentes", qualquer que
seja a gravidade das suas ameaças ou a extensão do seu apoio ao
terrorismo e aos grupos armados, sob não importa qual pretexto. Os povos
de todo o planeta estão fartos das suas violações do
Direito internacional sem jamais terem de prestar contas a quem quer que seja.
A delegação do meu país agradece à
delegação da Federação da Russa por ter convocado
esta reunião a fim de discutir a situação em Raqqa, esta
cidade mártir completamente destruída pelas forças
americanas e sua pretensa coligação de luta contra o terrorismo.
Aqui, não pretendo informar os membros deste Conselho acerca da
situação catastrófica desta cidade a partir de uma
avaliação da República Árabe Síria, mas sim
das conclusões da missão de avaliação das
Nações Unidas de que o Ministério sírio dos
Negócios Estrangeiros e dos Emigrados recebeu cópia oficial, dia
4 de Abril último, através do Coordenador das
Nações Unidas residente em Damasco. Cito: "A cidade de Raqqa
enfrenta uma situação crítica necessitando da sua
reconstrução total assim como a reestruturação da
administração e do conjunto dos serviços públicos a
partir do zero". Fim de citação.
Esta é a avaliação das Nações Unidas,
não aquela de "Médicos sem fronteiras" ou de
palhaços sem fronteiras!
Quanto à vastidão das destruições, refiro-me aqui a
algumas conclusões da equipe da ONU que foi a Raqqa:
-
Todos os edifícios estão total ou parcialmente destruídos;
dito de outra forma, Raqqa não está destruída em 70 ou
80%, mas em 100%.
-
A população estimada em cerca de 300 mil habitantes antes da
crise não conta mais do que 7000 desde o fim dos ataques da dita
Coligação; o que significa que eles removeram 4000 daeschistas
mais também fizeram sair os seus 300 mil residentes.
-
Não há mais nenhum serviço público ou de primeira
necessidade: nada de água, nada de electricidade, nada de cobertura de
telefone móvel.
-
Todos os hospitais e dispensários estão destruídos.
Não há actualmente nenhum hospital operacional na cidade,
abstracção feita dos ditos "Médicos sem
fronteiras"!
O que se passou em Raqqa é um exemplo dos crimes entre outros crimes
cometidos pela pretensa Coligação internacional conduzida pelos
Estados Unidos contra o Daech.
Uma coligação que jamais teve como finalidade a luta contra o
terrorismo, mas sim o objectivo de minar a soberania, a unidade e a integridade
territorial do meu país, de tentar enfraquecer as Forças do
Exército Árabe Sírio e dos seus aliados face aos grupos
terroristas.
Uma coligação cujos únicos feitos verdadeiros consistiram
em ceifar a vida a milhares de civis inocentes com as mais terríveis
armas, inclusive armas incendiárias, e em destruir as infraestruturas
sírias, inclusive barragens, pontes, hospitais, escolas,
instituições e instalações visando o
desenvolvimento do povo sírio e dos seus recursos indispensáveis
à reconstrução do país, a começar pelos
poços e as instalações petro-gasistas, assim como o
pessoal encarregado da sua manutenção.
Aqui, contentar-me-ia em recordar alguns exemplos de massacres de civis, tais
como aqueles cometidos em Al-Mayadeen e Al-Boukamal, meados de Maio de 2017; em
Al-Sour assim como nas duas aldeias de Al-Dablane e Zibane próximas de
Deir-Zor, fim de Junho de 2017; na região de Tal al-Chayer, em 19 de
Junho de 2017; na aldeia de Al-Zayanate, em 4 juillet 2017; na aldeia de
Al-Kachkach ao sul de Hassaké, em 12 de Julho de 2017; nas aldeias de
Al-Chaf'a e Zahret Alouni, em 25 de Fevereiro de 2018; e na aldeia de Al-Bahra,
em 20 de Fevereiro de 2018.
Sempre para exemplo, a melhor prova de que o objectivo desta
coligação ilegítima nunca foi combater o terrorismo, mas
sim obstaculizar o Exército Árabe Sírio e seus aliados na
sua guerra ininterrupta contra a organização terrorista Daech,
está no ataque aéreo efectuado contra o Exército
Árabe Sírio no Mont al-Tharda em Deir ez-Zor, em 17 de Setembro
de 2016. Devem-se lembrar todos do que se passou neste dia.
O que se passou é que os aviões americanos da dita
coligação tentavam garantir uma passagem segura aos elementos do
Daech entre os territórios sírio e iraquiano; tal como foi o caso
aquando do ataque de 8 de Fevereiro de 2018 que matou dezenas de combatentes
entre as Forças populares supletivas do Exército Sírio, em
plena batalha contra o Daech na margem leste do Eufrates.
A referida coligação não somente atacou as Forças
do Exército Árabe Sírio como também apoiou e
protegeu os remanescentes da organização terrorista Daech
permitindo-lhes sair, com toda a segurança, de Raqqa e de Deir ez-Zor, a
maior parte deles sendo terroristas vindos do estrangeiro. Ao assim fazer, ela
lhes permitiu voltarem a atacar o Exército Árabe Sírio e
seus aliados em Deir ez-Zor.
Foi assim que os Estados Unidos salvaram os remanescentes do Daech do seu
destino inevitável frente ao Exército Árabe Sírio e
seus aliados, a fim de que eles possam a continuar a semear o terror ao longo
da faixa fronteiriça sírio-iraquiana. E os Estados Unidos, a
França e a Grã-Bretanha coroaram tudo isso com a sua tripla
agressão na madrugada deste sábado 14 de Abril, com a
participação da Arábia Saudita, do Qatar e de Israel para
se vingarem do Exército Sírio, na sequência da derrota dos
braços armados terroristas dos seus governos respectivos em Ghouta
oriental.
Senhor Presidente,
Discutir as condições humanitárias trágicas
provocadas por esta coligação ilegítima em Raqqa leva a
discutir o que se passa no "capo de Al-Roukbane". Nesta altura,
afirmo que o governo sírio havia aceite encaminhar para ali a ajuda
humanitária em cooperação com a Cruz Vermelha
internacional e o Crescente Vermelho árabe sírio, mas as
forças americanas presentes neste campo impediram-no e colocaram-lhe
condições impossíveis de satisfazer.
Os Estados Unidos são responsáveis pela situação
catastrófica neste campo e afirmamos que a principal razão do seu
posicionamento é explorar militarmente, para aproveitar os remanescentes
do Daech e de outras organizações terroristas tendo em vista suas
futuras batalhas contra a Síria, o Iraque, a Líbia e outros
países da região e do mundo.
Para terminar, Senhor Presidente,
Torno a falar do elefante do princípio da minha
intervenção: o cenário político sírio
é claro e não precisa nem projectos de resoluções,
nem novos mecanismos, nem reuniões quase diárias a diversos
títulos, mas precisa sobretudo que o Conselho de Segurança cumpra
seu mandato conforme as disposições da sua Carta opondo-se
às ocupações americana, turca e israelense do nosso
território, assim como aos Estados que sustentam o terrorismo e
impõem medidas coercitivas unilaterais ao povo sírio, a fim de
que milhões de sírios não se tornem refugiados e
deslocados, como disseram certos colegas.
Com efeito, este conselho não pode enfrentar a vontade dos governos dos
Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da França de fazer desta
organização uma organização das
Nações Desunidas ou Nações unidas pela
violação das disposições da sua Carta, com a
invasão de países, a ingerência nos seus assuntos internos,
as tentativas de mudança dos seus regimes pela força, as
agressões repetidas, a destruição dos povos e das suas
civilizações.
Queira desculpar-me se foi longo, Senhor Presidente.
Agradeço-vos.
[*]
Delegado permanente da Síria junto às Nações
Unidas.
Intervenção diante do Conselho de Segurança reunido em
17 de Abril de 2018 a fim de examinar a situação
humanitária em Raqqa e no Campo de Al-Fourkane ocupados pelos Estados
Unidos.
Ver também:
Nouvelle passe d'armes au Conseil de sécurité entre la Fédération de Russie et les pays occidentaux à propos de la situation humanitaire en Syrie
O original encontra-se em
The Syrian Mission to the United Nations
e a versão em francês em
www.legrandsoir.info/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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