O papel do Partido Democrata é distrair com políticas
identitárias
Vrettos: Aguardamos para ver como a retórica da nova
administração Biden se traduzirá em políticas reais.
Hudson: Toda a carreira política de Biden foi de direita. Ele é o
senador do Delaware, o estado mais pró corporações do
país razão pela qual a maior parte das
corporações estado-unidenses são incorporadas ali. Assim,
ele representa a banca e a indústria do cartão de crédito.
Ele patrocinou a regressiva "reforma" da bancarrota escrita e posta
nas suas mãos pelas companhias de cartão de crédito. Como
um falcão do orçamento, ele rejeitou a MMT (Modern Monetary
Theory) e também o "Medicare para todos" como se isto fosse
demasiado caro para que o governo se permitisse obrigando assim que o
sector privado a pagar 18% do PIB dos EUA a monopólios de seguros de
saúde.
Não é nada surpreendente que Biden tenha escolhido membros do
gabinete entre lobistas corporativos, incluindo o novo secretário da
Defesa. E em 9 de Fevereiro ele convidou Jamie Dimon e outros líderes de
negócios à Casa Branca e perguntou-lhes o que recomendavam. Estes
multimilionários disseram que não precisavam dos US$1400,
então porque mais alguém haveria de precisar? Eles simularam que
gastar dinheiro poderia causar inflação no entanto,
estamos no meio de uma deflação da dívida e de uma queda
do rendimento disponível para a maioria das famílias.
Os preconceitos de Biden são a razão pela qual o Comité
Nacional Democrático o empurrou como seu candidato ao invés de
Sanders e a razão pela qual o deputado Jim Clyburn tornou felizes os
seus apoiantes da indústria farmacêutica ao pressionar Biden para
o topo na Carolina do Sul, entregando o voto negro nas grandes primárias
daquele estado.
O que me admira é a capacidade de atrair este voto apesar do grau em que
Biden patrocionou legislação que prejudica negros e outras
minorias: os seus cortes em gastos sociais, suas leis anti-crime atingem
principalmente a comunidade negra, suas leis da bancarrota e, naturalmente, sua
recusa de cuidados médicos públicos universais àquela
parte da população com as mais altas taxas de mortalidade, mais
curtas expectativas de vida e piores cuidados médicos.
Ele tentou encobrir esta história nomeando Neera Tanden como chefe do
orçamento, afirmando que ela é uma progressista, presumivelmente
só porque não é branca. No entanto, ela é uma das
principais adversárias do Medicare para todos que foi proposto por
Bernie Sanders.
V: Na nossa economia polarizada, os salários têm estagnado desde
1971 as taxas de propriedade de casas caíram à medida que
as execuções hipotecárias, as expulsões e o
número de sem-abrigo saltaram dramaticamente durante a pandemia da Covid
de 2020-2021.
O grande declínio quanto à propriedade das casas foi o resultado
da dupla traição de Obama às suas promessas de campanha,
ao salvar os bancos e ao deixar todas as dívidas hipotecárias
lixos e outros empréstimos fraudulentos registados na contabilidade.
Isto levou à execução de hipotecas e despejos de cerca de
9 milhões de famílias americanas, a maior parte delas
hispânicas e negras. As taxas de propriedade imobiliária desceram
de 68% para 61% da população (uma queda enorme e rápida de
10%).
A epidemia do Covid está a levar a enormes atrasos de pagamentos
para os arrendatários e para os devedores de hipotecas. Os despejos
foram suspensos por moratórias que expiram em Março ou Abril, e
às hipotecas não pagas foram acrescentadas datas de vencimento
posteriores (com penalidades adequadas o que torna isto remunerador para os
bancos).
Assim, a questão é saber se Biden pode superar Obama na
redução das taxas de propriedade de casas nos EUA em mais 10%
digamos, para apenas 56% da população.
Vamos ver o que poderia ser feito hoje e há uma década
atrás. Obama e Biden poderiam ter cancelado parcialmente as hipotecas
lixo para preços de mercado realistas (e lançarem na
prisão os corretores de hipotecas e banqueiros, por fraude). Em vez
disso, eles apoiaram os autores da fraude contra os eleitores a quem havia sido
prometida "esperança e mudança". A maior parte dos
milhões de casas arrestadas foi comprada por proprietários
ausentes e transformada em propriedade arrendada. Companhias como a Blackstone
foram actores importantes. As famílias despejadas entraram no mercado de
arrendamento e os encargos com a renda dispararam nos EUA. Assim, muito
mais do rendimento dos consumidores foi gasto em bens imóveis,
finanças e seguros do que em bens e serviços.
V: Isto é mais grave e instável na parte inferior do mercado
habitacional onde os inquilinos que perderam empregos acumularam US$11 mil
milhões de rendas em atraso uma medida mais ampla que inclui
todos os inquilinos maus pagadores coloca o número em US$53 mil
milhões.
Há duas espécies de resultados. A primeira será uma enorme
acumulação de dívidas de rendas em atraso e de pagamentos
de hipotecas em atraso de hipotecas a serem liquidadas. Para negócios
comerciais como os restaurantes, estes pagamentos em atraso são
tão grandes que provavelmente optarão por abandonar a
negócio ao invés de pagar todos os lucros dos anos seguintes aos
seus senhorios.
A menos que estas dívidas sejam parcialmente canceladas, a maior parte
da população está demasiado endividada para comprar bens e
serviços. Assim, lucros corporativos podem vir só do aumento de
preços ou da obtenção de subsídios governamentais.
Um segundo resultado está a ser um aumento de pessoas sem abrigo em
muitas cidades. Campos inteiros de desalojados estarão a morar em
tendas, talvez nos parques principais ou nos metros como no passado.
Muitas propriedades serão vendidas mas os preços da
habitação ainda estão em aumento.
V: Quais são alguns dos efeitos raciais específicos desta crise
de habitação e de emprego, qual tem sido a resposta da
administração Biddn até agora e como é que isto se
relaciona com a sua própria tarefa quanto a medidas de
reparação racial?
As baixas taxas de propriedade de casas entre os negros reflectem uma
história viciosa de
red-lining
[1]
. A limitação das áreas onde os não brancos podem
comprar foi acompanhada pela cobrança de taxas de juro muito mais
elevadas do que as que os compradores brancos obtêm.
A habitação é o critério básico para aderir
à classe média. E durante um século os negros foram
excluídos, não só pelos bancos mas também por
programas de seguro hipotecário do governo que datam das reformas de FDR
na década de 1930. É isto que torna "mais arriscados"
os compradores negros e portanto onerados por taxas de juro mais elevadas.
Eu cresci em Hyde Park, em Chicago. A Universidade de Chicago e suas companhias
de administração de propriedade estavam entre os piores
abusadores. Para eles, um "mercado livre" significava um mercado
livre de negros. Mas no fim da década de 1950 eles viram que podiam
fazer
"block busting"
[2]
, ou seja, vender uma casa num bairro branco a um comprador negro. Isto
lançava o pânico entre os proprietários vizinhos, que
vendiam as suas casas. Os compradores eram, em grande parte, os especuladores,
que as transferiam para compradores negros, a preços mais altos.
Isso aconteceu no meu quarteirão, na Rua 48 com Dorchester, um bloco em
que Obama comprou a sua casa. Depois de algumas casas terem mudado de
mãos, o presidente da municipalidade, Daley, condenou o
quarteirão. Minha casa foi destruída, tal como outras, e a terra
não recebe beneficiações
(gentrified).
Para por a questão em perspectiva, pense na situação em
1945. Foi então que arrancou o grande aumento da riqueza da classe
média o património líquido da classe média
de hoje. Era limitado aos brancos, porque eram as únicas pessoas que se
qualificavam para o grande aumento do património líquido criado
pelo boom dos preços das casas dos 75 anos anteriores.
A norma era que os bancos limitavam as suas hipotecas a um nível que
absorvesse até 25% do salário de um comprador. O comprador
obteria uma hipoteca auto-amortizante, a ser liquidada em 30 anos. Este limite
de alavancagem da dívida mantinha a habitação
acessível.
O senhor e eu já falámos anteriormente sobre a questão das
reparações dos negros. É muito difícil pagar
reparações pela escravatura, porque as famílias
escravizadas já morreram há muito tempo. As
reparações têm de ser pagas aos vivos e afinal,
são os negros vivos que permanecem prejudicados.
Há uma forma de tornar a população negra economicamente
tão resiliente quanto tem sido a população branca. Esta
é dar-lhe o mesmo acordo que criou a maior parte da riqueza da classe
média branca. O governo deveria comprar ou construir casas casas
privadas, tal como os bairros brancos, e não habitações
públicas. Deveriam oferecer aos compradores o mesmo negócio que
foi dado em 1945. Qualquer família negra receberia uma casa, com uma
hipoteca de 25% do rendimento do chefe de família, a ser amortizada ao
longo de 30 anos.
Suponha que o comprador negro ganha o salário mínimo, ou cerca de
US$25.000 por ano. Então 25% disto seriam de US$6.250 apenas
cerca de U$500 por mês. Ao longo de 30 anos, o comprador pagaria
US$187.500 grande parte disto em juros, garantidos pela FHA [Federal
Housing Administration].
Como questão política prática, é claro, um tal
ganho inesperado teria de ser oferecido uniformemente a todos os americanos. Os
hispânicos e os brancos pobres qualificar-se-iam.
Este é o único meio de criar resiliência económica a
uma classe que foi excluída com base em critérios raciais e que
permanece excluída até hoje.
Sem um subsídio especial deste tipo, não se pode falar seriamente
de igualdade. Os compradores minoritários foram as grandes
vítimas da corrida às hipotecas lixo e dos despejos de Obama.
V: Num artigo recente do
N.Y. Times,
David Leonhardt levanta a questão de porque é que a economia dos
EUA se saiu muito melhor sob os presidentes democratas do que sob os
republicanos? Na verdade, ele argumenta que a diferença é
"surpreendentemente grande" quando se mede a taxa de crescimento
anual, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto, empregos, rendimentos,
produtividade mesmo os preços das acções.
Bem, o
New York Times
tem sido o líder em "fake news", sobretudo pelo seu apoio aos
interesses imobiliários e financeiros, e do Partido Democrata.
O foco nas taxas de crescimento, medidas pelo PIB, é um travesti da
realidade. Desde 2008, o PIB para 95% dos americanos realmente diminuiu. Ainda
estamos na Depressão Obama era esse o estado de coisas quando a
crise da covid-19 nos atingiu. Pavlina Tcherneva do Instituto Levy do Bard
College produziu as estatísticas.
Quando os devedores ficam para trás e têm de pagar taxas de juros
de penalização aos bancos e empresas de cartões de
crédito, isto é contabilizado como um "aumento do PIB",
classificado como "serviços financeiros". Como se os bancos
estivessem a prestar um serviço cobrando taxas mais elevadas a devedores
indigentes que não conseguem manter-se a par dos seus custos de vida.
Cerca de 7% do PIB é um hipotético "valor de arrendamento de
casa própria" o que os proprietários teriam de pagar
a si próprios se arrendassem as suas casas a si próprios como
inquilinos. Como as rendas têm aumentado (em grande parte por
proprietários absenteístas que compraram casas que foram
arrestadas), isto aumenta o PIB. Deixa de fora a minoria de
proprietários, cuja taxa de propriedade da casa é muito mais
baixa do que aquela dos brancos.
O que
The New York Times
e outros que olham para o PIB deixam de fora é quão desigual se
tornou a distribuição da riqueza e do rendimento desde 2008, na
verdade desde a década de 1980. Economistas estão agora a falar
numa
recuperação em forma de K
: ascensão para os proprietários de acções e de
títulos (cerca de Um Porcento da população possui algo
como 80 por cento destes títulos) e de imobiliário. Mas os que
ganham salários estão a ser esmagados. A
"recuperação" para eles não é uma
recuperação. Trata-se de um boom para os ricos, para a classe
rentista, principalmente no sector da Finança, Seguros e
Imobiliário (FIRE).
Aquele sector é a principal clientela do
New York Times.
E a maior parte da classe doadora do Partido Democrático vem do sector
FIRE. Apesar disto, o êxito dos democratas na política
identitária criou uma situação política na qual
apenas eles podem aplicar políticas anti-trabalho e anti-negros, porque
os seus políticos são capazes de obter votos do trabalho e dos
negros.
Não vejo como possa haver progresso real a menos que o Partido Democrata
seja substituído, pelo menos com liderança do DNC que transformou
a sua política em demagogia. A sua política de identidade
baseia-se em todas as identidades, excepto no facto de ser um assalariado.
V: Central para Biden e a visão neoliberal da ordem mundial da
América é uma filosofia económica de
privatização e financeirização. Como pensa que isto
se vai processar na política externa e económica da
administração Biden de gastos militares e venda de armas e
utilização de ameaças e força militar, se
necessário, para impor o domínio internacional dos EUA e a
hegemonia tecnológica?
Biden passou a sua carreira a defender o sector financeiro e a sua
política principal é privatizar infraestruturas básicas.
Isto significa impedir os governos de fornecerem serviços básicos
com base no custo ou subsidiados educação, cuidados de
saúde, estradas e comunicações. No entanto, foi assim que
a América se tornou a principal economia industrial a partir do final do
século XIX em diante. A financeirização e
privatização deixaram-na numa economia de alto custo, não
competitiva nos mercados mundiais. É por isso que a sua economia
é desindustrializada.
As economias privatizadas e financiarizadas são de alto custo. A
América gasta 18% do seu PIB em cuidados de saúde muito
mais do que qualquer outro país. E depois há o orçamento
militar. Há um ano atrás, em Janeiro de 2020, Biden escreveu um
artigo na [revista]
Foreign Affairs
, prometendo que a sua próxima "agenda de política externa
colocará os Estados Unidos na cabeceira da mesa".
Então, o que é que ele vai liderar? Ele já disse que
não vai negociar com o Irão, mas sim manter as políticas
da administração Trump em vigor. Ele nomeou falcões neocon
para posições de liderança, especialmente Victoria Nuland
e outros anti-russos. Biden parece querer usar sanções para
isolar países que vê como rivais ou inimigos os quais
acabam por ser uma parte crescente da população mundial, desde a
Rússia e China até à Venezuela e Irão.
A realidade é que os Estados Unidos estão a isolar-se a si
próprios! Estão a tentar impedir a Europa de importar gás
russo e a insistir nos monopólios de TI dos EUA dirigidos contra a
China. E Biden tem tão pouco respeito pelos tratados quanto tinha Trump
é por isso que ele mantém a retirada de Trump do acordo
com o Irão.
Mesmo que Biden faça um novo tratado, o Congresso teria de
aprová-lo. Mas o Congresso tem permanecido firme em que nenhum
país estrangeiro pode estabelecer uma política para os Estados
Unidos. Por conseguinte, insiste em não se submeter a qualquer norma
internacional de direito que não tenha sido elaborada pelos seus
próprios doadores políticos.
A iminente fractura global está a tornar-se um combate contra os
princípios mais básicos organizativos das economias ao longo da
história. Todas as economias com êxito têm sido mistas. E
para promover a sobrevivência e prosperidade, é necessário
subordinar a procura de ganhos privados a objectivos públicos que
beneficiem os 99% e não apenas o 1%.
Esta não é a política de Biden nem qualquer outra
política dos democratas ou republicanos.
V: Vê um conflito básico entre as economias rentistas
financiarizadas e as democrático-socialistas que procuram promover
objectivos públicos que beneficiem os 99 por cento, não apenas um
por cento?
As economias privatizadas são economias de alto custo. Isto deve-se
principalmente ao facto de as infra-estruturas básicas serem um
monopólio natural: estradas e outros transportes,
comunicações, correios. Quando são privatizadas,
são geridas com fins lucrativos que consistem principalmente de
renda de monopólio, para além dos lucros normais, mais ganhos de
capital, uma vez que estes direitos rentistas são capitalizados em
acções e títulos a preços crescentes.
A política do capitalismo industrial americano no século XIX era
a mesma do socialismo: minimizar o custo de vida e de fazer negócio. A
privatização é amplamente responsável pela
desindustrialização da economia dos EUA. Enquanto deixa 95 ou 99
por cento da população estagnar, ela tem sido uma grande
prosperidade para os 5 a 1 por cento.
V: Poderia estender o que quer dizer com esse conflito e para onde vê a
administração Biden a encaminhar-se?
O conflito é frequentemente colocado pela justaposição da
Wall Street com a Main Street ou seja, do sector FIRE com a economia dos
bens e serviços industriais. O objectivo da Wall Street é
aumentar a riqueza. Isto é feito em grande medida por ganhos de capital,
não pela contratação de trabalhadores para produzir mais
bens e serviços tal investimento é feito principalmente no
estrangeiro pelas firmas multinacionais de hoje.
V: Como é que o pacote de ajuda de estímulo de US$1,9
milhão de milhões de dólares se enquadra neste debate?
Penso que não se deve chamar-lhe "estímulo". É
um alívio de desastres. A ideia é recuperar o atraso. O objectivo
deveria ser pelo menos colocar a economia onde estava antes ? ou seja,
ainda na Depressão Obama.
O que FOI um "estímulo" foram os US$6 a 8 milhões de
milhões criados pela Reserva Federal para comprar acções e
títulos, incluindo títulos lixo, a fim de alimentar o boom da
Wall Street. Esta é a essência da recuperação em
forma de K. Aumento de preços para a riqueza, queda de salários e
do rendimento líquido disponível para o trabalho vivo,
após dedução dos pagamentos ao sector FIRE que as
famílias têm de pagar antes de tudo rendas e
dívidas, contribuições para o seguro médico,
retenção na fonte do FICA
[3]
(o imposto mais regressivo) e pagamentos mensais a monopólios
privatizados de serviços públicos.
Os US$1,9 milhões de milhões em cheques de US$1.400 ou $2.000
deveriam ser enviados mensalmente, não a tempo parcial. A Europa paga
à sua força de trabalho despedida 80% dos seus salários
normais, para que não soçobrem nos confinamentos do Covid.
V: Há um profundo desacordo sobre como lidar com o aumento das
bancarrotas aqui e na Europa.
O próprio Biden é largamente responsável pelo problema das
bancarrotas. Foi ele o político que conduziu a reforma regressiva da
bancarrota através do Congresso, tornando mais difícil para as
famílias de baixos rendimentos liquidar as suas dívidas e
tornando impossível liquidar a dívida estudantil através
da bancarrota.
Neste sentido, ele "deve" à economia de compensar o seu frete
oportunista de para os seus apoiantes de campanha na Delaware gerida por
corporações.
Será que ele o fará? Será que pode fazer? Ele é um
falcão do défice e nomeou falcões do défice como
Neera Tanden para o seu gabinete. Ele também prometeu que "nada vai
mudar". Foi assim que a administração Obama foi gerida
(correndo demagogicamente sob um slogan de "esperança e
mudança"). Então, Biden será Trump 2.0 ou Obama 3.0?
Realmente não importa muito. Porque tanto Obama como Biden eram
basicamente republicanos que concorriam pelos eleitores com um perfil
étnico diferente e que [a seguir] os entregavam aos seus contribuidores
de campanha.
V: Os pedidos de falência nos Estados Unidos subiram no terceiro
trimestre para o mais alto nível desde a crise financeira de 2010. Na
semana passada, 900 mil americanos registaram novas declarações
de desemprego.
As
Shadow Statistics
de John Williams colocam a taxa de desemprego real em 20 por cento. Muitas
pessoas abandonaram o mercado de trabalho, uma vez que não há
empregos disponíveis, pelo menos não há empregos para elas.
A moratória das rendas permitiu que muitos trabalhadores desempregados
ou de baixos rendimentos permanecessem nas suas casas. Se forem despejados e
ficarem sem abrigo, como poderão trabalhar? A verdadeira crise
está destinada a cair em Março e Abril. Pequenas empresas, tais
como restaurantes e lojas, desistirão e encerrarão.
V: A Europa tem sido mais aberta a estender programas nacionais a fim de manter
à tona negócios em perturbação, mas também
há um debate intenso sobre se uma estratégia de proteger
negócios e trabalhadores "a todo custo" cimentará uma
recuperação ou se deixará as economias menos competitivas
e mais dependentes de ajudas do governo quando a pandemia refluir.
A Europa e outros países estão a tentar evitar o desastre. A
política dos EUA é encarar o desastre como uma oportunidade.
É mais fácil fazer fortunas num desastre do que em tempos
normais, pelo menos se se for rico, tiver liquidez e acesso a crédito
bancário para comprar negócios em dificuldades e propriedades.
O objectivo da Europa e de economia ao longo dos tempos tem sido
proporcionar resiliência. Isso é o que está a faltar aqui.
A doutrina da "responsabilidade individual" é um eufemismo
para deixar as classes financeiras tomarem o controle do planeamento
económico e social. E o seu objectivo é o seu próprio
auto-enriquecimento, não o das economias como um todo.
O que é que pode ser "recuperado"? Para a maior parte dos
políticos, significa que os credores os Um Porcento de topo da
economia possam "recuperar" o dinheiro que lhes é
devido pelos 99 por cento endividados.
No sistema político parlamentar europeu, podem surgir terceiros para
promover uma política social de resiliência económica. Isso
não é possível nos Estados Unidos, devido ao
duopólio bipartidário. Os duopólios resolvem-se em
monopólios, que é o que realmente temos hoje: pró-Wall
Street e anti-laboral, pró-credor e anti-devedor.
22/Fevereiro/2021
NT
[1]
Redlining:
Nos Estados Unidos é a prática de negar servir, directamente ou
através do
aumento selectivo de preços, residentes de certas áreas com
base na composição racial ou étnica daquelas áreas.
Enquanto alguns dos exemplos mais famosos de
redlining
consideram a negação de serviços financeiros, tais como
bancos ou seguros, outros serviços como cuidados de saúde ou
mesmo supermercados, podem ser negados aos residentes para executarem o
redlining.
A palavra
"redlining"
foi cunhada no final dos anos 60 por John McKnight, um sociólogo
e activista comunitário. Refere-se à prática de marcar uma
linha vermelha num mapa para delimitar a área onde os bancos não
investiriam. Posteriormente a palavra estendeu-se à
discriminação contra um determinado grupo particular de pessoas
(geralmente por raça ou sexo), independentemente da geografia.
[2]
Blockbusting
era um processo utilizado nos EUA por agentes imobiliários e
construtores para convencerem proprietários brancos a venderem a sua
casa a baixo preço por receio de que minorias raciais se mudassem em
breve para a vizinhança. Os agentes então vendiam as casas a
preços muito mais altos a famílias negras desesperadas para
escapar de guetos apinhados. O blockbusting tornou-se possível
após o desmantelamento legislativo e judicial após a II Guerra
Mundial de práticas de segregação imobiliária
legalmente protegidas.
[3]
FICA (Federal Insurance Contributions Act):
Lei federal americana que obriga
empregadores a reterem os salários de funcionários para o
pagamento da Previdência Social e Seguros de Saúde.
[*]
Economista. Muitas das suas obras encontram-se
aqui
.
O original encontra-se em
michael-hudson.com/...
. Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
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