Guerras benditas
por Manlio Dinucci
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"...Portugal é consciente da sua missão evangelizadora.
E sofre ao ver que ela não é compreendida nem apreciada,
e até tentam contestar-lha"
(OP, VI, 388). Cardeal Cerejeira, em "Nota Pastoral sobre o
Ultramar Português", de 13 de Janeiro de 1961
"O comunismo, com o qual nenhum católico pode colaborar, assesta contra a
nossa
Pátria todas as suas peças de assalto".
"Nota Pastoral de Confiança e Exortação Nacional", 20 de Janeiro de
1962, redigida pelo Cardeal Cerejeira a seguir à ocupação de Goa pela Índia.
A conservação da herança colonial foi confiada a Portugal pela "Providência
divina"
(Cardeal Gonçalves Cerejeira, 1964, 387)
O padre Guilherme Guimarães Peixoto, de 35 anos, da paróquia de S. Dâmaso, em
Guimarães, partiu para o Afeganistão a fim de integrar a Força de Reacção
Rápida do Exército Português ao serviço da NATO (Quick Reaction
Force/International
Secutrity Assistance Force 2010 -QRF/FND/ISAF 2010).
"Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas
essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a
mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação
na guerra do Ultramar", Aníbal Cavaco Silva, 15 de Março de 2011.
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Monsenhor Vincenzo Pelvi, arcebispo ordinário militar e director da
revista do Ordinariato [italiano]
Bonus Miles Christi [O Bom Soldado de Cristo),
experimenta "amargura e mal-estar" face
"àqueles que invocam a dissolução das forças
armadas e a objecção contra as despesas militares".
Estes
descrentes não compreendem que "o mundo militar contribui para a
edificação de uma cultura de responsabilidade global, que se
enraíza na lei natural e encontra o seu fundamento último na
unidade do género humano". Do Afeganistão à
Líbia, "a Itália, com os seus soldados, continua a
desempenhar o seu papel para promover a estabilidade, o desarmamento, o
desenvolvimento e sustentar por toda a parte a causa dos direitos
humanos". O militar presta assim "um serviço em
benefício de todo o homem, tornando-se o protagonista de um grande
movimento de caridade tanto no seu país como em outras
nações" (
Avvenire,
2/Junho/2010).
Monsenhor Pelvi perpetua assim a tradição histórica das
hierarquias eclesiásticas de abençoar os exércitos e as
guerras. Há um século, em 1911, na igreja de Santo Stefano
dos Cavaleiros, em Pisa, decorado com bandeiras tomadas aos turcos no
século XVI, o cardeal Maffi exortava os soldados de infantaria
italianos, em partida para a guerra da Líbia, a "cruzar as
baionetas com a cimitarras" para trazer à igreja "outras
bandeiras irmãs" e assim "cobrir a Itália, nossa terra,
com novas glórias". E a 2/Outubro/1935, quando Mussolini
anunciava a guerra da Etiópia, Monsenhor Cazzani, bispo de Cremona,
declarava na sua pastoral: "Verdadeiros cristãos, oremos por
este pobre povo da Etiópia, para que ele se persuada a abrir suas portas
ao progresso da humanidade e a conceder as terras, que ele não sabe e
não pode fazer frutificar, aos braços exuberantes de um outro
povo mais numeroso e mais avançado". A 28 de Outubro,
celebrando no Domo de Milão o 13º aniversário da marcha
sobre Roma, o cardeal Schuster exortava: "Cooperemos com Deus,
nesta missão nacional e católica do bem, neste momento em que,
sobre os campos da
Etiópia, o estandarte da Itália leva em triunfo a Cruz de Cristo
e rompe as cadeias dos escravos. Invoquemos a bênção
e a protecção do Senhor sobre o nosso incomparável
Condottiere". A 8 de Novembro, Monsenhor Valeri, arcebispo de
Brindisi e Ostumi, explicava na sua pastoral: "A Itália não
pedia senão um pouco de espaço para os seus filhos, em tamanho
aumento
que formavam uma grande Nação de mais de 45 milhões de
habitante, e ela pedia a um povo cinco vezes menos numeroso que o nosso e que
detém, não se sabe porque e com que direito, uma extensão
de território quatro vezes maior que a Itália sem que saiba
explorar os tesouros com que a enriqueceu a Providência em
benefício do homem. Durante numerosos anos houve paciência,
suportando agressões e abusos e, quando não se podia mais,
tivemos de recorrer ao direito das armas, fomos julgados agressores".
Na trilha desta tradição, dom Vicenzo Caiazzo que tem sua
paróquia no porta-aviões Garibaldi, onde celebra a missa no
hangar dos caças que bombardeiam a Líbia assegura que
"a Itália está em vias de proteger os direitos humanos e dos
povos, é por isso que estamos no mar" (
Oggi,
29/Junho/2011). "Os valores militares explica ele
vão lado a lado com os valores cristãos".
Pobre Cristo.
06/Outubro/2011
O original encontra-se em
il manifesto,
edição de 4/Outubro/2011 e a versão em francês em
http://www.legrandsoir.info/guerres-benies-il-manifesto.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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