Os perigos do fascismo na Europa
por Dimitris Koutsoumpas
[*]
Estimados amigos e camaradas,
Há 69 anos, neste mesmo dia, a Bandeira Vermelha foi hasteada no
Reichstag apontando a vitória de uma batalha gigantesca dos povos, com a
União Soviética e os comunistas da Europa na vanguarda, contra a
mais terrível e desumana ideologia, a ideologia e prática
fascista, nascida do próprio capitalismo que levou à
maximização da exploração do homem pelo homem,
à destruição absoluta da existência humana.
Milhões de pessoas se sacrificaram nesta batalha, nos campos de batalha
e nos desumanos campos de concentração. Hoje, rendemos homenagem
aos que perderam a vida nas trincheiras, nos campos de batalha, aos que
desafiaram os pelotões de fuzilamento. Leningrado e Stalingrado na
Rússia, Kokkiniá e Kesarianí na Grécia estão
impressos na memória dos povos, da mesma forma que milhares de lugares,
onde se determinou o resultado desta dura batalha. Lugares que, por um lado,
foram marcados pela barbárie do capitalismo e, por outro, pela grandeza
da luta popular contra esta criatura capitalista, o fascismo.
Quase 70 anos depois, alguns estão fazendo todo o possível para
extinguir a chama da verdade histórica que foi escrita com o sangue dos
povos. Estão fazendo todo o possível para distorcer a
história, para justificar, de maneira direta ou indireta, a brutalidade
fascista. Nesta propaganda negra das mentiras, os centros imperialistas e, em
primeiro lugar, a UE, jogam um papel protagonista. A UE, inclusive, transformou
o 9 de maio, que é o Dia da Vitória Antifascista dos Povos, em
"Dia da Europa", tentando apagar da memória dos povos da
Europa o caráter antifascista deste aniversário. Nesta
missão ideológica e política caluniosa e suja, não
hesita em equiparar o fascismo com o comunismo. Ao mesmo tempo, a UE, assim
como os EUA, não titubeiam em confiar e apoiar as forças
reacionárias mais obscuras que ascenderam ao governo da Ucrânia
através de um golpe, como ocorreu anteriormente nos países
bálticos, a fim de promover seus interesses geopolíticos na
região da Eurásia. Nos últimos 25 anos, após da
derrocada do socialismo e da dissolução da URSS, se leva a cabo
uma sistemática "lavagem cerebral" ideológica
anticomunista através da qual as "legiões SS" e os
demais grupos armados pró-fascistas se apresentam como
"libertadores" do país do bolchevismo.
No entanto, por mais rancor que exista, por mais tinta que seja gasta, a
realidade objetiva não pode ser alterada. 69 anos após o fim da
II Guerra Mundial, milhões de pessoas em todo o mundo reconhecem a
contribuição do movimento comunista, com sacrifícios sem
precedentes, para a derrota do fascismo. A força básica desta
luta titânica, a alma e o líder foram os partidos comunistas,
encabeçados pelo partido dos bolcheviques. Milhões de comunistas
sacrificaram, inclusive suas vidas, por um mundo melhor.
O sistema capitalista, os antagonismos que, inevitavelmente, se manifestam
entre os imperialistas e os monopólios, devem ser impressos e
estigmatizados na consciência dos povos como os responsáveis pelas
duas guerras mundiais, para os milhões de mortos, incapacitados, para as
pessoas expulsas de seus lares. Não hesitaram em cometer qualquer crime
com a finalidade de servir aos lucros, ao predomínio e ao poder
capitalista. Esta realidade é ainda mais vigente hoje, dado que os
antagonismos e os conflitos entre si estão se intensificando.
A verdade histórica não pode ser distorcida na consciência
do povo, tendo sido escrita pela própria luta dos povos, com o sangue
dos povos, dos movimentos pela Libertação Nacional e dos
movimentos antifascistas nos países capitalistas, como os heroicos EAM
(Frente pela Libertação Nacional), ELAS (Exército Nacional
pela Libertação Nacional), EPON (Organização
Nacional Unificada da Juventude) existentes em nosso país, que uniram e
agitaram o povo a levantar-se.
Foi o resultado das grandes e titânicas batalhas do Exército
Vermelho em Stalingrado, Kursk, em Leningrado, em Sebastopol, em todos os
campos de batalha na União Soviética e em vários
países da Europa capitalista. A grande vitória dos povos contra o
eixo fascista-imperialista da Alemanha, Itália e Japão e de seus
aliados foi obtida graças ao papel decisivo da União
Soviética com sacrifícios incalculáveis e mais de 20
milhões de mortos.
Amigas e amigos, camaradas!
Atualmente, na Ucrânia, nos países bálticos, assim como em
outros países da Europa, o fascismo tenta levantar a cabeça, da
mesma maneira que em nosso país, onde surgiu uma
organização nazista criminosa, o Amanhecer Dourado.
O terrível crime de sexta-feira passada em Odessa, onde os neonazistas
do "Setor Direita" queimaram vivos alguns manifestantes de idioma
russo e a operação sangrenta do governo de golpista de Kiev nas
regiões orientais, têm grande impacto tanto sobre nosso povo como
em toda pessoa consciente no planeta. O povo ucraniano está derramando
seu sangue devido à intervenção aberta dos imperialistas
dos EUA, da UE e da OTAN, que apoiam o governo dos nacionalistas e fascistas de
Kiev e entram em conflito com a Rússia sobre o controle dos recursos
energéticos, dos tubos e das cotas de mercado. Mais uma vez, é
claramente demonstrado que as alianças imperialistas não apenas
não garantem a paz e a segurança para nenhum povo, como o
contrário, o conduz à guerra e à indigência.
Como no passado, o monstro fascista hoje é um produto do sistema
capitalista; nasce das entranhas do sistema, não é algo que
está fora do sistema como querem apresentá-lo. O fascismo
é a expressão do capital que se utiliza como "ponta de
lança" do poder capitalista contra o movimento trabalhador.
Utiliza as condições de democracia parlamentar burguesa para
reforçar-se, contando com o apoio do capital ou de seções
do capital, assim como do aparato estatal. Pretende exercer o poder dos
monopólios de uma maneira mais dura, tal como fizeram no passado os
partidos nacional-socialistas de Hitler e Mussolini, para subjugar o movimento
trabalhador e popular. Esta foi e continua sendo sua característica
básica; esta é a fonte da ira anticomunista aberta que
caracteriza todas as forças fascistas desde sempre.
Certamente, os partidos nacional-socialistas, ainda que expressem os interesses
do capital da mesma forma que os demais partidos burgueses, também
aprisionam em suas fileiras as camadas populares, tratando de formar uma ampla
base popular. Isto é conseguido a partir da utilização da
"ferramenta" de intimidação aberta, da política
racista, do chauvinismo e do irredentismo, da distorção da
história, etc., lançando mão do empobrecimento abrupto das
camadas populares, que é o resultado da crise econômica e da
debilidade dos demais partidos burgueses em gerenciar o sistema, em arrastar
para o âmbito de sua influência os setores populares politicamente
atrasados.
O fortalecimento dos partidos fascistas na Ucrânia, do partido
"Svoboda" e do "Setor Direita", assim como o Amanhecer
Dourado na Grécia, têm alguns elementos similares, como por
exemplo, o fato de se terem manifestado após o fracasso rotundo das
promessas dos partidos social-democratas que estavam no poder. Por exemplo,
todos recordam as promessas do PASOK na Grécia, pouco antes do estouro
da crise. Porém, a social-democracia e os partidos liberais burgueses,
todos eles típicos governos burgueses, prometem medidas
favoráveis ao povo enquanto, na prática, seguem uma
política antipopular dura, servindo aos monopólios. Então,
dada a desilusão das camadas populares arruinadas, dos autônomos,
dos camponeses, dos desempregados, de setores da classe trabalhadora sem
experiência, sobretudo jovens, é possível que se dirijam
para uma direção mais reacionária. Uma
situação similar se deu na Ucrânia, com as promessas feitas
pelo governo de Yanukovich.
Esta situação requer que prestemos atenção quando
se fala muito no nosso país de um "governo patriótico de
esquerda", o que promete o SYRIZA, e que, no marco da UE e da OTAN, na via
de desenvolvimento capitalista, supostamente, serão aliviados os
trabalhadores, serão solucionados os problemas populares. Não
existe maior engano e, infelizmente, se demonstrou historicamente que um tal
"governo de esquerda", segundo o modelo conhecido como
social-democracia, pode constituir uma ponte para uma política ainda
mais direitista, dura e antipopular.
Isto foi confirmado, também, pela experiência recente e passada,
dado que as consignas e as promessas de mudanças favoráveis ao
povo foram desmentidas na prática por uma ou outra forma de
gestão dos interesses do capital, pela barbárie capitalista, pela
estratégia da UE, levando a um retrocesso de coincidências.
Hoje em dia, quando as forças fascistas surgem, por exemplo, no governo
da Ucrânia, foi demonstrado com provas convincentes que o fascismo, como
há 80 anos, pode ser a opção das classes burguesas,
não apenas como força de ataque e de intimidação
contra o movimento popular, mas, além disso, como força de
gestão do poder burguês.
Sabemos por nossa própria história que as forças
políticas burguesas, tanto de direita como as social-democratas, em
alguns momentos, apoiaram os fascistas, que foram bastante úteis ao
sistema capitalista naquelas circunstâncias cruciais. Devido ao perigo de
ascensão do movimento popular, ao perigo de que o capitalismo perdesse o
poder, com critérios classistas, decidiram abandonar temporariamente a
forma da democracia parlamentar burguesa e não tiveram dúvidas em
apoiar a forma fascista de exercer o poder do capital.
Na prática, vemos, por exemplo, o presidente dos EUA, cuja
eleição foi aclamada há alguns anos pelo jornal do SYRIZA
e sua administração foi elogiada por este partido e seu
líder, que apoia claramente os fascistas de Kiev com o objetivo de
servir aos interesses dos monopólios estadunidenses e europeus na
Ucrânia, no cenário da dura competição com a
Rússia, sobre o controle das quotas de mercado, das rotas de transporte,
dos recursos naturais da região.
A UE e o governo grego, que preside a UE, desempenham um papel ativo nestes
planos. A UE, por um lado, caracteriza como "totalitarismo" qualquer
mudança governamental que não se baseie nas opções
burguesas, condena a violência, enquanto, por outro lado, não
hesita em utilizar a violência na hora de derrotar governos que já
não servem a seus interesses, tal como ocorreu na Ucrânia.
Não tiveram dúvida em utilizar a atividade extrema dos
nacionalistas-fascistas, anticomunistas, nostálgicos de Hitler e,
é claro, a destruição de monumentos de Lenin, de
monumentos soviéticos e antifascistas.
Em nosso país também existem muitas pessoas que nos
últimos anos "trabalharam" para fortalecer o Amanhecer Dourado
fascista. Não apenas via seu financiamento generoso, como através
da preparação do "terreno" ideológico para seu
desenvolvimento. Trata-se de todos aqueles que fomentaram o ódio contra
o KKE e o PAME, contra a organização política e sindical
coletiva e a resistência à política antipopular,
enaltecendo a indignação "às cegas", a
espontaneidade, absolvendo o sistema capitalista quanto às graves
consequências da crise capitalista. Referimo-nos àqueles que, como
se provou, criaram "canais de comunicação"
políticos com esta formação fascista, prometendo inclusive
postos no governo, enquanto fomentavam a inaceitável "teoria dos
dois extremos".
Depois de tantos crimes, assassinatos de imigrantes, ataques assassinos contra
sindicalistas do PAME, o assassinato de P. Fissas, podemos ver que o sistema
segue uma política de "podar" o Amanhecer Dourado, mas
não o confronta substancialmente. Isto não tem a ver apenas com o
governo, mas, contudo, com outros partidos, como mostra a decisão do
Conselho Municipal de Atenas sobre os processos eleitorais. Isto representa
algo: que o sistema político burguês não possui o interesse
de "erradicar", mas de embelezar esta organização e
não descarta a possibilidade de utilizá-la no futuro contra o
movimento operário e popular.
O KKE considera que sua tarefa imediata e imperativa é isolar o
Amanhecer Dourado, inimigo jurado do povo e de suas lutas e pretende golpear o
KKE e o movimento operário e popular. Não se pode confrontar o
Amanhecer Dourado a partir do ponto de vista de defender supostamente a
democracia burguesa, o sistema capitalista que a gera, mas pela Aliança
Popular numa direção antimonopolista e anticapitalista, por um
movimento popular que questionará e se oporá à
estratégia dos monopólios.
Amigos e camaradas:
Tiramos lições e nos preparamos com um KKE que seja capaz de
lutar sob todas as condições, sob todas as circunstâncias.
Os acontecimentos na região ampla (Oriente Médio, norte da
África, Balcãs, Eurásia) são rápidos e
é possível que nos próximos anos conduzam a novas guerras
locais, regionais ou generalizadas. Em condições de
preparação de guerras e, em geral, de intervenções
imperialistas, a burguesia e seus governos tomam medidas contra o movimento
trabalhador e, além disso, utilizam os partidos nacionalistas-fascistas.
É possível que tentem impor medidas repressivas contra o
movimento comunista e operário.
Por isso, o movimento operário, seus aliados e o Partido devem estar
preparados a tempo, ser fortes, concentrados em elaborar e aplicar sua
própria estratégia, que corresponderá à
satisfação das necessidades trabalhistas e populares,
através da ruptura do país com a UE e da OTAN, com todas as
uniões imperialistas, com sua retirada dos planos imperialistas e da via
de desenvolvimento capitalista.
Desta forma, a parada seguinte são as eleições locais e
europeias.
Nestas eleições, deve-se condenar direta e claramente a UE, que
apoiou os acontecimentos reacionários na Ucrânia. O apoio
não foi acidental e nem por um descuido, mas com estimativas ruins ou
devido a uma "correlação de forças negativa" ou
por ser "submissa" aos EUA. O apoio foi dado porque é uma
aliança a serviço dos monopólios europeus. Por sua
natureza, é profundamente reacionária, já que tem como
"pedra angular" a proteção dos lucros capitalistas.
Pensa constantemente novos modos para explorar os trabalhadores, os
trabalhadores autônomos, os aposentados, os jovens. Através do
ataque contra os direitos trabalhistas e populares, os cortes de
salários e pensões, a comercialização da
Saúde e da Educação, através de formas de trabalho
flexíveis, o desemprego, as privatizações, a PAC, etc.
Esta natureza interna reacionária se reflete na política externa
reacionária agressiva da UE. Por isto, por um lado, cria mecanismos de
supervisão dos países, ou seja, memorandos permanentes e, por
outro lado, forma o euro-exército e coopera estreitamente com a OTAN.
A conhecida "estabilidade" que invoca o governo de ND-PASOK
não é nada mais que a continuidade desta política
antipopular bárbara dentro e fora de suas fronteiras, num curso de
estabilização e recuperação dos lucros da
plutocracia. O povo não deve se deixar enganar. Qualquer que seja a
recuperação dos lucros de uns poucos, isto não tem nenhuma
relação com a maioria esmagadora de nosso povo.
Por outro lado, o dilema das eleições promovido pelo principal
partido da oposição, "SYRIZA ou Merkel?", insinuando
que sem afetar a UE e o capital, ou seja, sem afetar o caminho de
desenvolvimento que nos trouxe até aqui, um governo do SYRIZA
supostamente trará a "salvação", tem uma clara
intenção de prender os trabalhadores dentro da UE, no marco
reacionário de uma sociedade que se apoia no Minotauro dos lucros.
Estas falsas ilusões de que pode existir um capitalismo melhor, uma UE
melhor, vêm sendo experimentadas pelos trabalhadores há anos e
foram desmentidas plenamente. A UE não pode mudar para melhor.
Está intrinsecamente ligada à decadência capitalista que
não pode ser escondida pela "maquiagem" que o SYRIZA planeja
fazer. Não se trata de um assunto de mudança de
correlação em seu interior. A UE não se pode converter na
Europa de paz, de solidariedade e de cooperação dos povos.
O SYRIZA semeou tais ilusões outra vez há dois anos, quando
saudava a eleição de Hollande e a formação da
chamada "frente do Sul", do "vento do Sul". Hoje em dia, o
que dizia há dois anos sobre Hollande parece uma piada. Respectivamente,
hoje a candidatura para o posto de chefe da Comissão Europeia, ou seja,
do núcleo mais duro desta construção reacionária,
supostamente mudará toda a construção. Estes "contos
de fadas" dos representantes do SYRIZA defendem que se conseguirem o voto
popular nas eleições iminentes, uma nova UE será
construída, um capitalismo melhor será construído,
não têm nenhuma base, são extremamente arbitrárias e
perigosas para os interesses populares.
A UE é e se converterá num "inferno" ainda maior e mais
cruel para os povos, quer o SYRIZA ocupe o primeiro ou o segundo lugar nas
eleições. O único caminho é o fortalecimento da
luta contra a UE, pelo desligamento desta, com o cancelamento unilateral da
dívida, a socialização da riqueza, com o poder
operário e popular.
Um passo nesta direção é a condenação
decisiva da UE nas próximas eleições junto com a
condenação do capitalismo, que gera o fascismo e a guerra
imperialista. E isto só pode ser feito através do fortalecimento
decisivo do KKE nas eleições europeias, através do
fortalecimento do "Agrupamento Popular" nas eleições
municipais e regionais.
É por isso que, a partir desta mesa redonda, dirigimos um chamamento de
luta comum, de união de forças e de fortalecimento do KKE, que
é a única garantia para que o povo seja forte e para poder
determinar seu presente e futuro.
09/Maio/2014
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=jGlrWCa9tMo
[*]
Secretário-geral do KKE. Intervenção realizada numa mesa
redonda em Atenas.
A versão em inglês encontra-se em
inter.kke.gr/...
e em português em
pcb.org.br/...
Este discurso encontra-se em
http://resistir.info/
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