A inundação de refugiados na Europa
trabalho barato & utilização política
por Ghassan Kadi
Há muitas razões para a inundação de refugiados na
Alemanha, mas elas devem-se basicamente às guerras perpetradas pelo
"Ocidente". No entanto, apesar das aparências, as elites
políticas europeias não estão realmente preocupadas com
este êxodo de refugiados. Para elas, trata-se de uma fonte de trabalho
barato que poderá ser explorada mais intensamente do que os
trabalhadores locais.
Num sentido mais amplo,
não existe para isso maior motivação
do que o desejo de obter trabalho barato. Para a elite moderna, a linha
condutora da política económica é no sentido de obter
trabalho barato e assegurar que as coisas assim permaneçam.
Mesmo as guerras petrolíferas são, em última
análise, acerca de trabalho barato. Elas não foram, afinal de
contas, acerca da obtenção do acesso ao petróleo
elas já tinham acesso ao mesmo. A questão era obter o controle do
petróleo, de modo a que pudesse ser exercido como arma. E ao
exercê-lo como arma é que os Estados Unidos podem permanecer
hegemónicos. Mas para os EUA e as elites internacionais dos EUA
permanecerem hegemónicos é preciso que política pró
corporações e anti-trabalho possam continuar a ser impostas
à escala mundial. O petróleo é sobretudo mais uma arma
para impor a política de assegurar que o trabalho seja barato e que as
elites arrecadem a diferença, seja directamente ao produzir objectos com
a super exploração do trabalho
(sweatshops)
e vende-los por mais ou, indirectamente, assegurando que os proletários
não estejam em posição de levantar objecções
a lantejoulas financeiras como imprimir toneladas de moeda e garantir que
só financeiros possam tê-la, ou ainda endividando-os e
sobrecarregando-os com juros, etc.
Em vista disso, penso que há pessoas demasiado rápidas a
descartar o interesse da elite alemã em obter trabalho barato e
também demasiado rápidas em assumir que as elites alemãs
se importam em que haja uns poucos bandidos e/ou terroristas entre os
refugiados que a curto prazo provoquem algum caos e agridam, violem ou matem
algumas pessoas. Na verdade, as elites alemãs provavelmente estão
felizes
por haver alguns bandidos e terroristas entre os refugiados.
É aqui que análises culturais da direita estão
absolutamente erradas. As elites alemãs e europeias não
estão de modo algum interessadas em criar uma sociedade homogeneizada na
qual os imigrantes e a população existente se misturem e fundam
as suas respectivas culturas. Ao contrário. Também nisto os
europeus do Leste cometeram este erro. "Recordo quão difícil
era mesmo para um único indivíduo qualificado obter uma
permissão de residência, digamos, na Alemanha". Sim,
naturalmente. Um único indivíduo
qualificado.
De um grupo não demonizado. Em suma, alguém de quem se poderia
esperar entrar e ganhar um bom salário num emprego real em igualdade com
alemães da classe média. Para que serve isso às elites?
Eles querem imigrantes, certamente mas querem-nos empobrecidos,
isolados, assustados e idealmente constituindo uma divisão social
completamente nova a ser explorada. Se não houvesse bandidos entre eles
para ajudar a criar uma rejeição, as elites teriam de inventar
alguns. Se há algo que as elites alemãs realmente gostariam seria
criar algo como os negros estado-unidenses. Uma subclasse de desempregados
permanentes a qual permanecerá segregada para sempre e criará
divisões no eleitorado, deitando abaixo salários médios,
inchando o exército de famintos pobres que aceitaria qualquer emprego de
merda, tornando a política sindical e da classe trabalhadora muito mais
difícil tanto devido àquele exército de reserva disposto a
aceitar piores condições como devido à divisão
social.
Para alcançar esse sonho, a carreira política de Angela Merkel
é um preço a pagar muito pequeno mesmo com algum risco de
incidentes provocados por partidos da extrema-direita, os quais não
ameaçam banqueiros brancos ou proprietários de fábricas.
Ainda assim é um grande negócio. Na verdade, com a actual
insatisfação popular com as políticas de austeridade, que
tendem a enraizar a esquerda, as elites podem realmente sentir que se
beneficiam com a ascensão da extrema-direita porque ela suga energia
política à esquerda. Eles muito provavelmente estão a
utilizar a direita populista, assim como utilizaram Hitler embora possam
estar a calcular mal, tal como o fizeram com Hitler.
Pondo de lado toda essa análise, não estou realmente seguro em
aceitar a ideia de que há qualquer coisa demasiado grande na
aceleração de chegadas de refugiados. Erdogan é certamente
um islamista, mas duvido que queira tomar Viena. É verdade que pode ter
concluído que já não pode mais utilizar os enormes campos
de refugiados para nada ... mas se eles não são úteis,
isso significa que constituem um custo e a economia turca não
está a comportar-se tão bem. Não manter campos cheios de
milhões de refugiados é mais barato do que manter aqueles campos.
Mas também, pode ser apenas o ritmo das coisas ... Os sírios
podem estar a evitar atravessar a Turquia e serem capturados em campos porque
têm ouvido dizer que isso pode acontecer se forem através da
Turquia. Os refugiados sírios podem a princípio ter parado em
outros lugares do Médio Oriente, como o Líbano, a Jordânia
e mesmo o Iraque, mas estão agora a mudar-se porque ali não
há espaço ou as boas vindas azedaram. A taxa de refugiados de
outros lugares como a Líbia, mesmo o Iémen, pode estar a
acelerar-se. O "negócio" do transporte de refugiados pode ter
ficado maior e melhor organizado e simplesmente tem sido mais capaz de
movimentar pessoas do que a princípio. É inevitável que
haja um bocado de especulação razoavelmente extravagante acerca
de tudo isto porque, francamente, haveria uma grande despesa com o
esforço de investigação simplesmente para compreender como
todas estas pessoas estão a fluir e porque as taxas de chegadas
estão a alterar-se.
Há uma coisa no entanto que é indiscutível. É que
no final das contas e em última análise todos estes refugiados
são uma forma de ricochete. Se a UE cessasse de ajudar o ataque dos EUA
e de desestabilizar estes países e se se recusasse a dar-lhe cobertura
diplomática para tais acções, acabaria por ter menos
refugiados.
07/Fevereiro/2016
Ver també:
Frontex : les nouveaux "gardes" d'une Europe qui ne veut pas de réfugiés
O original encontra-se em
thesaker.is/to-refugee-or-not-to-refugee-that-is-the-question/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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