Acerca das mobilizações dos "indignados"
Fora com os partidos e sindicatos ou com o KKE e o movimento de classe?
Na passada sexta-feira, os blogs
que estão a guiar o movimento dos cidadãos
"i"ndignados"
publicou uma declaração dos cidadãos
"indignados"
na Praça Sintagma, que apelava às forças de
esquerda para abandonarem as praças. Assim, os dirigentes "
"anónimos"
do "movimento das praças", os
"alinhados sem partido"
"espontâneos",
cidadãos "
"não politizados"
aparentam estar politizados e declaram-se a si mesmos
"antiesquerda".
Talvez esta seja a razão porque eles se escondem no anonimato.
Até este momento, declaravam que o seu inimigo era a política que
trazia pobreza e desemprego, enquanto o seu slogan era o de livrar-se do
memorando e dos políticos que o implementam. Este elemento, juntamente
com o facto de organizarem mobilizações, expressa uma
posição política.
Agora, estão a mostrar mais um aspeto das suas posição e
prática políticas, atribuindo a política bárbara
que leva o povo e a juventude à indigência a todos os partidos em
geral incluindo o KKE. Claro que não demonstram quem beneficia
com esta política; também não mostram os verdadeiros
inimigos, que são os monopólios, os capitalistas.
Estão contra o organizado movimento sindical de classe, alegando que os
sindicatos devem abandonar as praças. Mas o movimento sindical
não é homogéneo. Há alguma relação
entre o governo e o sindicalismo amarelo, que ajudou à
adoção das bárbaras medidas, e a PAME
[2]
, que organizou greves e concentrações de massas contra tais
medidas, em conjunto com o PASEVE
[3]
, o PASY
[4]
, a OGE
[5]
e o MAS
[6]
?
A autodefinição de
"alinhados sem partido"
que usaram até agora exaltada pelos grupos
mediáticos dos capitalistas, assim como a sua lógica no que
respeita à questão da democracia prova não ser mais
do que hipocrisia. Assim como a sua alegada intenção de unir o
povo, mesmo na base do vago conteúdo antimemorando do
"movimento das praças",
já que posições como
"esquerda fora",
"partidos fora",
"sindicatos fora"
são divisionistas, pois não são nada
democráticas, ou, para sermos mais exatos, são
antidemocráticas.
Ao mesmo tempo e enquanto se opõem ao memorando e às
horríveis medidas, não dizem uma única palavra contra o
governo, a UE e as forças políticas que concordam com esta
política. Falam apenas, em geral, sobre os políticos que a
aplicam, com argumentos vagos, enquanto igualam o KKE com aquelas forças.
O impedimento da expressão política e ideológica do povo
trabalhador, que tem o direito de ter o seu próprio ponto de vista e de
o expressar aberta e publicamente em geral e, em particular, no seio do
movimento, onde desabrocha a luta política e ideológica,
não só é contrária à democracia,
especialmente dentro do movimento, mas também a amordaça.
Além disso, todo o movimento mesmo o espontâneo, mas, ainda
mais, o movimento nas praças tem um objetivo, independentemente
de se estar ou não de acordo com ele. Esta ação revela que
os dirigentes dos movimentos das praças têm um ponto de vista: ou
vens para a praça com as nossas posições
político-ideológicas, deixando as tuas fora do movimento, ou
não venhas mesmo, afasta-te das praças.
Parece que é uma tática bem elaborada para cavar linhas
divisórias entre as forças populares que estão organizadas
em sindicatos, os partidos, que não escondem a sua ideologia, a sua
política, mesmo a sua identidade partidária e aqueles que
vão para as praças, que são também pessoas normais,
a maioria das quais acreditou nos partidos burgueses que traíram as suas
esperanças de uma vida melhor, estão descontentes com a
política burguesa e procuram uma saída.
Depois de tudo isto, a quem serve a lógica de
"partidos e sindicatos fora"?
Neste ponto, não vamos repetir que os dos blogs
estão a preparar um partido com o nome
"Democracia já",
como disseram na TV. Mas há também uma verdade que eles
não querem que fique em evidência, que tentam ocultar, como os
meios de comunicação burgueses fazem com frequência
nomeadamente, que nem todos os partidos são iguais, que o chamado
movimento antipartido das praças é uma entidade política,
que, apesar de se dizer apartidário, é uma entidade
política e tem uma posição política contra os
outros partidos, independentemente do que diga de si próprio.
Desde a primeira vez que este tipo de mobilizações apareceu,
colocamos a questão: quem se esconde por trás dos blogs e da
internet? Porque não aparece? O que significa o seu anonimato?
Não devia
este facto preocupar aqueles que se reúnem nas praças? Pela
simples razão de que deviam conhecer que forças os convidam e
organizam estas atividades. E porque os blogs
não são suficientes nem tudo começa espontaneamente
num blog
mesmo se eles contribuem para as mobilizações, tal como as
enormes promoções dos meios de comunicação.
Mas parece que o anonimato auxilia aqueles que estão por trás dos
blogs e não só a eles. Afinal, a experiência do movimento
popular
mostra que há também forças organizadas que aparecem como
forças do
"movimento"
e se opõem não importa se intencionalmente ou
não ao movimento popular organizado e que, quando em
ação, ocultam a cara com capuzes.
Agora emergiu o movimento daqueles que não têm nome. As pessoas
que se escondem a si próprias têm um objetivo específico,
que também tentam ocultar. Autoapresentam-se como dirigentes a favor do
povo mas não apontam o verdadeiro inimigo do povo.
Os que cobrem a cara com capuzes opõem-se aos mecanismos repressivos do
estado, às montras das lojas e dos bancos consideram-nos como os
seus inimigos e não os monopólios. A sua atividade fomenta
tendências para o movimento perder o seu caráter organizado,
impede a participação do povo e não cultiva uma
consciência reivindicativa.
Os procedimentos da democracia direta expressam, alegadamente, a
participação, de baixo, na atividade antimemorando. Mas que
força política imporá a sua vontade para que o memorando
seja abandonado? Se eles estão contra os políticos e os partidos
políticos. Assim, quem o fará? Outros políticos e, talvez,
outras forças organizadas com a linha política que tem vindo a
ser expressa nas praças, que não estão contra os
monopólios e os capitalistas. Então, estamos a falar de outro
sistema burguês, reformado. Será este o seu objetivo?
Claro que o específico ponto de vista de
"partidos fora"
faz com que algumas pessoas de determinados partidos apareçam
como defensoras da linha do seu partido de manhã, lisonjeiem aqueles que
expressam uma
"posição apartidária",
apesar de muitas destas pessoas serem quadros dirigentes de partidos e,
à noite, vão para as praças como
"gente apartidária".
Isto é hipocrisia em escala massiva, se não uma fraude
direta. O comum das pessoas e os jovens participam nas praças para
expressarem a sua indignação, descontentamento e raiva contra o
governo, a UE e a Troika. Mas não compreendem ou não aceitam a
linha política de derrube do sistema.
Este povo trabalhador não deve ser enredado na rede que o sistema
está a preparar, através dos chamados
"apartidários"
e espontâneos. O conflito com os monopólios não
é asséptico. Necessita de um plano, de uma estratégia, de
ideais, contribuições e sacrifícios. Isto significa uma
aliança com o KKE e as forças radicais de classe; as novas
forças que começam a mobilizar-se, superando a sua inércia
e tolerância, devem dar este passo em frente.
"Partidos fora"
é uma posição conservadora. Os partidos
políticos são organizações que, com a sua linha
política e ideológica, expressam interesses específicos. A
nossa sociedade está dividida em classes e estratos sociais. Por um
lado, a classe burguesa, a classe dominante, com o poder, cuja gestão
é feita por alguns dos seus partidos no governo e, por outro lado, a
classe operária. Há estratos intermédios que se
diferenciam economicamente, assim como socialmente. As camadas
intermédias, que estão numa posição
económica mais fraca, são, objetivamente, aliadas dos
trabalhadores e inimigas dos monopólios. A posição
"partidos fora"
iguala o KKE com os partidos burgueses e esconde o verdadeiro inimigo do
povo: os monopólios, que detêm o poder.
Um trabalhador ilude-se a si próprio se acredita que as
mobilizações nas praças são suficientes para o
libertar dos velhos e novos problemas que lhe impuseram, sem um movimento que
comece e esteja enraizado nas fábricas e indústrias, em todos os
locais de trabalho, contra a classe capitalista. Quando o movimento não
é forte nas fábricas, quaisquer mobilizações que se
façam não têm bases sólidas. O verdadeiro palco da
luta de classes é o local de trabalho, a empresa. É aí que
os trabalhadores entram numa luta diária e sem quartel contra os grandes
empresários luta que surge das suas particulares
relações de classe, as relações de
exploração, porque a riqueza e os lucros dos capitalistas
são produzidos pelo trabalho dos operários.
Alguns dizem que também se luta nas praças, e isso é de
igual modo necessário; mas, em primeiro lugar, luta-se no local onde os
inimigos de classe entram em conflito. Aí está o verdadeiro
coração da luta política de classe.
Um trabalhador ilude-se a si próprio se acredita que as
mobilizações populares devem afastar-se de todos os partidos ou
estar contra todos eles. Tal movimento está condenado a ser subjugado
à linha política dos capitalistas, a contribuir para a
perpetuação da exploração.
Um trabalhador ilude-se a si próprio se acredita que o sistema
político burguês pode funcionar no interesse do povo. O sistema
político burguês não pode ser corrigido, tem de ser
derrubado.
Um trabalhador engana-se a si próprio se promove a
reivindicação de nos livrarmos do memorando, sem a acompanhar da
reivindicação da saída da UE e do derrube do estado dos
monopólios na Grécia.
O povo necessita do movimento que lhe dá uma perspetiva clara. Isto
significa uma luta organizada, aliada ao KKE, uma luta através dos
movimentos de classe do PAME, PASY, PASEVE, OGE e MAS. Só estas
forças se podem opor à estratégia dos monopólios e
seus servidores, com a estratégia a favor dos interesses populares. Sem
tal estratégia o povo não encontrará uma saída.
NT
1.
Rizospastis:
jornal do Partido Comunista da Grécia (KKE)
2. PAME: Frente Militante de Todos os Trabalhadores central sindical de
classe da Grécia
3. PASEVE: Movimento Antimonopolista de Trabalhadores Autónomos e
Pequenos Comerciantes
4. PASY: Movimento Militante de Todos os Camponeses
5. OGE: Federação das Mulheres Gregas
6. MAS: Frente Militante de Todos os Estudantes
O original encontra-se no
Rizospastis,
editorial de 05/Junho/2011, a versão em inglês em
http://inter.kke.gr/News/news2011/2011-06-07-arthro-syntaksis
e a tradução em português em
http://www.pelosocialismo.net/
Este editorial encontra-se em
http://resistir.info/
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