As agruras de hoje da Grécia serão as de Portugal no futuro com
o pacote da troika
As consequências de uma reunião não tão secreta
por
Euro Intelligence
O nosso ponto de vista foi sempre que a resolução da crise
consistiria num refinanciamento
(rollover)
permanente. Quando confrontados com a questão de permitir o
incumprimento da Grécia ou concordar com mais um programa (irrealista),
os ministros europeus das Finanças aceitaram esta última
opção.
Numa reunião secreta no Luxemburgo, os ministros das Finanças de
um subconjunto de países da eurozona encontraram-se para discutir o
futuro da Grécia e,
segundo o FT
, alcançaram um consenso de que
querem recorrer a um pacote inteiramente novo, pois o actual programa da
Grécia, o qual prevê um retorno aos mercado em 2012, não
é realista.
A Grécia precisa obter 25 a 30 mil milhões no
próximo ano. O FT informa que o European Financial Stability Facility
(EFSF) pode comprar dívida grega em mercados primários, em
complemento de uma reestruturação voluntária para
"rolar"
(roll over)
dívida que será devida em 2012. Responsáveis parecem ter
descartado com firmeza qualquer reestruturação
involuntária da dívida, a qual criaria mais problemas do que
resolveria. O ministro grego das Finanças foi convidado à
reunião de modo a que responsáveis pudessem enfatizar-lhe a
importância de mais austeridade e privatização.
Na sexta-feira à noite, a revista
Der Spiegel
informou que a Grécia havia considerado uma saída da eurozona e
revelou que uma tal teria lugar, com Wolfgang Schäuble tendo um estudo na
sua pasta sobre porque uma saída grega far-se-ia a um custo proibitivo
para a Grécia mas também para a própria eurozona. A
notícia deu lugar a negações frenéticas de
responsáveis da UE e provocou uma nova derrota do euro, o qual declinou
de um pico de US$1,49 para US$1,43 em dois dias. Responsáveis da UE
primeiro tentaram negar que uma tal reunião viesse a ocorrer, mas quando
se tornou impossível sustentar isso, eles simplesmente negaram que os
ministros discutissem uma reestruturação da dívida, muito
menos uma saída.
"COMENTÁRIOS ABSURDOS DE JOSÉ SÓCRATES"
Wolfgang Münchau
escreve na sua coluna no
FT
que o fracasso em ser capaz de organizar uma reunião secreta simboliza
a dificuldade em administrar uma união monetária (e especialmente
um programa de refinanciamento de dívida) com um grupo de decisores
executivos tão diversos. Disse ele não acreditar em quaisquer
pronunciamentos oficiais de qualquer responsável da UE. Afirmou que os
comentários absurdos de José Sócrates de que obteve um
acordo melhor do que os gregos e os irlandeses também são muito
típicos para o programa de acção colectiva da eurozona. E
que vê cada vez mais evidências de uma bifurcação
uma situação dentro de poucos anos nesse caminho em que
estados membros da eurozona terão de decidir se saltam para dentro de
uma união política ou saltam para fora de uma união
monetária.
Juan Ignacio Crespo
escreve em
El Pais
que uma saída da eurozona seria o equivalente a uma outra crise
financeira global. Se a Grécia saísse, o sistema bancário
do país entraria em colapso e o país seria confrontado com uma
implosão económica e social. E a crise imediatamente
propagar-se-ia ao país seguinte da eurozona. A Europa neste ponto
suspenderia tanto o mercado como o acordo de Schengen.
Os principais jornais alemães estão divididos sobre os
méritos de um segundo pacote de resgate para a Grécia. Enquanto
os diários económicos
Financial Times Deutschland
e
Handelsblatt
endossam a ideia de má vontade o
Frankfurter Allgemeine Zeitung
e o
Bild
estão em franca revolta.
Holger Steltzner
, do
FAZ,
destaca que a UE e o FMI não têm quaisquer meios de aplicar
pressão sobre a Grécia uma vez que excluem a
reestruturação da dívida grega e a saída da
Grécia da eurozona. O colunista Hugo Müller-Vogg, do
Bild,
argumenta que se bem que o euro seja indispensável para a Europa, a
Grécia não é. Se a Grécia quisesse deixar a zona da
divisa ninguém deveria impedi-la. "Isso seria caro para o
contribuinte europeu", argumenta ele. "Mas um final caro é
melhor do que infindáveis pacotes caros de resgate".
PSD revela seu plano económico pelo lado da oferta
Passos Coelho revelou o plano económico do seu partido com o objectivo
de mudar o modelo económico de Portugal. A principal
característica é uma redução de encargos sociais
dos negócios em 4 pontos percentuais, de 23,75% para 19%, financiando
por cortes estruturais na despesa governamental. Isto inclui cortes no
período que dá direito a benefício de desemprego; um corte
no número de Secretarias de Estado em 30% e de conselheiros à
metade; reduções em entidades públicas em pelo menos 15%;
um serviço de recrutamento independente para postos no governo e o fim
de prestigiosos projectos de infraestrutura, tais como serviços
ferroviários de alta velocidade. O
Jornal de Negócios
tem os
pormenores. O presidente Cavaco Silva disse que um corte fiscal para os
negócios é possível e está de acordo com o acordo
da troika mas que deveria ir a par com um corte fiscal sobre o trabalho, ao
passo que o IVA pode aumentar.
Desordem tempestuosa na Irlanda após apelo de Morgan Kelly à
reestruturação da dívida
Um comentário do economista irlandês Morgan Kelly no
Irish Times
a apelar a que a Irlanda se afaste do acordo de salvamento provocou uma enorme
tempestade na Irlanda e alguma reacção irada do banco central e
do governo. Kelly argumentou que o governo irlandês deveria afastar-se da
dívida bancária, deixando-a para o BCE, de modo a que país
ficasse com uma dívida "sobrevivivel" de 110 mil
milhões. O governador do banco central, Patrick Hohohan, sentiu-se
obrigado a defender-se, depois de Kelly acusá-lo de ter feito o
"mais custoso erro alguma vez já feito por uma pessoa da
Irlanda" ao calcular mal a escala das perdas bancárias. Hoohan
defendeu o seu papel na corrida para o acordo de salvamento original e a sua
decisão de manter a garantia bancária. O ministro das
Finanças também respondeu emitindo uma rígida
advertência ao artigo de Kelly, dizendo que benefícios à
infância e os salários de 300 mil trabalhadores do sector
público seriam reduzidos em 33% se o governo abandonasse o acordo de
salvamento com a UE-FMI.
E se a França recorrese a um programa de resgate da UE e do FMI?
Em
Les Echos
Nicolas Barre
também é céptico quando ao resgate grego,
mas por razões diferentes. Originalmente os pacotes de resgate tinham
duas razões bem fundamentadas. Eles precisavam mostrar a
populações locais nos países periféricos
quão grave era a situação e houve tantos pacotes de
resgate para aqueles países quanto houve resgates para os bancos no
resto da eurozona. Hoje aquelas duas razões já não
são válidas segundo Barre. De modo que reestruturar a
dívida grega seria a solução adequada. O colunista
francês argumenta que políticos em Paris deveriam reflectir sobre
os seus colegas em Atenas, Dublim e Lisboa, onde os governos já
não estão no comando e têm de receber ordens da UE e do
FMI. Barre aponta o sempre crescente rácio da dívida em
relação ao PIB em França e diz que o destino de
países periféricos deveria ser motivo de reflexão para
qualquer candidato às eleições presidenciais francesas na
Primavera de 2012.
09/Maio/2011
Ver também:
A verdadeira agenda por trás da notícia da Der Spiegel de que a Grécia pensa sair do euro
O original encontra-se em
http://www.eurointelligence.com/
Estas notícias encontram-se em
http://resistir.info/
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