Emissão monetária só pelo banco nacional!
O referendo suíço em 10/Junho/2018
A vitória do "não" e os argumentos a favor do
"sim"
por PST-POP
Ao contrário do que pensa grande número de pessoas, a maior parte
da emissão da moeda nos países capitalistas já não
é feita pelos governos e sim pela banca privada. Cada vez que um
banco privado concede um empréstimo ele está a sacar a descoberto
sobre reservas que não tem, a partir do nada. Isso significa criar
moeda, com uma injecção permanente na circulação.
Este facto tem enormes implicações. Com tal sistema
retira-se aos governos o poder soberano que têm de emitir moeda e a maior
parte do meio circulante passa a ter origem na emissão privada.
Além disso, os governos ficam obrigados a endividar-se junto a
banqueiros privados a fim de se financiarem o que significa uma sangria
permanente de recursos públicos, sob a forma de juros, em favor do
capital financeiro. Mas isso não teria de ser necessariamente
assim. Os governos deveriam utilizar o seu poder soberano de serem os
únicos emissores de moeda, o que na realidade prática
só seria possível com a nacionalização da banca.
É positivo que este assunto fulcral tenha pelo menos sido
debatido na Suíça, quando no resto do mundo é silenciado.
resistir.info
No dia 10 de Junho de 2019 houve uma votação (referendo de
iniciativa popular) na Suíça por iniciativa do movimento
"
Monnaie pleine
". Seus promotores propunham limitar, na Constituição, as
possibilidades de criação de moeda pelos bancos privados (quando
eles emprestam o dinheiro que não têm). A
preocupação do movimento é nomeadamente impedir a
formação de "bolhas especulativas". Eles consideram que
o Banco Nacional Suíça deve ter o controle da
criação monetária. O "não" a esta
proposta, combatida nomeadamente pela direcção do próprio
BNS, prevaleceu: 75%, num contexto de fraca participação dos
eleitores helvéticos (34%).
Os comunistas do Partido Suíço do Trabalho Partido
Operário Popular (
PST-POP
) apelaram ao voto pelo "sim". Eles defenderam um "Sim
crítico" que não dá lugar a qualquer ilusão
sobre uma moralização das finanças capitalistas mas que
defende a exigência de intervenção democrática, no
quadro da correlação nacional de classes, sobre a política
monetária. Os iniciadores do movimento puseram-se apenas o objectivo
limitado da devolução ao governodo poder soberano de
emissão monetária, mas não o da
nacionalização de todo o sistema bancário.
Abaixo o comunicado e a argumentação do PST-POP.
Comunicado do PST-POP quanto às votações federais de
10/Junho/2018
A iniciativa "Moeda plena" foi claramente rejeitada como se previa. O
Partido Suíço do Trabalho-Partido Operário e Popular
(PST-POP) apoiou a iniciativa através de um "sim
crítico". Para o PST-POP a iniciativa não ia suficientemente
longe. Mesmo assim, ela teria podido limitar o âmbito dos bancos e ter
uma influência política, ainda que muito limitada, sobre o Banco
Nacional Suíço (BNS). Entretanto, segundo o BNS esta
influência iria demasiado longe. Ele defendeu-se em nome de todos os
bancos suíços contra qualquer ingerência democrática
nas suas empresas, de acordo com a palavra de ordem: a política pode
fazer o que quiser, desde que não perturbe nossos círculos. A
iniciativa teria perturbado estes círculos. O sim crítico do
PST-POP deve igualmente ser compreendido como um sinal de que estes devem ser
perturbados, mas que isso não é suficiente: eles devem ser
combatido com o objectivo de trazê-los ao controle democrático da
população.
O PST-POP apoiou igualmente o Sim à lei sobre o jogo do dinheiro e
mostra-se satisfeita com a sua ampla aceitação pelo povo.
Partido Suíço do Trabalho-Partido Operário e Popular
10/Junho/2018
O "sim" crítico do PST-POP à iniciativa "Moeda
Plena", sexta-feira, 25/Maio/2018
Regular o tanque dos tubarões, impor regras de jogo ao tubarão,
este é mais ou menos o objectivo da iniciativa "moeda plena".
Ela quer que "a lei regule o mercado financeiro no interesse de todo o
mundo" e sobretudo que regule as obrigações
fiduciárias dos serviços financeiros, que supervisione as
condições dos serviços financeiros, a
aprovação e a vigilância dos produtos financeiros, as
exigências de fundos próprios e a limitação do
negócio por conta própria. Unicamente a
Confederação "produz peças de moeda, bilhetes de
banco e bilhetes com a aparência de moeda legal". Esta
reivindicação, que pode ser lida no texto da iniciativa,
apresenta a preocupação central da reforma da moeda plena. Os
bancos não são autorizados a emprestar senão o dinheiro
que eles receberam, quer seja da parte dos poupadores, das empresas, das
companhias de seguros, de outros bancos ou do Banco Nacional
Suíço (BNS). "Assim, os bancos, as sociedades e os
particulares encontram-se ao mesmo nível e devem primeiro possuir o
dinheiro eles próprios para a emissão de
empréstimos", informa o sítio internet dos iniciadores.
Nada de estatização, infelizmente
Tão nobre quanto possa ser o projecto, ele é curto. As
consequências da economia capitalista são reduzidas à
criação do dinheiro. Nenhuma palavra sobre a
criação da mais-valia ou sobre a exploração do
homem nem da natureza no interesse dos lucros de alguns e em detrimento de
muitos é mencionada. Os bancos são o mal fundamental para os
iniciadores e devem portanto ser postos no seu lugar.
Obviamente, os bancos são tubarões sanguinários na piscina
financeira, mas eles não são os únicos! O mal fundamental
continua a ser o próprio sistema económicos capitalista
explorador. Os iniciadores querem criar este mal de base "de uma maneira
social". Os iniciadores não se cansam de sublinhar seu empenho numa
"economia de mercado equitativa" na sua campanha. É
ingénuo pensar que o tubarão pode ser posto no seu lugar quando
ele cheirou sangue. Os seus partidários também gostam de
sublinhar que a sua iniciativa é tudo excepto uma
"estatização". O que seria portanto absolutamente
necessário para combater o mal fundamental, ou seja, a
nacionalização dos bancos, é categoricamente rejeitada
pelos criadores da iniciativa. A razão é evidente: eles
não querem ser colocado no campo da esquerda a fim de não
reduzirem mais suas já fracas possibilidades de vitória.
O sistema funciona?
A iniciativa moeda plena é um projecto pequeno-burguês que
não mudará as estruturas do poder real e não quer sequer
sacudi-lo. O PST-POP tem consciência disso. Entretanto, o partido adoptou
um sim crítico à iniciativa. Por que? As razões
encontram-se quase paradoxalmente nos argumentos dos adversários da
iniciativa. O BNS, em particular, trabalhou arduamente para encontrar uma
documentação completa na qual glorifica o actual sistema
monetário e financeiro na Suíça. "O sistema
monetário actual funciona bem. Não há problema fundamental
na Suíça que deva ser resolvido. O sistema financeiro deu as suas
provas. A crise financeira foi ultrapassada". Que o PST-POP veja isto de
modo completamente diferente não é preciso ser sublinhado e
resume-se a duas perguntas simples: para quem o sistema monetário
funciona bem? Para quem o sistema financeiro actual deu as suas provas? Ou
simplesmente: quem se aproveita? A política permanece sempre uma
questão de classe e portanto de luta das classes. Os adversários
da iniciativa estão plenamente conscientes, ao passo que os iniciadores
o escondem completamente.
Pequena restrição
O BNS prossegue dizendo: "A emissão de moeda do banco central, que
não implica dívida, como previa a iniciativa, exporia o banco
nacional aos desejos políticos. O apelo ao financiamento de projecto e
despesas públicos por intermediação do BNS aumentaria
inevitavelmente. A política monetária independente e a
realização do seu mandato ficaria em risco". Assim, o BNS
admite que a iniciativa limitaria o âmbito dos bancos de permitiria uma
influência política sobre o banco nacional. Se bem que esta
influência política seja muito fraca, ela já é
demasiado importante para o BNS. Ele defende-se em nome de todos os bancos
suíços contra toda ingerência democrática nos seus
assuntos, conforme a palavra de ordem de que os políticos podem fazer o
que quiserem, só não devem muito simplesmente perturbar nossos
círculos. A iniciativa perturba estes círculos. O sim
crítico do PST-POP deve ser compreendido como um sinal de que estes
círculos devem ser perturbados, mas que isso não basta nem de
longe. Eles devem ser combatidos com o objectivo de submetê-los ao
controle democrático da população.
Comité Director do PST-POP
22/Maio/2018
O original encontra-se em
solidarite-internationale-pcf.fr/...
Estes comunicados encontram-se em
https://resistir.info/
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