A Grécia considera a saída da eurozona
A desastrosa situação grega em consequência da
"ajuda" do FMI/BCE/UE
Uma lição para Portugal se seguir tais receitas
por Christian Reiermann
A crise da dívida na Grécia ganhou um contorno
dramático novo. Fontes informadas acerca das acções do
governo
informaram SPIEGEL ONLINE que Atenas está a considerar retirar-se da
zona euro. Os ministros das Finanças da área da divisa comum e
representantes da Comissão Europeia estão a efectuar uma
reunião de crise secreta no Luxemburgo na sexta-feira [6 de Maio]
à noite.
Os problemas económicos da Grécia são maciços, com
protestos contra o governo efectuados quase diariamente. Agora o
primeiro-ministro George Papandreu aparentemente sente que não tem outra
opção: SPIEGEL ONLINE obteve informação de fontes
do governo alemão conhecedoras da situação em Atenas
indicando que o governo Papandreu está a considerar o abandono do euro e
a reintrodução da sua própria divisa.
Alarmada pelas intenções de Atenas, a Comissão Europeia
convocou uma reunião de crise no Luxemburgo na sexta-feira à
noite. A reunião está a ter lugar no Château de Senningen,
um local utilizado pelo governo do Luxemburgo para reuniões oficiais.
Além da possível saída da Grécia da união
monetária, uma reestruturação rápida da
dívida do país também faz parte da agenda. Um ano
após o estalar da crise grega, este desenvolvimento representa um ponto
de viragem potencialmente existencial para a união monetária da
Europa pouco importando qual a variante que finalmente será
decidida para enfrentar as maciças perturbações da
Grécia.
Dada a situação tensa, a reunião no Luxemburgo foi
declarada altamente confidencial, sendo permitido o comparecimento apenas de
ministros das Finanças da eurozona e membros sénior de
assessoria. O ministro das Finanças Wolfgang Schäuble da
conservadora União Democrática Cristã (CDU) da chanceler
Angela Merkel e Jörg Asmussen, um influente secretário de Estado no
Ministério das Finanças, comparecem em nome da Alemanha.
"Desvalorização considerável"
Fontes informaram SPIEGEL ONLINE que Schäuble tenciona procurar impedir a
Grécia de abandonar a zona euro se for de algum modo possível.
Ele levará consigo para a reunião no Luxemburgo um documento
interno preparado pelos peritos do seu Ministério advertindo das
possíveis consequências sombrias se Atenas viesse a abandonar o
euro.
"Isso levaria a uma desvalorização considerável da
nova divisa interna [grega] em relação ao euro", declara o
documento. De acordo com estimativas do Ministério das Finanças
alemão, a divisa podia perder até 50 por cento do seu valor,
levando a um aumento drástico da dívida nacional grega. A equipe
de Schäuble calculou que o défice nacional da Grécia
elevar-se-ia a 200 por cento do produto interno bruto após uma tal
desvalorização. "Uma reestruturação da
dívida seria inevitável", advertem seus peritos neste
documento. Por outras palavras, a Grécia iria à bancarrota.
Não está claro se seria mesmo legalmente possível para a
Grécia despedir-se da eurozona. Peritos legais acreditam que
também seria necessário para o país separar-se totalmente
da União Europeia a fim de abandonar a divisa comum. Ao mesmo tempo,
é questionável se outros membros da união monetária
recusariam realmente a aceitar uma saída unilateral da eurozona por
parte do governo de Atenas.
O que é certo, de acordo com a avaliação do ministro das
Finanças alemão, é que a medida teria um impacto
desastroso na economia europeia.
"A conversão da divisa levaria à fuga de capital",
escrevem eles. E a Grécia pode se ver forçada a implementar
controles sobre as transferências de capital para travar a fuga de fundos
para fora do país. "Isto não poderia ser reconciliado com as
liberdades fundamentais introduzidas no mercado interno europeu", declara
o documento. Além disso, o país também seria eliminado dos
mercados de capitais durante os anos seguintes.
Por outro lado, a retirada de um país da união da divisa comum
"prejudicaria seriamente a fé no funcionamento da zona euro",
continua o documento. Investidores internacionais seriam forçados a
considerar a possibilidade de que novos membros da eurozona pudessem retirar-se
no futuro. "Isso levaria ao contágio na eurozona", continua o
documento.
Bancos em risco
Além disso, se Atenas voltasse as costas à divisa comum da zona,
haveria sérias implicações para o já cambaleante
sector bancário, particularmente na própria Grécia. A
mudança na divisa "consumiria toda base de capital do sistema
bancário e os bancos do país abruptamente ficariam
insolventes". Bancos fora da Grécia também sofreriam.
"Instituições de crédito na Alemanha e alhures seriam
confrontadas com perdas consideráveis nas suas dívidas
pendentes", lê-se no documento.
O Banco Central Europeu (BCE) também sentiria os efeitos. A
instituição com sede em Frankfurt seria forçada a
"amortizar parcialmente
(write down)
uma parte significativa dos seus direitos como irrecuperáveis".
Além da sua exposição aos bancos, o BCE também
possui grandes montantes de títulos do estado grego, os quais tem
comprado nos últimos meses. Responsáveis no Ministério das
Finanças estimam que o tal pode valer pelo menos 40 mil
milhões (US$58 mil milhões). "Dada a sua fatia de 27 por
cento no capital do BCE, a Alemanha arcaria com a maior parte das perdas",
lê-se no documento.
Em suma, uma retirada grega da zona euro e um decorrente incumprimento
(default)
nacional seria caro para países da eurozona e seus contribuintes.
Juntamente com o Fundo Monetário Internacional, os estados membros da UE
já comprometeram 110 mil milhões (US$159,5 mil
milhões) em ajuda a Atenas metade da qual já foi paga.
"Se o país se tornasse insolvente", lê-se no documento,
"países na eurozona teriam de renunciar a uma parte dos seus
direitos".
05/Junho/2011
NR: Como era de esperar, autoridades da UE desmentiram
a
Der Spiegel
e mandaram o vice-ministro grego da Finanças desmentir também.
O original encontra-se em
http://www.spiegel.de/international/europe/0,1518,761201,00.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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