por Comissão Grega de Auditoria da Dívida Pública
Nas primeiras horas da madrugada de 27 de Outubro, os líderes da
eurozona chegaram a uma decisão que marca o endurecimento das garras da
dívida pública sobre o povo grego. O corte
(haircut)
proposto da dívida pública mantida pelo sector privado
não resolverá o problema da dívida da Grécia,
trazendo-lhe ao invés novos fardos. As razões são muitas:
1. O
haircut
será acompanhado por novos empréstimos, no valor de 130
mil milhões, levando a menos do que a prometida redução da
dívida.
2. A redução da dívida é pequena e desigualmente
distribuída, uma vez que os empréstimos de salvamento
(bailout)
da Troika (no valor de 65 mil milhões), bem como os
títulos mantidos pelo BCE (no valor de 55 mil milhões),
ficam isentas.
3. Os fundos de pensão sofrerão um golpe no valor de 11,5
mil milhões, o que implica que a reestruturação da
dívida realmente significa uma redução de pensões e
benefícios sociais.
4. Os novos títulos garantidos que substituirão os antigos
não serão contratados sob a lei grega, o que resulta numa
posição mais favorável para os nossos credores.
5. O
haircut
será acompanhado por novos pacotes de austeridade,
reduções em salários e demissões em massa de
trabalhadores do sector público, as quais empurrarão ainda mais o
povo grego para a pobreza.
6. Como garantia, a Alemanha e a UE exigem basicamente que a Grécia
opere sob soberania nacional reduzida e na prática impõe uma nova
Ocupação, seguindo-se a nomeação de um
Gauleiter
em cada ministério e departamento importante.
7. O próprio acordo está natimorto e longe de completo, uma vez
que o esperado acordo com os bancos não está garantido, tal como
o acordo de 21 de Julho que o governo apregoou como um grande êxito.
8. Os resultados são altamente questionáveis uma vez que, ao
contrário das proclamações do governo e da UE, a
redução da dívida para 120% do PIB em 2020 não a
tornará sustentável. Se este nível fosse
sustentável, então porque a Itália, cuja dívida
hoje é igualmente alta, está a ser convocada para reduzi-la? Por
que então em 2009 a Grécia, com um rácio de dívida
significativamente inferior a isso, foi forçada a aceitar o pacote de
salvamento?
Por todas as razões acima, a decisão dos líderes da
Eurozona é inaceitável e deve ser subvertida através da
luta do povo grego. O
haircut
selectivo, o qual deixa os empréstimos ilegais da troika intactos
enquanto conduz os fundos de pensão à catástrofe, mostra
quão necessária é a cessação de pagamentos
aos nossos credores e uma auditoria democrática da dívida
dirigida pelos trabalhadores. Esta auditoria mostrará qual parte da
dívida é ilegal, ilegítima e inconstitucional e, portanto,
provocará o seu cancelamento. O cancelamento da dívida é
baseado na soberania do povo grego, o qual forçará os credores a
aceitarem os seus termos.
Na sexta-feira 28 de Outubro o povo grego celebrou sua resistência
às potências do Eixo em 1940. As acções majestosas e
determinadas do povo, as quais assinalaram este aniversário, mostram o
caminho para nos livrarmos das algemas dos credores e acabarmos com a nova
Ocupação que eles tentam hoje. A conferência Campanha da
Auditoria da Dívida planeada para o futuro próximo pretende ser
um passo adiante na luta da sociedade para cancelar a dívida ilegal,
ilegítima e inconstitucional!
03/Novembro/2011
O original encontra-se em
http://www.cadtm.org/Statement
Esta declaração encontra-se em
http://resistir.info/
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