O império multinacional montou um grande negócio para si
próprio: utilizar o próprio dinheiro da Líbia para
financiar rebeldes líbios a
combaterem
contra a Líbia.
Ali Tarhouni
, economista formado nos EUA que acaba de ser nomeado "ministro
das finanças" do
"Conselho Nacional Interno de Transição"
(rebelde), explica
o negócio
:
"Neste momento não há crise imediata de falta de dinheiro.
Temos alguma liquidez que nos permite fazer as coisas básicas",
disse ele, tais como pagar salários e necessidades imediatas.
Ele acrescenta que muitos países concordaram em conceder crédito
com a garantia do fundo soberano líbio e o governo britânico
também concordou em dar aos rebeldes o acesso aos 1,4 mil milhões
de dinares (US$1,1 mil milhões) que Londres não transferiu para
Kadafi.
Deste modo, as despesas do império serão limitadas aos custos do
bombardeamento, etc, os quais são de qualquer forma partilhados entre os
seus membros. Se tudo correr bem, a administração Barack Obama,
por exemplo, pode mesmo conseguir
evitar ter de pedir um [orçamento] suplementar
a curto prazo [isto é, se os altamente suspeitos
líderes rebeldes não embolsarem grande parte do dinheiro para si
próprios, deixando de pagar seus empregados, como tem acontecido muitas
vezes em casos como este). Uma esplêndida pequena guerra perfeita para a
era da austeridade.
Mas por agora o membro do império que está a obter mais com esta
guerra provavelmente não é a elite do poder dos Estados Unidos
mas sim a classe dominante dos estados do Golfo. A Líbia é ouro
imediato para eles: fazer a Líbia agrada o ocidente; mas o mais
importante é que ajuda a desviar a atenção da sua
repressão conjunta de intifadas internas, especialmente aquela grande no
Bahrain
. E acima de tudo, alguns deles aparentemente estão em
posição de ganhar algum dinheiro.
"Rebeldes dizem que o Qatar está pronto para comerciar petróleo do Leste da Líbia"
, segundo a Reuters.
Doce petróleo
em retorno da
propaganda
de
guerra
da
Al Jazeera
e da participação do próprio
Qatar
na guerra. Não há melhor negócio do que o negócio
da guerra.
Que os rebeldes líbios amam o império e vice-versa já
é bem claro. É assim que
Nicholas D. Kristof
descreve quando os rebeldes líbios amam os americanos por bombardearem
o seu próprio
país.
Isto pode ser sem precedentes no mundo árabe: um piloto americano
caído de paraquedas sobre a Líbia foi resgatado do seu
esconderijo num curral de ovelhas por aldeões que o abraçaram,
serviram-lhe refresco e agradeceram-lhe efusivamente por bombardear o seu
país.
Apesar de alguns aldeões terem sido atingidos por estilhaços
americanos, um deles disse entusiasticamente a um repórter que
não guardava rancor. No mesmo momento, na quarta-feira em Bengazi, a
principal cidade da Líbia oriental em cujas ruas quase certamente agora
estaria a correr sangue se não fosse a intervenção
liderada pelos EUA, residentes organizaram um "comício de
agradecimento".
O que permanece misterioso é porque tanta gente de esquerda,
árabes
e
iranianos
,
leigos
ou
religiosos
, reformistas ou
revolucionários, no ocidente ou no eixo de resistência
caíram profunda e cegamente em amor pelos rebeldes líbios.
Não importa quanto amem os rebeldes (que permanecem
"revolucionários" aos olhos dos escravos do amor), não
há sombra de evidência de que os rebeldes os amem ou
de que eles correspondam
. Não houve de facto nem mesmo um mínimo
indício de namoro nessa direcção. Sem dúvida, o
casamento dos rebeldes líbios com o império pode finalmente
acabar num amargo divórcio, mas, se o Afeganistão e outros
precedentes correspondem a alguma indicação, tal divórcio
é improvável que leve a um caso de ressurgimento com qualquer
coisa remotamente do interesse dos amantes não correspondidos dos
rebeldes líbios.
Nos últimos dias, contudo, tenho notado que a máquina de
propaganda da República Islâmica do Irão começou a
mudar de direcção
em relação à Líbia.
Talvez o establishment iraniano tenha finalmente percebido que os rebeldes
líbios não são pró iranianos. Em contraste, os de
esquerda e o Hezbollah, talvez mais abnegadamente idealistas do que
responsáveis iranianos, ainda têm de perguntar aquela
questão crucial da solidariedade internacional, a qual ao
contrário da caridade é sempre uma rua de duas mãos:
Estão os rebeldes por nós ou contra nós?
Post scriptum
Khalifa Hifter
, escolhido pelo "Conselho Nacional" rebelde para
liderar o exército rebelde, revelou-se agora ser um desertor
transformado em
operacional da CIA
, um homem que estava errado quando era pró Kadafi e desde então
mais errado ainda.
[*]
Editor da MRZine
O original encontra-se em
http://mrzine.monthlyreview.org/2011/furuhashi270311.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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