por Valentin Katasonov
[*]
Poucos sabem que além do G7, G10 e G20 também existe o
Grupo dos Trinta
G30. Trata-se de uma reunião anual informal entre os directores
dos bancos centrais de 30 países. Estes acontecimentos obtêm muito
pouca cobertura dos media, mas pode-se assumir que as reuniões do G30
são preparadas pelo Bank for International Settlements (BIS) na
Basiléia, o qual considera-se geralmente ser o Estado Maior Geral dos
bancos centrais de muitos países.
O tom do relatório submetido em 10 de Outubro pelo Grupo dos Trinta, bem
como suas conclusões, foi resumido pela
Reuters
como se segue:
"Bancos centrais trabalharam ao lado de governos para tratar dos
desdobramentos das crises durante 2007-09 e suas acções foram uma
resposta necessária e apropriada para a gestão da crise. Mas
não se deveria esperar que só políticas de bancos centrais
proporcionassem crescimento económico sustentável. Tais
políticas devem ser complementadas por outras medidas políticas
implementadas por governos. Actualmente, muito está por fazer por parte
de governos, parlamentos, autoridades públicas e o sector privado para
cuidar das fraquezas políticas, económicas e estruturais que
têm origem fora do controle ou influência de bancos centrais.
A fim de contribuir para o crescimento económico sustentável, o
relatório presume que todos os outros actores cumpram suas
responsabilidades... Não se pode contar só com bancos centrais
para proporcionar todas as políticas necessárias a fim de
alcançar objectivos macroeconómicos. Os governos também
devem actuar e utilizar o espaço de elaboração
política proporcionado por medidas de política monetária
convencional e não convencional. A falha em assim fazer seria um erro
grave e arriscaria montar o cenário para novas
perturbações e desequilíbrios económicos no
futuro".
Como se pode ver neste excerto, na sua lista daqueles que afirmam serem
responsáveis pela iminente (e inevitável) crise financeira e
económica, os directores de bancos centrais do Grupo dos Trinta incluem
parlamentos, autoridades públicas e o sector privado, além dos
governos. No seu artigo, a Reuters utiliza a expressão que foi empregue
na reunião dos banqueiros centrais "medidas de
política monetária não convencionais".
Trata-se de uma referência ao programa de "facilidade
quantitativa" ("quantitative easing"), o qual significa utilizar
o pleno poder das impressoras dos bancos centrais para emitir nova divisa com a
qual comprar títulos de dívida governamentais. A política
dos bancos centrais sempre foi ocultar suas próprias
acções repugnantes com palavras artificiosas. Nos bons dias de
antigamente, cabia aos governos emitir moeda, na forma de notas do tesouro e
moeda que era livre de juros e não afogada em dívidas.
Mas os prestamistas tornaram-se os arquitectos dinâmicos de uma nova
história que lançou a era de revoluções burguesas
na Europa. Eles ajudaram a derrubar monarquias, estabelecer parlamentos e
ratificar constituições tendo em mente um objectivo principal
conseguir as impressoras de moeda. As revoluções burguesas
poderiam ser mais precisamente intituladas "revoluções
monetárias". Contudo, este confisco precisava ser melhor
justificado. E uma justificação materializou-se: governos tendem
a abusar do seu direito de emitir moeda. Eles podem, talvez, utilizar suas
impressoras de moeda para cobrir défices do orçamento de estado,
o que é inaceitável porque provoca inflação.
Conclusão: as impressoras precisam ser retiradas dos governos e
transferidas para "mãos seguras". Por definição,
estas só podiam ser as mãos de prestamistas privados
("profissionais independentes"). A moeda impressa pelos prestamistas
seria entregue aos governos, enquanto os contribuintes seriam
responsáveis pelo pagamento dos encargos com juros.
Um forte influxo de dinheiro "fácil", emitido como parte de um
programa de "facilidade quantitativa" ajudou a aumentar os
preços de vários activos (a medida de capitalização
corporativa) e do imobiliário, mas não foi capaz de ressuscitar a
economia real nem ligeiramente. O impacto negativo do dinheiro
"fácil" pôde ser visto primeiro nas economias daqueles
países da periferia do capitalismo global, mas agora também faz
vítimas sobre países ricos do primeiro mundo.
O Federal Reserve dos EUA anunciou ter finalizado em 2014 seu programa de
compra de títulos e prometeu que elevaria as taxas de juro do zero
não mais tarde do que em Junho de 2015. Examinando o mercado de
derivativos, a maioria daqueles actores está a apostar em que o Fed
elevará a taxa de desconto em Março de 2016.
Contudo, deveria manter-se em mente que os actores no mercado de derivativos
frequentemente foram culpados de optimismo deslocado e lavagem cerebral.
Pessoalmente, não tenho absolutamente nenhuma razão para
acreditar que as taxas de juro serão elevadas em Março
próximo. Estou mais inclinados a confiar naquele peritos e analistas
financeiros que dizem que a taxa de desconto do Fed podiam cair em
território negativo.
Diga-se de passagem que os directores de alguns Bancos da Reserva Federal dos
EUA (o Fed consiste de 12 Bancos da Reserva Federal, o maior do quais é
o Federal Reserve Bank of New York) estão cautelosamente a inclinar-se
nesta direcção. Taxas negativas para operações
bancárias passivas já são uma realidade para bancos
centrais na Europa Ocidental. O BCE, por exemplo, um ano atrás
impôs uma taxa negativa sobre os seus depósitos.
Se o Federal Reserve dos EUA anunciou publicamente o fim do seu programa de
facilidade quantitativa (QE), o Banco da Inglaterra está a adiar este
passo e o BCE está a preparar-se para lançar uma nova rodada de
QE. Quanto ao Banco do Japão, ele efectivamente tem estado a viver sob
uma política de facilidade quantitativa desde 2001, com taxas zero sobre
operações passivas e taxas de desconto simbólicas sobre
operações activas. Este é o seu modus vivendi.
Embora a China não tenha feito qualquer anúncio em
relação à facilidade quantitativa, há
desenvolvimentos em curso que são semelhantes àqueles que podem
ser vistos no resto do mundo. A economia está lavada em dinheiro que
é bombeado de volta por bancos oficiais bem como por companhias de
shadow banking
. O FMI estima ali há US3 milhões de milhões de excesso de
concessão de empréstimos a economias de mercado emergentes, os
quais é aproximadamente igual a 15% dos seus PIBs combinados. Isto
é uma "bolha de crédito" gigante, a qual poderia
facilmente atear uma crise financeira e económica, primeiro naqueles
países na periferia do capitalismo global e posteriormente nos
países ricos do primeiro mundo.
O relatório do G30 declara: "Bancos centrais descreveram suas
acções como "compra de tempo" para governos resolverem
finalmente a crise... Mas o tempo está a avançar e as compras [de
títulos VK] têm o seu preço". O preço de
uma tal compra seria uma crise global. Pode-se esperar que no futuro
próximo os media, os quais estão sob o controle dos "mestres
do dinheiro", intensificarão dramaticamente a sua crítica
à política económica do estado em muitos países. A
razão é simples os "mestres da moeda" (aqueles
que possuem as impressoras dos bancos centrais) farão tudo o que puderem
para transferir a culpa pela crise para os governos, de modo a que eles possam
mais uma vez reter o controle das impressoras do dinheiro.
28/Outubro/2015
Ver também:
"Running Out of Money". The US Government On the Brink of Default. How Obama Could Beat the Debt Ceiling, de Ellen Brown
[*]
Economista e presidente da S.F. Sharapov Russian Economic Society.
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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