"Saiamos do euro para conduzir verdadeiras políticas de
esquerda"
Os países que quiserem acabar com a hiper-austeridade e efectuar
verdadeiras políticas de esquerda não têm outra
opção senão mobilizar os cidadãos para sair do euro.
1. A zona euro não foi e nunca será uma "zona
monetária óptima".
Cinco critérios sobre os quais concordam os economistas são
necessários. Nenhum deles foi reunido na criação do euro e
nem dez anos depois: acordo político (ampla convergência sobre as
prioridades da política macroeconómica); estruturas
económicas suficientemente próximas; diversificação
da produção; mobilidade geográfica dos factores de
produção; orçamento central importante e mecanismos de
redistribuição.
2. O euro não cumpriu nenhuma das promessas feitas pelos seus defensores
e nem as cumprirá mais no futuro.
Inflação e taxa de câmbio euro/dólar
instável. O euro "forte" divide a Alemanha (que nele tem
interesse) e os outros países (que procuram fazê-lo baixar).
Não o conseguindo, eles esmagam os salários e o emprego,
deslocalizam, transformam o euro em cilindro compressor da
protecção social para serem "competitivos". Uma
política monetária única é aplicada a
situação nacionais diferentes. As taxas de juro vão do
simples ao quíntuplo conforme os países.
"Couraça" de papelão, o euro atrai a
especulação pois está empenhado numa corrida desenfreada
pela atracção de capitais. A união monetária devia
desembocar na união política; na realidade verificou-se o
inverso, por toda a parte as forças nacionalistas, xenófobas,
racistas, de extrema-direita avançam na União Europeia (UE).
3. O euro confirma todas as taras que haviam sido denunciadas por aqueles que
haviam defendido o "não" de esquerda à moeda
única aquando do referendo sobre o tratado de Maastricht em 1992.
O euro não tinha uma vocação monetária, ele era um
pretexto para forçar os Estados e constrangê-los a empenharem-se
numa via federalista. Ele devia ser a peça central da
"ditadura" dos mercados financeiros e da instauração de
uma ordem monetária neoliberal. Com o Banco Central Europeu (BCE)
escapando a todo controle democrático, o euro foi concebido como vector
da aceleração da circulação do capital ao
serviço exclusivo dos interesses das classe dirigentes.
As más "soluções".
Alguns querem um novo tratado para que, nomeadamente, o BCE compre directamente
obrigações dos Estado. Isto não é crível,
pelo menos num prazo breve. Pois para mudar os tratados é preciso obter
o acordo dos vinte e sete. Como acreditar que estes países, dirigidos
pela direita ou pela "esquerda" social-liberal, se transmutem
brutalmente para conduzir uma política de esquerda à escala
europeia quando conduzem políticas muito à direita nos seus
respectivos países?
Não deixar a batalha pela saída do euro nas mãos da
extrema-direita e dos gaullistas de direita.
A esquerda deve combater claramente e frontalmente a UE que faz parte dos
pilares da ordem neoliberal mundial, da mesma forma como combate a NATO, o
Banco Mundial, o FMI, a OMC e a OCDE. A saída do euro é uma
reivindicação de esquerda que permite sair da ordem
monetária neoliberal e repolitizar a política monetária.
Ela é a sequência lógica dos combates de 1992 e 2005.
Se bem que a saída do euro seja a condição
necessária para políticas de esquerda, ela não é
suficiente.
Será preciso:
-
Anunciar o incumprimento de pagamentos e reestruturar a dívida.
-
Desvalorizar.
-
Financiar uma parte da dívida política pela política
monetária.
-
Nacionalizar os bancos e as companhias de seguros.
-
Desmantelar os mercados financeiros especulativos, fechar os mercados
obrigacionistas, organizar o enfraquecimento da bolsa.
-
Controlar os câmbios e os movimentos de capitais.
-
Lançar uma nova polícia económica fundada sobre o direito
oponível ao emprego, medidas proteccionistas no quadro universalista da
Carta de Havana, uma mutação ecológica do modo de
produção.
-
Actuar para uma moeda comum.
-
Desobedecer à UE.
Um país que aplicasse este programa suscitaria o entusiasmo e um
poderoso efeito de treino.
[*]
Porta-voz do Movimento Político de Educação Popular (MPEP)
e ex-presidente do Attac. Antigo adido financeiro em Nova York. Autor de
"Sortons de l'euro, vite !", ed.
Mille-et-une-nuits
(princípio de Março 2011), ISBN 978-2-7555-0601-3.
O original encontra-se em
reveilcommuniste.over-blog.fr/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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