Macron, o que quer dizer isso em francês?
por Rémy Herrera
Desde o mês de Março a França entrou numa zona de
turbulências sociais. Por toda a parte levantam-se os descontentamentos.
As manifestações multiplicam-se, as greves também,
nomeadamente nos transportes públicos (dos ferroviários ao
pessoal da Air France), nos serviços de recolha de lixo, mas igualmente
no sector da grande distribuição (assalariados do grupo
francês de hipermercado Carrefour, o empregador privado mais importante
do país, após o anúncio do encerramento de centenas de
lojas e da supressão de milhares de empregos, apesar de mil
milhões de lucros registado no ano passado). Eis que surge finalmente o
primeiro verdadeiro confronto do mundo do trabalho com Emmanuel Macron desde a
sua eleição à chefia do Estado, há cerca de um ano.
Mas sabe quem é Macron? Dizem que é belo, elegante, brilhante.
Com apenas 39 anos foi eleito presidente da República, em Maio de 2017,
após uma ascensão política absolutamente fulgurante. E
além disso ele subjugou Donald Trump, convidado em 14 de Julho
último a Paris para ali celebrar a festa nacional e assistir ao desfile
militar nos Campos Elíseos. É a primeira vez que temos em
França um presidente que fala tão bem o inglês e que sorri
"como um americano". É normal: ele foi membro dos
"Young Leaders"
da
French-American Foundation",
instituição encarregada de "reforçar os laços
entre a França e os Estados Unidos".
Isso não impede que a base eleitoral de Macron seja das mais estreitas:
é verdade que chegou à frente na primeira volta das
eleições presidenciais de Abril de 2017, mas com apenas 24,0% dos
sufrágios (8,66 milhões de votos), não ultrapassando
senão um pouco a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen (21,3%, ou
seja, 7,68% dos votos) seus adversários de direita
François Fillon (20,0%) e de esquerda Jean-Luc Mélenchon (19,6%)
vindo um pouco atrás. Oponente à candidata da extrema-direita na
segunda volta, Macron jogou sobre veludo a França não
é racista, é um facto bem conhecido e foi eleito numa
poltrona com 66,1% (mas mais de 25,4% de abstenções). Seguro de
si, ele festeja sua vitória na noite da primeira volta num luxuoso
restaurante parisiense, rodeado do jetset do poder (de Jacques Attali, antigo
conselheiro do presidente Mitterrand e grande amigo do establishment, a Daniel
Cohn-Bendit, ex-líder de Maio de 68 tornado um criado da Europa
neoliberal).
Macron é um produto puro da alta finança. Depois de ter sido
inspector das Finanças, ele declina uma proposta da patroa dos
patrões, Laurence Parisot, de ocupar o posto de director geral do
sindicato patronal (MEDEF ou Mouvement des Entreprises de France), preferindo o
de banqueiro de negócios junto ao Rothschild, onde se torna gerente
associado. O presidente Hollande nomeia-o secretário-geral adjunto do
Eliseu (2012), depois ministro da Economia e da Indústria (2014). Um
banqueiro para dirigir a indústria, haverá algo mais
lógico? A "lei Macron", que foi imposta à força
no Parlamento (2016), flexibiliza ainda mais o mercado de trabalho para,
consta, "desemperrar" a economia francesa.
O êxito de Macron explica-se em grande medida pela deliquescência
das forças políticas do país: a da direita tradicional (os
Republicanos) e a... da nova direita (o Partido Socialista). Sob as
presidencias Sarkozy (2007-2012) e Hollande (2012-2017), republicanos e
"socialistas" haviam com efeito modificado a sua trajectória
idílica para se prosternarem abertamente diante da finança e dela
fazerem-se fiéis servidores. Isto era bastante novo em França. E
esta é a causa principal do afundamento destes dois partidos principais
que partilhavam o poder antes dele, numa alternância sem alternativa.
Macron não é senão a síntese com novo visual e
rejuvenescida desta tendência de fundo da vida política francesa,
deste abandono da soberania nacional, desta submissão absolutamente
lamentável do Estado. Nada de espantoso que esta linha atlantista
pró estado-unidense seja ao mesmo tempo consolidada.
Bastou fazê-lo eleger. Sua campanha eleitoral, orquestrada pelos media
obsequiosos e unânimes às ordens de um punhado de oligarcas,
vendeu-o como uma mercadoria. Com um idílio de folhetim: a esposa,
Brigitte, foi sua professora de teatro no liceu! Portanto, nesta democracia de
pacotilha, era preciso um actor de talento para fazer esquecer aos franceses
que o seu país não é mais soberano, mas sim governando
pela finança. A peça cuja representação hoje
é anunciada não está escrita antecipadamente. A trovoada
social amplia-se...
08/Abril/2018
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