Tiramos conclusões, tornamo-nos mais fortes
por Dimitris Koutsoumpas
[*]
É com uma alegria especial que me dirijo aos trabalhadores da
Rússia através das páginas do jornal
Sovietskaya Rossiya,
país onde "o gelo se quebrou", como disse Lénine,
onde "se mostrou o caminho" para o derrubamento revolucionário
do capitalismo e a construção da nova sociedade
socialista-comunista.
As consequências da contra-revolução e do derrubamento do
socialismo não nublou a visão, a mente e os juízos dos
comunistas gregos, o KKE. Na verdade, no dia 28 de novembro de 1991, poucas
horas depois da bandeira vermelha ter sido arrancada no Kremlin, o
Rizospastis,
o jornal do CC do KKE, escreveu na sua histórica primeira
página: "Camaradas, levantemos alto a bandeira! Existe
esperança na luta dos povos"!
Em 2017, o 100º aniversário da Grande Revolução
Socialista de Outubro foi marcado pela atividade multifacetada do nosso
partido. O nosso partido é um dos frutos da chama revolucionária
de outubro.
Realizaram-se no nosso país centenas de relevantes iniciativas
políticas e culturais em honra da Revolução Socialista.
Ao mesmo tempo, procurámos, através da nossa atividade
política e ideológica e da nossa atividade nos sindicatos e
noutras organizações de massas, defender a justa causa da classe
operária e das outras camadas pobres contra a linha política
antipopular, para sublinhar a necessidade do poder dos trabalhadores, que
é a única alternativa real à barbárie capitalista.
Os comunistas gregos lutaram para organizar a luta da classe operária
contra o governo burguês da "nova" social-democracia do SYRIZA,
que tem governado nos últimos três anos com o apoio do partido de
direita, ANEL, e o suporte da UE, da NATO e dos EUA.
Nas difíceis condições do elevado desemprego causado pela
crise capitalista, da intensificação da intimidação
dos patrões nos locais de trabalho, da repressão do Estado e do
governo e das limitações do direito à greve, os comunistas
esforçaram-se o mais que puderam para organizar importantes lutas de
trabalhadores, manifestações e greves nacionais.
Esta luta, para além de várias vitórias alcançadas
pelos trabalhadores em alguns setores, como a construção civil, a
construção e reparação naval e outros, fortaleceram
as posições dos comunistas e de todas as forças de
classe que lutam nas fileiras da Frente Militante de todos os
Trabalhadores (PAME). As forças de classe ganharam novas forças.
Hoje, a PAME é a segunda força do movimento sindical e a mais
organizada.
Além disso, os comunistas também mobilizaram ativamente os
camponeses pobres que, em 2017, bloquearam as autoestradas do país em
100 pontos diferentes, durante 40 dias, em luta contra a linha política
do governo e da UE, que está a levá-los à ruína.
O mesmo é verdadeiro no que respeita às lutas das camadas
pequeno-burguesas urbanas, dos trabalhadores por conta própria, e
também à luta das mulheres e da juventude, num quadro de luta
operária-popular.
Não é por acaso que a KNE [organização da juventude
do KKE], nos últimos quatro anos, ganhou a segunda posição
a nível nacional para as associações de estudantes, com
mais de 20%.
Os comunistas, seja no Parlamento grego (o KKE tem 15 deputados), seja no
Parlamento europeu (o KKE tem dois deputados), seja ao lado dos milhares
de pessoas que se têm manifestado muitas vezes a favor dos direitos da
classe operária e do povo, pela saída das bases e dos centros de
comando da NATO, têm uma posição coerente contra as guerras
imperialistas, contra a participação da Grécia nessas
guerras, contra a transformação do nosso país numa rampa
de lançamento dos planos dos EUA, da NATO e da UE no Médio
Oriente, em África, na Ucrânia, no Mar Negro ou em qualquer
outro lugar. São a favor da saída do país de
organizações imperialistas como a NATO e a UE e de todas as
alianças imperialistas, o que só será possível com
um governo dos trabalhadores na Grécia. Só o poder dos
trabalhadores pode acabar com as medidas antitrabalhadores e antipopulares,
socializando os meios de produção e planeando cientificamente a
economia sob o seu controlo.
O XX Congresso do nosso partido, realizado em março de 2017, discutiu o
modo de reforçar a sua ação. Pusemos a fasquia mais alta
neste Congresso. Colocámos como tarefa imediata o reforço do KKE,
para se tornar o partido da revolução social e realizar o seu
papel histórico de vanguarda. Um partido capaz de dirigir a luta da
classe operária e de todo o povo para o reagrupamento do movimento
operário e sindical, a promoção da aliança social
numa direção anticapitalista e antimonopolista, contra as guerras
imperialistas, pelo poder dos trabalhadores.
Porque sabemos muito bem que a Revolução de Outubro não
foi um "acidente da história" ou um "golpe
desastroso" dos bolcheviques, como dizem e escrevem os burgueses, como
diz e escreve todo o tipo de renegados, de oportunistas e de
aventureiristas.
A Revolução de Outubro foi um acontecimento histórico
cimeiro a nível mundial, que assinalou o início de uma nova era,
em que a classe operária se torna protagonista dos acontecimentos e
empurra a roda da história para a frente, tomando o poder e organizando
as novas relações de produção socialistas
comunistas, modificando toda a sociedade.
Esta afirmação também é válida hoje, em que
vemos o capitalismo na sua fase imperialista dominando o mundo inteiro,
enquanto relações socialistas sobrevivem em alguns países
como restos da primeira tentativa de construção do socialismo,
que começou em 1917 e continuou em muitos países através
do século XX.
Contudo, o socialismo continua tão atual como necessário na
história da humanidade. E isto, tal como a natureza socialista da
revolução na nossa época, não depende da
relação de forças no momento, antes decorre dos impasses
do capitalismo, do facto de estarem maduras as condições
materiais para a passagem a uma nova sociedade.
Hoje, os antagonismos interimperialistas agudizaram-se ainda mais. As
principais contradições verificam-se na partilha dos mercados, no
controlo das reservas naturais, nas vias de circulação da energia
e das mercadorias e no controlo geopolítico. Estão a ser criados
novos blocos de forças, aumentando o perigo de conflitos militares.
No quadro destes conflitos, o movimento comunista internacional e cada partido
devem determinar a sua própria linha de combate, uma linha para o
derrubamento da barbárie imperialista que traz consigo as crises
económicas, a pobreza, o desemprego e guerras ou "paz" com uma
arma apontada à cabeça do povo. Esta linha deve ser definida pelo
estudo da experiência histórica, rejeitando as análises
erradas das décadas anteriores, que levaram as forças
revolucionárias da sociedade à passividade, à
ineficácia e à confusão.
Como foi demonstrado pela experiência da Revolução de
Outubro e por todo o movimento operário internacional, não
há lugar para qualquer cooperação ou aliança com a
burguesia como um todo, ou com qualquer das suas secções, em nome
da defesa da democracia burguesa, da "humanização do
capitalismo", ou qualquer estádio intermédio para o
socialismo com o argumento de evitar "forças extremistas
pró-guerra".
A burguesia e o poder burguês socavam e suprimem os direitos e conquistas
dos trabalhadores e do povo. Nas suas "condições
pacíficas", eles preparam guerras. A consolidação da
luta anti-capitalista anti-imperialista, pelo socialismo, exige a
aliança da classe operária com os camponeses pobres e os
trabalhadores por conta-própria.
A linha da social-democracia, desde o início do século anterior
até hoje, falhou completamente, causou grandes prejuízos, levou
à derrota do movimento comunista revolucionário, assimilou
as massas trabalhadoras para o sistema capitalista de
exploração; levou ao desarmamento das forças progressistas
e de classe pelo desenvolvimento social. Tudo isto, tal como o papel de
vanguarda dos partidos comunistas, decorre da nossa teoria, o
marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário.
A construção socialista, como a fase primeira e imatura da
sociedade comunista, confirmou as leis científicas que a vanguarda
revolucionária não pode violar, devendo estar vigilante para
erradicar consciente e metodicamente as sementes da
contra-revolução. Mais concretamente, a teoria e a
implementação prática do "socialismo de mercado"
foi desastrosa para a construção socialista, foi algo que
aconteceu gradualmente na URSS através da via oportunista, que se
estendeu pouco a pouco por um período que começou em 1956 e se
manifestou violentamente em 1991, com a dissolução completa da
URSS e do PCUS.
A experiência histórica demonstrou que os problemas que surgiram
no decurso da construção socialista foram erradamente
interpretados como uma fraqueza intrínseca ao planeamento central.
Procurou-se a solução na expansão do mercado, o que
constituiu um passo atrás, em vez de se dar um passo adiante,
desenvolvendo e reforçando as relações de
produção socialistas-comunistas.
Hoje, retirando as conclusões corretas da nossa história,
tornamo-nos mais fortes. Estamos ideológica e politicamente mais bem
equipados para as batalhas de classe que estamos a travar e que travaremos no
futuro. A nossa arma é o internacionalismo proletário, a nossa
luta comum é a camaradagem e solidariedade de classe contra o
isolacionismo nacional e o cosmopolitismo imperialista.
O KKE, que em 2018 celebra o 100º aniversário da sua
fundação, depois do Partido Comunista da Federação
Russa, realizará no nosso país o Encontro Internacional dos
Partidos Comunistas e Operários. Queremos, com o 20º Encontro
Internacional que se realiza em Atenas, além de também o fazermos
por outras formas, contribuir para que o movimento comunista internacional,
hoje tão dividido e enfrentando tão grandes dificuldades, possa
dar passos em frente no reagrupamento revolucionário, porque esta
é a sua única perspetiva positiva.
Desejamos aos leitores da
Sovietskaya Rossiya
muita saúde e força para novas lutas em 2018. O nosso futuro
não é o capitalismo, mas o mundo novo das
revoluções socialistas, da construção do
socialismo-comunismo.
Muitas felicidades para todos vós!
[*]
Secretário-geral do Comité Central do Partido Comunista da
Grécia.
O original encontra-se no jornal
Sovietskaya Rossiya,
a versão em inglês em
inter.kke.gr/...
e em português em
pelosocialismo.blogs.sapo.pt/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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